Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

 

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18 de fevereiro de 1973 

Abertura para o diálogo 

Nesta semana cheia de referências publicitárias à TFP, nossa atenção esteve inteiramente concentrada no que se passava na XIII Assembléia Geral dos Bispos, reunida em São Paulo.

Segundo abundante noticiário jornalístico, a Assembléia iria tomar atitude perante as duas organizações conexas, TFP e Cursilhos. Digo "conexas", porque ambas estão em luta declarada: a TFP distribuindo muito largamente a pastoral de D. Antônio de Castro Mayer sobre infiltrações que afetaram setores do movimento cursilhista, e a cúpula cursilhista lutando à socapa, isto é, evitando de aparecer, mas estimulando, há já mais de um mês, contra D. Mayer e a TFP, sucessivos vagalhões publicitários. Vagalhões que – seja dito de passagem – não surpreendem a D. Mayer nem à TFP. Eu já os previra em artigo na "Folha de São Paulo", publicado logo ao ser lançada a difusão da pastoral do grande Prelado.

Com destaque que variou segundo os diversos órgãos da imprensa, e assumiu em alguns proporção marcante, foi anunciado, antes da reunião, que a TFP iria ser condenada pela CNBB. Antecipando-se sofregamente ao pronunciamento do plenário da Assembléia, D. José Freire Falcão, arcebispo de Teresina, designado pelos seus pares para falar à imprensa, afirmou logo no início dos trabalhos que "provavelmente a TFP terá uma repreensão". Parecendo corroborar esta afirmação, outras fontes da CNBB declararam ainda à imprensa haver sido aprovada por maioria de votos a inserção da TFP como tema da agenda da Assembléia, e ter sido formada uma comissão de três bispos para estudar nossa entidade. O Arcebispo de Teresina informou ainda – e o pormenor é digno de nota – que o fato de a TFP haver sido posta assim no banco dos réus tinha relação com um planejado voto de apoio em favor dos Cursilhos de Cristandade.

A "torcida" dos setores esquerdistas dos Cursilhos exultava. As coisas não lhe podiam correr melhor. Um vasto, gordo e bombástico elogio dos Cursilhos, e sobretudo uma condenação da TFP, que achado!

Compreendo perfeitamente a alegria desses cursilhistas. Uma vez que eles não têm argumentos a opor às citações e argumentos com que D. Antônio de Castro Mayer justificou suas ressalvas ao gaiato movimento "De Colores", aos defensores deste só resta esconder-se atrás do argumento de autoridade. Em magistral entrevista à imprensa, o bispo de Campos demonstrou, com base na doutrina católica e em insofismáveis antecedentes históricos, que tal argumento – nos termos em que vem sendo explorado pela contra-ofensiva cursilhista – absolutamente não fecha a questão, nem exime a cúpula dos Cursilhos de aceitar o diálogo doutrinário do qual vêm fugindo. O único remédio para aquela cúpula era pedir aos seus defensores que continuassem no mesmíssimo argumento de autoridade. Mas o povo brasileiro é dos mais inteligentes. Sua percepção rápida, ágil e direta das coisas, não se deixou atordoar pelo bluff do argumento de autoridade, usado como curinga no caso. E por isso, apesar de toda atroada feita pelo pró-cursilhismo, a carta pastoral de d. Antônio de Castro Mayer tem tido uma saída vitoriosa, a cujo respeito a TFP publicará oportunamente cifras exatas.

Assim, seria da mais alta utilidade para o cursilhismo acrescentar ao gasto realejo mais uma nota. Esta não poderia consistir simplesmente num elogio aos Cursilhos. O material laudatório tão copioso que possuem já não lhes tinha valido grande coisa. Mais um elogio não resolveria a situação. Era preciso, isto sim, golpear a TFP. Para quem não pode escusar-se adequadamente das acusações que sofre, é um recurso bem conhecido e utilizado por todos os indivíduos em apuros, desviar o assunto injuriando o acusador.

Ao ser noticiado que a TFP seria condenada, a alegria cursilhista se manifestou em conseqüência, de forma estrepitosa. Mas esse estrépito, se bem que agressivo, não foi corajoso. Começaram os telefonemas anônimos a sedes da TFP, com injúrias e pesados palavrões. Este pormenor não surpreende aos que leram a pastoral de D. Mayer e sabem que coisas destas se aprendem largamente em certos Cursilhos. Tenho uma prova recentíssima do que digo, e se qualquer cursilhista disto duvidar, pode interpelar-me. Não creio porém que o faça... Outra manifestação da alegria com que certos cursilhistas festejavam prematuramente sua vitória consistiu em passarem de automóvel diante do nosso oratório da rua Martim Francisco e bradarem obscenidades. Um cursilhista particularmente alegre jogou ovos contra os rapazes que, de costas para a rua, e voltados para a imagem de Nossa Senhora da Conceição, rezavam recolhidos.

Como digo, os setores esquerdistas do cursilhismo exultavam... bem à maneira deles.

* * *

Toda essa alegria dos heróis do anonimato, dos campeões da pornografia, dos épicos cavaleiros que enfrentam de dentro de um auto e pelas costas àqueles que tiveram o atrevimento de deles discordar, tudo isso começou a passar de repente, quando o Cardeal Arcebispo de Porto Alegre, D. Vicente Scherer, declarou à imprensa que, provavelmente a TFP não seria objeto de nenhuma condenação e, quando muito, alguma referência no comunicado final da Assembléia, teria alguma censura à nossa organização.

Os telefonemas pornográficos cessaram. Diante do oratório, as blasfêmias contra Nossa Senhora e as injúrias foram desaparecendo. E, por fim, toda expectativa jubilosa dos cursilhistas caiu ao solo quando, divulgado o comunicado, o público pode ver que não continha uma só referência à TFP.

* * *

Por que tanta diferença entre as perspectivas radiosas que a torcida cursilhista via diante de si, ao iniciar a Assembléia, e o resultado final desta?

Ignoro-o. Com consciência tranquila, a TFP deixou transcorrer a Assembléia sem pedir uma informação sequer, nem implorar uma simpatia ou um voto. Aguardávamos o resultado serenamente dispostos a explicar eventualmente ao público nossa posição, como já o fizéramos quando do comunicado com que nos atingira em 1966, a Comissão Central da CNBB.

Assim, não estou em condições de explicar o que se passou.

Noto apenas que, segundo certos jornais garantiram, a discussão andou acesa entre os Srs. Bispos, no que toca à censura à TFP, a ponto de retardar de uma hora a publicação do comunicado. No final, este nada continha sobre a TFP.

Aos Srs. Bispos que, nessa ocasião, tenham votado no sentido de se omitir qualquer censura, aqui fica nosso agradecimento. Pode ser árduo defender a justiça em certas ocasiões.

* * *

A desolação do cursilhismo frustrado seria completa se não a atenuassem solicitamente algumas afirmações feitas à imprensa pelo Sr. bispo D. Ivo Lorscheiter, secretário da CNBB. Em que medida tais afirmações representam o pensamento da Assembléia? O que têm elas de objetivo?

Diz o bem conhecido secretário da CNBB que a Comissão de bispos incumbidos de estudar a questão da TFP opinou no sentido de que nossa entidade, movida pelo desejo de publicidade, almejava um pronunciamento ainda que desfavorável. Razão pela qual convinha que a CNBB silenciasse sobre nossa organização. Analisarei no próximo artigo essa atitude extravagante e pirracenta que D. Lorscheiter assume a responsabilidade de atribuir à Comissão e à ilustre Assembléia. Limito-me a lembrar aqui o fato bem notório de que não eram os amigos da TFP os que tanta algazarra faziam sobre sua possível condenação, mas os valentões do anonimato, os heróis do palavrão obsceno.

Acrescentou d. Lorscheiter que a Assembléia se absteve de nos condenar "para não dar uma importância à TFP, maior do que essa organização tem". Também voltarei a esse assunto. De momento, aceito humildemente diante de D. Lorscheiter a inteira irrelevância da TFP. Mas manifesto minha estranheza diante do fato de que, sem embargo de sermos tão sem importância, o Sr. D. Lorscheiter deixe de alertar, a nosso respeito, o público tão vasto ao qual nos dirigimos. Também o público não tem importância para esse Pastor de ovelhas?

Com gáudio para a torcida cursilhista, diz ainda d. Lorscheiter que somos "impermeáveis ao diálogo". Desde já assevero que a verdade é exatamente o contrário. E se D. Lorscheiter quiser, posso dar-lhe de público as provas do fato. É só pedi-las.

D. Lorscheiter insinua, por fim, que faltamos com respeito ao Episcopado. Igualmente afirmo que não. Se D. Lorscheiter me mostrar o contrário, não terei dúvida em pedir desculpas a quem de direito. O que eu gostaria é que d. Lorscheiter – o qual como bispo deve dar, e ao público, o bom exemplo na prática de todas as virtudes – também se desculpe de público se, depois de devidamente informado, se convencer que a TFP é aberta ao diálogo...

Mas já vou excedendo os limites do presente artigo. O resto fica para outra vez.


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