Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 12 de abril de 1970

Dialogando com os N-A-N-E e com os sapos

Os N-A-N-E, sobre os quais escrevi em meu último artigo, não terão gostado da afirmação de que o problema-chave do mundo contemporâneo é a crise interna da Igreja. Com efeito, habituados - pelo próprio fato de "nada terem aprendido nem nada esquecido" - a considerar todas as coisas sob o ângulo dos velhos princípios laicos, terão achado que aquela minha afirmação só é admissível a partir do ponto de vista da TFP.

Acontece, entretanto, que certas grandes verdades são como as montanhas muito altas: podem ser percebidas por observadores situados em pontos de observação muito diversos. Não é de espantar, portanto, que, apreciando há poucos dias o panorama mundial de uma ordem de considerações muito diversas da nossa, o colunista da seção Notas e Informações de "O Estado de São Paulo" tenha escrito esta lúcida afirmação: "Não fazemos segredo de nossa convicção de que, por sua própria natureza, a Igreja é não só a instituição mais indicada mas até a única em condições de poder apontar o rumo seguro à humanidade em uma hora de tão grave desorientamento." Daí se deduz logicamente que as crises e vacilações na Igreja são o que pode haver de mais catastrófico em nossa época.

Quem sabe se esta citação ajuda algum N-A-N-E a abrir os olhos...

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Em parte, a posição supremamente importante da Igreja na crise hodierna – dizemo-lo a título de complemento do último artigo - decorre do fato de que nossa época é bem mais religiosa e tradicionalista do que muita gente imagina. E esta afirmação vale mais ainda para o "renouveau" do espirito religioso e tradicionalista entre os jovens, do que para o que resta de tradição e Fé entre as pessoas de idade madura.

Segundo li há dias em um jornal, um inquérito levado a cabo pelo "Paris Match" revelou que a maior parte da juventude francesa é de tendência "conservadora e tradicionalista". Consultados por volta de mil jovens entre 15 e 23 anos, a nítida maioria deles crê, por exemplo, em Deus, é favorável ao casamento e não à união livre, e quer ter filhos.

Talvez mais emocionante é outra notícia, esta vinda da Rússia. Segundo ela, a geração de idade madura (precisamente aquela em que mais numerosos são os N-A-N-E) é a que menos se faz representar nas igrejas. Oitenta por cento dos que as freqüentam são avós, e 20%... são netos, isto é, jovens em que renasce a Fé abandonada pelos pais. E esta primavera floresce em pleno inverno soviético!

Assim, erram os N-A-N-E ao se imaginarem realmente afinados com os dias que correm. A época é bem diversa do que imaginam.

Tal observação, em nossos tempos sacudidos por uma frenética propaganda "aggiornamentista", se reveste de incontestável importância.

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Tudo isto posto, natural é que todos os sintomas de desorientação nos meios católicos preocupem altamente a qualquer observador imparcial.

O leitor não estranhará, assim, que eu trate mais uma vez do progressismo, esta febre que põe em desvario importantíssimos setores da Igreja.

Tenho em mãos um panfleto de propaganda comunista - de miserável apresentação gráfica - feito naturalmente para atiçar a luta de classes entre nós. Nesse papel, para quem apelam os comunistas em busca de apoio? Evidentemente, para os setores nos quais têm trabalhado; isto é, além dos "camponeses e operários" (que fazem parte de todos os chavões), os "estudantes, intelectuais e clero progressista". Há, pois, um clero do qual os comunistas nada esperam: é o não progressista. E há outro Clero no qual depositam suas esperanças: é o progressista. Em outros termos, a área de influência do comunismo na Igreja é, no dizer dos próprios comunistas, a área progressista.

O que há de mais claro? Nada.

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E, de outro lado, nada conheço de mais obscuro do que a impunidade, dentro da Igreja, do comuno-progressista pe. Comblin.

O glorioso abaixo-assinado, no qual 1.600.368 brasileiros pediram a Paulo VI medidas contra a infiltração comunista no clero, tornou célebre o pe. Comblin, apresentado - e documentadamente - na histórica mensagem, como o protótipo do subversivo.

Pois saibam todos os leitores que o agitador belga, comodamente domiciliado na arquidiocese de Recife, continua a desenvolver, sem qualquer sanção eclesiástica, as suas atividades e, segundo informação que há pouco me foi dada, acaba de fazer pregações em várias (ou todas, a noticia não era bem completa) as dioceses do Piauí.

O informante é bom. Será exata a notícia? Aqui fica um apelo a que alguém a desminta, se não for. Como me aliviaria tal desmentido! Pois não é um pesadelo contemplar esta aberrante impunidade na Igreja de Deus?

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Estes pobres padres, estas infelizes freiras que se lançam nas águas revoltas do progressismo, não se comovem quando se lhes prova que atuam contra a Igreja e a pátria. Impressioná-los-á saber que lutam contra si próprios?

O prof. James T. Nix, da Universidade de Lusiana (EUA), estudou o estado de saúde de 100 mil religiosas que viviam segundo as regras em vigor antes do tufão progressista. E concluiu que a longevidade média entre elas (76 anos) era superior à longevidade comum naquele país (65 anos), precisamente em razão das condições de existência criadas para as freiras pelas regras tradicionais.

É este monumento de desvelo pelas condições morais e físicas da religiosa, que o progressismo ataca com todo o vigor...

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E por fim uma notícia que, embora sem relação próxima com problemas religiosos, não podemos deixar de comentar.

Apesar de conturbada por uma violenta crise econômica, os soviéticos - segundo recente artigo do "Pravda" - se jactam de estar atraindo para o campo de suas relações comerciais a América Latina, com o confessado intuito de afastar parcialmente dos EUA.

Acrescenta o "Pravda" que Moscou, além de vantagens comerciais, proporciona às nações deste hemisfério que com ela comerciam uma vantagem política. É que, por ordem do Kremlin, Fidel Castro cessa de promover desordens em tais nações.

Depois, com um cinismo pouco comum até em comunistas, o "Pravda" explica qual o proveito do comunismo em atrair assim os países latino-americanos. É suscitar nestes uma onda antiimperialista que torne depois inevitável a implantação do regime comunista.

Há quem sustente que as relações comerciais com as nações comunistas se cingem ao mero campo econômico, e em nada favorecem à causa comunista. E não há argumento que os convençam do contrário. São os "sapos".

Convencê-los-á a cínica confissão do próprio "Pravda"? Não creio. Pois mudar as opiniões de um "sapo" é mais difícil que destruir à picareta o Pão de Açúcar.

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E, com isto, o presente artigo, que tantas coisas diz para persuadir o N-A-N-E, termina com uma argumentação destinada aos "sapos". Não para os convencer, mas para mostrar ao leitor quanto eles estão errados...


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