Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 20 de outubro de 1974 

Conforme quer Budapeste 

Com base nas memórias do cardeal Mindszenty publicadas no "The Sunday Telegraph", historiei no domingo passado, as jogadas simultâneas de Paulo VI e Nixon, feitas segundo o imperativo desejado pelo governo comunista de Budapeste, para extirpar o glorioso Prelado do solo húngaro. Descrevi as sinuosas negociações mediante as quais o Vaticano chegou a um acordo com o Prelado, a viagem deste para Roma, a acolhida calorosa que lhe deu Paulo VI, e o primeiro golpe que recebeu do jornal oficioso do mesmo Paulo VI. Prossigamos hoje nesta narrativa tão acabrunhadora para quem, como eu, ama o Vaticano até o mais fundo da alma.

Quis Paulo VI que Mons. Mindszenty, antes de seguir para Viena, concelebrasse a Missa. Ao fim desta, deu-lhe, "como símbolo de amor e respeito", a capa cardinalícia que usava antes de ser Papa. Prometeu-lhe apoio, dizendo em latim: "És e continuas a ser Arcebispo de Esztergom e Primaz da Hungria. Prossegue trabalhando, e se tens dificuldade, volta-te sempre confiantemente para nós". Depois...

Depois correu tudo em rumo oposto.

Em Viena, Mons. Mindszenty começou suas atividades normais, que o Purpurado assim resume: "Pastorear centenas de milhares de húngaros no exílio; advertir o público mundial sobre os perigos do bolchevismo, pela publicação de minhas memórias, e sempre que possível, interessar-me pessoalmente pela trágica sorte da nação húngara". Começou então a perseguição:

1. Mons. Mindszenty pediu que lhe fosse devolvida a faculdade de indicar padres para as comunidades húngaras no estrangeiro. Amarga decepção: o pedido foi recusado pelo Vaticano – comenta o cardeal – para não "incomodar o regime de Budapeste".

2. Com o mesmo fim de não "incomodar o regime de Budapeste", a Santa Sé foi avante, e estatuiu que todas as declarações públicas do grande prelado fossem submetidas a um conselheiro indicado por Roma. Mons. Mindszenty retrucou que as submeteria "só ao Santo Padre, quando ele explicitamente o pedisse".

3. Facilitando o jogo de Roma, os bispos magiares nomeados por Paulo VI, mas inteiramente sujeitos ao governo húngaro, começaram a multiplicar junto a Santa Sé protestos contra as atividades anticomunistas de Mons. Mindszenty. Estourou então uma surpresa-bomba. Com efeito, a Nunciatura em Viena informou Mons. Mindszenty que a Santa Sé dera garantias ao governo húngaro, durante as tratativas de 1971, de que uma vez posto em liberdade, o Purpurado nada diria que pudesse contrariar as conveniências de Budapeste. Esta garantia, dada às ocultas do cardeal, violava o mais essencial do acordo que estava sendo negociado entre este e o Vaticano. Mediante tal concessão ao governo húngaro, Paulo VI empregou a autoridade conferida por Nosso Senhor Jesus Cristo a São Pedro, a fim de forçar o cardeal a não contrariar os planos do imperialismo comunista. As chaves de Pedro funcionando segundo os desejos de ateus perseguidores implacáveis da Religião: o que é isto, senão uma bomba, provavelmente a maior bomba na História da Igreja, de Pentecostes até hoje?

4. Logo depois, as diretrizes do governo húngaro começaram a se fazer sentir através do Vaticano. Estava sendo impresso em Portugal um discurso para o cardeal ler em Fátima. Emissários da Nunciatura de Lisboa intervieram na tipografia para – a não sabendas do Purpurado – suprimir um trecho em que este alertava os católicos do mundo contra a política de sorrisos dos comunistas.

5. O pior estava por vir. Algum tempo depois, Paulo VI escreveu a Mons. Mindszenty pedindo que renunciasse à Arquidiocese. O cardeal recusou. Paulo VI destituiu-o, então. Trago particularmente amargo: a carta foi entregue ao cardeal precisamente na data em que comemorava o 25º aniversário de seu glorioso encarceramento pelos comunistas.

Estava terminado o drama. Ao longo dele, de começo a fim, a conduta do Vigário de Cristo foi a que desejava o imperialismo comunista, isto é, o Anticristo.

 

 

 

Comentário? – Para que?

Apenas uma pergunta. Já que, em sua essência, é assim a détente de Paulo VI, obviamente há de ser a mesma nos outros países, no mundo inteiro... no Brasil.

Para onde nos levará isso?


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