Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 14 de maio de 1972

Na Itália: afinal o que aconteceu?

         Tanto as eleições de Baden-Wurttemberg na Alemanha, quanto o plebiscito na França, produziram resultados indiscutivelmente funestos à influência do comunismo internacional. Foi o que tive ocasião de pôr em evidência em artigo recente.

          — Pode-se afirmar o mesmo das eleições italianas?

          A opinião pública brasileira, que reputo das mais ágeis, curiosas e perspicazes do mundo, nota bem a importância internacional do que ocorre na Itália. De onde ser natural que lhe agrade receber uma resposta tão esquemática quanto possível, a esta pergunta.

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          Começo por notar que ela reverte em outra: qual a tendência fundamental do eleitorado italiano? Pró PC? Anti PC?

          Respondo que as eleições marcaram um nítido avanço da opinião anticomunista, seja ela de matiz direitista ou centrista. E que, pois, se durante a nova legislatura, novas manobras da DC voltarem a reaproximar a Itália do comunismo, a maioria da opinião pública se descontentará a fundo com isso. Do que poderão decorrer, eventualmente, para um governo demo-cristão, provações tão ou mais amargas que as sofridas por Frei (o “Kerenski Chileno”) e Allende no Chile.

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           Bem entendido, no presente comentário recuso-me a aceitar a DC pura e simplesmente como um partido do centro. Seu eleitorado é centrista. A maior parte de sua equipe dirigente faz o jogo do comunismo.

          Isto dito, a apregoada “vitória” da DC não está longe de significar uma advertência da base centrista às cúpulas esquerdistas.

          — Aliás, em que consistiu essa “vitória”? — Numa perda de votos embora infinitesimal: de 0,2% para o Senado e 0,3% para a Câmara dos Deputados (ainda que o resultado tenha sido um deputado a mais para a DC). É preciso muito boa vontade para achar que perder votos — por pouco que seja — é ganhar eleitorado!

          Passemos aos outros partidos. Para o Senado, o PC constituiu uma só chapa com sua pequena sucursal, o PSIUP (Partido Socialista Italiano de Unidade Proletária). Esta coligação alcançou 27,6% dos votos. Ora, na eleição de 1968 estes dois partidos se apresentaram também coligados e alcançaram 30% dos votos. Houve, pois, um recuo de 2,4%.

          Para a Câmara dos Deputados, cada um dos partidos — PC e PSIUP — registrou em 1972 chapa própria. O PC acaba de obter 27,2% dos votos. Em 1968 alcançou ele 26,9%. O que representa um insignificante aumento de 0,3%. Quanto à sucursal PSIUP, recebeu agora 1,9%, ao passo que em 1968 teve 4,5%. Um recuo, pois. O minúsculo aumento do PC se deu provavelmente às expensas do PSIUP. Mas este perdeu mais do que o PC ganhou. No conjunto, o bloco PC-sucursal recuou, pois.

          — Esta perda, aliás pequena, terá ido para outra formação de esquerda, o Partido Socialista (que forma uma organização distinta, e talvez menos radical que o PSIUP)? — Também não parece.

         Com efeito, o Partido Socialista apresentou-se em 1968 coligado com o Partido Social-Democrático. A chapa da coalizão obteve, nas eleições para o Senado, 15,2%. Ora, em 1972, estes partidos apresentaram cada qual sua chapa: os socialistas obtiveram 10,7% para o Senado, e os sociais-democratas 5,4%. Total: 16,1%. O que representa, para o bloco, o magro progresso de 0,9%. Quanto à Câmara dos Deputados, a chapa socialista teve, em 1972, 9,6%, e o Partido Social-Democrata, 5,1%. Isto totaliza 14,7%. Em 1968, o mesmo bloco tivera 14,5%. Ou seja, o progresso ainda mais modesto de 0,2%.

          Isto significa que a perda de 2,6% do PSIUP não se reabsorve inteiramente nos exíguos lucros do PC, do PS e PSD.

         Aliás, todas essas diferenças, para mais ou para menos, na votação dos três partidos da esquerda, são tão exíguas, que em linhas gerais podemos abstrair delas, e concluir que ficou tudo na mesma.

          O que — para todo o bando esquerdista ou colaboracionista, que vai do PC ao PDC inclusive — é bem diferente de vencer...

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          Pelo contrário, progrediram insofismavelmente os dois partidos cuja legenda o eleitorado italiano considera símbolo do mais declarado antiesquerdismo, isto é, o Partido Monarquista e o neofascista (MSI). Em 1968, cada um desses partidos apresentou chapa própria. Somadas, entretanto, as respectivas porcentagens eleitorais davam 4,6% para o Senado e 5,8% para a Câmara dos Deputados. Em 1972, os dois partidos apresentaram chapa única, alcançando 9,2% para o Senado e 8,7% para a Câmara dos Deputados. O que importa em dizer que o bloco monarquistas-fascistas progrediu de 2,9% para a Câmara dos deputados e de 4,6% para o Senado. O aumento quanto ao Senado é importante, sobretudo se considerarmos que a votação do bloco cresceu de 100%. Aumento de igual expressão não o teve nenhum partido italiano, nem dos grandes nem dos pequenos.

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          Porém há mais.

          Os monarquistas e os fascistas — como aliás também algumas pequenas correntes centristas — se apresentaram claramente como são, e fizeram com o eleitorado a política das cartas sobre a mesa. Pelo contrário. o PDC e o PCI julgaram dever fazer uma colossal camuflagem para evitar uma derrocada. Durante toda a legislatura anterior, andaram eles mais ou menos de braços dados. Para muitos italianos, o perigo de uma “allendização” de seu país, pareceu assim ganhar vulto. O receio de uma reação da opinião pública diante de tal perspectiva apavorou a DC, que jogou de lado sua equipe dirigente filo-esquerdista, e se apresentou ao eleitorado liderada por sua ala de direita ou centro-direita. Os slogans eleitorais do partido foram contra o extremismo de direita... e o de esquerda, se bem que a DC tivesse tão boas relações com os socialistas e comunistas! Ou seja, o PDC teve que fazer-se de direitista para não ser derrotado. Infelizmente, o eleitorado teve a candura de crer na sinceridade dessa camuflagem. E isto explica em boa parte, que chapas nitidamente de centro ou de direita, não tenham tido votação bem maior.

          Acresce que Paulo VI, quer através de órgãos oficiosos, o “Osservatore Romano” e o “Osservatore della Domenica”, quer através de alocuções, uma no próprio dia da eleição, interveio com inusitada energia a favor da DC. Ora, o eleitorado a quem a atitude de Paulo VI há de ter sensibilizado é certamente o do centro e o da direita. Assim, se não fosse essa influentíssima e inesperada intervenção, os votos dos demais partidos, quer do centro, quer da direita, teriam sido maiores.

          Em suma, a DC só não perdeu a face nas eleições por fingir-se direitista e receber votos do centro e da direita. Logo, haveria um manifesto engano em imaginar que a votação obtida pela DC foi uma aprovação da triste política “Kerenskista” que ela levou tão longe na última legislatura. Pelo contrário, seu humilhante “mea culpa” é a confissão de que ela teve que esmolar votos sinceramente centristas, e até direitistas, para não ser derrotada flagrantemente.

          A importância do eleitorado de centro e de direita foi tão grande nesta eleição, que até o PC teve de recuar diante dela. Com efeito, numa hábil manobra (ou impostura?) destinada a dar-lhe ares de moderado — e quase diríamos centristas — o PC fez toda a sua campanha eleitoral com slogans contrários “aos dois extremismos”, o da direita e o da esquerda. Como se não fosse ele visceral, institucional e indelevelmente um extremista de esquerda! E se não fosse esta camuflagem (tão parecida com a da DC), também ele teria perdido votos...

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          Tudo isso demonstra que o eleitorado italiano, em 1972, se apresenta mais infenso a uma política de convergência com o comunismo do que o de 1968. É a conclusão.


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