Plinio Corrêa de Oliveira
Artigos na "Folha de S. Paulo"
|
|
4 de dezembro de 1973 A equipe imprevidente – II Vimos, na primeira parte deste artigo, publicada no último domingo, até que ponto foi cega a equipe dos grandes do Ocidente, face ao perigo de uma chantagem petrolífera movida pelos árabes sob inspiração e comando de Moscou. Entretanto, considerações meramente retrospectivas não bastam em hora de tão grande perigo quanto esta. É inútil restringirmo-nos a lamentar tanta omissão havida. O que fazer agora? Esta é a pergunta que, mais do que todas, interessa. A saída que resta, para que o Ocidente não se curve à imposição russo-árabe, é resistir custe o que custar. Não por amor a Israel. Mas para mostrar aos árabes que não o verga a chantagem do petróleo. Para isto, a opinião pública tem mostrado, em alguns países, sintomas alentadores. Na França, recente inquérito atestou que 70% da população prefere enfrentar as durezas do inverno a capitular diante da pressão petrolífera. Na Alemanha, uma investigação provou que 57% dos habitantes acham que a Europa não deve ceder aos árabes. Ademais, em todos os países ameaçados de imediato pelo racionamento do petróleo, as massas demonstram uma serenidade que convida à análise. Quanto gostariam os comunistas de que elas estivessem saindo à rua para exigir dos respectivos governos uma imediata capitulação, que lhes assegurasse um inverno gordo e quente. Entretanto, nenhuma voz se ergue nesse sentido. O que é realmente de espantar, neste nosso mundo que um observador superficial diria voltado exclusivamente para o bem-estar! Mas a prova será dura. E a opinião pública de nossos dias está habituada a não reagir senão estimulada pelos chamados meios de comunicação social. Isto quer dizer que, se os dirigentes da opinião pública ocidental, eclesiásticos, intelectuais, homens de imprensa, rádio ou TV, políticos e homens de finança de todo o Ocidente, se coligarem para estimular as populações ao heroísmo, teremos a cena dignificante de um grupo imenso de nações que aceitou duras privações materiais para salvar os valores morais básicos de sua civilização. Mas se este concerto unânime não se der, se as equipes (e muito de propósito não lhes aplico a designação de elites) dirigentes continuarem em sua cômoda imprevidência, e não prepararem desde já para isto uma ação de grande envergadura junto à opinião pública, por culpa delas, nossa civilização correrá o risco de afundar na tragédia e na barbárie. Deus me livre de ficar aquém da verdade, em matéria de tanta monta. Não é verdade que as equipes dirigentes dos grandes e do supergrande do Ocidente se limitaram a não prever o perigo. Cevaram o adversário. Quando, há pouco, o capitalismo ocidental, representado por alguns de seus mais altos expoentes políticos, como Nixon e Willy Brandt, ou de seus mais poderosos expoentes na esfera do empresariado privado, encheram a Rússia de cereais, e se puseram a lhe proporcionar largamente maquinarias e créditos, por que não cogitaram de lhe exigir, como contrapartida, uma inteira renúncia à influência na zona petrolífera? De duas uma: ou o governo comunista russo precisava absolutamente da ajuda do Ocidente para não soçobrar em uma crise interna terrível, ou não precisava. Se dela precisava, não teria recusado todas as concessões que lhe fossem exigidas nas zonas petrolíferas. Se delas não precisava, por que abasteceram ainda mais um adversário já tão poderoso? Por que o abasteceram a ponto de sujeitar todo o Ocidente a uma perigosa inflação? Por que tantos disparates suicidas? Por simpatia para com o adversário? Como qualificar, então, esta simpatia? Ou foi o desejo de obter a simpatia deste? Neste último caso, aqui está a resposta a esta candura pueril: a Rússia põe um revolver no peito destes ingênuos. É a chantagem petrolífera em todo o seu horror. * * * E a pergunta trágica e decisiva fica. Essa imensa equipe de grandes e do supergrande, imensamente imprevidentes, saberá sustentar ao longo de uma dura crise, o moral dos povos da Europa e da América do Norte, para que estes evitem de ser "finlandizados"? |