Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

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15 de abril de 1973 

Onze padres valentes 

A TFP chilena publicou, há cerca de um mês e meio, neste jornal, um manifesto em que mostrava, com elevação e coragem, como o avanço vitorioso do progressismo na Hierarquia, Clero e laicato do país andino importou na implantação e consolidação do regime marxista. O processo de autodemolição da Igreja – sirvo-me de uma expressão já célebre de Paulo VI – estendeu-se da esfera espiritual para a temporal, e vem produzindo a demolição do país.

O documento produziu entre nós tão geral e funda impressão, que por certo estará ainda na memória de todos os leitores.

Comentando o pronunciamento de meus brilhantes amigos andinos, fiquei de informar os leitores, em tempo oportuno, acerca das repercussões daquele documento no Chile. Hoje, transcorridos 45 dias da publicação dele em Santiago, venho desincumbir-me do prometido. Como é óbvio, minha fonte de informação é a própria TFP chilena.

* * *

Da parte da Hierarquia, o que se passou foi lamentável.

Logo depois da publicação do Manifesto, os seus signatários receberam dois telegramas enviados com pequeno intervalo um do outro convocando-os a comparecer à Cúria. Ali apresentou-se um deles, o advogado Andrés Lecaros. Recebeu-o o Bispo Mons. Oviedo, Secretário da Conferência Episcopal do Chile. A discussão entre ambos se entabulou desde logo, ácida da parte do Prelado, respeitosa mas muito firme da parte do sr. Lecaros. Ela se encerrou com a declaração de Mons. Oviedo de que com a TFP é impossível dialogar, porque é muito intransigente. Como se não fossem intransigentes os líderes comunistas, com os quais os Monsenhores Oviedo que há por toda a face da terra, mantêm animado e ameno diálogo...

E ficou nesse encontro a portas fechadas, a reação da CEC a um manifesto de tão alto quilate e vasta repercussão!

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Entretanto, para honra do clero e alegria de nossos corações de católicos, vários sacerdotes de valor e coragem manifestaram seu apoio à TFP chilena. Eis alguns excertos das cartas que escreveram:

Do Pe. Guilhermo Varas A., de Santiago (diários "Tribuna" e "La Tercera de la Hora" de 7.4.73).

Depois de declarar que lera com muito interesse o manifesto da TFP, prossegue: "É tristíssimo constatar, e os Srs. o fazem com abundância de documentação, como da atitude tantas vezes débil, vacilante ou errada de certos sacerdotes, o marxismo soube tirar abundante proveito para consolidar sua dominação sobre nossa Pátria.

"O que os Srs. exprimiram (em seu manifesto) (...) apresenta uma luz de certeza para incontáveis chilenos que se debatem em meio ao erro e à confusão.

"Creio que muitos setores interessados em semear esta confusão preferirão guardar um prudente silêncio. Que outra atitude poderiam adotar, quando os fatos apresentados e as apreciações feitas, não apenas são de notoriedade pública, mas fiel expressão do que ensina nossa Santa Madre Igreja?”

* * *

Do Pe. Raymundo Arancibia S., de Santiago (Diário "La Tercera de la Hora" de 11.4.73):

Afirma que o manifesto da TFP contém uma dura crítica à atuação que tiveram em nossa Pátria os homens da Igreja durante os últimos tempos.

"Os cristãos, e em especial os Sacerdotes, sofremos muito profundamente quando se tornam necessárias estas publicações, pela razão muito simples de que nelas sai mal colocada a Hierarquia, mãe comum de todos os fiéis.

"(...) Não sou, entretanto, daqueles que a priori rejeitam toda crítica, por considerá-las sempre uma irreverência ou um pecado. Existem, sem dúvida, diversos tipos de críticas: a que se faz por ódio ou pelo simples afã de achar tudo errado; e a que analisa serenamente os fatos, tira conclusões adequadas, discerne responsabilidades, e procura remédios para curar o mal.

"A que os Srs. fazem pertence ao segundo tipo, uma vez que não criticam movidos pelo ódio, mas pelo amor que têm à Igreja. Com uma linguagem respeitosa, apontam os fatos ocorridos e, indicando as causas que lhes deram origem, deduzem conclusões lógicas e propõem soluções construtivas.

"(...) é espantoso verificar que muitos sacerdotes interessados na sorte dos que trabalham tenham ido buscar precisamente numa doutrina condenada pela Igreja como intrinsecamente perversa a solução desses problemas (a questão social) como se nas Encíclicas não estivesse a melhor e mais cristã das soluções.

"Essa atitude débil e indecisa ante o avanço dos erros marxistas; a doutrina sustentada de forma descarada por muitos ministros de Deus, de que se pode ser bom cristão e marxista, ao mesmo tempo; a política de mão estendida que advoga uma franca colaboração com o comunismo, o que, tudo, aconteceu sem que ninguém atalhasse tais transbordamentos – deram como fruto essa debilidade e indiferença dos católicos diante deste açoite, e criaram o "clima" propício para que entronize no Chile o marxismo, que o está levando ao caos.

"Com toda a razão, os Srs. protestam por causa desses acontecimentos, e com perfeita lógica tiram a conseqüência que serviu ao seu folheto.

"(...) Deus continue ajudando-os nesta obra que empreendem com tanto zelo e sacrifício."

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Dos Padres Francisco Ramirez, pároco de Santo Agostinho, José Garcia, vigário cooperador, Benedito Guines e Luis Toledo Sch. pároco do subúrbio de Carlos Mahns Tomé, todos de Concepción (diário "El Sur" de Concepción, de 10-4-73).

"Sentimos o dever de fazer-lhes chegar nosso público apoio e nosso mais sincero aplauso à posição assumida por essa entidade no manifesto intitulado "A autodemolição da Igreja, fator da demolição do Chile".

"Em face da atitude que adotou grande parte dos membros do Clero em relação ao processo de comunistização que se abate como uma "procella tenebrarum" sobre nossa Pátria, somente nos cabe manifestar nosso repúdio ao silêncio e cumplicidade em que os mesmos incorreram. Pensamos como os Srs. que esta atitude corresponde à grave crise em que se encontra a Igreja Católica, crise essa que o próprio Paulo VI designou como um processo de autodemolição da Igreja"; e que, portanto, cabe ao Clero uma grave responsabilidade por tal processo, no Chile. Não querendo nós incorrer na mesma omissão, apoiamos a declaração dos senhores, por estar ela em inteiro acordo com os mais genuínos ensinamentos de nossa Santa Madre Igreja".

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Dos Padres Arturo Fuentes T., capelão das Irmãzinhas dos Pobres, e Bernardo Lobos M., Professor do Liceu II de Homens, de Concepción (diário "La Tercera de La Hora" de 9-4-73):

"Concordamos plenamente com toda a visualização que os Srs. dão da realidade chilena.

"Ao considerar o silêncio e, em alguns casos, a colaboração do Clero, como um dos fatores mais importantes do processo de comunistização em que se afunda nossa querida Pátria, os Srs. tratam do problema com toda a seriedade, mostrando fatos incontrovertíveis, expostos de uma maneira inteiramente respeitosa.

"É uma enorme alegria para nós, como Sacerdotes, constatar que neste momento tão crítico da vida da Igreja e de nossa Pátria, haja leigos que assumam a defesa dos mais genuínos princípios de sua Religião, enquanto os que deveriam fazê-lo, se calam".

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Dos Padres Reinaldo Durán Ch., pároco de São Rosendo, Francisco J. Valenzuela, pároco de Lirquén e Francisco Veloso C. pároco de São João da Mata (diário "Tribuna de Santiago, de 11.4.73):

"Não podemos senão concordar e dar nosso caloroso apoio aos manifestantes (da TFP), que citam fatos de domínio público e, portanto, indiscutíveis. Esses fatos ou omissões vêm escandalizando e confundindo os fiéis. Com isso, o marxismo, inimigo do catolicismo, se viu fortalecido.

"Não queremos que nosso silêncio seja interpretado como uma aprovação do marxismo, formalmente condenado por numerosas Encíclicas pontifícias. Por isto fazemos público esse voto de aplauso.

"Que estas linhas sejam para os Srs. um estímulo para continuar nesta luta justa".


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