Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 20 de agosto de 1972

Atual, mais do que nunca 

Um eclesiástico de alto nível recomendou-me que escrevesse um artigo esclarecendo a seguinte questão: se a subversão está virtualmente extinta no Brasil, do que serve ainda a TFP? Bem entendido o referido eclesiástico não tem a menor dúvida a este respeito. Mas - observa ele - há quem levante a pergunta, de sorte que um esclarecimento se torna oportuno.

Atendo de bom grado à autorizada sugestão.

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Levanto uma preliminar. Segundo parece, os que formulam esta pergunta entendem por subversão tão somente o terrorismo. Pois é só deste que se pode imaginar que esteja mais ou menos extinto no Brasil.

A ser assim, faço notar que a subversão pouco tem que ver com a TFP. A repressão ao terrorismo é fundamentalmente prerrogativa do Poder Público. Os fatos provam, aliás, que ele está dotado de todos os meios para tal. E não precisa do concurso da TFP, como de nenhuma outra entidade privada.

De seu lado a TFP é uma sociedade cívica de caráter apolítico e extrapartidária, a qual tendo em vista a ofensiva desfechada pelo socialismo e pelo comunismo para extinguir o que resta da Civilização Cristã, contra-ataca no plano social, desmascarando os erros doutrinários dessas correntes, à apologia da tradição, da família e da propriedade.

Note-se que nossa atuação se desenvolve, pois, num plano que nada tem que ver com o terror. Está na essência deste a violência material. Só uma repressão material o pode desarticular e derrotar. E para este tipo de atividade estamos inteiramente desaparelhados. Naturalmente, aliás, pois como acabo de dizer, tal não é nosso fim.

Sem dúvida, nossa atuação ideológica e social prejudica o terror na medida em que atacando o comunismo e apontando o que há de censurável na violência, cria obstáculos ideológicos a que o terror seja visto com simpatia por certos setores da população, e recrute adeptos.

Por isto, o terror não gosta da TFP. Provou-o, à saciedade, a bomba que ele fez explodir em nossa sede central na madrugada do dia 20 de junho de 1969.

Mas este subsidio ideológico, que assim prestamos - e com quanta alma - à luta contra o terror, se situa em campo distinto da ação especificamente antiterrorista.

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De passagem faço reservas à afirmação de que o terror está quase extinto e fora de combate entre nós. É patente que ele está menos ativo. Mas, creio que por pouco que se descuidassem os poderes competentes ele renasceria com a mesma força.

Um incêndio não pode ser tido como extinto enquanto dele restam focos que, mercê de alguma inadvertência, podem voltar a propagar-se indefinidamente...

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Entretanto, o de que sobretudo discrepo é a confusão entre violência e subversão, implícita na pergunta a que venho dando resposta.

Nem toda violência é subversão. Nem toda subversão é violência.

O crime de homicídio é essencialmente um ato de violência. Porém ele pode não ter caráter subversivo. É o que se dá quando um homem mata outro, digamos por motivo de jogo. A nota subversiva só está presente no homicídio quando o móvel do crime foi a alteração da ordem política, social ou econômica vigente. É o caso - por exemplo - de um terrorista que mata um militar para atacar um quartel.

- Então, o que é subversão?

- É todo ato violento para mudar o regime vigente, sem dúvida. - Mas é só isto?

- Em outros termos, se alguém usasse de meios não violentos, de meios até mesmo legais para alterar o regime vigente, seria subversivo? Na França ou na Itália, por exemplo, onde a lei permite o funcionamento do PC, este pode ser tido por subversivo?

Depende. Se por “subversivo” se entende só o que a lei declara tal, então obviamente os PCs francês e italiano não o são.

Mas a palavra subversivo,  além desta dimensão, que lhe dá a técnica jurídica contemporânea tem outra, filosófica e religiosa. E, segundo esta, os PCs italiano e francês são subversivos.

O sentido de “subversão” é correlato com o de ordem.

Se ordem é apenas a disposição das coisas segundo as leis feitas pelos homens, o regime comunista ou socialista podem ser ordem. Basta que sejam impostos pelas leis humanas.

Mas, a se pensar assim, justificar-se-iam muitos dos maiores crimes registrados pela História: as perseguições aos cristãos no Império Romano, a imolação das crianças cartaginesas em holocausto a Moloch, a incineração das viúvas na Índia, ou, em nossos dias, as atrocidades cometidas nas prisões e campos de concentração comunistas. Pois todos estes atos foram praticados pela autoridade pública com fundamento em leis vigentes.

Mas é evidente que isto não é conforme à ordem, e que todos estes atos foram criminosos. - Por que?

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Porque Deus existe, e é o supremo Senhor de tudo.

Deus instituiu uma ordem natural condensada nos Dez Mandamentos por Ele mesmo revelados. E assim, não é lícito a qualquer Estado, mandar ou permitir (não digo “tolerar” note-se) o que Deus proibiu. Nem proibir de fazer o que Deus mandou.

Nesta perspectiva, que é necessariamente a de todo católico, ordem  acima de tudo é a conformidade de todos - do Estado e da sociedade inclusive - com a lei de Deus.

Ora, o regime comunista é, por definição, a disposição do Estado e da sociedade de modo exatamente contrário ao que Deus mandou. Ele subverte toda a ordem querida por Deus. Logo, comunismo é a subversão. E subversão por excelência.

E isto, quer ele se implante pelas armas, como em Cuba, quer se estabeleça pelas eleições, como no Chile.

A subversão por excelência pode, portanto, não ser violenta. De tal maneira são distintos os conceitos de subversão e de violência.

Neste sentido - observe-se - não é só o regime comunista que é subversivo, mas também o socialista, na medida em que este se inspira nas máximas daquele, e com ele se parece.

E isto porque um regime a que seja inerente a mutilação da família e da propriedade - instituições consagradas pelo Decálogo - é tanto mais subversivo quanto mais graves forem essas mutilações.

Subversivo no plano filosófico e religioso. Pois subverte o Reino de Cristo na terra.

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Digo isto de passagem, para chegar à conclusão. O marxismo, enquanto corrente ideológica que, por meios pacíficos, tente implantar o regime comunista, é intrinsecamente subversivo, pelo menos no plano filosófico e religioso.

- Quem ousaria afirmar que o Brasil de nossos dias não está às voltas com o proselitismo doutrinário comunista?

Qual, aliás, o país hodierno que, em medida maior ou menor, não está no mesmo caso?

Logo continua atual, mais do que nunca, a ação da TFP.


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