Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 30 de novembro de 1969

SOS de milhões – A mala pequena – "Tudo normal"

Tenho a alegria de informar aos leitores haver sido entregue no Vaticano, em caixas medindo 80 x 50 x 20 centímetros, os microfilmes dos abaixo-assinados em que cerca de dois milhões de católicos brasileiros, argentinos, chilenos e uruguaios pedem ao Papa Paulo VI medidas para obstar a infiltração comunista nos meios católicos de seus países.

A entrega, feita pessoalmente por um amigo da TFP, realizou-se no dia 7 do corrente. A importante documentação foi confiada a um minutante, na Secretaria de Estado da Santa Sé.

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Desejo que o público conheça o trabalho lento e insano que precedeu a essa entrega.

O primeiro problema que se nos apresentou, encerrada a campanha, foi o de como fazer chegar ao Vaticano as incontáveis folhas do abaixo-assinado. Formam elas — colocadas uma sobre as outras — uma pilha com cerca de 10 metros de altura. Não convinha confiá-las aos meios comuns de transporte postal. Restava pedir que a remessa se efetuasse em mala diplomática do Vaticano.

Por isto, as TFPs argentina, chilena e brasileira e o Núcleo Uruguaio de Defesa da Tradição, Família e Propriedade deliberaram, como medida prévia, centralizar todos os abaixo-assinados no Brasil. Seria assim uma só, a Nunciatura a encaminhá-los à Santa Sé. O transporte das listas para o nosso país fez-se pelos préstimos de sócios das TFPs que ocasionalmente vieram ao Brasil.

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Impunha-se entretanto uma pergunta. Não seriam as listas por demais volumosas para transporte na mala diplomática da Nunciatura? Pareceu, assim, necessário microfilmar todas as listas. Poderíamos então oferecer à Nunciatura uma alternativa: enviar os originais ou os microfilmes.

Mas, antes da microfilmagem, deparávamo-nos com a mais laboriosa das tarefas: a recontagem.

Cumpria que a soma das assinaturas colhidas fosse cuidadosamente revista. A recontagem, por sua vez, importava em delicada tarefa de seleção. Com efeito, não quisemos computar as assinaturas ilegíveis, as que vinham seguidas de endereços vagos ou indecifráveis etc. Para toda esta faina, constituímos algumas equipes de probidade à toda prova. Entre elas, uma equipe feminina, à qual me alegra prestar aqui especial homenagem.

Durou o serviço de seleção e recontagem um mês e meio, tendo sido apurados como resultado os totais logo em seguida anunciados oficialmente pela TFP à imprensa: 1.600.368 assinaturas no Brasil, 280.000 na Argentina, 120.000 no Chile e 40 mil no Uruguai. Total: 2.040.368 assinaturas.

Chegou então a vez da microfilmagem. O processo mais rápido consistia em entregar a tarefa a alguma empresa especializada. Mas o preço global do serviço se averiguou elevadíssimo. Dirigimo-nos, então, a mais de um estabelecimento possuidor de aparelhagem para seu próprio uso, a fim de vermos se nos executaria, a preço de custo, o árduo serviço. Depois de lentas marchas e contramarchas, chegamos afinal a um serviço com desconto.

Começou então a microfilmagem. Esta resultou na elaboração de 85 rolos, com os seguintes comprimentos: 80 rolos com 30,48 metros, 4 rolos com 20 metros, 2 rolos com 10 metros, 2 rolos com 24 metros, e 1 rolo com 26 metros, tendo cada microfotografia 16 milímetros de largura por 25 de comprimento.

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Entrementes, vagara a Nunciatura Apostólica. Cumpria esperar que o novo Núncio tomasse posse e se aclimatasse um pouco no país. Assim, foi só a 20 de junho último que escrevi uma carta a Dom Umberto Mozzoni, rogando a S. Exa., a gentileza de incluir na mala diplomática o envio de histórica importância. Ao mesmo tempo, eu solicitava a S. Exa. que fizesse a escolha entre os textos originais do abaixo-assinado ou os microfilmes.

Parecia-me, esta, a parte mais fácil e mais rápida do serviço. Imaginava eu que abaixo-assinados — importantíssimos pelo número de signatários, pela alta qualidade de muitos deles (arcebispos, bispos, ministros de Estado, governadores e secretários de Estado, altas patentes das Forças Armadas, parlamentares, professores universitários etc.), pelo tema que versavam — houvessem de encontrar a maior facilidade em ser transportados na mala diplomática na qual ocupariam o volume de 80 decímetros cúbicos.

Minha impressão era explicável. O Motu proprio "Sollicitudo omnium Ecclesiarum", de 24-6-69, a respeito do múnus dos Núncios, recomenda-lhes que comuniquem "à Sé Apostólica as opiniões e aspirações dos bispos, clero, religiosos e fiéis leigos de seu território".

Como eu me enganava! O ilustre representante da Santa Sé respondeu-me, em carta de 2 de julho, que "por disposição dos superiores, o correio diplomático da Nunciatura está estritamente reservado às comunicações oficiais. Portanto, esta Nunciatura não pode encarregar-se de encaminhar material alheio". Pelo visto, é pequena a mala diplomática da representação que a Santa Sé mantém junto ao país de maior população católica da Terra. Não sei de quem depende a obtenção de uma "valise" diplomática maior, se à Nunciatura, se ao Itamarati. Seja como for, aqui meu apelo àquela e a este, para se remediar a tão danosa exigüidade da "valise" atual.

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Os subseqüentes meses se passaram na espera de um portador de confiança. Obtivemo-lo em outubro. Foi o advogado mineiro, sr. Carlos Alberto Soares Corrêa, que efetuou a entrega dos microfilmes no Vaticano, em 7 deste mês. Quis acompanhá-lo no ato, seu ilustre amigo, monsenhor Marcel Lefèbvre, arcebispo titular de Synnada.

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Dura foi a tarefa, e penosa a espera. Porém mais duro ainda foi presenciar que, nesse meio tempo, o padre Comblin — depois de um período de "moita" — voltou, por conferências e artigos, a intoxicar os meios religiosos. Enquanto o Emmo. cardeal Rossi, presidente da CNBB, informava aos jornais, pouco antes de ir a Roma, que não tinha conhecimento de infiltração comunista no clero. E o Emmo. cardeal Câmara, mal aportou no Brasil, declarou à imprensa ter asseverado a Paulo VI que a situação do clero no Brasil é "totalmente normal, não havendo qualquer motivo para maiores preocupações".

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Enfim, Paulo VI tem, agora, a monumental mensagem, o SOS de milhões de filhos espirituais seus da América Latina.

O que fará ele? É o que aguardamos com as mãos postas em prece.


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