Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 18 de outubro de 1970

Velhinhos, presos, freiras, Natal e polêmica

As circunstâncias me impelem a tratar, mais uma vez, da recente campanha publicitária movida contra a TFP.

Entretanto, antes de entrar no assunto, essencialmente polêmico, quero proporcionar-me o prazer — e dele tornar participante o leitor — de abordar tema mais ameno.

* * *

Pergunto: o que é uma carta bem escrita? — A meu ver, essencialmente é aquela em que o autor põe algo de sua alma, em que se sente a força de sua lógica, o pulsar de seu coração, por assim dizer até o próprio timbre de sua voz.

Sinto lógica e pulsar de coração nesta carta, que me endereçou uma religiosa. Respeito o anonimato em que ela quer ficar:

"No Coração de Jesus. Peço e imploro do senhor um presente muito desejado, em favor dos meus caríssimos velhinhos, velhinhas e crianças. Trabalho aqui, no meio deles, que estão precisando de tudo e de todos. Lutamos com muitas dificuldades financeiras para mantê-los. Estou sempre pedindo e implorando aos meus nobres e caridosos amigos, presentes e auxílios para os meus velhinhos. Graças a Deus, todos me dão. Ganhei uma assinatura do "Catolicismo". Ficamos contentíssimas. Ele é muito apreciado por nós oito irmãs, e todas as demais das nossas três casas.

"O presente que peço e imploro aos senhores é de um carro usado de qualquer marca e tipo. Precisamos de carro aqui, para este fim. Pedimos e ganhamos muitos gêneros, nas roças e fazendas, e outros presentes. Mas não temos uma condução para buscar os presentes. Lembrei-me de pedir ao senhor para fazer um apelo, para nós ganharmos um carro usado. Não desejo carro de luxo, doutor. Sou também uma velhinha. Tenho mais de 60 anos. Há 40 anos que luto e trabalho com muito amor, paz, amizade e caridade, no meio destes nossos caríssimos irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo."

Sinto pulsar de coração e timbre de voz nesta outra carta de uma religiosa, cujo nome também manterei em silêncio:

"Nossa Senhora é verdadeiramente Mãe, nossa Rainha e nossa Advogada. Sabe fazer gentilezas, que só podem partir de seu Coração tão terno e tão delicado.

"Ouso fazer-lhe um pedido se possível, e estiver dentro da finalidade da Sociedade (a TFP). Aproxima-se o Natal. Aliás, não está muito longe, e já é tempo que me mexa e estenda a mão a quem possa me auxiliar com alguma coisa para o Natal dos meus presos. Prefiro dinheiro, porque sei o que devo comprar para eles.

"Peço-lhe, pois, e à digníssima Sociedade, um pequeno óbolo para ajudar-me. O auxílio, por mínimo que seja, me ajudará bastante. Vou estender minha mão também para outras pessoas.

"Mais uma vez, também por este pedido, que desejo saber, o mais breve possível, quanto poderei contar com os senhores, para fazer as minhas ‘contas’. Pois quem é pobre, não pode esperar pela última hora, para dar aos mais pobres que Deus colocou em nosso caminho.

"Atenciosamente, conte sempre com as orações e a gratidão da serva em Cristo e Maria."

* * *

E já que se trata, para todos nós, de ir preparando desde logo o Natal, pergunto se algum leitor gostaria de somar às alegrias interiores que então terá na prece, e à satisfação que sentirá nas festas do lar, o suave contentamento de ter contribuído para alegrar, em honra de Jesus Menino, o Natal dessas duas freiras, e de seus protegidos.

* * *

Isto dito, vamos à luta.

Foi muito intencionalmente que, em artigo anterior, me servi da expressão "estrondo publicitário" para designar a onda de calúnias que se despejou sobre a TFP, por ocasião da campanha recentemente levada a cabo por esta.

Com efeito, o que se desejou produzir foi um estampido anti-TFP, próprio a aterrorizar sócios, militantes e simpatizantes de nossa entidade, a lhes enregelar o entusiasmo, paralisar o dinamismo e desagregar a coesão. Uma verdadeira operação de terrorismo publicitário.

Como todos viram, os efeitos da espalhafatosa operação foram nulos. Isto não obstante, a análise da rumorosa ofensiva merece alguns minutos de atenção do leitor.

Diz um provérbio que quem sai à chuva é para se molhar. Nada mais óbvio. Assim, quem transpõe os umbrais da vida privada para lutar, à luz do sol, por grandes ideais, deve estar pronto a receber contraditas, a sofrer incompreensões, a enfrentar oposições. É a chuva...

Nem por isto, quem se expõe a esse aguaceiro deve achar normal que lhe chovam pedras ou canivetes com a ponta para baixo. Ora, foi dessa natureza a "chuva" que caiu recentemente sobre a TFP. Algo de inteiramente insólito no modo de operar de vários jornais, televisões e rádios de nosso país.

Onde o fenômeno se apresentou de um modo mais acentuado foi em Belo Horizonte. Porém, uma outra de suas características se notou quase por toda parte.

Enuncio três destas características, ou melhor, três anomalias típicas da recente erupção de ódio:

1 — Inteira perda da objetividade. Assim, em Belo Horizonte, há uma igreja situada em local muito transitado, na qual nossos jovens se reuniram para rezar após um dia de campanha. A cidade toda, absolutamente toda, sabe que se trata de um templo católico, apostólico, romano, isto é, a Igreja do Coração de Jesus. Para incompatibilizar a TFP com a população belo-horizontina, um jornal da capital mineira teve a inconcebível audácia de afirmar que aquela igreja é greco-cismática. Essa balela circulou largamente pela imprensa de outros lugares. Para honra de nosso jornalismo, é preciso dizer que uma tão frontal negação se chegou a tal extremo com a TFP?

2 — Completo fechamento a qualquer defesa da TFP. Em Belo Horizonte, nenhum jornal publicou as retificações e desmentidos da TFP. Em outros lugares, houve folhas que fizeram o mesmo. Outras publicaram, em lugares secundários, resumos ridiculamente pequenos de nossas retificações. E isto quando, na véspera, haviam publicado com gordos títulos as notícias contrárias a nós. Poucas foram as que publicaram convenientemente nossos comunicados. Também tudo isto é raro em nosso meio. Por que se chegou a tal extremo com a TFP?

3 — Alarde do que é contra, silêncio do que é a favor. No transcurso da campanha, d. Geraldo Sigaud, arcebispo de Diamantina, publicou declarações sobre o distanciamento ocorrido entre ele e a TFP.

Essas declarações foram reproduzidas, glosadas, vociferadas por toda parte.

Ao mesmo tempo, d. Antônio de Castro Mayer, bispo de Campos, nos escreveu uma carta de caloroso apoio à campanha que vínhamos desenvolvendo. Nosso serviço de imprensa distribuiu largamente esse primoroso documento. Entretanto, poucos jornais o publicaram. Mais uma vez, pergunto: por que se procedeu assim com a TFP?

Não sei. Mas de uma coisa sei. E o leitor também sabe a quem aproveita tudo isto. E’ a quem atacamos, é o comunismo.

Que nexo há, então, entre o comunismo e essa campanha? Como se dá que pessoas não comunistas, a ela se associem com tal furor?

São perguntas sobre as quais não há dados para se escrever nada, por ora.

Mas a História o dirá...


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