Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 28 de maio de 1969

Comunismo, matrimônio e extermínio

Nunca será demasiado insistir sobre este ponto: o comunismo não corresponde aos anelos do homem contemporâneo; é ele uma ideologia rebarbativa e indigesta, que os maiores esforços propagandísticos não alcançam inculcar nas massas.

Sempre que a oportunidade se oferece, lembro este grande fato da atualidade. Não porque eu pretenda, com isto, demonstrar que a doutrina comunista é falsa, pois a simples rejeição de uma doutrina pela multidão não é critério para se julgar de seu acerto. É porque a fama de invencível constitui uma das melhores armas de propaganda do comunismo que insisto em lembrar as derrotas dele. Pois desejo, quanto em mim está, destruir esta arma, a qual não passa de blefe publicitário.

Mas, objetará talvez alguém, se eu me preocupo tanto com o comunismo, é evidentemente porque lhe temo o êxito. E se lhe temo o êxito, como afirmo ao mesmo tempo que ele não tem mostrado capacidade para persuadir as massas?

A resposta é simples. A História da humanidade em geral - e a do comunismo em particular - prova que minorias ideológicas bem organizadas podem subjugar, em dadas circunstâncias, e sem grande dificuldade, maiorias inertes, divididas, e minadas pelo derrotismo. Assim, desfazer os temores da maioria autêntica ante o poder de uma pseudo maioria é um dos melhores meios para evitar que esta chegue ao poder.

Para documentar minha tese da alergia do homem contemporâneo em relação ao comunismo, ponho diante dos olhos do leitor alguns dados de um recentíssimo relatório do Departamento de Estado norte-americano sobre a situação dos Partidos comunistas na América Latina em 1968. Esse relatório foi difundido pela UPI.

Considere-se preliminarmente que – excluída Cuba – a população da América Latina é de 243 milhões de habitantes, em sua esmagadora maioria católicos. E que, em todas as eleições realizadas nos países que a constituem, os comunistas são derrotados por enorme margem. Pois bem, dentro deste total, os membros dos Partidos Comunistas - que não passam de 182 mil (excluídos também os de Cuba) - representam tão só 0,075% da população, assim distribuídos por país:

Argentina, 60 mil; Chile, 45 mil; Uruguai, 20 mil; Brasil, 15 mil; Colômbia, 9 mil; Bolívia, 6 mil; Paraguai, Peru e Venezuela, 5 mil cada; Equador, 1650. (Do México e das Guianas não são fornecidos os dados).

Um Partido que tem quase tudo para vencer - adeptos fanatizados, dinheiro à solta, propaganda exímia - e ao cabo de 20 ou 30 anos só obtém a média de um partidário entre cada mil habitantes, fracassou decididamente.

Uma observação final, esta sobre a DC. Dado que o Chile conta com 8,8 milhões de habitantes, a porcentagem de comunistas é nele (depois do Uruguai, que tem 0,73%), a maior da América latina, isto é, de 0,51%. Ora, no Chile, o governo democristão, explorando os temores de uma maioria impressionada pelo mito da invencibilidade do comunismo, pratica em larga escala, face a este, a política do "ceder para não perder". Aí está o fracasso desta política, aliás intrinsecamente contraditória...

Segundo o mesmo relatório do Departamento de Estado, o número de comunistas cresceu de 4 mil em toda a América Latina em 1968.

É curioso que, segundo parece, o relatório do Departamento de Estado americano se manifesta algum tanto alarmado com a cifra. Faça as contas o leitor: neste andar (ou mesmo com o dobro de rapidez), e tomada em conta a expansão demográfica, quantos anos levaria o comunismo para conquistar a América Latina?

Deixei de mencionar aqui os dados referentes às Antilhas. É que, com exceção de Cuba, eles são ainda mais desfavoráveis ao PC. E a menção das várias nações daqueles mares alongaria por demais a nossa lista.

Quanto a Cuba, nada de preciso é possível saber. Pois lá se é obrigado, à chibata, a ser comunista.

A Pérola das Antilhas está trancada como uma prisão, à espera de que nossos inefáveis progressistas - mimados por D. Helder - armem alguma guerra de libertação contra a violência institucionalizada que ali campeia...

* * *

Vai ganhando terreno entre nós uma forma ardilosa de "casamento" de experiência. Como se sabe, a lei brasileira reconhece a validade do casamento religioso, desde que, efetuadas as bodas, seja feito no registro civil a inscrição do ato. Assim, certos casais contraiam o matrimônio religioso e levavam alguns meses sem efetuar o registro civil correspondente. Se não se dessem bem, era só omitir definitivamente o registro. A cerimônia religiosa ficaria sem efeito legal, e o caminho estaria livre para que os cônjuges se unissem a outras pessoas pelo ato civil.

A 8ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Guanabara, de acordo com luminoso voto do desembargador Bulhões de Carvalho, acaba de desfazer a desonesta manobra. Esclareceu aquele alto órgão judiciário que o casamento religioso, mesmo quando não registrado no civil, tem de per si o efeito legal de tornar impraticável que os cônjuges, uma vez separados, se unam civilmente a terceiros.

É uma decisão moralizadora e inteligente que não pode deixar de ser aplaudida.

* * *

Voltemos ainda uma vez ao comunismo.

Há tempos, a propaganda soviética vem inculcando, no Ocidente, a idéia de que os comunistas de hoje não têm a mentalidade nem o feitio temperamental dos da primeira hora. De sorte que é possível, com eles, uma coexistência confiante.

O extermínio em série de generais prova bem exatamente o contrário. O hábito de assassinar não desapareceu nos meios soviéticos.

E note-se que, segundo todas as aparências, são os "pombos" civis que estão matando os "falcões" militares. Se assim são os "pombos", como serão os "falcões"?


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