Folha de S. Paulo,
23 de
julho de 1969
Esclarecendo, argumentando e conjeturando
Quem
tiver lido meu último artigo estará ao corrente do êxito que vai sendo
alcançado pela TFP argentina, em sua campanha simultânea com a da TFP
brasileira contra o IDO-C e os "grupos proféticos".
Esse
êxito, como é natural, chamou a atenção do "The New York Times", o qual,
em sua edição de 12 de julho p.p., publicou sobre o assunto uma
correspondência de Buenos Aires, composta de informações verídicas umas,
falsas outras.
Em
sua maioria, tais informações dizem respeito às TFPs argentina e
chilena. Ignoro se estas as vão desmentir. Se o fizerem, darei notícia
de tal aos leitores.
O
despacho do "The New York Times" traz também algumas referências à TFP
brasileira, que desde logo retifico:
1.
Não é verdade, segundo parece dizer esse jornal, que a única TFP
existente seja a do Brasil. E que nos outros países sul-americanos, em
que nosso ideal vai surgindo, não haja senão ramificações nossas. As
TFPs do Chile e da Argentina são entidades dotadas de plena
personalidade jurídica segundo as leis dos respectivos países, e,
portanto, possuem perfeita autonomia. A mesma autonomia têm o Núcleo
Uruguaio de Defensa de la Tradición, Familia y Propiedad, como as
entidades congêneres que vão desabrochando, com viço, em quase todos os
outros países sul-americanos. Conforme não poderia deixar de ser, nesta
era de cooperação sul-americana sempre mais íntima, a colaboração entre
as várias TFPs é cordial e assídua, sem que, entretanto, estejam
coligadas em uma federação internacional juridicamente constituída.
2.
Afasto com um piparote desdenhoso a hipótese abstrusa de que a TFP tenha
uma relação "pelo menos indireta", como diz "The New York Times", com o
assassínio do jovem e malogrado pe. Henrique Pereira Neto. A TFP está
acima de tal hipótese. É só o que tenho a dizer.
3.
Afirma ainda "The New York Times": "Vários dirigentes da organização, no
Chile, foram presos quando tentavam distribuir exemplares de um livro
intitulado "Frei, o Kerensky Chileno". O livro acusa o presidente
Eduardo Frei Montalva de estar preparando o caminho para uma eventual
tomada do poder pelos comunistas".
O
livro "Frei, o Kerensky Chileno" não é de autoria de um membro da TFP
chilena, como parece insinuar o despacho do jornal ianque. Escreveu-o o
sr. Fábio Vidigal Xavier da Silveira, advogado e agricultor em Amparo.
Sobre o autor, o conteúdo da obra e sua repercussão internacional,
publiquei um
artigo nesta coluna em 8 de janeiro p.p.
Para
"Le Figaro", o conhecido jornal parisiense (edição de 10 de julho p.p.),
o assassinato do infeliz Padre Henrique Pereira Neto se deve
provavelmente ao CCC. Este último seria, segundo o referido diário, um
prolongamento da "respeitável liga integrista "Defesa da Tradição, da
Família... e da Propriedade".
Não
tenho procuração para defender o CCC. Toca-me, entretanto, afirmar que a
TFP não tem nenhuma vinculação com esta ou qualquer outra entidade. O
que, aliás, todo brasileiro medianamente informado sabe.
Consagrei parte de meu último artigo a apresentar reparos à entrevista
que, sobre as atividades da TFP, o Emmo. Cardeal Rossi concedeu a um
matutino paulista. Com o respeito devido à púrpura romana, enunciei
todas as objeções que me foram sugeridas pelas palavras de S. Emcia. E
não ocultei minha surpresa ante a assertiva do meu arcebispo, de que a
existência de sacerdotes comunistas no Brasil não passa de hipótese
improvável, verificável, quando muito, em um ou outro caso excepcional.
Tem-se a impressão de que, para S. Emcia, um Padre comunista é algo de
tão monstruoso, que de si é inacreditável.
Ouvido sobre meu pronunciamento pelo mesmo diário, S. Emcia. não se
recusou a falar, e também não refutou qualquer de meus argumentos.
Limitou-se tão só a repetir, quase literalmente, o que já dissera. A
repetição é um dos muitos recursos da retórica. Dizia até Napoleão -
muito pouco propenso ao diálogo - que é o melhor deles.
Diante de tal repetição, o que fazer de minha parte? S. Emcia. duvida
até mesmo da existência de um ou outro padre comunista? Confesso-me
desacoroçoado. Pois então S. Emcia., por análogas razões, não acreditará
na infiltração alarmante do ateísmo nas fileiras católicas. Dada a alta
categoria hierárquica de S. Emcia., ponho-me a pensar no reflexo deste
seu estado de alma nas resoluções da reunião que a CNBB está realizando,
e da qual eu gostaria de esperar diretas e eficientes medidas contra
este mal.
A
coincidência dos acontecimentos é impressionante, senão dramática. Pouco
antes de reunido esse egrégio conclave, "Catolicismo" lançou um número
duplo - que vai sendo difundido pela TFP em todo o País - no qual
desperta a atenção dos brasileiros para a infiltração maciça e
organizada do ateísmo na Igreja.
De
fora das fileiras da TFP, dois pronunciamentos - dignos de serem
atentamente ponderados - apontam o mesmo perigo.
Um
foi o artigo "Acordem, senhores bispos" (cf. "O Estado de S. Paulo", de
19-7-69), no qual Gustavo Corção, em lance impressionante, suplica a
nossos prelados que dêem ouvidos ao brado de alarma de "Catolicismo".
O
outro foi a clara referência à infiltração materialista na Igreja, do
governador Abreu Sodré (cf. "Folha de S. Paulo", edição de 19 do
corrente).
Por
fim, e sobretudo, já que também a mim a repetição é permitida, devo
lembrar, sobre a questão específica da infiltração do materialismo
comunista em meios católicos, o depoimento de 1.600.368 brasileiros,
constante do já histórico abaixo-assinado promovido, em 1968, pela TFP.
Dados
todos estes depoimentos, será realmente tão difícil admitir que tal
infiltração existe?
À
vista disto, me ponho a conjeturar.
A
CNBB amparará a nação brasileira contra tão imenso perigo, adotando
medidas claras, firmes decisivas, que o eliminem? Ou também ela
considerará impossível, a priori, o problema?
São
estas as perguntas cuja resposta aguardo em prece.