Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 24 de setembro de 1969

Estilo

Há já algum tempo, a TFP vinha sendo objeto, em Belo Horizonte, de estranhas provocações. Ora eram automóveis que — à maneira dos "sapos" daqui — passavam por nossos jovens atirando-lhes insultos de inspiração comunista. Ora eram anônimos que lançavam pedras, em altas horas da noite, nas janelas de uma ou outra de nossas sedes. Ora, por fim, eram moços desconhecidos que, cruzando-se com nossos jovens nas calçadas, lhes diziam desaforos, ou lhes faziam até ameaças de agressão física.

A valorosa seção montanhesa da TFP se houve, nesta nebulosa emergência, com uma sagacidade digna de registro.

É notório aos olhos de todo o País, que o jovem da TFP, quer em atividades de propaganda, quer no trato da vida quotidiana, prima pela cortesia. Assim, nenhuma queixa pessoal haveria que alegar como explicação de tantas ocorrências. Estas — partindo na aparência de origens diversas — deixaram ver sem embargo um nexo mútuo, tanto pelo fato de formarem uma série longa e contínua, como pela identidade do alvo por todas visado, que era sempre a TFP.

A presença do fermento esquerdista como instigador próximo ou remoto — conforme o caso — de quase todos estes fatos, também não se poderia pôr em dúvida. Com efeito, só os grandes contrastes ideológicos podem inspirar certo gênero de ódios. E era diante de uma onda de ódio profundo e inexorável, que a TFP se encontrava. Qual o setor ideológico tão distante do nosso, a ponto de gerar um ódio tal? Evidentemente, este setor não está no centro nem na direita. Logo, só pode estar na esquerda...

Qual seria a meta dos que, a sabendas ou não de alguns dos seus agentes, insuflavam esses insultos e provocações? Evidentemente, era a de despertar, da parte dos nossos jovens, uma série de reações. Mas, perguntará alguém, qual a vantagem para os adversários da TFP em provocar tais reações? Ainda aqui, a resposta é fácil. A TFP poderia ser então apresentada ao público, pelos esquerdistas insidiosos infiltrados na imprensa, no rádio e na televisão, como agressora. O que, por sua vez, nos incompatibilizaria com a opinião pública. Nada há que o esquerdismo deseje mais do que isto!

Em conseqüência, os lúcidos dirigentes da seção mineira da TFP pediram a nossos jovens que, por amor à nossa causa, se sujeitassem a um suplício chinês: não responder jamais a insulto algum, passando até mesmo por covardes, a fim de não fazer o jogo do adversário. E assim foi feito. Ao longo dos tempos, nenhuma resposta, nem a mais leve, foi dada pelos nossos heróicos jovens aos ultrajes recebidos.

Como é natural, a audácia dos adversários foi crescendo, e por fim quase já não tinha limites. No dia 3 de setembro p.p., os agressores anônimos investiram novamente contra nossos jovens, na frente da Catedral de Belo Horizonte, e foram postos em fuga depois de rápida escaramuça.

No dia seguinte, à mesma hora e no mesmo local, um número, desta vez acrescido, de propagandistas da TFP (cerca de vinte) saía novamente da Catedral. Os agressores da véspera ali apareceram, também em número muito maior (aproximadamente vinte), e já de longe se dirigiram aos brados contra os nossos. Estes estacaram na escadaria externa do templo, e esperaram em silêncio. O povo acompanhava os fatos com a mais viva atenção. Os desconhecidos chegaram ao pé da escadaria num ulular desbragado, mas os da TFP não respondiam, nem se moviam. Afinal, os desconhecidos começaram a agressão física. Aí, a defesa dos jovens da TFP se generalizou, e em pouco os agressores, vigorosamente surrados, debandaram. Dois destes, apesar da rapidez, ainda foram agarrados pelos nossos, e entregues à Polícia que, no fim, bem no fim, chegou...

* * *

Alguns jornais belorizontinos narraram o fato. O cronista — infenso à TFP — de certo matutino, reconhecendo as duas vitórias de nossos jovens, fê-lo entretanto em termos que pareciam açular para o revide os que haviam sido mal sucedidos.

Então, um jovem propagandista da TFP, o estudante de engenharia Péricles Capanema Ferreira e Melo, escreveu ao jornalista esta bela carta: "Sr. José Maurício: Li no dia 6-9-69, o comentário feito por v. sa., no jornal "Diário de Minas", sobre os dois incidentes ocorridos entre propagandistas da TFP e os jovens que os agrediram à saída da Igreja da Boa Viagem.

"Abstenho-me de analisar outros aspectos da nota publicada por v. sa. Peço-lhe o obséquio de publicar um esclarecimento sobre o seguinte ponto: embora tenhamos levado a melhor por duas vezes, contra os agressores, nós, propagandistas da TFP, não consideramos estes fatos como se estivéssemos num campeonato, a blasonar vitória e a convidar implicitamente, a outra parte a um revide.

"Não desdenhamos, nem provocamos a quem quer que seja. Jamais tomamos a iniciativa de qualquer agressão. Agredidos, é claro que nos defendemos com energia.

"Isto feito, preferimos dar os episódios por esquecidos e voltar à faina da vida quotidiana, pois não temos outro intuito senão atuar pela tradição, família e propriedade na legalidade e na paz.

"Estou certo de exprimir, assim, o modo de sentir de todos os meus companheiros de ideal.

"Pedindo a publicação desta carta, agradeço antecipadamente. Atenciosamente Péricles Capanema Ferreira e Melo, Quartanista de Engenharia da UFMG".

Tal missiva completa a linha de conduta da TFP no caso, e define todo um estilo de viver, de agir, e de lutar. É a versão, em termos contemporâneos, do espírito do cavalheiro cristão de outrora. No idealismo, ardor. No trato, cortesia. Na ação, devotamento sem limites. Na presença do adversário, circunspeção. Na luta, altaneria e coragem. E, pela coragem, vitória.

Mas uma vitória cristã, marcada pelo desejo da verdadeira paz, isto é, da tranqüilidade da ordem.

Este é mais um fato, a se somar a tantos outros, para tornar bem definido aos olhos de nosso público o espírito que anima a TFP e o estilo de sua atuação.

* * *

E agora um post-scriptum. Um leitor pediu-me uma palavra sobre o artigo que no "Jornal da Tarde" de 17 de setembro p.p., o sr. Lenildo Tabosa Pessoa publicou sob o título "A ‘Hora Presente’ e a TFP". Aprecio a clareza e a objetividade desse artigo. Nele, entretanto, o lúcido e culto autor caiu em uma contradição. Pois, ao mesmo tempo que afirma existirem "profundas diferenças de posição em um série de questões" entre a TFP e a "Hora Presente", afirma com certa amargura que nossos membros "não movem uma palha" para fazer "qualquer campanha em favor de ‘Hora Presente’ ou de "Permanência". Não vejo como nos pode censurar o sr. Lenildo Tabosa Pessoa por não fazermos campanha em favor de órgãos que ele afirma serem tão divergentes de nós.


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