Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 10 de janeiro de 1971

Por que?

Da sra. M. J. Salgado, presidente das Damas de Caridade, recebi a seguinte carta:

"A Associação das Damas de Caridade de São Vicente de Paulo, altamente honrada com a brilhante campanha de arrecadação de donativos para o Natal de seus pobres, promovida pela TFP, da qual é V. S. Presidente, envia-lhe agradecimento muito especial pelo acerto da idéia e pelo magnífico resultado da campanha. Envia também votos de louvor aos numerosos grupos de jovens, que numa demonstração de fé e calor cristão, não mediram esforços nem sacrifícios no desempenho de tão árdua tarefa.

"Trabalho edificante!

“Exemplo a ser seguido pela nossa juventude. Trabalho que conquistou a simpatia do público de nossa capital, alcançando, por isso, coleta de tão alto vulto. Contribuiu também para este resultado notável a apresentação da TFP com seus estandartes, capas, símbolos, os "Vs." encimados por uma cruz, a galhardia com que os jovens desfilaram ao início da campanha, a disciplina, a educação, a distinção dos que dela participaram.

 

"Este conjunto de circunstâncias, além de favorecer altamente a campanha, elevou bem alto o nome da Associação, e sua obra ficou altamente evidenciada. O resultado financeiro ultrapassou a expectativa. Será aplicado totalmente na melhoria do atendimento aos socorridos, tanto no atendimento material, quanto no promocional, educativo e habitacional, objetivos estes sempre visados pela Associação das Damas da Caridade.

"Com os agradecimentos das Damas da Caridade, suas orações".

A publicação destas palavras, tão cheias de simpatia, vem dar o último remate à nossa campanha de Natal, a qual se encerrou no dia 4 do corrente, em sessão solene realizada no auditório das Damas de Caridade, sob a presidência do bispo d. Ernesto de Paula, representando o Arcebispo Metropolitano, d. Paulo Evaristo Arns.

Nessa ocasião, foi feita a distribuição, em cheques, da quantia total angariada em dinheiro pela TFP, da qual, deduzidos os gastos, monta a Cr$ 42.276,00. Os cheques foram entregues às representantes dos vários núcleos das Damas de Caridade de bairros necessitados desta capital, para que, por sua vez, os redistribuíssem aos respectivos pobres. Os objetos coletados pela TFP durante a campanha, como víveres, remédios, trajes, móveis, brinquedos etc., avaliados globalmente em Cr$ 6.171,00, também já estão em poder das beneméritas damas, e foram distribuídos aos necessitados segundo análogo processo. No decurso do ato, foram projetados "slides" da campanha de Natal, calorosamente aplaudidos por d. Ernesto de Paula e pelas Damas de Caridade.

* * *

Note-se, por fim, que campanha análoga foi realizada pela TFP, seção da Guanabara. Produziu ela Cr$ 22.301,10 em benefício da Casa São Luís para a Velhice. Também a seção de Minas Gerais da TFP realizou uma campanha de Natal em favor dos assistidos do Lar Dom Orione, de Belo Horizonte. Arrecadou a campanha Cr$ 11.318,97. E, por sua vez, a seção do Paraná da TFP coletou Cr$ 14.013,36 em sua Campanha em prol das Damas de Caridade de Curitiba.

* * *

O balanço das nossas campanhas será publicado em breve na imprensa. Avisarei os leitores.

* * *

À vista dos dados aqui reunidos, podem fazer-se comentários de duas ordens. Uns diriam respeito às grandes linhas gerais da campanha, e a este título deveriam ser tidos como os mais importantes. Estariam, entre estes, a elevação de propósitos de nosso esforço de Natal, a alegria que terá proporcionado a milhares de famílias necessitadas, o significado profundamente cristão da esmola etc. Mas estas considerações de tal maneira se apresentam, espontâneas e inteiras, a qualquer espírito bem formado, que um artigo sobre o assunto seria banal e supérfluo.

Outra ordem de considerações leva a conseqüências que muitos não vêem — ou não querem ver. Vamos a estas.

* * *

O bom exemplo dos jovens da TFP produziu um frêmito de entusiasmo em incontáveis pessoas. Sentiram-se elas não só ante o inesperado, mas ante o inesperável. Haver ainda, em nossos dias, jovens às centenas, universitários, estudantes secundários, comerciários e operários, que consagram — sem o menor proveito pessoal — suas horas de lazer e repouso, e até suas férias, à coleta de donativos para pobres, suportando, além do mais, uma canícula de apavorar, eis o que quase todo o mundo julgaria literalmente impossível, se não tivesse diante de si o fato concreto.

É um ato de justiça dizer o que tanto se disse e se repetiu ao longo da campanha: essa abnegação é realmente admirável.

Mas isto não basta. Pergunte-se a esses jovens admiráveis o porque de sua dedicação: qualquer deles responderá que está nos princípios, na mentalidade, nos hábitos de operosidade e disciplina que adquiriu na TFP. E acrescentar que, se não fosse esta, nunca, jamais, se sentiria atraído para uma campanha assim, nem teria energias para a ela se consagrar de tal maneira.

"Pelos frutos se conhecerá a árvore", disse Nosso Senhor (S. Mateus XII, 33). Se a atuação admirável desses jovens resulta da formação que lhe deu a TFP, é preciso ser de um fanatismo irredutível para negar qualquer aplauso à nossa entidade.

* * *

Por que lembro isto tão peremptoriamente?

Faço-o em legítima defesa da TFP. E o próprio de quem se defende com a consciência limpa é ser peremptório.

Com efeito, certa máquina de difamação falada — ou antes, cochichada — que existe nos meios "sapos" de todo o Brasil, não cessa de destilar contra a TFP suas calúnias. Já nos têm chegado simultaneamente, de seções e subseções da TFP ou de núcleos de militantes dos mais variados quadrantes do Brasil, cartas dando conta do nascimento da mesma calúnia nova, irradiada evidentemente de algum mesmo foco central. São calúnias tão tolas e soezes, que quem as refutasse só se rebaixaria. De mais, elas circulam desacompanhadas de qualquer argumento. É o "consta", o mero "consta" sem provas nem indícios. Como refutar uma coisa inconsistente e viscosa como essa?

Também, não é aos autores nem aos disseminadores dessas calúnias, que quero persuadir. Sabem eles muito bem que não estão com a verdade. Desejo apenas imunizar contra elas o público de boa fé. A este digo: não acredite no mal que se sussurra a respeito de uma árvore cujos frutos tanta admiração lhe suscitam...

* * *

De modo geral, o noticiário das emissoras de TV e rádio sobre nossa campanha foi bom. Agradeço-o de público, e cordialmente. O mesmo se pode dizer de alguns jornais — entre os quais as "Folhas" e a "Última Hora". Estendo-lhes meu agradecimento.

Mas o que se pode dizer de alguns, não se pode, infelizmente, dizer de todos.

Rapazes às centenas, com capas vermelhas, altos estandartes com leões dourados, atuando pelos pobres nos pontos mais centrais de grandes cidades, constituem fato certamente mais digno de ser noticiado do que o muro que as chuvas derrubaram durante a noite nos fundos de um grupo escolar, a trombada de automóveis que assustou, porém não feriu ninguém, ou uma rixa comum entre dois jovens, por ocasião da qual um esbofeteou o outro.

Ora — com tristeza o digo, mas tenho o direito de o dizer, porque os órgãos publicitários não constituem um Quarto Poder, superior a todas as críticas — há folhas, e até grandes e prestigiadas, que têm espaço para noticiar todas esta ninharias, e se recusaram a publicar uma linha sequer sobre a campanha da TFP.

Como explicar esse silêncio, fanaticamente obstinado em não noticiar o que toda uma cidade vê, e em negar, assim, apoio a uma campanha que só os "sapos" e seus bons comparsas da esquerda não admiram?

* * *

Levo um pouco mais longe minha reflexão.

Já finda a campanha da TFP relativa à eleição do marxista Allende no Chile, um jovem militante nosso, de Porto Alegre, foi abordado por um colega inimigo da TFP. Saiu daí uma pequena discussão. O anti-TFP insultou a mãe do nosso militante. Esse redargüiu com uma bofetada. O esbofeteado, que parecia não querer senão isto, foi correndo à polícia queixar-se. E depois deu uma notícia espetacular a um órgão esquerdista da cidade, que o publicou com estrondo. E daí foi transcrito em vários jornais de todo o Brasil, sempre com um bem concertado estrépito. Foi com um fato tão comezinho como a briga de dois rapazes e a bofetada, que se fez uma campanha nacional.

Pois um órgão da imprensa, que se preza de anticomunista, deu guarida à notícia — adulterada — da bofetada. Depois recusou-se a publicar a retificação do militante gaúcho da TFP. E sobre nossa última campanha de Natal... nada viu, de nada soube, nada publicou!

Narro este fato, e lhe saliento a contradição, sem a menor acrimônia. Move-me só o desejo de registrar cordialmente uma pergunta. Por que isto é assim? Por que?


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