Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

  Bookmark and Share

Folha de S. Paulo, 22 de outubro de 1972 

A camarilha dos "Kerenskys" 

No momento em que escrevo, um grande país irmão passa pelos tormentos da fome, da insegurança e da discórdia. É o Chile.

A causa desses tormentos que afetam indiscriminadamente os dez milhões de habitantes daquela nação, todos nós a conhecemos. Uma experiência infeliz - a experiência socialista - sujeitou toda a estrutura sócio-econômica às manipulações violentas do estatismo e do dirigismo igualitários. O resultado é esse naufrágio do bem comum, ao qual assistimos desolados.

Sim, deste bem comum em nome do qual também em nosso País, não tem faltado quem queira arrastar-nos a análoga experiência.

A experiência chilena que, segundo parece, está se aproximando do termo catastrófico, já vai mostrando em que campo se encontram os verdadeiros amigos do bem comum. E o mostrará ainda melhor quando no Chile deixarem o poder os responsáveis pelas presentes calamidades. Muitas coisas, agora ocultas, virão à luz. Será então o momento de entrarmos mais a fundo no assunto.

Por ora, volto ao tema do domingo anterior.

* * *

Mostrei, então, que a minoria esquerdista, de "sapos", clérigos do Terceiro Mundo, profissionais da política e intelectualóides, procura impor à Argentina um sistema socialista, através de eleições. Caso o êxito se mostre muito duvidoso, ela não duvidará em recorrer a um golpe de força "peronista".

- Como pode manipular uma minoria a opinião pública conservadora, de maneira a arrastá-la à aceitação do esquerdismo? - Obviamente, lançando-a na inação, na confusão e na divisão. A inação ganhou extensíssimas áreas do eleitorado. Dois estados de espírito contrários e simultâneos concorrem para este fim. Segundo muitos, o atual caos argentino não passa de um fenômeno de superfície. Vista sem profundidade, a situação do país seria muito mais estável. Pelo que, nem sequer necessita, de estas camadas não politizadas, um cuidado especial. Pelo contrário, segundo outros, também numerosos, os fatos atingiram uma tal gravidade que já não adianta agir. Pelo otimismo ou pelo pessimismo, fica assim criado o marasmo da maioria e a vitória das minorias esquerdistas.

Uma política de "bluffs" favoreceu mais especialmente essa debandada dos pessimistas para o desânimo total. Esses "bluffs" - mencionarei alguns - expressos quase com a rigidez de "slogans", são:

1) O peronismo constitui uma maioria avassaladora diante da qual nenhuma resistência é possível. Tal "bluff" não se funda em qualquer fato concreto. Em nosso mundo, todo feito de instabilidade, os vinte anos de exílio de Perón foram mais do que suficientes para desgastar o demagogo. Prova-o o fato de que todas as manifestações promovidas, ao longo desta crise, pelo justicialismo, têm sido anêmicas e esquálidas. O peronismo é um mito, no que os esquerdistas tratam de conservar, em vão, restos fugidios de vitalidade.

2) A CGT e os líderes sindicais que a dirigem, representam a massa trabalhadora. Esse "bluff" tem apenas aparência de verdade. A CGT dispõe de imensos recursos arrecadados compulsoriamente entre seus 2.500.000 sócios. Com eles, efetua larga propaganda. No entanto, as manifestações por ela promovidas reúnem um número muito inexpressivo de participantes.

Na sua grande manifestação de 4 de junho de 1971, por exemplo, conseguiu ela reunir apenas 15 mil pessoas.

3) "O terrorismo e a agitação de rua provam a força da esquerda". Os fatos mostram que tal não é verdade. As agitações de rua tem sido promovidas por uns poucos punhados de profissionais. Quanto ao terrorismo, sabe-se que é produto de uma minoria ínfima de "violentos";

4) "Os partidos políticos representam o povo". É outro "bluff". Só 9% dos eleitores argentinos estão filiados aos partidos políticos. A classe política não compreende a nação, nem é por ela compreendida.

Entre os "bluffs" que a cúpula esquerdista põe em circulação, outros há que favorecem o otimismo:

1) "Perón é direitista e salvará a Argentina do comunismo". Os pronunciamentos de Perón em favor de Allende e do clero do Terceiro Mundo são de modo a ir matando rapidamente quaisquer ilusões nesse sentido.

2) "A classe empresarial dirige a Argentina, e é naturalmente oposta ao socialismo". Se assim fosse, não haveria "sapos". Ademais, a classe empresarial tem aceito até aqui, com uma docilidade próxima da simpatia, todas as medidas estatizantes adotadas por Lanusse.

* * *

- Diante dessa perigosa situação, toda criada por "bluffs", que providências tomar? - Antes de tudo, furá-los um por um. E para isto saiu às ruas de todo o país a brilhante TFP argentina, denunciando a minoria de esquerdistas à "Kerensky", que vão fazendo, em seu país, o triste serviço de Frei no Chile.

Além dessa medida de saneamento psico-político fundamental, a TFP argentina recomenda que os conservadores se unam, e utilizem as eleições para formar um governo "principalmente conservador dos princípios católicos e das tradições hispânicas", que assegure às atividades lícitas "uma liberdade conforme à lei natural e divina".

Pleiteia também a TFP a eliminação do terrorismo, por meios que, excluindo a crueldade, se inspirem em "muita habilidade, constância e firmeza". Propõe ainda a TFP que se revigorem e utilizem as instituições sócio-econômicas inerentes à civilização cristã, perfeitamente aptas a "elevar o nível moral, cultural, político e econômico" do povo argentino. Por fim, preconiza o imediato abandono da política de derrubada das barreiras ideológicas inauguradas por Lanusse, de sorte que a Argentina se ponha em resoluto combate contra a ameaça comunista na América Latina.

* * *

Lançando esse manifesto lúcido, leal e corajoso, a TFP argentina dá à sua pátria, e a toda a família ibero-americana, um exemplo de ação ideológica de alto quilate. Auguramos que o povo platino seja sensível à voz desses filhos de escol. Assim se salvará um grande país, e se terão evitado males sem conta para as nações deste continente.


Home