Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

 

 

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17 de março de 1974

"O sangue que não pode ser negociado"

Nosso público está caudalosamente informado sobre a détente das nações americanas com Cuba. Paradoxalmente, há tempo nada se lhe diz sobre a irreligião, o despotismo, a miséria a que está sujeito o povo cubano. E ademais, nada sabe o mesmo público sobre as aflições que essa détente causa aos anticastristas em Cuba ou no exílio.

Essa détente aliviará ou agravará os padecimentos dos cubanos? – Quem pode ser insensível a essa pergunta?

* * *

Se Fidel Castro quisesse tornar conhecida a atual realidade cubana, bastar-lhe-ia convocar uma reunião internacional de jornalistas de todas as tendências, aos quais mostrasse os resultados do seu regime e de sua administração. Bem entendido, ele não o faz. E terá para isso muito boas razões.

Na falta de informações, o testemunho mais fidedigno sobre Cuba é dos exilados cubanos, que a perseguição espalhou pelas ilhas e pelo litoral do Caribe. Em Miami formam eles uma aglomeração considerável pelo número e pela influência. Ademais, possuem núcleos menores em outras cidades norte-americanas.

Como é natural, vivem eles de auscultar todos os ecos procedentes da ilha bem-amada: notícias filtradas na imprensa do mundo inteiro, informações dadas por personalidades internacionais admitidas a pousar em Cuba e, mais modestamente, notícias trazidas por refugiados que conseguem escapar.

Mais do que ninguém do mundo estes cubanos teriam interesse em uma détente que diluísse o regime malfadado e lhes permitisse voltar à pátria. Entretanto eles – e só eles no mundo – realizam contra a détente protestos imponentes, sobretudo em Miami, a capital cubana do exílio.

O que bem mostra que péssimas notícias coletam a respeito de Cuba.

* * *

Segundo o "Diário de las Américas" de Miami (de 19 de fevereiro) – o grande órgão dos cubanos no exílio – realizou-se há pouco, naquela cidade, um desfile de cerca de quinze mil cubanos contra todo e qualquer tipo de coexistência com Fidel Castro. Tendo percorrido trinta quarteirões centrais, os manifestantes chegaram ao Parque Beyfront, onde mais de dez mil compatriotas os aguardavam. Junto a um grande Crucifixo, o Padre Ramón O’Farril dirigiu-lhes uma alocução, da qual transcrevo trechos:

"Nesta marcha dolorosa, subimos a encosta do Calvário para Pedir-Vos, ó Cristo Jesus, que nos deis fortaleza para nos mantermos erguidos e com dignidade defendermos a terra que nos destes por Pátria. Junto àqueles que todos os dias caem lutando pelo reinado de vosso amor, justiça e liberdade (...) face à traição, proclamamos: juntos triunfaremos, dispersos desapareceremos. Que todos bradem: antes mortos que vermelhos!"

Ao mesmo tempo, o prefeito e a Câmara Municipal de Miami enviaram mensagem a Nixon pedindo que mantenha o boicote a Cuba.

Foi enviado a Nixon um abaixo-assinado de cinquenta mil cubanos de Miami pedindo que não seja iniciada a détente com Castro.

Em San Juan de Porto Rico, um congresso das 65 organizações cubanas do Caribe fez uma campanha de protesto contra o reatamento com Castro. Foram enviadas mensagens a todos os presidentes e chanceleres dos países americanos e dirigido um apelo especial a Nixon.

Quarenta mães de jovens fuzilados por Castro enviaram telegramas a todos os Presidentes das Américas pedindo que não iniciem "aberturas" para com a infeliz ilha, e que não se esqueçam "do sangue vertido por milhares de nossos mártires; esse sangue não pode ser negociado..."...

Estes são fatos que nosso público não pode ignorar...

Nota: Os negritos são deste site.