Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

5 de julho de 1970

Tirar aos brasileiros a determinação de resistir

Realizou-se nos primeiros dias do mês passado a cerimônia de encerramento dos cursos na Escola Nacional de Guerra dos Estados Unidos. Durante o ato, que foi efetuado no Fort Mchair, o deputado federal Gerald Ford pronunciou um discurso notável pela lucidez e coragem.

Lucidez e coragem... não sei qual destes predicados é mais raro nos dias que correm. Pelo simples fato de que possui tais atributos, a oração do deputado republicano já mereceria uma divulgação bem mais extensa do que a do pequeno noticiário que lhe deram alguns poucos jornais brasileiros. E, mais do que um mero noticiário, as palavras de Gerald Ford pedem um comentário. Pois têm elas uma inegável relação com o atual quadro psicopolítico brasileiro.

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Comecemos por expor as observações do representante ianque.

Fundamentalmente, se reduzem elas a uma análise do movimento pacifista norte-americano à luz do princípio de Clausewitz, que comentei em meu último artigo: o objetivo de uma guerra não é destruir fisicamente o adversário, mas tirar-lhe a vontade de lutar.

Ora — pondera o deputado Ford — os sentimentos pacifistas não têm cessado de crescer no povo norte-americano. Esse fato, habilmente explorado pelos subversivos e revolucionários, vai transformando esse nobre e simpático anelo de paz em uma verdadeira fobia de toda e qualquer guerra, por mais justa e necessária que esta seja. Obviamente, à medida que tal fobia vai ganhando terreno, vai decrescendo o desejo de resistir ao adversário externo. Quem com isto lucra é a União Soviética. Nada mais claro. Mas, perguntará alguém, como podem os subversivos e revolucionários estender tão largamente a área de influência de seu deteriorado pacifismo?

Sempre preciso e lúcido Ford redargue: é por sua política no Extremo Oriente que os soviéticos fornecem pretextos para a propaganda pacifista nos Estados Unidos. Assim, o imperialismo político de russos e chineses na Indochina não tem apenas o objetivo de incorporar essa vasta e estratégica região ao mundo comunista, mas também — e principalmente — o de vencer os Estados Unidos destruindo nestes a vontade de resistir.

A manobra é simples. Um número cada vez maior de parlamentares e estudantes norte-americanos vai sendo levado a dar crédito ao boato de que a guerra no Vietnã e no Camboja resulta apenas da pressão de escusos interesses financeiros e militares. Daí o exigir-se, naqueles círculos, uma redução dos gastos militares, sem indagar sequer se deve ser mantido um limite mínimo para tais gastos. O que os antibelicistas americanos exigem é, pura e simplesmente, que seus patrícios se recusem a fazer guerras.

A eventual vitória desse ponto de vista levaria evidentemente os Estados Unidos a renunciar à sua situação de potência mundial, pois não pode exercer uma verdadeira liderança o país — como o indivíduo — que esteja de antemão resolvido a jamais lutar contra quem quer que seja.

Essa desclassificação da América do Norte no cenário internacional acarretaria como conseqüência que a única potência mundial passaria a ser a União Soviética.

Não é preciso dizer mais...

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Depois de algumas fortes e judiciosas observações sobre a conduta irracional dos políticos civis de seu país face à guerra na Indochina, Ford mostra que, se não fossem os obstáculos criados pelas próprias autoridades norte-americanas ao normal desenvolvimento das operações militares, os EUA já teriam vencido. Daí concluímos que o pacifismo "à outrance" dos ianques é a principal causa da duração da guerra do Vietnã. E, diante de quadro tão desconcertante, o deputado ianque lança uma pergunta dramática: "Será que ainda temos a vontade de lutar, de que falou Clausewitz?". E acrescenta, com um brado de alarma que não vale só para seu país, mas para o mundo inteiro: "Se não tivermos, a União Soviética vencerá".

Como é natural, Ford se mostra um apologista da intervenção de Nixon no Camboja. Pois ela deu foros de seriedade às anteriores ameaças feitas pelos Estados Unidos aos imperialistas vermelhos. Pelo menos uma vez, aquelas ameaças foram seguidas de efeito concreto. Ainda aqui, concordo com Ford. Pois haverá algo que mais enxovalhe o renome de uma grande nação, do que o hábito de emitir ameaças que sejam meros golpes de sabre no ar?

Discurso tão lógico e penetrante não poderia deixar de se elevar à esfera filosófica. Ford lembra a frase de Stuart Mill: ‘A Guerra é uma coisa feia, mas não a mais feia das coisas". O congressista concorda com ela, e vai mais longe. Pois a guerra de legítima defesa, a guerra feita para preservar valores que devemos prezar mais do que a vida, não só não é uma "coisa feia", mas, por ser necessária e legítima, é enquanto tal uma coisa bela.

Mas haverá valores que merecem o sacrifício de nossa vida? A essa pergunta, Ford responde acrescentando uma frase lapidar de Stuart Mill: "Um homem que não tenha nada pelo que ele ache que vale a pena lutar, nada que ele ame mais que a sua própria segurança pessoal, é uma criatura miserável".

Frase, comento eu, que encontra todo o seu fundamento nas verdades sobrenaturais que há dois mil anos a Igreja ensina.

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Qual a relação de toda essa problemática com o Brasil?

Os subversivos, que nestas bandas atuam, têm exatamente a mesma ideologia do que a dos seus congêneres americanos. Pacifistas no campo internacional — face à investida russa, chinesa e cubana — são eles, paradoxalmente, ultra-agressivos na política interna. Estão neste caso os que organizam a subversão à mão armada. E também os que organizam "pressões" incruentas a fim de arrastar o Brasil — pelo caminho das "reformas de base" socialistas — até o comunismo. Quanto a este segundo tipo de subversivos, basta lembrar dom Helder.

Ora, assim como o efeito da subversão norte-americana é tirar ao povo a vontade de lutar, uma observação dos fatos — superficial embora — mostra à saciedade que a meta da subversão brasileira é a mesma: tirar aos brasileiros a deliberação de resistir. De resistir ao inimigo interno, que procura parecer invencível por sua audácia e destreza. De resistir ao inimigo externo, que — para vantagem da causa comunista — os imprevistos da política podem levantar a qualquer momento contra nós.

É esta a preciosa lição que das palavras proferidas na América do Norte por Gerald Ford podem tirar os brasileiros. Pois, cá e lá, más fadas há.


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