Plinio Corrêa de Oliveira
Artigos na "Folha de S. Paulo"
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22 de abril de 1973 A tragédia: "Sós, sem chefe e sem Pastor" Dos Srs. Patrício Amunategui Monckberg e Juan Gonzalo Larrain Campbell, membros do Conselho Nacional da TFP chilena, recebi esta missiva cuja publicação me parece indispensável para que os leitores conheçam em seus verdadeiros e sinistros matizes esse fenômeno de extensão mundial de tanta importância no Brasil, que é o dito progressismo católico. "Vimos acompanhando com muito interesse o que a imprensa brasileira tem publicado a respeito de divergências entre as autoridades eclesiásticas chilenas e o governo de Allende. Tais divergências teriam tido origem em um projeto do Governo, cuja finalidade é impor ao País por meio da Escola Nacional Unificada (ENU) um sistema educacional nitidamente marxista. "Naturalmente procuramos informar-nos a fundo sobre o problema, lendo diretamente os jornais e revistas chilenos. E assim verificamos que no farto noticiário publicado sobre o assunto pela imprensa brasileira não têm aparecido certos matizes essenciais à plena compreensão da atitude do Episcopado nesta emergência. "Com efeito, quem não acompanhou diretamente nos jornais chilenos o desenrolar dos fatos, ao ler o que a aliás brilhante imprensa brasileira publicou a respeito, pode ficar com a impressão de que o Episcopado de nosso País está tomando uma atitude enérgica e categórica contra o projeto educacional comunista. Consequentemente, ter-se-ia a impressão de que a Hierarquia estaria atendendo, assim, às graves ponderações que a TFP chilena lhe fez em seu manifesto intitulado: "A autodemolição da Igreja, fator de demolição do Chile". "Por amor à verdade, parece-nos necessário afirmar que a realidade infelizmente não é esta. Ao fazê-lo, baseados, como já dissemos, em fatos tirados da imprensa chilena, teremos ocasião de mostrar que a atitude assumida pelo Episcopado de nosso querido e hoje tão desafortunado País, não corresponde à imagem da combatividade antimarxista, que o múnus episcopal exige. * * * "Passemos aos fatos. "Durante a enorme reação que se produziu ao tornar-se conhecido o projeto do Governo, o Cardeal Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago, entrevistou-se com Allende. À saída da audiência, o próprio Cardeal incumbiu-se de declarar à imprensa, de forma conciliadora, que a Igreja não estava em conflito com o Governo, e que, a seu juízo, os problemas existentes poderiam ser superados ("El Mercurio" de 28.3.73). "No dia seguinte, o Comitê Permanente do Episcopado, presidido por Mons. Silva Henriquez, emitiu uma declaração oficial, na qual se pronunciou a propósito do assunto. No documento, os Srs. Bispos começam ressaltando os "aspectos positivos" do referido projeto. A seguir, numa linguagem vaga, sem atacar e nem sequer nomear o marxismo como ideologia responsável pelo intento governamental, manifestam-se apreensivos, porque no projeto não se levaram em conta os valores humanos e cristãos que fazem parte do patrimônio espiritual do Chile. E depois de manifestar a sua confiança nos propósitos sadios do marxista Allende e do Ministro da Educação, pedem que se adie a aplicação do plano educacional. Por fim, citam um trecho da Declaração dos Direitos Humanos da ONU, no qual se afirma que os pais têm o direito preferencial de escolher o tipo de educação que seus filhos devem receber ("El Mercurio" de 29.3.73). "Essa linguagem, tão polida e cauta, deixa ver claramente ao Governo que, se ele fizer ouvidos moucos ao pedido do Episcopado, não terá que recear, da parte deste, qualquer atitude corajosa. E que os Srs. Bispos não parecem ter desejo nem fibra para promover um imenso e decisivo movimento de protesto do povo chileno contra o projeto marxista. "Nestas condições, é inteiramente explicável o modo pelo qual a opinião pública católica esta vendo, no Chile, a atitude de suas autoridades eclesiásticas. Assim, por exemplo: “No colégio das monjas francesas, de Santiago, mais de 400 pais de alunos, discutindo o assunto, qualificaram de "excessiva diplomacia e contemporização" a maleabilidade do Cardeal no que se refere às relações da Igreja com o governo marxista. Rejeitaram por maioria absoluta com um só voto contra o projeto do Governo ("La Prensa" de Santiago de 5.4.73). “Trezentos pais e mães de família da cidade sulina de Los Angeles escreveram uma corajosa carta a Mons. Silva Henriquez. Dela destacamos alguns parágrafos: "Lemos com assombro as declarações que a respeito da ENU emitiu S. Emcia (...). A debilidade de seu pronunciamento compromete o destino das consciências de nossos filhos e sua qualidade de homens integrais (...). Nunca teríamos imaginado que diante de tal perspectiva, V. Emcia. solicitasse ao Governo um simples adiamento da aplicação do projeto da ENU, e não emitisse um categórico repúdio (...). Jamais supusemos que os Pastores da Igreja no Chile iriam ignorar o conteúdo fundamental, a alma toda da reforma que se pretende fazer: a implantação da educação marxista-leninista no Chile (...). Não, Sr. Cardeal, os pais de família não ignoram que os planos da ENU nos arrebatam o filho do seio familiar e nos roubam o direito que tínhamos, por lei natural, de orientar nossos filhos, com liberdade e consciência cristã. O Estado se reserva, de forma exclusiva, o que era nossa missão, para massificá-los (...). E em face deste caos, V. Emcia. pede prorrogação de prazos? V. Emcia. espera conversar, transacionar e discutir com o marxismo. As mães chilenas esperavam contar com V. Emcia., Sr. Cardeal, com sua coragem, com seu patriotismo. Ficamos sós, sem chefe e sem Pastor..." ("Tribuna" de 7.4.73). “No importante colégio "Villa Maria Academy", de Santiago, quando se discutia o projeto do Governo na Assembléia dos pais, que reunia mais de 500 pessoas, um dos assistentes formulou graves críticas ao Cardeal, por seu débil pronunciamento, recebendo calorosas demonstrações de adesão. Outro dos presentes, pelo contrário, pretendeu defender o Cardeal, e foi vaiado ("El Mercurio" de 6.4.73). "Poderíamos citar outros fatos igualmente significativos, porém não o fazemos por amor à brevidade. Apenas acrescentamos que o jornal governista "Ultima Hora" manifestou sua satisfação pelo fato do Comitê Permanente do Episcopado ter se limitado a pedir o adiamento da aplicação do projeto do Governo, e ter reconhecido aspectos positivos do mesmo ("Ultima Hora" de 2.4.73). "Os fatos apontados mostram que a aparente energia anticomunista do Episcopado chileno, insinuado pelo noticiário de algumas agências internacionais, não é real. A atitude daquelas autoridades eclesiásticas – salvo honrosas exceções – continua sendo, neste transe, no sentido de apaziguar a justa indignação da grande maioria da opinião pública chilena". |