Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 7 de junho de 1970

Claro como água

Do sr. Juan Gonzalo Larraín Campbell, diretor da Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, recebi uma carta datada de 23 de maio último. Considero-a digna de toda a atenção do público brasileiro. É, pois, com satisfação que a publico.

"Realizando uma viagem por este país, que tanto admiro não só pela beleza natural de seu território, mas especialmente devido às qualidades de espírito que distinguem o povo desta imensa nação, estou atualmente me beneficiando do alto nível científico brasileiro mediante um tratamento médico na Beneficência Portuguesa, desta capital.

"Como diretor da Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, escrevo-lhe esta carta para esclarecer o público deste país, tão querido no Chile, a respeito de uma notícia, com certeza proveniente de alguma agência internacional, em que se dá uma visão inexata da ação da mencionada entidade.

"Com efeito, no dia 15 do corrente, li em "O Estado de São Paulo" notícia na qual se afirmava que a violência continua perturbando a campanha eleitoral chilena, e que os extremistas de direita e de esquerda escolheram o terror como arma favorita. Após apresentar o Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), de tendência castrista, como a organização comunista mais atuante do país, acrescentava a notícia: "Os extremistas de direita têm no movimento "Fiducia" — Sociedade Chilena de Defesa da Tradição, Família e Propriedade — uma das mais ativas organizações de luta. Estas duas ofensivas têm uma base comum: a exasperação do povo". E adiante vem a insinuação de que a TFP chilena seria a responsável pela ação dos fazendeiros refratários à Reforma Agrária, que, segundo consta, provocaram o incidente durante o qual morreu o sr. Hernán Mery, funcionário da Corporação da Reforma Agrária.

"A respeito, quero esclarecer-lhe o seguinte:

"1 — O modo de atuar da TFP chilena tem sido sempre dentro da mais inteira conformidade com a lei. Sua ação é de caráter nitidamente ideológico manifestando-se abertamente junto à opinião pública, em numerosas campanhas, seja de vendas da revista ‘Fiducia’, seja de distribuição de manifestos ou de coleta de assinatura. A ação da TFP, ao contrário do que diz a informação, tem sido sempre pacífica e feita segundo meios estritamente legais. E isto se tornou particularmente evidente agora, nas vésperas das eleições presidenciais. Nesta conjuntura, qualquer ato violento só pode favorecer a implantação de alguma ditadura esquerdista (disfarçada ou não com algum verniz direitista). Para obviar isto, que reputamos uma calamidade, nós, da TFP de meu país, publicamos um manifesto no jornal ‘El Mercurio’, de 11 de abril último, no qual afirmamos: "...Para isso lhes pede que, em tudo que se relacione com as próximas eleições, observem particular e escrupuloso acatamento das leis e contribuam para manter um clima de tranqüilidade e ordem, de modo a evitar até o simples pretexto de suspender as próximas eleições".

Ademais, numa recente campanha publicitária contra o recrudescimento da agitação terrorista, a TFP fez um apelo à opinião pública para abster-se de toda espécie de violências, a fim de negar pretexto para uma eventual ditadura, a qual — diga-se de passagem — agravaria, no dizer do ‘El Diário Ilustrado’, de 26 de abril último, o socialismo rural confiscatório que infelicita meu país.

"2 — É de todo em todo irreal que a TFP chilena tenha tido qualquer intervenção na morte do sr. Hernán Mery, funcionário da Corporação de Reforma Agrária, como o insinua a informação publicada pelo citado matutino paulista.

A imprensa chilena nada afirmou nem insinuou a este respeito. Ela noticiou que a morte foi simplesmente causada por um camponês da fazenda expropriada, o qual não aceitava a aplicação da Reforma Agrária do governo Frei. Para evidenciar ainda mais ante a opinião pública do Brasil, a ação inteiramente legal da TFP chilena, basta analisar qual foi o comportamento dela em face da desapropriação da fazenda do sr. Patricio Larrain Bustamante, meu parente e presidente do Conselho Nacional daquela entidade. O sr. Larraín era proprietário de 79 hectares no vale de Curacavi a 60 Km de Santiago. Tinha ele o apoio público de mais de 800 trabalhadores agrícolas da zona pedindo que suas terras não fossem desapropriadas. O governo democrata-cristão, sem dar ouvidos a esta petição, e violando as mais elementares leis da justiça, desapropriou, a preço vil, esta fazenda, reconhecidamente bem explorada e que pertencia a um de seus maiores adversários. A TFP não teve, nesta ocasião, a menor reação violenta.

"3 — É gravemente tendencioso comparar a atitude do Movimento de Esquerda Revolucionário (MIR) com a TFP. Aquele é um movimento conhecido como terrorista, castrista, e cujos cabeças são responsabilizados pela polícia como autores de assaltos a bancos, a estabelecimentos comerciais e outros delitos. Em numerosas campanhas de rua da TFP, nossos militantes têm sido várias vezes atacados violentamente pelos elementos do MIR e do Partido Comunista. Estes organismos usam, com o maior descaramento, armas cortantes e contundentes para eliminar aqueles que, valente e pacificamente, querem salvar o Chile de um regime vermelho. Assim, nestes ataques ficaram seriamente feridos membros do Conselho Nacional e sócios da TFP chilena.

"Prezado Dr. Plinio: uma acusação pode ser feita em poucas palavras; a necessidade impõe, quase sempre, que a defesa seja longa. Peço-lhe que desculpe a extensão da carta e que a divulgue no prestigioso matutino em que sai sua brilhante colaboração.

"Agradecendo de antemão, subscrevo-me, atenciosamente, Juan Gonzalo Larraín Campbell".


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