Folha de S. Paulo,
24 de dezembro de 1972
Argumentos, esse presente de Natal...
Para os entendidos, nunca foi mistério que o regime comunista é fonte de
empobrecimento. O grande público do mundo ocidental, entretanto, não
tinha sua atenção devidamente alertada para este ponto.
E daí provinha um grave inconveniente. Em setores não pequenos do mundo
livre encontravam certa audiência os verbosos demagogos que apregoavam o
mito da abolição da propriedade privada como meio seguro para a
eliminação da pobreza.
Felizmente, esse mito estourou no ano que vai findando. O primeiro
prenúncio desse "estouro" surgiu, aliás, anteriormente a 1972,
quando a grande imprensa internacional noticiou o insucesso da
arrancada castrista para o aumento da produção açucareira em Cuba.
Tal
foi, então, o malogro do barbudo ditador, que não houve meio senão
registrá-lo, até nas numerosas folhas "sapas" , cuja leitura deleita a
ala entreguista e tola da burguesia do Ocidente. Entretanto, Cuba é como
uma gota do comunismo internacional separada por distâncias infindas do
oceano vermelho e além cortina de ferro. - O malogro da economia
comunista na "Pérola das Antilhas" resultaria mesmo do regime em si, ou
apenas de circunstâncias locais?
- É o
que se perguntava a "saparia", sempre propensa a interpretar com
benevolência tudo quanto se relacione com o grande inimigo vermelho que
a apavora e seduz.
Contudo, a venda que cobria muitos olhos caiu, no decurso de 1972. As
"compras" de trigo feitas pela Rússia e pela China aos EUA indicaram a
completa impotência do regime comunista para evitar o empobrecimento
progressivo das imensas populações sobre as quais deitou suas garras
de ferro. Escrevi "compras" – entre aspas – pois me recuso a ter como
compras genuínas os fornecimentos fabulosos do precioso cereal, feitos
pelos EUA aos seus inimigos de outrora – e grandes amigos de hoje –
mediante condições de pagamento mal esclarecidas pela imprensa diária.
Essas condições ficarão presumivelmente letra morta. – Pois se, por
exemplo, a Rússia se negar futuramente ao pagamento de grande parte do
preço tratado, o que farão os EUA? Promoverão uma guerra mundial para
cobrar o débito? Logo eles que estão a pique de se curvar ante a pequena
Cuba, para obter que esta cesse suas práticas de banditismo aeronáutico?
Mais
perto de nós, o exemplo do Chile também é altamente
concludente. Dele tanto me tenho ocupado, que me parece supérfluo
relembrar-lhe aqui os pormenores trágicos.
O que
é certo, indiscutível, solarmente claro, é que o comunismo, em lugar
de diminuir o número dos pobres, transforma em pobres todos os
habitantes de nações inteiras. A evidência deste fato para o
grande público constitui o aspecto positivo deste torvo e tumultuoso ano
de 1972, que os teve tantos negativos. Pois contra os pregoeiros
do comunismo, qualquer um pode lançar em face a inconsistência da meta
que adotam.
* * *
Mas
um mito “sapo” continua de pé: é o mito sueco. Não faltam
burgueses que se regalam em apontar a Suécia como o paraíso terreno.
País "muito evoluído", segundo eles, que alia às práticas do mais cabal
liberalismo político, um sistema social muito socializado e igualitário,
o qual, entretanto, não chega a ser comunista!
Como
se regalam os "sapos" em dizer que, em algum canto da terra, se efetiva
assim seu mito de uma democracia politicamente liberal e
sócio-economicamente autoritária!
Se se
objetasse contra a autenticidade desse paraíso, que a imoralidade
atingiu nele índices escandalosos - admite-se ali, por exemplo, o
casamento entre pessoas do mesmo sexo - muitos "sapos" deslizariam sobre
o argumento, sem com ele se impressionarem. É que no fundo da
mentalidade "sapa" está a convicção de que os problemas morais são
irrelevantes. Esteja bem organizada a economia, e o mundo será um
paraíso. Quanto à moral - pensa muito "sapo"- ela mais pode servir
de desmancha-prazeres do que esteio do grande festim demo-socialista dos
seus sonhos.
Nisto se manifesta o subconsciente radicalmente ateu da "saparia". Pois
não pode haver ordem humana verdadeira, nem estável, nem feliz, se a
Providência de Deus não a proteger.
Ora,
foi precisamente a homossexualidade a causa do castigo das cidades
malditas de Sodoma e Gomorra. Deus fez de ambas claros exemplos, para
prevenir em todos os tempos e lugares, contra a cólera de Deus, as
nações em que este pecado, o qual - segundo ensina a Igreja -
"brada ao Céu e clama por vingança", se transforma num hábito admitido
por todos.
Mas
a "saparia" não se preocupa muito com a Providência. Ela tem
sua providência, com "p" minúsculo: o estado socialista. E assim, os
argumentos de índole moral de pouco afetam os "sapos".
Isto
me leva a oferecer aos meus leitores alguns dados que lhes facultem
argumentar com a "saparia" no próprio reduto desta, ou seja, no campo
sócio-econômico. Faço, assim, aos leitores, meu presente de Natal. Um
argumento concludente vale incomparavelmente mais do que pão de mel ou
um perfumado panettone, para aqueles que acima de tudo amam o reino de
Deus e sua justiça.
Esse
presente, torno-o extensivo, por meio de meus leitores, aos "sapos".
Pois a verdade é o melhor presente para todos os homens... inclusive
para os que a ignoram ou até lhe voltam as costas...
* * *
E
vamos assim aos fatos.
Na
"Review of the News", de 13-9-72, conhecido órgão norte americano,
colho, para os meus leitores e para os "sapos", como lembrança de Natal,
todo um buquê de dados ilustrativos sobre o paraíso sueco.
Antes
de tudo cumpre notar que os impostos sobre as empresas são baixos, mas o
imposto sobre a renda pessoal, bem como os outros impostos, diretos ou
indiretos, são tão pesados, que 44% do Produto Nacional Bruto é
absorvido pelo Estado. E como estes impostos, de um modo ou doutro, são
proporcionalmente crescentes, torna-se para todo o mundo inútil
trabalhar além de certo limite.
O
resultado é que o Produto Nacional Bruto vai baixando
progressivamente...
O Sr.
William Frye, autor do artigo de que tiro estes dados, ilustra essa
situação com alguns exemplos. Se um escritor independente consegue
ganhar cerca de 24.000 dólares por ano, no décimo mês ele para de
trabalhar, a fim de calcular se seus rendimentos nos dois meses
seguintes vão ultrapassar o limite que o colocaria na categoria
tributária imediatamente superior. Se ultrapassar, ele terá de pagar ao
Estado nada menos que 75% dos ganhos excedentes. E, nesse caso,
trabalhará para receber uma insignificância. De onde mais lhe convirá
entregar-se ao ócio.
Uma
secretária que ganha 8.000 dólares por ano receberá, pagos os impostos,
4.665 dólares líquidos. Além disso deverá pagar 17% do imposto de
consumo sobre quase todas as mercadorias que adquirir. À medida que ela
aumenta sua renda, trabalhando mais e melhor, irá pagando impostos
crescentes. De onde ela se vê reduzida ao desestímulo de uma rotina em
que se anula o melhor de sua capacidade de produção.
É
claro que desse "paraíso" os capitais fogem espavoridos. Se a taxa de
crescimento anual do país era de 1% na década de 60. Em 1970 caiu para
zero. O ano de 1972 apresentou um aumento de 3,5% nessa taxa. Mas o
significado desse fato está carunchado. Com efeito a lepra da inflação
penetrou no "paraíso escandinavo", e nele vai aumentando todos os
preços.
* * *
Assim, o socialismo amoral e "evoluído" da Suécia vai arrastando
gradualmente para a pobreza aquele tão apregoado "paraíso".
E é
natural. Se o comunismo produz a miséria, todo regime sócio-econômico
será tanto mais depauperante quando mais se parecer com o comunismo.
Ora,
o socialismo não é senão uma diluição do comunismo em marcha para a
progressiva substituição de todas as características não comunistas por
outras radicalmente comunistas.
Logo,
se o socialismo não é diretamente a miséria, é a pobreza rumo à miséria.
Explique isto, meu leitor, a seus amigos "sapos". Repito: o Sr. lhes
dará um esplêndido presente de Natal.
É
sumamente provável que eles não lhe respondam com um "muito obrigado".
Mas
Deus, que ama todos os homens e até os "sapos", saberá recompensá-lo. Do
homem que salva seu irmão, ou que pelo menos faz o possível para
salvá-lo, diz a Bíblia que salvará a sua própria alma e brilhará no céu
como um sol por toda a eternidade.