Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 28 de maio de 1972 

Concessões, caminho para a guerra 

Não penso que, ao sair a lume este artigo, já tenha chegado o momento para um comentário de conjunto, do significado e dos frutos da estadia de Nixon em Moscou.

O vulto do acontecimento requer um certo recuo do tempo, antes de ser adequadamente analisado.

O mesmo se deve dizer da ratificação dos tratados de Moscou e de Varsóvia pelo Parlamento alemão. Pois esse acontecimento resultante, obviamente de imposições do Kremlin e “recomendações” da Casa Branca é, sob certo aspecto, uma preliminar, e sob outro, um corolário das combinações de Nixon na Capital soviética. E deve, pois, ser apreciado na perspectiva delas. 

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Enquanto assim espero pelo menos uma semana mais para comentar a última jogada de Nixon, aproveito para responder hoje a uma pergunta despertada por meu último artigo.

Recordar-se-ão os leitores de que mostrei, no domingo último, a enorme ofensiva desenvolvida pela Rússia, no mundo inteiro, em favor do comunismo. Diante dela, o governo norte-americano, a despeito da inegável superioridade militar e econômica de que dispõe, se vem conduzindo inexplicavelmente com a mansidão de um cordeiro. Um cordeirão - observei eu, então - a recuar continuamente diante de um lobinho. E, acrescento hoje, um cordeirão a permitir continuamente que o lobo se robusteça com todos os recursos que lhe vai arrancando.

A propósito destas minhas assertivas, alguém quis saber que fim visava eu ao publicá-las.

Passo a responder.

Data do fim da Segunda Guerra Mundial, se não antes, uma imensa “ofensiva de paz” desencadeada pelos soviéticos. Ou melhor, uma ofensiva de mentiras. Fingindo-se progressivamente mais afáveis e acessíveis, os donos do Kremlin vão fazendo acreditar, de então para cá, por todo o Ocidente, que renunciaram à conquista do mundo, e procuram tão somente entrar num entendimento pacífico com os povos não comunistas. Apresentando essa nova fase, desmobilizam a vigilância e a disposição de luta das nações de aquém cortina de ferro. E, enquanto sorriem e mentem, vão utilizando ora guerras, ora revoltas para aumentar ardilosamente sua esfera de influência por todo o globo.

Com isto, vamos todos afundando. Ora, o meio de não afundar consiste, no caso presente, em evitar a desmobilização dos espíritos no Ocidente.

Por sua vez, o meio de sustar essa desmobilização consiste em provar a insinceridade dos propósitos pacifistas de Moscou (como, aliás, também de Pequim).

E, por fim, o grande meio de demonstrar essa insinceridade consiste em por a nu que, enquanto sorriem e negociam, os soviéticos não cessam de avançar.

Foi o que fiz no meu último artigo. Um fato que não mencionei então, por falta de espaço, vem a propósito aqui. Enquanto Nixon descansava em Camp David, concluindo a preparação de sua viagem a Moscou caía o gabinete no Iraque e subia um novo ministério. Este se baseia na coligação entre comunistas e não comunistas. Ora, como se sabe, onde quer que os comunistas subam ao poder numa coligação, depois jamais o deixam.

Assim, enquanto os donos do Kremlin mandavam apagar das ruas de Moscou os slogans anti-americanos, para receber Nixon, com uma garfada aproximavam o Iraque da boca para o deglutir. Isto é a sinceridade do pacifismo dos homens a cuja mesa Nixon se sentou, para com eles assinar tratados. 

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Mas, de um ângulo de vista diferente, talvez alguém me objete que tudo isto é claro. E até tão claro que causa espanto ter eu achado necessidade de o apresentar com esta evidência meridiana, em forma quase escolar. A conhecida facilidade de compreensão do povo brasileiro dispensa que se lhe explique o óbvio.

É bem verdade, retruco de minha parte. Não porém, para todos os brasileiros, quando se trata desta matéria. Pois há entre nós certos setores da opinião pública que - nada ficando a dever aos demais no tocante à argúcia e à cultura - quando se trata de manobras comunistas, dão mostra de certo tipo de ingenuidade comodista, que se espalhou pelo mundo livre como uma epidemia. Refiro-me, evidentemente, aos socialistas, progressistas e outros inocentes úteis, cuja mentalidade corresponde nos Estados Unidos, por exemplo, à dos leitores do New York Times, admiradores dos Kennedys, da política de Roosevelt e dos acordos de Yalta. Na Itália, o símile dessa corrente é, por excelência, a DC. No Chile, é Frei com seus sequazes. Na Alemanha, são os seguidores de Willy Brandt. E em Cuba, são os que confiaram em Fidel Castro até o momento em que ele acabou de arrancar inteiramente a máscara. E assim por diante.

Junto a esse gênero de mentalidade, só argumentação elementarmente clara e baseada em fatos óbvios, tem alguma possibilidade de êxito. E mesmo assim...

Desse modo, sou obrigado a demonstrar o óbvio, com uma clareza do tipo da que se usa em grupos escolares. 

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Essa vasta família espiritual dos inocentes-úteis é essencialmente emocional. Pelo menos grande parte dos que a constituem, quando apertada pela evidência dos fatos ou pelas tenazes do raciocínio, costuma encerrar a discussão com uma pergunta: “O que quer então o sr.? Quer a guerra? Não compreende que Nixon e todos os que o sr. increpa trabalham com generoso otimismo pela paz?”

A meu ver, o otimismo é evidente. Não me parece, entretanto, que ele signifique necessariamente generosidade. Pois há otimismo e otimismo. Uma coisa é ter o ânimo levantado, mesmo nas mais graves situações; isto é virtude. Outra muito diferente é ver as coisas róseas, mesmo quando não o são. O que é bem o caso de Nixon e dos seus admiradores. Por exemplo, Daladier, Chamberlain, obstinando-se a ver tudo róseo em Munique, foram estadistas generosos, ou, ao invés, comodistas? Ceder é sempre fácil. Mas ao ceder, eles preservaram a paz, ou tornaram inevitável a guerra, por criarem em Hitler a esperança de que poderia invadir impunemente a Polônia? As concessões de Roosevelt em Yalta prepararam a paz? Ou abriram campo para todo o derramamento de sangue que os comunistas têm feito no mundo, de então para cá, na Coréia, no Vietnã e em outros lugares? 

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Por vezes, as concessões servem à causa da paz. Isto quando são feitas a gente comedida, sem ambições, e que professa o mais religioso respeito à palavra empenhada. - Estão neste caso os senhores do Kremlin?

Obviamente não. Portanto, se não adotarmos uma linha de conduta em que certa flexibilidade se alie a uma arguta vigilância e a uma posição de força na defesa do essencial, estaremos encorajando o adversário a nos atacar. E, consequentemente, estaremos caminhando para a guerra.


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