26 de
maio de 1974
Resistindo e aplaudindo
A
revista italiana "Chiesa Viva" de fevereiro do corrente ano noticiou que
300 mil católicos realizaram em Taipé (Formosa) uma manifestação
contra o que intitularam política de subserviência do Vaticano em
relação à China comunista. O ato culminou com uma cerimônia de um
tocante simbolismo, isto é, a inauguração de uma imagem de "Cristo
Sofredor".
A
este propósito, lembram os observadores que em Formosa os católicos
gozam da mais inteira liberdade religiosa. Assim, em torno dos antigos
santuários marianos da ilha se vêm realizando manifestações de fé que
atraem consideráveis massas de católicos. Tanto na Igreja da Imaculada
Conceição, a mais antiga da ilha, quanto na Catedral de Taipé, por
exemplo, grandes manifestações marianas se tem realizado recentemente,
com fervorosa participação de fiéis.
A
certos observadores custa compreender por que, então, a Santa Sé mantém
afastado seu núncio de Taipé. Consideram estes observadores difícil
evitar a impressão de que essa atitude do Vaticano se deve ao desejo de
atrair a simpatia da China vermelha.
Essa
penosa impressão parece encontrar consonância nas visitas, sempre mais
freqüentes, e de óbvio efeito distensivo, que altos dignitários
vaticanos vêm fazendo a países comunistas. Assim, a viagem de S. Excia.
Mons. Casaroli a Cuba, com os concomitantes contatos com Fidel Castro,
ou a ida do Emmo. Cardeal Rossi a Berlim Oriental para comemorar o
bicentenário da Catedral de Santa Edwiges, ou ainda a visita de S. Emcia.
o Cardeal Siri, Arcebispo de Gênova, à União Soviética. Essa última
visita, é verdade, tem mero objetivo de turismo, segundo afirmou
porta-voz da Cúria genovesa...
* * *
Para
falar mais uma vez – e espero que esta seja a última – da visita de
Mons. Casaroli a Cuba, devo informar os leitores que o Sr. Federico
Alessandrini, Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano, atendendo a
pedido meu, teve a gentileza de me enviar o texto da nota que distribuiu
à imprensa contendo o desmentido das afirmações feitas por Mons.
Casaroli sobre a situação dos católicos na ilha.
Como
se lembram os leitores, as assertivas do Prelado foram feitas a agências
telegráficas internacionais, que por sua vez as distribuíram a jornais
do Brasil, Argentina e outros países. E nelas se baseou em parte a
"Declaração de Resistência" da TFP.
À
vista desse desmentido, a TFP publicou nota à qual nada tem que retirar
ou acrescentar, depois de lido o texto enviado pelo Sr. Alessandrini.
Contudo, tendo o documento do Sr. Alessandrini em mãos, é-nos grato
elogiar, num ponto, a atitude do Secretário do Conselho para Assuntos
Públicos do Vaticano. Mons. Casaroli, como no documento se vê, teve
ciência de nossa "Declaração de Resistência". E só lhe fez objeção
quanto às assertivas que lhe foram pessoalmente atribuídas sobre Cuba.
Ao mesmo tempo, foi bastante justo e objetivo para nada dizer contra
nossa Resistência em si mesma considerada. Esse silêncio seria muito
pouco provável, ou até inconcebível, caso Mons. Casaroli considerasse
que, em nossa atitude, algo há de reprovável do ponto de vista da
doutrina católica ou do direito canônico.
Quanto nos é mais grato aplaudir S. Excia., do que dele discordar!