Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 2 de julho de 1972 

O que faz a TFP contra a fome? 

Há quem me pergunte, de quando em vez, se a TFP se limita a combater o comunismo, ou se também faz algo pelos pobres. Respondo invariavelmente que faz. E presto as informações a este respeito contidas em um folheto de propaganda difundido por nossos sócios e militantes em todo o País. Contudo, tenho o máximo empenho em acrescentar que combater o comunismo não é coisa distinta de lutar contra a pobreza. É pelo contrário, uma forma supereminente de efetuar tal luta.

Disto não pode duvidar quem leia esta valiosa carta, que recebi de um lúcido e corajoso leitor chileno, o Sr. Carlos del Campo:

“Há seis meses que estou residindo no Brasil, terra tão grata para os chilenos pela tradicional amizade que une a nossos povos. Vi-me obrigado a abandonar minha pátria pela situação política que nela impera. Como católico, professor e pesquisador da Faculdade de Economia da Universidade Católica de Santiago não tinha as garantias necessárias para realizar, sem transigências, meu trabalho docente e de pesquisa. E assim como tantos outros colegas, vi-me constrangido a deixar meu País.

“Tem-me sido dado admirar o interesse com que o povo brasileiro acompanha os assuntos do Chile. Espero corresponder a tão simpática atitude oferecendo-lhe - por seu intermédio, Professor - alguns dados extraídos de fontes oficiais ou de jornais (inclusive comunistas) de meu País.

“O primeiro aspecto que tem sido ressaltado em algumas publicações internacionais é o que se refere ao aumento da produção (PGB), durante o ano de 1971, primeiro do governo comunista de Allende.

“Segundo dados oficiais, este teria sido de 9%, cifra relativamente elevada, em comparação à média de 4,5% nos últimos dez anos.

“Para espíritos desprevenidos, ou para o comum das pessoas não especializadas na matéria, este fato refletiria um êxito da política do governo de Allende.

“Preliminarmente, é necessário considerar dois aspectos do problema: de acordo com os dados oficiais, um dos setores que mais teria contribuído para esse aumento seria o da construção, que teria aumentado de 12,5%. Ora, a produção de cimento permaneceu praticamente estacionada, o que faz duvidar da cifra em questão. Se se corrigirem os dados conforme esta observação, a produção no ano de 1971 teria aumentado apenas de 6%.

“Em segundo lugar, é necessário analisar qual foi a causa desse crescimento para, à vista disso, apurar se se trata de um mero resultado a curto prazo, e, consequentemente se se prenunciam resultados negativos no futuro.

“De forma simples, pode-se dizer que dois fatores contribuem para a produção de um país: o trabalho e o capital. O aumento no emprego destes fatores e/ou uma mudança em sua “qualidade”, provoca um aumento na produção.

“Durante o ano de 1971, a inversão diminuiu de 8%, de acordo com os dados oficiais, e de 16% segundo organizações privadas de pesquisa. Por outro lado, a incorporação da população ativa na economia se manteve constante em relação aos anos anteriores. Finalmente, existindo uma inversão negativa, é de se crer que não tenha havido uma mudança na “qualidade” dos recursos empregados. Assim, surge a pergunta: por que e como houve aumento na produção durante o ano de 1971?

“A essa pergunta cabe uma resposta sob dois pontos de vista: a) mal iniciado o governo de Allende, houve um aumento no desemprego, que chegou a cifras de 10 a 15% da população ativa; b) ao mesmo tempo, a capacidade ociosa da economia alcançou a casa dos 60%, provocada pelas incertezas do final do governo de Frei, e pelo começo do governo de Allende. Por seu turno houve um grande acúmulo de estoque de matérias primas.

“Ora, através de uma política monetária que consistiu numa emissão maciça de dinheiro e na imposição de quotas de produção, o desemprego foi reduzido, a capacidade ociosa desapareceu e o estoque de matérias-primas se esgotou.

“Como se vê as causas do crescimento do produto em 1971 foram essencialmente de caráter circunstancial e praticamente desapareceram como fonte de algum crescimento futuro.

“A isto se acrescenta, agravando a situação, a diminuição das reservas internacionais de 327 milhões de dólares em setembro de 1970, para 57 milhões em dezembro de 1971.

“Destas considerações se infere que a política econômica marxista do governo de Allende foi nefasta para o Chile, sobre o qual a sombra da miséria começou a baixar em meados do ano passado.

“Isto se confirma analisando as possibilidades de aumento da produção para o ano em curso. A inversão tem origem na poupança. Nesta podem distinguir-se a poupança interna, constituída pela poupança dos indivíduos, das empresas e do setor público; e a poupança externa, constituída pelo aumento das reservas internacionais provocado por uma melhora na balança de pagamentos. Isto, por sua vez, dependerá da balança comercial, do movimento de capitais e da dívida externa.

“Através da análise da poupança, é dado verificar quais são as possibilidades do crescimento da inversão, e assim, nas atuais circunstâncias do Chile, do crescimento da produção.

“No Chile, a poupança individual foi tradicionalmente considerada como nula. Na situação atual, não há nenhuma razão para esperar uma mudança nesse sentido.

“Quanto à poupança das empresas, pode-se prognosticar algo semelhante. Segundo o balanço publicado por mais de vinte empresas particulares das mais importantes do país, 50% das que haviam obtido um lucro de 122 milhões de escudos em 1970, passaram a ter um déficit de sete milhões de escudos em 1971. As restantes haviam diminuído seu lucro em julho de 1971, de 336 milhões para dez milhões de escudos.

“O setor fiscal teve um déficit corrente (diferença entre receitas e despesas correntes), de dois bilhões de escudos.

“De acordo com o Orçamento Nacional para o ano de 1972 o setor fiscal aparece com um déficit de 9,5 bilhões de escudos.

“As empresas estatais e mistas constituídas pelas antigas empresas do Estado, somadas às recentemente desapropriadas e confiscadas pelo governo chileno, apresentam para o ano de 1972 um déficit corrente de 2,6 bilhões de escudos, como parte de um déficit total de 23,4 bilhões.

“Isto é, o Estado aparece em 1972 com um déficit total de 33 bilhões, o que eqüivale a 160% do total da quantidade de dinheiro existente na economia em dezembro de 1971, ou seja 20,2 bilhões de escudos.

“Destas observações conclui-se que há poucas possibilidades de poupança interna para o ano de 1972, tendo-se que financiar a atividade econômica com a emissão inorgânica de moeda.

“A balança de pagamentos em 1971 foi negativa em um montante equivalente a 368,3  milhões de dólares, e para o presente ano, de acordo com o Instituto de Economia da Universidade Católica, prevê-se que atinja a cifra negativa de 600 milhões de dólares.

“Quer dizer, excluindo-se a possibilidade de um aumento da dívida externa, as possibilidades de uma inversão positiva no Chile são nulas. Daqui se infere que não se pode esperar um aumento na produção interna em 1972.

“Com as reservas internacionais praticamente esgotadas, a possibilidade de importação de produtos vê-se seriamente afetada. Logo, a oferta de bens para a população do Chile não apresenta possibilidades de aumento, mas de diminuição.

“De todas estas considerações conclui-se que se agravarão necessariamente no Chile os problemas de abastecimento, de desemprego e de inflação. A 30 de abril do corrente ano, a inflação já havia chegado a 38,5%: o que, junto com o abastecimento e o desemprego, configura o panorama de pobreza e miséria em que caiu o Chile”.

 - Mas, perguntará o leitor, qual a política do governo face a essa série de desastres por ele mesmo produzidas?

Também a este respeito o Sr. Carlos del Campo tem importantes informações a dar. Interrompo aqui sua missiva, cuja publicação concluirei no próximo domingo.


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