Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 23 de janeiro de 1972

Comunismo: a grande mudança de tática

O desejo de publicar, a propósito do sesquicentenário de nossa independência, uma invocação a Nossa Senhora Aparecida, levou-me a adiar para hoje mais uns comentários sobre o "comunismo invisível", do qual tratou eximiamente o general Souza Mello em sua saudação à Marinha de Guerra.

Conheço muitos anticomunistas que se aferram a uma noção antiquada do adversário que juntos combatemos. Concebem eles a conquista do poder pelo comunismo, à maneira de um processo composto, sempre e necessariamente, pelas seguintes etapas:

1. Forma-se um núcleo inicial de adeptos, habitualmente intelectuais, estudantes e operários.

2. Esse núcleo parte para a conquista e arregimentação de quadros mais amplos, por meio da difusão das idéias e das obras de Marx, Engels, Lenine e outros tantos.

3. Constitui-se assim - pela força suasória do proselitismo, note-se bem - uma corrente comunista ponderável - que por sua vez inicia a conquista das massas. Tal conquista se opera por meio de duas formas de atividade, distintas mas entrelaçadas:

a) um proselitismo ideológico já então apoiado em grandes meios de ação, como jornais, editoras, rádio, televisão, partido comunista organizado, etc;

b) agitações, isto é, greves, sabotagens, atentados, etc.

O proselitismo em larga escala (item "a") deve atrair as massas para o PC. A agitação visa intimidar e paralisar as elites, tornando mais afoita a ofensiva das massas. Ainda aqui - note-se mais uma vez - a esperança de êxito está fundamentalmente baseada no contágio ideológico. As elites jamais se deixariam intimidar pela agitação, se não notassem contaminadas as massas.

4. Por fim, o PC, praticamente senhor da nação, conquistaria o Estado pela via mais curta. Ou seja, mesmo antes de chegar pachorrentamente à vitória eleitoral, ele queimaria as etapas promovendo uma dramática "noite dos longos punhais", na qual seus sicários eliminariam os membros da classe dirigente, durante uma revolta dos operários, camponeses, soldados, etc.

Foi mais ou menos o que se passou na Rússia, quando da transição do czarismo para o comunismo. E por isso, as cenas de sangue no estilo da revolução russa são o pesadelo contínuo de muitos anticomunistas.

Tão obsedados ficam estes, que só concebem, para o comunismo, esta via de acesso ao poder, só vêem na força, e quiçá na violência defensiva, a verdadeira barreira contra o comunismo e consideram inofensivo o chamado "comunismo invisível", contra o qual o Comandante do II Exército alertou, com lucidez e destemor, os seus ouvintes.

Este quadro não caducou inteiramente. Nele, porém, envelheceu um dado fundamental. E se não tomarmos na devida conta este fenômeno, corremos o risco de não entender mais nada em nossos dias.

Não contesto o risco de um golpe de força comunista para a conquista do poder. Minha observação me persuade entretanto - e cada vez mais - de que o comunismo, que outrora julgava inteiramente suficiente, para sua ações de força, o apoio de uma difusão ideológica radical e clara, reconheceu que, nesse ponto, as circunstâncias mudaram. E que só uma inoculação difusa da mentalidade comunista nas massas as pode induzir a dar ao golpe de força o apoio sem o qual este seria impotente.

A tal respeito, a conhecida revista "Est-Ouest", órgão da "Association d’Études et d’Informations Politiques Internationales", de Paris, publicou em seu nº 475, de 16/10/71, um artigo suculento de Fréderic Raven, intitulado "Evolução comparada das forças eleitorais e dos efetivos do partido comunista dos países da Europa Ocidental depois de 1945".

Esclarece-nos o autor que os dados numéricos contidos em seu estudo provém de diferentes publicações comunistas oficiais. Ou - quando se trata de estimativas - foram elas baseadas em fontes autorizadas, em particular na Branko Lazitch e na revista anual do Departamento de Estado, "World Strength of the communist Organizations" de Washington.

Dispondo num quadro os dados de "Est-Ouest" referentes aos PCs dos principais países europeus de aquém cortina de ferro, vemos que depois da onda ascensional do comunismo no após-guerra, os PCs na Europa entraram sistematicamente em estagnação crônica ou até em decadência. Durante esse quarto de século, eles lançaram mão dos recursos propagandísticos mais requintados e dispendiosos, para promover o crescimento dos diversos PCs. E não recolheram senão fracassos. O que significa, o repudio dos PCs, a rejeição do comunismo pelas massas, sempre que este seja pregado com radical clareza.

* * *

Apogeu Eleição mais votação recente

País Ano % Ano Votos %

Alemanha Ocidental 1949 5,7 1969 195.570 0,6

Áustria 1945 5,4 1971 60.756 1,3

Bélgica 1946 12,7 1968 172.686 3,3

Dinamarca 1945 12,5 1971 39.326 1,4

França 1946 28,6 1968 4.435.357 20,0

Holanda 1946 10,5 1971 246.569 3,9

Inglaterra 1945 0,4 1970 37.996 0,1

Itália 1948 31,0 1965 8.550.000 27,0

Noruega 1945 11,9 1969 22.520 1,0

Suécia 1944 10,3 1970 236.653 4,8 

* * *

Isto sem mencionar, fora do continente europeu, a derrota da Frente Ampla no Uruguai e, nos últimos dias, a da Unidade Popular nas populosas províncias chilenas de O’Higgins, Colchagua e Linares.

* * *

Os dados não poderiam ser mais insofismáveis. A propaganda marxista feita às escâncaras - insistimos - só serve, hoje em dia, para manter um organismo eleitoral estagnado ou decadente, impossibilitando portanto de dar à ação violenta o indispensável apoio das massas. Não podendo assim conquistá-las pelo proselitismo direto, o comunismo trata de as tornar receptivas por meio da ação difusa.

Os veículos desta ação, todos os conhecemos. São o progressismo, a contestação, a agressão sexual, o demo-cristianismo, o socialismo, etc.

Exageraria quem afirmasse que cada componente dessas correntes é um comunista no sentido próprio e estrito do vocábulo. Mas aí está precisamente o que a técnica comunista tem de genial. Ela mobiliza, nesses movimentos, uma imensa mole de pessoas heterogêneas, das quais só algumas são efetivamente comunistas. As demais são apenas simpatizantes do comunismo em graus diversos. E dentre estas, algumas há que caminham para o comunismo, movidas por impulsos de alma contraditórios, parecidos com o entrechoque da virtude com o vício na alma da moçoila que começa apenas a perder-se, ou do rapazola que está nas primeiras etapas que conduzem ao caminho tenebroso das drogas. Essa imensa coligação de comunistas autênticos com comunistas em estado de germe e pró-comunistas subconcientes, pode formar a massa para o apoio à "noite dos longos punhais".

Quem julgar que, dominado o comunismo violento, e reduzido ao silêncio o PC, qualquer país pode assistir de braços cruzados, dormindo ou sorrindo, a expansão do comunismo invisível, baseia-se portanto em um panorama velho de mais de vinte e cinco anos.

Em nossos dias, a alternativa é clara: ou somamos aos métodos já clássicos de repressão ao comunismo, a luta contra o comunismo invisível, ou estamos preparando hoje a capitulação de amanhã.

De um amanhã que poderá não tardar muito.


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