Folha de S. Paulo,
24 de setembro de
1969
Estilo
Há já
algum tempo, a TFP vinha sendo objeto, em Belo Horizonte, de estranhas
provocações. Ora eram automóveis que — à maneira dos "sapos" daqui —
passavam por nossos jovens atirando-lhes insultos de inspiração
comunista. Ora eram anônimos que lançavam pedras, em altas horas da
noite, nas janelas de uma ou outra de nossas sedes. Ora, por fim, eram
moços desconhecidos que, cruzando-se com nossos jovens nas calçadas,
lhes diziam desaforos, ou lhes faziam até ameaças de agressão física.
A
valorosa seção montanhesa da TFP se houve, nesta nebulosa emergência,
com uma sagacidade digna de registro.
É
notório aos olhos de todo o País, que o jovem da TFP, quer em atividades
de propaganda, quer no trato da vida quotidiana, prima pela cortesia.
Assim, nenhuma queixa pessoal haveria que alegar como explicação de
tantas ocorrências. Estas — partindo na aparência de origens diversas —
deixaram ver sem embargo um nexo mútuo, tanto pelo fato de formarem uma
série longa e contínua, como pela identidade do alvo por todas visado,
que era sempre a TFP.
A
presença do fermento esquerdista como instigador próximo ou remoto —
conforme o caso — de quase todos estes fatos, também não se poderia pôr
em dúvida. Com efeito, só os grandes contrastes ideológicos podem
inspirar certo gênero de ódios. E era diante de uma onda de ódio
profundo e inexorável, que a TFP se encontrava. Qual o setor ideológico
tão distante do nosso, a ponto de gerar um ódio tal? Evidentemente, este
setor não está no centro nem na direita. Logo, só pode estar na
esquerda...
Qual
seria a meta dos que, a sabendas ou não de alguns dos seus agentes,
insuflavam esses insultos e provocações? Evidentemente, era a de
despertar, da parte dos nossos jovens, uma série de reações. Mas,
perguntará alguém, qual a vantagem para os adversários da TFP em
provocar tais reações? Ainda aqui, a resposta é fácil. A TFP poderia ser
então apresentada ao público, pelos esquerdistas insidiosos infiltrados
na imprensa, no rádio e na televisão, como agressora. O que, por sua
vez, nos incompatibilizaria com a opinião pública. Nada há que o
esquerdismo deseje mais do que isto!
Em
conseqüência, os lúcidos dirigentes da seção mineira da TFP pediram a
nossos jovens que, por amor à nossa causa, se sujeitassem a um suplício
chinês: não responder jamais a insulto algum, passando até mesmo por
covardes, a fim de não fazer o jogo do adversário. E assim foi feito. Ao
longo dos tempos, nenhuma resposta, nem a mais leve, foi dada pelos
nossos heróicos jovens aos ultrajes recebidos.
Como
é natural, a audácia dos adversários foi crescendo, e por fim quase já
não tinha limites. No dia 3 de setembro p.p., os agressores anônimos
investiram novamente contra nossos jovens, na frente da Catedral de Belo
Horizonte, e foram postos em fuga depois de rápida escaramuça.
No
dia seguinte, à mesma hora e no mesmo local, um número, desta vez
acrescido, de propagandistas da TFP (cerca de vinte) saía novamente da
Catedral. Os agressores da véspera ali apareceram, também em número
muito maior (aproximadamente vinte), e já de longe se dirigiram aos
brados contra os nossos. Estes estacaram na escadaria externa do templo,
e esperaram em silêncio. O povo acompanhava os fatos com a mais viva
atenção. Os desconhecidos chegaram ao pé da escadaria num ulular
desbragado, mas os da TFP não respondiam, nem se moviam. Afinal, os
desconhecidos começaram a agressão física. Aí, a defesa dos jovens da
TFP se generalizou, e em pouco os agressores, vigorosamente surrados,
debandaram. Dois destes, apesar da rapidez, ainda foram agarrados pelos
nossos, e entregues à Polícia que, no fim, bem no fim, chegou...
* * *
Alguns jornais belorizontinos narraram o fato. O cronista — infenso à
TFP — de certo matutino, reconhecendo as duas vitórias de nossos jovens,
fê-lo entretanto em termos que pareciam açular para o revide os que
haviam sido mal sucedidos.
Então, um jovem propagandista da TFP, o estudante de engenharia Péricles
Capanema Ferreira e Melo, escreveu ao jornalista esta bela carta: "Sr.
José Maurício: Li no dia 6-9-69, o comentário feito por v. sa., no
jornal "Diário de Minas", sobre os dois incidentes ocorridos entre
propagandistas da TFP e os jovens que os agrediram à saída da Igreja da
Boa Viagem.
"Abstenho-me de analisar outros aspectos da nota publicada por v. sa.
Peço-lhe o obséquio de publicar um esclarecimento sobre o seguinte
ponto: embora tenhamos levado a melhor por duas vezes, contra os
agressores, nós, propagandistas da TFP, não consideramos estes fatos
como se estivéssemos num campeonato, a blasonar vitória e a convidar
implicitamente, a outra parte a um revide.
"Não
desdenhamos, nem provocamos a quem quer que seja. Jamais tomamos a
iniciativa de qualquer agressão. Agredidos, é claro que nos defendemos
com energia.
"Isto
feito, preferimos dar os episódios por esquecidos e voltar à faina da
vida quotidiana, pois não temos outro intuito senão atuar pela tradição,
família e propriedade na legalidade e na paz.
"Estou certo de exprimir, assim, o modo de sentir de todos os meus
companheiros de ideal.
"Pedindo a publicação desta carta, agradeço antecipadamente.
Atenciosamente Péricles Capanema Ferreira e Melo, Quartanista de
Engenharia da UFMG".
Tal
missiva completa a linha de conduta da TFP no caso, e define todo um
estilo de viver, de agir, e de lutar. É a versão, em termos
contemporâneos, do espírito do cavalheiro cristão de outrora. No
idealismo, ardor. No trato, cortesia. Na ação, devotamento sem limites.
Na presença do adversário, circunspeção. Na luta, altaneria e coragem.
E, pela coragem, vitória.
Mas
uma vitória cristã, marcada pelo desejo da verdadeira paz, isto é, da
tranqüilidade da ordem.
Este
é mais um fato, a se somar a tantos outros, para tornar bem definido aos
olhos de nosso público o espírito que anima a TFP e o estilo de sua
atuação.
* * *
E
agora um post-scriptum. Um leitor pediu-me uma palavra sobre o
artigo que no "Jornal da Tarde" de 17 de setembro p.p., o sr. Lenildo
Tabosa Pessoa publicou sob o título "A ‘Hora Presente’ e a TFP". Aprecio
a clareza e a objetividade desse artigo. Nele, entretanto, o lúcido e
culto autor caiu em uma contradição. Pois, ao mesmo tempo que afirma
existirem "profundas diferenças de posição em um série de questões"
entre a TFP e a "Hora Presente", afirma com certa amargura que nossos
membros "não movem uma palha" para fazer "qualquer campanha em favor de
‘Hora Presente’ ou de "Permanência". Não vejo como nos pode censurar o
sr. Lenildo Tabosa Pessoa por não fazermos campanha em favor de órgãos
que ele afirma serem tão divergentes de nós.