"Folha de S. Paulo", 8 de setembro de 1974
Matreirices da "détente" com o divorcismo
Na Câmara e no Senado, cerca de vinte projetos tramitam visando aluir mais ou menos veladamente a indissolubilidade do matrimônio.
Disto se apercebeu ainda a tempo a CNBB, cuja Comissão Representativa acaba de instituir um comitê especial – "integrado por bispos, juristas, sociólogos e teólogos", assevera a entidade episcopal – para acompanhar o andamento daqueles projetos de lei.
Muito mais resta à CNBB fazer. Com urgência, deve ela encarregar de uma campanha antidivorcista nacional, todos os pregadores, confessores, professores de escolas e universidades católicas, jornais e revistas católicas, etc. Se ao vendaval divorcista não corresponder um vendaval católico antidivorcista ainda maior, teremos voluntariamente capitulado ante o adversário.
Enquanto aguardamos essas medidas, é lícito esperar algo da Comissão que os Bispos vão instituir.
Mas a objetividade me força a dizer que também há razões para recear. – Quais serão esses "bispos, juristas, sociólogos e teólogos" que a CNBB escolherá? Serão varões capazes de sustentar a luta sem as tergiversações e acomodações que o caso absolutamente não comporta? Vou mais longe: não haverá divorcistas entre eles?
Vejo à distância um ou outro leitor deixando, de indignação, cair das mãos o jornal: - "Mais esta da TFP! Como levantar tal suspeita contra gente da confiança da CNBB, máxime contra bispos e teólogos?"
Podem esses leitores apanhar o jornal e continuar a leitura. Sustento, e posso provar para quem quiser, que essa desconfiança é fundada.
Há tempos se vem desenvolvendo nos meios católicos uma détente com o divorcismo. Um dos seus sintomas é a impunidade que cerca, em geral, as personalidades eclesiásticas que, do Concílio para cá, se têm mostrado favoráveis ao divórcio.
Que me recorde, a mais notória delas foi o Bispo oriental D. Elias Zoghby, que propôs no Concílio a dissolução do vínculo conjugal em certos casos de adultério.
Depois disso, não tem cessado o show dos eclesiásticos favoráveis a uma legislação que, ostensiva ou veladamente, prepare o divórcio – ou até o aceite, em alguns casos.
Da Holanda, cito os teólogos e professores do seminário H. Boelaars, Th. Beemer e B. Peters, bem como o dominicano E. Schillebeeckx, todos mundialmente conhecidos. Na mesma linha se encontra o jesuíta P. Huizing, membro da Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico, durante doze anos professor da Universidade Gregoriana de Roma. Afina com eles o beneditino belga Olivier Rousseau, diretor da importante revista teológica "Irenikon".
Em nosso Continente, estão na mesma onda dois norte-americanos, o teólogo R. Carey, colaborador da revista passionista ‘The Sign", e Mons. V. Pospishil, doutor em direito canônico pela Universidade Gregoriana e professor de teologia do Manhattan College. De menor importância é o jesuíta chileno Hernán Larrain.
Nenhum destes, entretanto, supera em importância o teólogo redentorista alemão e ex-perito conciliar Bernardo Haering, tido pelos progressistas como o maior moralista de nossos dias.
No Brasil, essa moda penetrou também pelo menos desde 1966. Não poucos sacerdotes sustentam, em nosso País, orientação análoga. Um deles, o redentorista J. Snoek foi recentemente incumbido pela CNBB de falar num curso de atualização (!) para Bispos.
Isto tudo é muito pouco, em comparação de recente artigo do Sr. Cardeal D. Eugênio Salles. A meu ver, foi a bomba do ano em assuntos eclesiásticos brasileiros, pois favorece enormemente a causa divorcista.
Disto pretendo ocupar-me no próximo artigo. Se alguém mo pedir, poderei citar, então, não só os padres divorcistas brasileiros, como também os do Exterior, que são em número praticamente indefinido. De uns e outros poderei referir os textos, as obras, etc.
Estou porém certo, absolutamente certo, de que ninguém mo pedirá.
É matreira a "détente" "católica" com o divorcismo!