"Folha de S. Paulo", 12 de janeiro de 1975

A Espanha na maior das perseguições

A conhecida revista madrilenha "Fuerza Nueva" (31-8-74) publica um importante carteio entre o Emmo. Cardeal Tarancón, Arcebispo da capital espanhola, e o Revmo, Pe. José Bachs Cortina. Esse preclaro sacerdote assina suas cartas na qualidade de presidente da Associação de Santo Antônio Maria Claret, à qual estão filiados mais de dois mil sócios do clero secular e regular. Uma organização, como se vê, de grande importância na vida religiosa hispânica.

Das cartas do Pe. Bachs, destaco alguns textos que merecem a atenção dos católicos do mundo inteiro.

Possivelmente eu tratarei, no próximo artigo, da resposta do insigne purpurado.

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Começo por este trecho impressionante do Pe. Bachs:

"A carência de formação filosófica tomista, apontada por S. Pio X como fundamental para os sacerdotes que devem dedicar-se à ação social, se manifesta atualmente na proliferação de documentos, inclusive episcopais, de revistas chamadas católicas, homilias, escritos de vários gêneros, os quais demonstram uma total ignorância da doutrina social católica, em oposição aos ensinamentos do Magistério pontifício, inclusive de Paulo VI, e se professam enganosamente socialistas".

Segue-se este trecho de capital importância. É impossível lê-lo sem pensar nos efeitos ruinosos da Ostpolitik vaticana em relação aos países comunistas:

"Não há quem ignore que a máquina marxista possui hoje na Igreja espanhola, ideólogos e ativistas que predominam em meios de comunicação social, manipulam as raquíticas organizações que ainda restam do que foi a Ação Católica, Congregações Marianas e outras associações piedosas e apostólicas.

"É significativo o silêncio da Conferência Episcopal perante este fenômeno, apesar das reiteradas e legítimas vozes que se levantam pedindo esclarecimentos".

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Não menos grave é este outro texto:

"Considerando os acontecimentos com fé sobrenatural, a tragédia é espantosa quando se contemplam os estragos decorrentes da falta de pregação, da negação dos sacramentos, das milhares e milhares de crianças sem batismo, do proselitismo das seitas maçônicas e marxistas, assim como das atividades comercialmente multiplicadas da corrupção moral em tantos centros nos quais hoje se destroem a pureza da infância, a juventude e a família.

"O silêncio hierárquico ante todos esses acontecimentos é verdadeiramente pavoroso. Só assim se entende que Paulo VI tenha podido falar da "auto-demolição da Igreja" e da "fumaça de Satanás" no interior da mesma".

E, mais adiante, o porta-voz dos dois mil sacerdotes da confraria de Santo Antônio Maria Claret conclui de modo impressionante:

"Esta é a Igreja a que V. Emcia. preside, lastimavelmente mais derrotada do que em nenhuma outra situação histórica de nossa pátria, inclusive nas maiores perseguições, já que então os mártires se contavam aos milhares, enquanto hoje assim se contam as apostasias".

Mais adiante, o corajoso sacerdote desvenda todo um mundo de perseguições e misérias que desonram os que as movem, e honram os que as sofrem:

"Pedimos também a legitima liberdade das irmandades e associações sacerdotais, hoje opressas por pressões e campanhas difamatórias, proibições de reuniões, bem como as injustiças de que são objeto, cujos respingos alcançam também a Prelados titulares digníssimos, vítimas do ódio sectário".

E conclui:

"(...) Só Deus pode saber a sorte que caberá, na eternidade, aos Prelados que, por ação ou omissão, permitem este cataclismo espiritual".

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- Meu comentário acerca da situação assim descrita?

É que está abaixo de qualquer comentário...