Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 11 de outubro de 1970

Dentro e fora do Brasil...

Enquanto sócios e militantes da TFP percorriam as ruas das principais cidades do Brasil, alertando a opinião pública sobre as funestas conseqüências da vitória marxista no Chile, desencadeou-se contra nossa entidade um verdadeiro tufão. Contávamos com isto, pois tal é o costumeiro desfecho de nossas campanhas: uma contra-ofensiva violenta dos que não concordam com a atuação por nós desenvolvida a bem do País e da civilização cristã.

Esquerdistas, "sapos", jornalismo sensacionalista, tudo — numa orquestração perfeita — se moveu contra nós. O que não impediu a extraordinária saída do artigo-manifesto da TFP e do livro "Frei, o Kerensky chileno", e a implícita manifestação de simpatia confortadora que a grande maioria do povo nos tem.

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Quando no ano de 1966, estávamos em plena campanha contra o divórcio, aconteceu um fato fora da rotina: a CNBB baixou contra nós um comunicado. Isto nos surpreendeu. Em longa e pública mensagem ao Episcopado, ponderamos, entre outra coisas, que golpear o porta-bandeira em plena luta é favorecer implicitamente o adversário. A mesma reflexão caberia para o episódio que acaba de ocorrer.

Com efeito, agora, quando estávamos em plena luta por demolir os maus efeitos da vitória de Allende, novo tiro. Era S. Emcia. o Cardeal Eugênio Sales que fazia contra a TFP um pronunciamento visando demoli-la no conceito dos brasileiros.

Os historiadores que de futuro tratarem do episódio não deixarão de observar, desconcertados, que essa tentativa de demolição dos demolidores de Allende, só a Allende podia favorecer. Eles notarão a alegria e o reboliço de todas as esquerdas com o fato. E se perguntarão porque S. Emcia. escolheu precisamente este momento, não só para atacar rudemente a TFP, como para disparar numa fogosa apologia de D. Helder.

Em seu documento, o sr. Cardeal Sales, depois de rasgados elogios ao Arcebispo Vermelho, chega a dizer que a onda de desconfiança do País a respeito de D. Helder importa em um movimento de ataque à própria Igreja. O que constitui da parte do Purpurado uma clara tentativa de deter toda a reação do País contra os desmandos de pensamento e de linguagem do Arcebispo de Olinda e Recife.

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Maior ainda será o embaraço dos historiadores quando tiverem de explicar porque o sr. D. Geraldo Sigaud, Arcebispo de Diamantina — a quem o Brasil deve inegáveis serviços na luta contra o comunismo — escolheu o mesmíssimo momento para, por sua vez, atacar a TFP.

Não poderia S. Excia. ter pelo menos esperado alguns dias, até que a campanha chegasse a seu final? E, se tivesse tanta urgência em nos atacar, por que pelo menos não disse palavra que significasse compreensão, apoio, aplauso à campanha que vínhamos desenvolvendo?

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Seja como for, desta vez ainda, a TFP, atacada, reagiu valorosamente. Daí nosso comunicado do dia 7 último, sobre as declarações de D. Sigaud. Daí também nossa respeitosa mas firme mensagem ao Cardeal Sales (Análise, defesa e pedido de diálogo. Carta aberta da TFP ao Cardeal D. Eugênio Sales). Os leitores que desejem um ou outro documento, aliás já largamente divulgados pela imprensa, podem pedi-los em nossas sedes.

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Enquanto estes fatos dolorosos se passavam, um dos mais brilhantes e acatados Prelados do País, D. Antônio de Castro Mayer, Bispo de Campos, me endereçou esta missiva que — já publicada também ela na imprensa, timbro entretanto em reproduzir aqui:

"Escrevo-lhe para felicitar a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, segura e eficazmente dirigida por Vossa Senhoria, pela vitoriosa campanha de esclarecimento da opinião pública, justamente abalada com a vitória do candidato marxista nas eleições presidenciais do Chile. É bom que o povo meça, em toda a extensão, o que significaria uma nação sob o jugo comunista na América do Sul. Como é necessário que o povo veja que a vitória do candidato marxista não significa progresso do marxismo no país amigo. Uma e outra coisa põem em plena luz a atual campanha da TFP.

"O comunismo foi declarado intrinsecamente mau na Encíclica doutrinária ‘Divinis Redemptoris’, dirigida a todo orbe católico, Encíclica na qual Pio XI, como supremo Mestre e Pastor do rebanho de Cristo, mostrou a incompatibilidade absoluta entre a concepção natural e cristã do homem e do convívio social, nos seus aspectos religiosos, culturais e mesmo econômicos.

"Infelizmente, semelhantes princípios básicos da Civilização Cristã, ou da civilização ‘tout court’, vão sendo legados ao olvido, com grande prejuízo para a Humanidade pois desse modo perde-se o critério para um julgamento exato das ocorrências político-sociais. Por isso mesmo, é especialmente benemérita a atual campanha da TFP, que vem reavivar a memória dos ensinamentos católicos sobre o comunismo e a sociedade cristã.

"Cumpre-nos, outrossim, lamentar as censuras de que a TFP tem sido objeto, precisamente no momento em que presta inestimável serviço à pátria. Censura desacompanhada de justificativa é sempre algo confrangedor. Ela é especialmente dolorosa quando procura abafar a única voz que se levantou para alertar a nação contra o perigo que bate às portas. Tanto mais quando há um silêncio generalizado sobre os fundamentos da Civilização Cristã constantes da Encíclica ‘Divini Redemptoris’ — desigualdade social, com a conseqüente e justa hierarquia, família, propriedade, educação, iniciativa privada — que o comunismo tenta destruir.

"Não estaria bem com minha consciência se, em tais circunstâncias, não externasse meu aplauso, minha admiração e meus augúrios à campanha da TFP. Que Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil, se digne torná-la vitoriosa em todo sentido, e tenha uma proteção especial sobre seus planejadores e executores".

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Quando saírem a lume estas reflexões, como estará a situação boliviana? Estará instalada bem à nossa porta a fogueira comunista? Ou poder-se-á dizer que estivemos na iminência de tal, mas o perigo foi provisoriamente afastado?

Não é tão fácil responder. Seja como for, teremos sentido as labaredas bem mais perto de nós. E poderemos ter compreendido que o perigo comunista é hoje muito e muito maior do que antes da vitória de Allende.

Sim. Pois imagine o leitor um Chile não comunista: como seria menor, em tal caso, a importância da comunistização da Bolívia! O fato, o grande fato trágico é a comunistização do Chile. É porque o Chile está a pique de se tornar irremediavelmente marxista, que o comunismo boliviano pode ser um perigo para nós.

Assim, num salto, a ameaça comunista transpôs os Andes e o Rio da Prata, de modo a bater a nossas portas. E assim, pergunto: era só chileno o problema Allende?


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