Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 2 de abril de 1972

Rapazolas e moçoilas em risco...

O "comunismo" difuso, do qual por vezes tenho tratado nesta folha, está chegando agora ao seu auge.

Esse auge coincide com a completa estagnação — ou mesmo decadência — do eleitorado inscrito nos diversos partidos comunistas do Ocidente.

Entre o auge da forma difusa e mais recente, e a decrepitude da clássica forma partidária, existe uma correlação fácil de perceber. Porque o sistema clássico se revelou definitivamente incapaz de proporcionar ao comunismo a conquista das massas nos países livres, é que os misteriosos elaboradores da estratégia vermelha lançaram um tipo novo, vaporoso, impalpável, quase impossível de ser barrado.

— De quando data tal inovação? — Só hoje, aparece ela à luz do sol. Não imaginemos, porém, que ela nasceu nestes dias. Já há cerca de dez anos se vem acentuando progressivamente o insucesso do comunismo no Ocidente. Há cerca de dez anos também, a nova tática comunista vem sendo comunicada aos iniciados, e gradualmente posta em prática pelas bases bem adestradas. A ausência de pressa é, no caso, um indispensável fator de êxito. Pois o comunismo difuso deve caminhar e espraiar-se como que naturalmente, sem chamar a atenção de ninguém. Para isto, precisa ser lento. Pois tudo o que corre, agita e surpreende.

De fato, existem provas de que o comunismo difuso foi elucubrado há dez anos, pelo menos. Em "Vers Demain" (julho — agosto de 1971), a vibrante e atualíssima publicação do "Instituto de Ação Política" ligado ao movimento católico canadense "Peregrinos de São Miguel" encontrei preciosos extratos de uma lista de objetivos e planos comunistas em 45 pontos. Fora esta lista elaborada por N. Skousen, Diretor de Operações do Conselho de Segurança Americano. Publicou-a pela primeira vez, em 10-1-63, o Serviço de Arquivos do Congresso dos Estados Unidos.

É só analisar alguns pontos desta lista, para se ver como, de 1963 a 1972, a tática nova, nela enunciada, se vem realizando. Eis, a título de exemplo, alguns desses pontos:

1 - "Degradar todas as formas de expressão artística";

2 - "Eliminar dos parques e edifícios toda boa escultura e substituí-la por configurações informes, sem graça e sem significação";

3 - Fazer desaparecer todas as leis que refreiam a obscenidade (...) nos livros, jornais ilustrados, cinema, rádio e TV";

4 - Apoiar todo movimento socialista para o estabelecimento de uma autoridade central sobre uma secção qualquer da educação cultural, dos serviços sociais, dos programas de assistência, etc.";

5 - "Infiltrar as Igrejas e substituir a Religião revelada por uma religião social";

6 - "Tratar todos os problemas de conduta pessoal como sendo desordens psiquiátricas, que ninguém, a não ser o psiquiatra pode entender e tratar;

7 - "Desacreditar a família como instituição, favorecendo o amor livre e o divórcio fácil".

Basta que o leitor abra os olhos em torno de si, para ver até que ponto há, por todos os lados, uma pressão discreta mas incessante, para introduzir tudo isso nos costumes, e na medida do possível, também nas leis.

* * *

Como é fácil ver, a nota dominante desse novo estilo de propaganda, consiste em não pregar explicitamente o comunismo, mas em criar um ambiente, em que este se forma por geração espontânea. Geração espontânea produzida, aliás, por circunstâncias nada espontâneas.

Em outros termos, esse tipo de propaganda cria artificialmente certo estado de espírito coletivo muito peculiar. E desse estado de espírito — espontaneamente, quase incoercivelmente — brota nas famílias, nos grupos sociais, étnicos, religiosos ou culturais, por toda parte enfim, o comunismo.

A meu ver, é impossível negar que concorre para a formação desse ambiente, que eu chamaria "comunistógeno", gerador do comunismo, a famigerada página publicada por "O São Paulo" de 11 de março p.p., sobre Nosso Senhor Jesus Cristo.

Não vou descrever aqui o "pôster" de "O São Paulo". Minha veneração ao Homem-Deus não mo permite. E, ademais, seria inútil, porque ele se tornou conhecidíssimo.

Imagine simplesmente o leitor, esta página a circular nas mãos de toda espécie de rapazolas e moçoilas que o terror deslumbra, hipnotiza e atrai. Parece-me inevitável que ela os persuadirá de que Nosso Senhor Jesus Cristo foi o grande precursor e o modelo supremo dos modernos subversivos. Neles desaparecerão, assim, as últimas objeções de consciência que ainda os retenham à beira do precipício.

— Montar, com efeito, uma "ficha policial" absolutamente análoga àquela com que as modernas polícias denunciam, para os capturar, os terroristas, verter dentro desta ficha uma série de citações evangélicas escolhidas para dar a entender que o Divino Salvador apresentava frisantes analogias com os terroristas de hoje — tudo isto não é insinuar que o terrorista do século XX é uma moderna reedição de Jesus Cristo?

* * *

Vejo bem que de cá e de lá, nessa deplorável página, há frases solertemente redigidas, de sorte que tanto podem ser interpretadas num sentido inocente, como num sentido comunistóide.

Assim, seus autores, uma vez apertados por algum exegeta, ficam ainda com a escapatória de que tem direito a interpretação mais benigna "in dúbio pro reo".

Não tenho tempo nem vontade de me aprofundar aqui nos meandros desta chicana exegética. Limito-me a perguntar a quem, com base nessas argúcias, quisesse defender "O São Paulo" se imaginara que os rapazolas e moçoilas, aos quais se destina essa página, se vão deter nesses exercícios exegéticos ou se, pelo contrário, vão interpretar em seu sentido primeiro e mais natural tudo quanto nela está, e, julgando-se estimulados pela Religião, se vão entregar alegres ao Terror, que os espera de braços abertos.

* * *

— Haveria artigo comunista tão próprio a recrutar elementos quanto a página de "O São Paulo", na qual entretanto as palavras "socialismo" e "comunismo" não são mencionadas uma só vez? Se trabalhar pelo "comunismo difuso" foi intuito de um "Marmo" e um "Sílvio", que se apresentam como responsáveis pela página, podem estar contentes. Atingiram de cheio sua meta.


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