Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 20 de setembro de 1970

Os "sapos", a epopéia e a opereta

A afinidade de larguíssimo setor do público brasileiro com a TFP se confirmou ainda uma vez, e com eloqüência, no decurso da atual campanha que os nossos jovens e admiráveis propagandistas estão desenvolvendo nas principais cidades do país.

A eloqüência, no caso, é a dos números.

Do vitorioso livro de Fábio Vidigal Xavier da Silveira, foram vendidos em 8 dias, 4.319 exemplares (edições "Catolicismo" e "Editora Vera Cruz Ltda."). Do artigo que publiquei na Folha de S. Paulo, intitulado "Toda a verdade sobre as eleições no Chile", erigido pela TFP em manifesto da entidade, em igual período foram distribuídos, em avulso, cerca de 325 mil exemplares.

Não se pense que esses dados resultam de uma aceitação automática e inexpressiva. Na rua, a disputa anda quente. Com efeito, os "sapos" ricos e os comunistas não gostaram. A reação mais bem organizada foi a dos "sapos". Com uma uniformidade de atitudes espantosa, que faz pensar numa palavra de ordem, esses burgueses bem instalados na vida, passam pelos sócios e militantes da TFP sem os ver nem ouvir. Com os olhos postos num vago longínquo, a cara discretamente carrancuda, o passo rápido, não respondem nem sequer com aceno à oferta amável do "best seller" de meu amigo Fábio. E nem abrem a mão para aceitar meu artigo.

A irritação dos "sapos" se explica. Para eles, a propriedade individual é só um estado de fato, um fator de fruição, de que se tira partido como de uma fruta ou de um charuto. E para a TFP, ela é um ideal, um princípio moral, um mandamento da Lei de Deus, uma condição essencial para a ordenação cristã das coisas. E os gozadores — de prestígio, mando, ou outros deleites, pouco importa — jamais se sentiram à vontade ao lado dos que agem por mero ideal.

Estou vendo muito "sapo" sobressaltar de cólera: — Então eu, que trabalho de sol a sol pelo desenvolvimento do país, sou um mero gozador? — Devagar, respondo desde já a meu objetante. Não nego que seu trabalho redunde em vantagem para o país. Para que você tenha a liberdade de o desenvolver, para que sua empresa não seja transformada numa indolente e mofada repartição pública, é que, em boa parte, luta a TFP.

Não deixa de ser verdade entretanto, meu caro "sapo", que seu trabalho beneficia, a um tempo, nosso País... e seu bolso. No que não o censuro. Pois seria estúpido ver no lucro individual comedido e legítimo, um prejuízo para o bem comum. Mas compare sua posição legítima e proveitosa com o entusiasmo desses jovens de bolso furado que lutam pela propriedade... e continuam de bolso furado. Não é verdade que eles levam a cabo uma gesta, uma epopéia?

Esses jovens, que vivem só para o ideal, foram tocados pela palavra de Nosso Senhor Jesus Cristo: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus".

Porque o jovem colaborador da TFP pensa assim, será razão para Você o execrar tanto?

* * *

Enquanto desse modo agem os "sapos", os comunistóides de rua e os jovens fanatizados pelo Clero progressista, com mil perguntinhas, objeçõezinhas e debiques, tentam interromper nosso trabalho. Um e outro, agride até com violência. Assim, um tipo, em Porto Alegre — eu melhor diria, um assassino em germe — atirou contra os nossos um paralelepípedo de rua. Naturalmente, esse "valente" ficou covardemente anônimo.

* * *

Dos dois extremos, portanto, a oposição nos vem. Carrancas, sarcasmos, manobrinhas, pedradas. E argumentos?

Do lado "sapo", que me conste, só um. Quando, ao passar, não conseguiam não ver nem ouvir nossos militantes, os "sapos" respondiam, de um modo invariável, com uma objeção admiravelmente ininteligente: "O caso é com o Chile; não interessa ao Brasil". — Como se um incêndio na casa do vizinho, ou uma epidemia no bairro, não fosse para mim um assunto doméstico!

Os esquerdistóides têm apresentado outro argumento: o PDC chileno disputou as eleições com um programa parecido ao de Allende. Logo, seus eleitores são tão marxistas quanto os do partido de Allende. E, como os votos somados dos pedecistas e dos socialistas formam a maioria, os chilenos em sua maioria são marxistas. O que é exatamente o contrário do que afirmei.

- A resposta é simples. Programas parecidos não são a mesma coisa que programas idênticos. E quem tem algo de parecido com o marxismo, nem por isto pode ser tachado, pura e simplesmente, de marxista.

Acresce que programa de partido tem pouca força determinante nas eleições sul-americanas. Qual, por exemplo, no Brasil, a porcentagem de eleitores que conhece seriamente o programa da ARENA ou do MDB, e os toma em linha de conta para a votação?

Sobretudo em matéria de voto pedecista, isto é real. A maioria dos eleitores que os padres progressistas encaminham para votar nos candidatos de esquerda não é formada por moçoilos e moçoilas de passeata, mas por boa gente de sacristia, que crê cegamente no que o padre diz, e rejeita como infame calúnia a asseveração de que há padres comunistas...

Isto, que é evidente, aniquila a alegação de que os eleitores pedecistas de Tomic e de Allende são, todos eles, marxistas ou simpáticos ao marxismo.

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Seja como for, estes fatos provam que a oposição esteve ativa nas ruas. E que a aceitação do livro e do artigo-manifesto da TFP teve o significado de uma expectativa simpática e de um verdadeiro interesse em conhecer a palavra da TFP.

"Pari passu" do que entre nós sucede, a campanha da TFP se vai estendendo vitoriosamente por quase toda a América Latina.

No Chile, o PDC — fiel da balança na ratificação da eleição pelo Parlamento — declarou que deseja entrar em negociações com Allende, e não com Alessandri. O que não é negociação, mas capitulação. Pois quem, antes mesmo de ver suas condições aceitas pelo marxista, declara que nele votará, não negocia: entrega-se.

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Mas, dirá alguém, não venceu Allende?

Já analisamos a inconsistência dessa vitória. Espanta que, mesmo elucidados os fatos pelo manifesto da TFP, certos jornalistas continuem a falar em "triunfo" de Allende. "Triunfo" de 1% é triunfo?

De mais a mais, a que se reduz esse 1%, se tomarmos em conta a notícia recente de que houve mais de 500 mil abstenções e votos em branco?

* * *

Dado saboroso, que também notícias desta semana revelam: nos distritos eleitorais em que se aplicou a reforma agrária de Frei, Allende foi derrotado. Ou seja, o povo experimentou e não gostou.

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Outro dado curioso: Allende deu à manifestação comemorativa de sua vitória, não o caráter de um comício, mas de uma feira de diversões, com barraquinhas, danças regionais etc. Expressão sintomática de seu receio de que um comício estritamente partidário e ideológico atrairia muito menos gente. O que é revelador da pouca consistência ideológica de seu eleitorado.

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E por hoje ficamos nisto, à espera do papel, ou do papelório, que fará o PDC quando da opção no Congresso, entre o candidato que "triunfou" com 1% e o que foi "derrotado" por essa margem de opereta.


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