Folha de S. Paulo,
10 de
janeiro de 1971
Por
que?
Da
sra. M. J. Salgado, presidente das Damas de Caridade, recebi a seguinte
carta:
"A
Associação das Damas de Caridade de São Vicente de Paulo, altamente
honrada com a brilhante campanha de arrecadação de donativos para o
Natal de seus pobres, promovida pela TFP, da qual é V. S. Presidente,
envia-lhe agradecimento muito especial pelo acerto da idéia e pelo
magnífico resultado da campanha. Envia também votos de louvor aos
numerosos grupos de jovens, que numa demonstração de fé e calor cristão,
não mediram esforços nem sacrifícios no desempenho de tão árdua tarefa.
"Trabalho edificante!
“Exemplo a ser seguido pela nossa juventude. Trabalho que conquistou a
simpatia do público de nossa capital, alcançando, por isso, coleta de
tão alto vulto. Contribuiu também para este resultado notável a
apresentação da TFP com seus estandartes, capas, símbolos, os "Vs."
encimados por uma cruz, a galhardia com que os jovens desfilaram ao
início da campanha, a disciplina, a educação, a distinção dos que dela
participaram.
"Este
conjunto de circunstâncias, além de favorecer altamente a campanha,
elevou bem alto o nome da Associação, e sua obra ficou altamente
evidenciada. O resultado financeiro ultrapassou a expectativa. Será
aplicado totalmente na melhoria do atendimento aos socorridos, tanto no
atendimento material, quanto no promocional, educativo e habitacional,
objetivos estes sempre visados pela Associação das Damas da Caridade.
"Com
os agradecimentos das Damas da Caridade, suas orações".
A
publicação destas palavras, tão cheias de simpatia, vem dar o último
remate à nossa campanha de Natal, a qual se encerrou no dia 4 do
corrente, em sessão solene realizada no auditório das Damas de Caridade,
sob a presidência do bispo d. Ernesto de Paula, representando o
Arcebispo Metropolitano, d. Paulo Evaristo Arns.
Nessa
ocasião, foi feita a distribuição, em cheques, da quantia total
angariada em dinheiro pela TFP, da qual, deduzidos os gastos, monta a
Cr$ 42.276,00. Os cheques foram entregues às representantes dos vários
núcleos das Damas de Caridade de bairros necessitados desta capital,
para que, por sua vez, os redistribuíssem aos respectivos pobres. Os
objetos coletados pela TFP durante a campanha, como víveres, remédios,
trajes, móveis, brinquedos etc., avaliados globalmente em Cr$ 6.171,00,
também já estão em poder das beneméritas damas, e foram distribuídos aos
necessitados segundo análogo processo. No decurso do ato, foram
projetados "slides" da campanha de Natal, calorosamente aplaudidos por
d. Ernesto de Paula e pelas Damas de Caridade.
* * *
Note-se, por fim, que campanha análoga foi realizada pela TFP, seção da
Guanabara. Produziu ela Cr$ 22.301,10 em benefício da Casa São Luís para
a Velhice. Também a seção de Minas Gerais da TFP realizou uma campanha
de Natal em favor dos assistidos do Lar Dom Orione, de Belo Horizonte.
Arrecadou a campanha Cr$ 11.318,97. E, por sua vez, a seção do Paraná da
TFP coletou Cr$ 14.013,36 em sua Campanha em prol das Damas de Caridade
de Curitiba.
* * *
O
balanço das nossas campanhas será publicado em breve na imprensa.
Avisarei os leitores.
* * *
À
vista dos dados aqui reunidos, podem fazer-se comentários de duas
ordens. Uns diriam respeito às grandes linhas gerais da campanha, e a
este título deveriam ser tidos como os mais importantes. Estariam, entre
estes, a elevação de propósitos de nosso esforço de Natal, a alegria que
terá proporcionado a milhares de famílias necessitadas, o significado
profundamente cristão da esmola etc. Mas estas considerações de tal
maneira se apresentam, espontâneas e inteiras, a qualquer espírito bem
formado, que um artigo sobre o assunto seria banal e supérfluo.
Outra
ordem de considerações leva a conseqüências que muitos não vêem — ou não
querem ver. Vamos a estas.
* * *
O bom
exemplo dos jovens da TFP produziu um frêmito de entusiasmo em
incontáveis pessoas. Sentiram-se elas não só ante o inesperado, mas ante
o inesperável. Haver ainda, em nossos dias, jovens às centenas,
universitários, estudantes secundários, comerciários e operários, que
consagram — sem o menor proveito pessoal — suas horas de lazer e
repouso, e até suas férias, à coleta de donativos para pobres,
suportando, além do mais, uma canícula de apavorar, eis o que quase todo
o mundo julgaria literalmente impossível, se não tivesse diante de si o
fato concreto.
É um
ato de justiça dizer o que tanto se disse e se repetiu ao longo da
campanha: essa abnegação é realmente admirável.
Mas
isto não basta. Pergunte-se a esses jovens admiráveis o porque de sua
dedicação: qualquer deles responderá que está nos princípios, na
mentalidade, nos hábitos de operosidade e disciplina que adquiriu na
TFP. E acrescentar que, se não fosse esta, nunca, jamais, se sentiria
atraído para uma campanha assim, nem teria energias para a ela se
consagrar de tal maneira.
"Pelos frutos se conhecerá a árvore", disse Nosso Senhor (S. Mateus XII,
33). Se a atuação admirável desses jovens resulta da formação que lhe
deu a TFP, é preciso ser de um fanatismo irredutível para negar qualquer
aplauso à nossa entidade.
* * *
Por
que lembro isto tão peremptoriamente?
Faço-o em legítima defesa da TFP. E o próprio de quem se defende com a
consciência limpa é ser peremptório.
Com
efeito, certa máquina de difamação falada — ou antes, cochichada — que
existe nos meios "sapos" de todo o Brasil, não cessa de destilar contra
a TFP suas calúnias. Já nos têm chegado simultaneamente, de seções e
subseções da TFP ou de núcleos de militantes dos mais variados
quadrantes do Brasil, cartas dando conta do nascimento da mesma calúnia
nova, irradiada evidentemente de algum mesmo foco central. São calúnias
tão tolas e soezes, que quem as refutasse só se rebaixaria. De mais,
elas circulam desacompanhadas de qualquer argumento. É o "consta", o
mero "consta" sem provas nem indícios. Como refutar uma coisa
inconsistente e viscosa como essa?
Também, não é aos autores nem aos disseminadores dessas calúnias, que
quero persuadir. Sabem eles muito bem que não estão com a verdade.
Desejo apenas imunizar contra elas o público de boa fé. A este digo: não
acredite no mal que se sussurra a respeito de uma árvore cujos frutos
tanta admiração lhe suscitam...
* * *
De
modo geral, o noticiário das emissoras de TV e rádio sobre nossa
campanha foi bom. Agradeço-o de público, e cordialmente. O mesmo se pode
dizer de alguns jornais — entre os quais as "Folhas" e a "Última Hora".
Estendo-lhes meu agradecimento.
Mas o
que se pode dizer de alguns, não se pode, infelizmente, dizer de todos.
Rapazes às centenas, com capas vermelhas, altos estandartes com leões
dourados, atuando pelos pobres nos pontos mais centrais de grandes
cidades, constituem fato certamente mais digno de ser noticiado do que o
muro que as chuvas derrubaram durante a noite nos fundos de um grupo
escolar, a trombada de automóveis que assustou, porém não feriu ninguém,
ou uma rixa comum entre dois jovens, por ocasião da qual um esbofeteou o
outro.
Ora —
com tristeza o digo, mas tenho o direito de o dizer, porque os órgãos
publicitários não constituem um Quarto Poder, superior a todas as
críticas — há folhas, e até grandes e prestigiadas, que têm espaço para
noticiar todas esta ninharias, e se recusaram a publicar uma linha
sequer sobre a campanha da TFP.
Como
explicar esse silêncio, fanaticamente obstinado em não noticiar o que
toda uma cidade vê, e em negar, assim, apoio a uma campanha que só os
"sapos" e seus bons comparsas da esquerda não admiram?
* * *
Levo
um pouco mais longe minha reflexão.
Já
finda a campanha da TFP relativa à eleição do marxista Allende no Chile,
um jovem militante nosso, de Porto Alegre, foi abordado por um colega
inimigo da TFP. Saiu daí uma pequena discussão. O anti-TFP insultou a
mãe do nosso militante. Esse redargüiu com uma bofetada. O esbofeteado,
que parecia não querer senão isto, foi correndo à polícia queixar-se. E
depois deu uma notícia espetacular a um órgão esquerdista da cidade, que
o publicou com estrondo. E daí foi transcrito em vários jornais de todo
o Brasil, sempre com um bem concertado estrépito. Foi com um fato tão
comezinho como a briga de dois rapazes e a bofetada, que se fez uma
campanha nacional.
Pois
um órgão da imprensa, que se preza de anticomunista, deu guarida à
notícia — adulterada — da bofetada. Depois recusou-se a publicar a
retificação do militante gaúcho da TFP. E sobre nossa última campanha de
Natal... nada viu, de nada soube, nada publicou!
Narro
este fato, e lhe saliento a contradição, sem a menor acrimônia. Move-me
só o desejo de registrar cordialmente uma pergunta.
Por que isto é assim? Por que?