Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

10 de fevereiro de 1974  Bookmark and Share

A glória, a alegria, a honra...

"O bom pastor dá a vida por suas ovelhas" (S. João 10, 11).

Nestes tristes dias, marcados por sua destituição do Arcebispado de Esztergom, o Cardeal Mindszenty mais uma vez deu provas de que é um bom pastor, representante genuíno e íntegro do Bom Pastor por excelência. Para lutar contra o comunismo, que reduziu à miséria espiritual e material as suas ovelhas, o Purpurado magiar acaba de sofrer o último sacrifício. E talvez o mais doloroso.

Comemora-se neste ano o 25º aniversário de sua encarceração pelos comunistas. Ficou célebre a fotografia que o mostra no banco dos réus com olhar aterrado mas inquebrantável na resolução de cumprir até o fim seu dever. O mundo inteiro viu essa fotografia, e estremeceu de horror e de admiração. Veio depois o rápido intermezzo da sublevação anticomunista. E começou então para Mons. Mindszenty o longo cativeiro na embaixada norte-americana. Cativeiro no qual – oh mistério! – lhe era vedado o contato até com os habitantes do edifício. Mas, como coluna solitária no meio das ruínas de sua pátria, Mons. Mindszenty permanecia de pé, continuando na sua conduta as grandezas religiosas e nacionais do reino de Santo Estevão, e preparando, por seu exemplo, a ressurreição de seu povo.

 

Consolava ao menos ao Cardeal o apoio corajoso, firme, contínuo, de Pio XII. E por certo se sabia alvo da admiração comovida da Cristandade. Em tão firme alicerce, a coluna altaneira enfrentava ilesa, ao longo dos anos, as borrascas e os sóis.

A medida do sofrimento que lhe era pedido pela Providência parecia preenchido. Seu holocausto se terminaria nessa solidão trágica, nessa universal admiração.

Mas havia ainda o que dar. Ora, o bom pastor dá tudo. Dá a própria vida. [A exemplo de] Nosso Senhor "como amasse os seus, amou-os até o fim" (São João 13,1).

E cumpria que em torno da coluna grandiosa se fizesse o ocaso da admiração, e sua própria base sofresse o maior dos golpes.

Morto Pio XII, em largos setores católicos a tendência à colaboração com o comunismo foi apagando a admiração para com o grande Cardeal. Por fim, do trono de São Pedro foi-lhe pedido que renunciasse ao isolamento grandioso na Hungria em ruínas e aceitasse a trivialidade de um exílio confortável. O grande Cardeal obedeceu. Nunca a voz de Pedro se mostrou mais poderosa do que ao por de joelhos o varão altaneiro, a quem a pressão conjunta de Moscou e Washington não conseguira vergar. 

Paulo VI deu-lhe como residência uma torre austera e solitária nos jardins do Vaticano.

Que mistérios levaram Mons. Mindszenty a sair só, da sua torre, e a aparecer subitamente em Viena? Ninguém o sabe. O fato é que, novamente como coluna solitária, ele se fixou na capital austríaca, projetando sua sombra benfazeja por cima da fronteira da pátria tão próxima.

Ó força, ó grandeza! Até sua sombra atrapalhava os vis tiranos que governam a Hungria. Foi preciso abater a coluna.

E então as mãos mais sagradas da terra abalaram a coluna e a atiraram, partida, ao chão. Mons. Mindszenty já não é Arcebispo de Esztergom.

O sacrifício chegou ao fim, o pastor acabou por dar tudo.

Mas, ó louca ilusão dos homens! Se caiu o Arcebispo ao perder sua diocese, cresceu até as estrelas a figura moral do bom pastor que dá sua vida pelas ovelhas. E nesta figura grandiosa, todos os católicos anticomunistas do mundo – todos os católicos genuínos – haurimos alento, força, esperança invencível. E nossa aclamação sobe até a grande vítima: "Tu gloria Jerusalem, tu laetitia, Israel, tu honorificentia populi nostri" (Judith 15,10). És tu a glória da Igreja, és tu a alegria dos fiéis, és tu a honra dos que continuam a luta sacrossanta.


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