Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

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Folha de S. Paulo, 15 de outubro de 1972 

Os "Kerenskys" argentinos 

Quanto mais ler o noticiário referente aos acontecimentos em curso na Argentina, tanto menos o público os compreenderá. Tantas são as contradições que espoucam, a todo momento, na vida pública do grande país irmão, que deixam aturdido qualquer observador mediano.

E isto não só no Brasil e nos demais países da extensa família ibero-americana. Na própria Argentina, poucos há - fora da camarilha dos políticos profissionais, com farda ou sem farda - que entendem o que se passa.

Entretanto, o meio para decifrar esse enigma, ou melhor, essa penca de enigmas, está ao alcance de todos. É um livro, um manifesto. Ao longo de muitas semanas, viam-se grupos de jovens que o apregoavam e vendiam pelas ruas centrais de Buenos Aires, ora discursando do alto de barricas que lhes serviam de tribunas improvisadas, ora servindo-se de megafones possantes. Esses jovens, já o terá adivinhado o leitor, vestiam paletó e gravata, usavam rubras capas marcadas por um leão dourado. Eram os valorosos militantes da Sociedade Argentina de Defesa da Tradição, Família e Propriedade.

Da sensibilidade do público a tal propaganda, fala eloqüentemente um dado. O livro alcançou em apenas 60 dias duas edições com a impressionante tiragem de dez mil exemplares. E uma terceira edição dele já está sendo preparada.

Dado o primeiro brado em Buenos Aires estendeu-se a campanha por todo o país. Em Cordoba, em Tucuman, em Rosário, em Santa Fé, em Mendoza e tantos outros lugares foi então largamente difundido, pelos jovens da TFP, o livro-manifesto. E por toda a parte, mesmo na Cordoba vermelha, os peronistas duramente alvejados, não ousaram a menor reação. Um deles deixou escapar a explicação dessa inércia tão contrastante com a habitual agressividade justicialista: contra tão acertada propaganda - disse - única tentativa de reação consiste em deixar a TFP bradar no vácuo. Pueril ilusão... Como se pudesse ser de vácuo o ambiente criado, em grandes cidades modernas, por uma propaganda original e atualizada, que repercute fatalmente em toda a população!

O livro-manifesto da TFP argentina se deve ao claro talento e à cultura invulgar do jovem presidente do Conselho Nacional daquela entidade sr. Cosme Beccar Varela Filho.

Seu título, "Os Kerenskys argentinos", já de si diz muito. Ele põe a nu que uma equipe de socialistas argentinos está desempenhando em sua pátria, a mesma missão inglória da qual se incumbiu, no Chile, Eduardo Frei. Tarefa inglória sim, e sinistra, que meu jovem e inesquecível amigo Fábio Vidigal Xavier da Silveira estigmatizou tão bem, carimbando por todo o sempre, na fronte de Frei, o epíteto de "Kerensky" chileno.

Nas sedes da TFP em todo o Brasil podem as pessoas especialmente interessadas em política argentina encontrar a obra fundamental de Cosme Beccar Varela Filho.

Porém, os assuntos argentinos da gravidade deste não interessam apenas a grupos reduzidos de "experts". Pela sua natural conexão com a vida de nosso País, sobre eles devem ter uma clara idéia todos os brasileiros cultos.

Assim, resolvi apresentar aos leitores da Folha um resumo do que pensa e sente, face ao drama platino, a TFP irmã; a manobra que ela denuncia, bem como o programa positivo que ela apresenta.

* * *

Em razão da profundidade e da coerência de seu conteúdo, "Os Kerenskys argentinos" pode ser construído sobre um esquema de simplicidade magistral.

Começa a obra por focalizar os aspectos contraditórios com que a situação argentina se apresenta aos olhos do público. Diante da crise conjunta do sistema político e do regime sócio-econômico, a figura demagógica de Perón assoma num horizonte já carregado pelas fumaças e pelo vozerio dos atentados terroristas. O perigo da esquerdização radical se põe à vista de todos. E a maior ou menor gravidade desse perigo passa a ser a questão central do momento.

- Pode uma nação católica, naturalmente conservadora e composta por um povo inteligente e valoroso, cair em mãos do comunismo?

Muitos crêem isso impossível, outros o reputam inevitável, e a grande parte da opinião pública admite ambas as coisas ao mesmo tempo.

Diante de situação tão ambígua, todas as surpresas são possíveis, especialmente as piores. E o trabalho positivo a ser realizado mais imediatamente consiste em desfazer a ambigüidade, isto, por sua vez, só se consegue mediante cabal explicação dos fatos.

Tal explicação é a um tempo simples e subtil. A confusão reinante na Argentina não é casual. Cria ela ambientes para o desenrolar de um processo visando conduzir o país irmão ao socialismo populista. A meta do processo é a instauração de um governo esquerdista moderado: muito esquerdista e pouco moderado.

Esse processo - que, graças à confusão, se realiza a não sabendas do grande público - é a obra de uma minoria revolucionária constituída por "sapos" da alta finança, por clérigos esquerdistas, homens de imprensa, figuras do governo e da "inteligentzia", bem como por políticos profissionais. A verdadeira força propulsora dele procede, assim, de cima para baixo. E não de baixo para cima, pois a robusta maioria dos argentinos não quer saber do socialismo.

Duas vozes eminentes se ergueram, há pouco, para atestar a suma gravidade do perigo em que, nestas condições, se encontram o país. O povo pode ouvir o pronunciamento do ilustre arcebispo de Buenos Aires. Cardeal Caggiano. A outra voz, silenciou-a o crime. Foi a do General Juan Carlos Sanchez, que o terrorismo assassinou.

Essa revolução de cima para baixo encontra diante de si duas vias de acesso para a vitória:

a) A via eleitoral a qual, mediante um "gran acuerdo nacional" entre todas as forças políticas, inclusive o peronismo, imponha ao país um candidato único e um programa socialista;

b) A via de um golpe militar nacionalista, caso o êxito eleitoral se averigúe muito duvidoso.

Até o momento está sendo percorrida a primeira via. É a análise dela que mais especialmente interessa.

Fundamentalmente se uma minoria desejosa de ganhar uma eleição não consegue persuadir a maioria só tem um meio para chegar ao poder. É desorientar a maioria produzindo nela a perplexidade, a confusão e a divisão.

* * *

A minoria socialista está utilizando nesse sentido, métodos simples e moderníssimos. Contamos descrevê-los no próximo artigo.


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