Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

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17 de fevereiro de 1974

Proveitoso para brasileiros de escol

Teve larga divulgação na imprensa o folheto intitulado "Como eles agem", que a divisão de Segurança e Informações do Ministério da Educação e cultura (MEC) apresentou há pouco ao público. Ocorreu-me desde logo comentar esse trabalho. Temas de urgência imediata, entre as quais a trágica destituição do Cardeal Mindszenty, mo impediram. Faço-o agora. Em linhas gerais, considero a publicação do MEC notável pela qualidade, patriótica por sua inspiração e excelente do ponto de vista da oportunidade. O que não quer dizer que com ela concorde em tudo.

Parece-me que a matéria tratada no folheto pede desenvolvimentos que – espero – a Divisão de Segurança e Informações do MEC ainda dará a lume em outros trabalhos. Exemplifico. É bem verdade que a propaganda comunista procura fazer um antigovernismo mal intencionado e cavorteiro. Convém que o MEC deixe mais claro, oportunamente, que nem por isto toda ação antigovernista é inspirada pelos comunistas, ou pelo menos redunda em proveito para o comunismo. Como distinguir o antigovernismo envenenado dos comunistas, do de uma oposição legítima e leal? Belo tema a ser desenvolvido pelo intelectual, ou equipe de intelectuais, que produziu o folheto do MEC.

Sinto-me muito à vontade para levantar esse assunto, pois, como é absolutamente notório, nem eu, nem a TFP, cujo Conselho Nacional presido, temos qualquer vinculação de natureza política, quer com a situação, quer com a oposição. E se aplaudimos muitas das medidas tomadas pelo Governo contra a investida comunista, nem por isso nos consideramos vinculados a cada um dos lances da política social e econômica por ele desenvolvida nestes anos.

Assim quando o Presidente Medici começou a aplicar no Nordeste a reforma agrária, não me dispensei de afirmar, pelas colunas da "Folha", que a posição da TFP face às leis de reforma agrária vigentes era a mesma de sempre, isto é, a do já hoje histórico livro "Reforma Agrária – Questão de Consciência". E só não insisti no assunto, porque notei a inércia dos agricultores e a perfeita atonia das suas associações de classe.

Eu gostaria de que o, ou os autores do folheto do MEC, aos quais sobra talento e cultura para isto, precisassem em outro trabalho a linha demarcatória entre atitudes como esta – que é legítimo tomar também em outros campos, sem que, por isto, se seja antigovernista – e o antigovernismo chicanista e de má lei, que o folheto tão lucidamente denuncia.

Deixo feitas estas considerações logo de início, para não mais ter que voltar a elas, e assim me entregar despreocupadamente à consideração de tudo quanto o folheto tem de excelente.

A analisar o folheto em todos os seus lados positivos, poder-se-iam fazer tantos comentários que encheriam um pocket-book. Evidentemente, não pretendo estender-me tanto assim nas reduzidas dimensões desse artigo. Cinjo-me, pois a analisar o trabalho publicado pela Divisão de Cultura do MEC sob um ângulo especial. É o proveito que dele podem tirar muitos brasileiros dos melhores, que têm do comunismo, suas metas e seus métodos, uma visão tão estreita, que seu anticomunismo resulta tacanho e insuficiente. Fazem-me eles a impressão de quem quisesse reagir contra um bombardeio de gases tóxicos brandindo a espada, ou dando tiros com armas usadas na Guerra do Paraguai.

Espero que uma análise detida do folheto do MEC permita abrir os olhos desses patrícios de escol, de cuja atividade mais bem orientada tanto e tanto pode esperar o País.

A fim de poupar espaço, pretendo, no próximo artigo, dar uma relação das teses do que eu chamaria o anticomunismo de visão estreita.

Aos que acreditam em algumas dessas teses recomendo muito especialmente não só que leiam mas que também estudem o folheto do MEC. Desta forma dou minha contribuição para que esse trabalho circule como merece.