Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 4 de julho de 1971

Textos e teste

É forçoso que um jornal de muito grande tiragem, como a Folha de S. Paulo, tenha leitores filiados às mais diversas correntes de opinião. Digo "opinião pública" num sentido muito amplo, que abrange os assuntos políticos, sociais ou econômicos tanto como os filosóficos ou religiosos. Com efeito, em nossos dias vão ruindo as muralhas que o liberalismo e o positivismo haviam levantado entre estes diversos campos. A opinião pública vai abrindo sempre mais os olhos para as correlações por vezes subtis, mas sempre importantes, que entre tais campos existem. E aos olhos do homem de hoje se vai tornando claro como o sol, que uma tomada de posição em sociologia, ou até em economia, impõe, em rigor de lógica, a aceitação de análoga posição em política e em moral. Ou seja, implicitamente, em filosofia ou até em religião.

De divergência, no sentido de que cada vez mais se vão polarizando as opiniões, especialmente na juventude. Por exemplo, a maioria compacta e esmagadora dos jovens de há meio século era laicista, liberal, e ao mesmo tempo conservadora. Isto é, desejava firmemente a conservação do Estado leigo e liberal então vigente. Quando muito, um ou outro de seus elementos, isolado e dito por sonhador, manifestava simpatias para com os mestres europeus da revolução ou da reação. Movimentos dinâmicos e cheios de vitalidade nos pólos opostos do mapa ideológico — como sejam, na América do Sul as TFPs, e a neo-subversão hippie — seriam absolutamente inimagináveis em 1921. Entretanto, eles aí estão. E esta é a divergência.

Mas ao mesmo tempo que se alargam as divergências de opinião, se opera no espírito público uma convergência de temáticas. Isto é, percebe-se que todas elas são como que vasos comunicantes. Embora realmente diversas entre si, todas se tocam, se entrelaçam e se estruturam num grande fundo comum.

À vista deste duplo fenômeno, pareceu-me que interessaria aos leitores passar por um teste. Apresentar-lhes-ei uma série de textos versando sobre assuntos muito amplos, vistos precisamente no que possuem de correlato. São todos eles tirados de um só livro escrito por um só autor. E os leitores se responderão a si mesmos — ou a mim, se porventura lhes aprouver — o que pensam dos textos e do autor. No próximo artigo, dar-lhes-ei as citações exatas.

As perguntas são: 1) Estes textos, ao ver do leitor, interpretam bem ou mal o pensamento de Paulo VI e do Concílio Vaticano II? 2) O seu autor é um progressista "ardito", jubiloso com as esperanças que vê ou imagina ver desabrochadas na "Igreja Conciliar"? 3) O leitor considera objetivo o quadro da "Igreja Conciliar" assim delineado pelo autor?

Em boa parte, o interesse das respostas consiste em que, através delas, o leitor melhor se conhecerá a si próprio.

* * *

Vejamos um primeiro texto:

-- "Seria ingênuo supor que se possa realmente transformar as instituições eclesiásticas, as paróquias, as obras de educação e assistência, as ordens religiosas etc., segundo as disposições conciliares, sem pagar o preço de uma verdadeira revolução social. Naturalmente, a geração formada antes do Concílio não poderá fazer tais reformas. Estas serão obra dos cristãos nascidos depois de 1945. Estes verão que as modificações de aparência mais puramente ‘pastoral’ implicarão em tantas mudanças de atitude no plano econômico, social e político, que tornarão necessária uma revolução".

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Examinemos mais um tópico:

-- "Sabe-se que foi necessário o Concílio (Vaticano II) para que fosse restabelecida e ensinada a verdadeira doutrina de São Tomás sobre o destino universal dos bens e o direito dos pobres. As Encíclicas precedentes ensinavam ainda o direito divino da propriedade privada. Deve-se isto a uma distração dos teólogos que aconselharam Leão XIII e seus sucessores? Tal distração, em todo caso, serviu muito aos interesses da burguesia. O olvido da verdadeira doutrina de São Tomás, resultante de uma má leitura do texto deste, veio bem a propósito.

"Ao mesmo tempo, entretanto, por efeito da política de Concordatas com os Estados fascistas, Pio XI e Pio XII obrigavam os católicos a se submeter a Hitler, Mussolini, Franco e Salazar (...).

"Eis porque as transformações conciliares contém princípios revolucionários. Trata-se de definir de modo inteiramente novo as relações entre a Igreja e a sociedade.

“A recusa (do Concílio) de introduzir nos textos conciliares uma nova condenação do comunismo, pedida por bom número de bispos, é sinal da vontade de definir de maneira nova as relações entre a Igreja e as classes sociais".

E agora leiamos mais estas assertivas:

-- "Entretanto, as modificações exigidas por esta renovação (imposta pelo Concílio à Igreja) são tais que se patenteiam necessariamente ligadas a uma revolução social. De um lado, tais modificações na Igreja supõem modificações na sociedade, pois esta última não permitirá que elas se realizem espontaneamente. De outro lado, tais modificações na Igreja teriam repercussões consideráveis sobre o equilíbrio das forças sociais. Ambos os processos se mostram, pois, ligados. Cada vez mais, quando surgirem obstáculos à renovação conciliar, tornar-se-á claro que o Concílio inclui, ainda que ele não as tenha previsto, transformações econômicas e materiais profundas (...) (Muitos padres conciliares) não percebiam claramente até que ponto a realização prática dos decretos conciliares exigirá de fato e concretamente a execução desse espírito de pobreza, para dessolidarizar de fato a figura histórica da Igreja das classes dirigentes tradicionais, suas aliadas de sempre, e particularmente do sistema ocidental atual, confiante em seus triunfos materiais e em seu poder".

Consideremos ainda esta outra passagem:

-- "Uma terceira razão que explica porque os católicos puderam ceder tão facilmente à teoria contra-revolucionária, é a aliança tradicional entre o clero e as classes dirigentes numa Igreja onde tudo é decidido só pelo clero (...). O clero conta com o apoio das classes dirigentes para atingir e dirigir as massas. O apelo ao povo e aos pobres é um fato minoritário, e até mesmo excepcional na Igreja dos séculos XIX e XX (...).

"Quem foi testemunha, nesse momento, da mensagem cristã para nosso tempo? Somente pequenas minorias, vozes sofredoras e muitas vezes abafadas, vozes de leigos e muitas vezes leigos destacados da Igreja oficial, rejeitados por ela.

"Eis porque não podemos acolher como documentos autênticos e definitivos do cristianismo em face das revoluções, as declarações feitas em tais condições. Elas não têm mais valor, em vista do Vaticano II e da Igreja renovada de hoje".

Noutros termos, comento eu, um bom número de documentos papais, até aqui tidos por "autênticos e definitivos" (e como não ver nestas palavras uma referência aos documentos papais?), foram revogados pelo Concílio Vaticano II, e o lugar deles na "Igreja Conciliar" é a lata de lixo.

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Aqui estão os textos. Se ao leitor interessaram, pode ele agora fazer o teste.


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