Folha de S. Paulo,
10 de
setembro de 1969
Animar, esse dever urgente
Na
formidável luta engajada em nossos dias entre o comunismo e a presente
ordem de coisas, a força não está no campo dos vermelhos. Não acredito
nem na superioridade militar, nem econômica, nem em outra qualquer, do
bloco comunista sobre o nosso. Não acredito, também, na possibilidade,
para qualquer Partido Comunista do Ocidente, de conquistar, pela
persuasão, a maioria da opinião pública. Acredito, isto sim, na
gravidade do perigo comunista. Mas tal gravidade decorre do contraste
entre, de um lado, a moleza e a imprevidência de incontáveis
anticomunistas de cúpula e de base, e do outro lado, o fanatismo, a
sagacidade, a agilidade e a requintada técnica de manipular a opinião
pública, das minorias autenticamente comunistas.
Não
me farto de insistir sobre a insensibilidade da opinião pública à
propaganda comunista. De Marx a nossos dias, os comunistas só
conquistaram o poder e só se mantiveram nele pela força. Jamais pela
persuasão. Quanto mais estendem seu poder, tanto mais se lhes torna
difícil manter sob jugo o crescente número de suas vítimas. Um colosso
assim estruturado tem evidentemente pés de barro. E, quanto mais cresce,
mais está prestes a cair. Por isto mesmo, considero uma obra-prima da
propaganda comunista, que ela tenha conseguido desviar deste ponto
capital a atenção de numerosos anticomunistas, a ponto de os persuadir
de que diante do poderio vermelho a resistência anticomunista se tornou
inútil.
A
luta contra esse pessimismo gratuito deve ser um dos empenhos mais
contínuos dos que reagem contra o comunismo.
É
para este efeito, que trago ao conhecimento dos leitores um documento
reconfortante. Prova ele que — ao contrário do que muitos imaginam — o
operariado contemporâneo não é um mare magnum de esquerdistas, a
dois passos de se tornar um mare magnum de comunistas.
Não
versa o documento, propriamente, sobre o comunismo, mas sobre o
progressismo. Nem por isto deixa ele de fundamentar minha tese. Pois —
pense-se o que se pensar sobre as relações entre o progressismo e o
comunismo — é incontestável que os católicos contrários ao progressismo
são necessariamente anticomunistas.
* * *
Como
muitos no Brasil sabem, Mons. Bolatti, bispo de Rosário, tem
desenvolvido uma atuação admirável contra progressistas, clérigos e
leigos, que empreenderam uma verdadeira mazorca naquela importante
diocese argentina.
Em
aplauso a sua atitude heróica, recebeu o benemérito prelado uma mensagem
do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Construções do Interior
daquele país irmão. Desse documento, tenho em meu poder cópia enviada
pelos signatários à TFP argentina. Dele cito alguns textos:
"Em
primeiro lugar, fazemos chegar ao senhor, com o maior respeito, em nome
de mais de cem mil trabalhadores agrupados em nossa organização em todo
o interior do país, nossa solidariedade ante a tremenda falta de
disciplina, ética, e, acima de tudo, o esquecimento, por parte dos
denominados "sacerdotes renunciantes" (estes são os sacerdotes
progressistas em revolta contra seu bispo).
"Dizemos esquecimento, porque não respeitam a Instituição à qual
pertencem e que durante milênios foi mestra por sua seriedade, sua
equanimidade, sua sabedoria.
"Dizemos falta de ética, porque depois de analisar e avaliar a conduta
dos falsos sacerdotes, cremos ser necessária a construção de edifícios
especiais para que estes senhores digam suas "missas vermelhas" ou
qualquer coisa semelhante.
"(...) Por fim, aí estão eles com sua postura, com a qual fazem um mal
tremendo à Santa Igreja; aí estão eles com sua atitude de caudilhos de
comitê, entrincheirados em suas igrejas; faltos de respeito inclusive
para consigo mesmos, perderam a dignidade, a seriedade, o respeito; são
eles qualquer coisa. Essa é a apreciação da maioria do povo católico,
não dos quatro ou cinco fanfarrões que, como comparsas, os acompanham em
suas ridículas posições.
"Nós
estivemos e estaremos com nossa querida Igreja, como era e para o que
era, (...) estimamos a todos os dignos sacerdotes que vestem batina,
porque são sinceros e porque quem é católico os estima, com batina ou
sem ela. Por isso repudiamos estes senhores, traidores de nossa
religião.
“Sem
mais, aproveitamos o ensejo para saudar a S. Exa. com o maior respeito,
e rogamos a Deus para que triunfe a sua posição — Juan Farias,
secretário de Atas — Luís L. Villaverde, secretário geral".
Diga-me o leitor se não o reconforta essa linguagem despretensiosa,
marcada ao mesmo tempo por uma nobre e varonil rudeza, e por uma
profunda e filial veneração para com a Igreja.
Publiquei estas citações, repito, porque dissipar as trevas do desânimo
me parece um dos principais deveres do momento.