Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 19 de dezembro de 1971

Brasil, esperanças; Chile, apreensões

Os últimos quinze dias foram ricos em motivos de ufania para os brasileiros.

A viagem do Presidente Médici aos Estados Unidos deixou bem claro quanto o progresso de nosso País impressiona o mundo. A campanha de difamação organizada no Exterior por maus brasileiros está a ponto de morrer. E a verdadeira imagem do Brasil em desenvolvimento se vai firmando irreversivelmente nos grandes centros mundiais de poder, de riqueza e de cultura.

Entretanto, isto não é tudo. Na sua caminhada para o progresso, o Brasil de 1971 está demonstrando que venceu antigos letargos e iniciou o aproveitamento integral de seus imensos recursos. Com isso, nosso País vai atraindo desde já a atenção de todos para o vulto que tomará dentro de poucas décadas. E esse vulto é de gigante.

Como todos os povos do mundo, o nosso tem seus defeitos; entre este não figuram, porém, nem a arrogância, nem o desejo de mando. O ingresso do Brasil no rol das grandes potências não significará ameaça de espoliação ou humilhação para quem quer que seja. Quando ocuparmos por inteiro o grande lugar que nos cabe entre as nações vanguardeiras, a influência internacional do nosso País se fará sentir marcada com as características de nosso povo, tão afetivo, cordial, pacífico.

Estamos crescendo sem nos compararmos com ninguém, sem ódios nem complexos com os que vão à frente, sem menosprezo nem provocação para os que vão atrás. Alegra-nos a convicção de que — no contexto da grande família latino-americana, a que pertencemos — nosso desenvolvimento é um fato saliente, porém não isolado. Em torno de nós, todos os nossos irmãos progridem. E neste fato não vemos perspectivas de rivalidade ou concorrência, mas de intercâmbio e mútuo estímulo. Caminhamos todos juntos rumo a uma América Latina cada vez mais unida.

E não é só à América Latina que nosso sentimento de solidariedade se estende. Todo o Brasil acolheu com alegria os recentes tratados com Portugal, vendo neles um marco para futuras e maiores aproximações com a mãe Pátria européia e suas províncias de ultramar.

Análogo movimento leva as nações hispânicas deste Continente a se acercarem cada vez mais de sua antiga metrópole.

O mundo ibérico se vai assim cingindo num imenso amplexo, que reúne num todo sempre mais coeso e compacto esta imensidade de nações irreversivelmente independente, mas ligadas pelos vínculos da mesma Fé, da mesma cultura, e de uma língua que se diria quase a mesma.

É nesta perspectiva que o Brasil cresce e vê o futuro. Um futuro que, esperamos, saberá aproveitar não só as lições que nosso passado rico em tradições proporciona, como as que o mundo presente, fecundo em dilacerações e tragédias, nos ministra. Com efeito, estamos assistindo aos estertores do progresso nascido nesta era do vapor e da eletricidade. Tal progresso, logo ao despontar, contestou o passado, atirando-se atropelada e irrefletidamente para o futuro. Por isto, saiu marcadamente torto. E porque ele é torto, geme hoje o mundo inteiro.

Esperamos que um progresso diferente, marcado pela tradição cristã e pelo espírito latino, produza no século XXI — que será o do mundo ibérico — frutos mais sazonados, para o bem de todos os povos.

Essas esperanças têm seu fundamento. A par das realizações do presente, constituem também elas, para nós, brasileiros, justos motivos de nossa primaveril ufania.

Isto que estava no espírito de todos — se bem que, talvez, algum tanto esparsa, difusa e implicitamente — a viagem do Presidente Médici aos Estados Unidos teve o condão de o precisar, de o pôr em relevo, e fazer refulgir ao sol da notoriedade mundial.

* * *

Essas palavras, que traduzem o consenso geral de nosso País, trariam consigo um som oco, de falso otimismo, se no quadro ibero-americano não colocássemos as sombras que a todos nos magoam. Cuba continua escravizada e torturada. O Chile vai descendo, entre convulsões, o caminho sombrio que conduz ao comunismo integral. Em virtude do dirigismo opressivo, do estancamento da iniciativa individual, e do confisco das propriedades, a produção se insurge. O governo encontra pretextos para arrochar cada vez mais o intervencionismo e o Estado policialesco.

O desafio está armado. — Vencerá o povo, jogando por terra os demagogos que o vão garroteando? Ou vencerão estes?

Esta alternativa cruel, o Brasil bem a sentiu em 1964. O País soube escolher o caminho certo.

A analogia entre a situação brasileira de então, e a do Chile em nossos dias, de tal maneira salta aos olhos, que Salvador Allende a ela se referiu explicitamente em seu discurso de despedida a Fidel Castro. Afirmou ele que o Chile atravessa agora dias iguais aos do Brasil de 64. E se apressou em dizer que, ao contrário de Goulart, ele, Allende, espera vencer.

Nós, pelo contrário, esperamos que ele seja derrotado, para que vença o Chile cristão. Só assim, Castro, reduzido à sangrenta e inglória exceção no continente ibero-americano, se verá obrigado, pelo isolamento e pelo repúdio geral, a deixar o poder. E a Ibero-América marchará então, sem discrepância, para a plena realização de seu radioso futuro.

-- Tem o Chile as mesmas condições para vencer, com as quais contou o Brasil? — A resposta tem que ser matizada. Pois a par de fatores que autorizam esperanças, outros há que inquietam.

Já na época de Jango, havia prelados cuja complacência com a avançada marxista pesava a muitos brasileiros. Nenhum, entretanto, tinha ido tão longe — melhor seria dizer tão para baixo — do que o Cardeal Silva Henriquez, Arcebispo de Santiago, e os Bispos que o seguem.

De outro lado, as forças armadas chilenas inspiram preocupações. A julgar pela inércia que têm mantido até agora, parecem elas ter uma visão unilateral de sua missão. Entendendo corretamente a subordinação ao poder civil, esquecem que as Forças Armadas constituem, em qualquer país, uma grande instituição nacional, à qual pode caber, em momento de crise, a nobre tarefa de se transcenderem a si próprias, para assumir temporariamente o governo e salvar a cousa pública.

Porque elas souberam entender com essa plenitude a sua missão, as Forças Armadas preservaram do atoleiro, em 1964, nosso País. Melhor podemos compreender o benefício que então nos fizeram, comparando o desfecho glorioso da crise de 64, com as indecisões e as aflições pelas quais — pela inércia de seus militares — passa o Chile contemporâneo.

De fato, o desfecho de 64 foi uma prova de maturidade dos brasileiros, especialmente de suas Forças Armadas. O contraste com a experiência chilena faz luzir esta maturidade aos nossos olhos, precisamente no momento em que o vulto do País se vai afirmando com tanta força no mundo inteiro.

* * *

"Quem está de pé, cuide de não cair". A advertência é de São Paulo (1 Cor. 10,12). As condições do progresso não são apenas o "ora et labora" clássico. Entre elas está também a vigilância.

Erraria quem supusesse inútil a vigilância anticomunista no Brasil de hoje. Daria provas de imaturidade o nosso País, se se despreocupasse, na euforia do presente, do perigo vermelho. Lembrou-o bem o lúcido e corajoso general Souza Mello, comandante do II Exército, no discurso em homenagem à Marinha, recentemente pronunciado. Lembrou ele que cumpre a todos se manterem "alertas e vigilantes à penetração solerte da propaganda comunista na utilização de nossos meios de difusão". Ao ver do ilustre militar, esta avançada vermelha constitui uma "revolução comunista invisível", que a justo título ele qualificou de "tão importante, ou talvez mais, do que a pregada por Fidel Castro".

Mas esse discurso já constitui outro tema, do qual pretendemos tratar no próximo artigo.


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