26 de
março de 1969
A
propaganda progressista: um dinossauro discreto
Imagine o leitor uma organização-Moloch englobando grandes editoras nos
principais países da Europa livre e em algumas nações de além cortina de
ferro. Imagine ainda que essa organização tenha a seu serviço grandes
jornais e revistas da América do Norte. Acrescente que esse Titã
disponha de centros de informação perfeitamente organizados em 30
países, e que 120 especialistas de várias nações o assessorem
intelectualmente. Depois de imaginar tudo isto, não sente o leitor um
mal-estar profundo nascido da idéia de que um tão imenso dinossauro
publicitário possa talvez existir?
Pois
tenho a dizer ao leitor que esse dinossauro existe. Existe como um
núcleo central muito discreto, a manejar as tubas ruidosas da propaganda
progressista em todo o mundo católico. Essa propaganda estrepitosa,
presente por toda a parte, hábil em criar popularidades demagógicas, em
sofismar, em seduzir e difamar, parece fruto espontâneo e exclusivo das
tendências ideológicas de grande parte dos homens de pensamento e de
ação de nosso tempo. Desengane-se inteiramente o leitor. No que tem de
mais potente e dinâmico, essa propaganda é perfeitamente artificial.
Resulta ela de uma engrenagem acatólica imensa. Seu fim é dirigir sobre
matéria essencialmente religiosa a opinião católica do mundo inteiro. E
para isto dispõe de altos apoios comunistas. Foi essa a revelação-bomba,
publicada com exuberância de dados pela prestigiosa revista católica
inglesa "Approaches", e reproduzida por outros órgãos europeus de valor
como "Permanences" da França, "Nunc et Semper" da Alemanha e "Roma" de
Buenos Aires. Penso que o leitor, assustado, gostará de conhecer algumas
das informações publicadas por "Approaches". Extrairemos, pois, dessa
revista todos os dados deste artigo.
Origens
A história que o IDO-C conta sobre suas origens é a seguinte:
no decurso do Concílio do Vaticano II, havia um centro de informações
que fornecia documentação para o Episcopado holandês. Sua sigla era DO-C.
Mais tarde, esse centro passou a editar boletins em vários idiomas, e
depois se uniu ao Centro de Coordenação de Comunicações Conciliares para
a Imprensa (CCC-C). Da fusão nasceu o IDO-C (Centro Internacional de
Informação e Documentação sobre a Igreja Conciliar). Após o Concílio,
este último foi estruturado como organismo internacional, com sede em
Roma.
Direção
O presidente da entidade é um padre dominicano, Van Kets.
Participam da diretoria, entre outros, um dirigente do Movimento
Familiar Cristão do México, um sacerdote norte-americano da Rádio
Vaticana, e um elemento da revista "católico"-comunista Znack, da
Polônia. Do Comitê Inglês do IDO-C fazem parte a revista "Slant", ligada
ao movimento mundial "Pax", e também o líder comunista J. Dunman, várias
vezes candidato a deputado pelo PC britânico. Dunman dirige atualmente
uma revista comunista agrária, e é ativo promotor de diálogos entre
católicos e comunistas.
Grandes editoras
O IDO-C possui à sua disposição as maiores editoras
católicas do mundo, como a famosíssima "Herder" internacional, a "Paulist
Press", que é a mais importante editora católica norte-americana, a "Burns
& Oates", da Inglaterra etc.
Os
governos comunistas aceitam esse polvo. Assim, tem ele filiais na
Hungria, Polônia, Checoslováquia e Iugoslávia.
Jornais
O IDO-C controla as seções religiosas do "Le Monde" e "Le
Figaro", ambos de Paris, e o "New York Times". Além disto está em
estreitas ligações com um poderoso grupo publicitário norte-americano, o
"Catholic Establishment". Este, por sua vez, controla a "Catholic Press
Association" e jornais católicos dentre os mais importantes: o "National
Catholic Reporter", por exemplo.
De
fora para dentro da Igreja
O IDO-C definiu-se a si mesmo como "uma
organização internacional cujo quartel-general se situa em Roma, e que
estende suas ramificações pelo mundo inteiro; é independente de toda
religião e de toda instituição política" (cf. Circular publicada pelo
IDO-C do Reino Unido).
Essa
entidade acatólica, tem muito suspeitamente um fim que é só religioso:
"Sua função específica é de reunir e distribuir a documentação sobre as
conseqüências teológicas e estruturais dos decretos e do espírito do
Vaticano II".
"Entre seus assinantes estão bispos, (...) professores de teologia,
(...) estudantes de seminários católicos, protestantes e judeus,
diretores de jornais católicos, protestantes e judeus, correspondentes
das seções católicas dos grandes jornais" (cf. Circular cit.).
Insistimos. Trata-se pois de um organismo que se proclama não católico e
dispõe de imensos meios para dirigir a opinião católica em matéria
genuinamente religiosa. A esse organismo não repugna receber um
comunista em importante órgão diretivo. Nem o funcionamento dele causa a
menor preocupação em países dominados por governos comunistas. Como
explicar tudo isto?
Ladrões de microfones
Não menos singular é o "Catholic Establishment":
no "The Critic", jornal da entidade, lemos (n.º de dez. 66, jan. 67)
estas linhas singulares - nas quais se destacam os "ladrões de
microfones".
"É o
"Establishment" que decide as matérias oferecidas à discussão dos
católicos, não somente nos jornais do "Establishment", mas, após um
certo prazo, em quase todos os jornais católicos e círculos de estudo do
Atlântico ao Pacífico". "A discussão, nos EUA, sobre o controle da
natalidade, por exemplo, foi inteiramente uma produção do "Establishment",
afirma o jornal.
As
pessoas filiadas à entidade "se apoderaram de todos os microfones e
estão decididas a falar para a Igreja".
"Os
ladrões de microfones, continua o jornal, são uma fraternidade aberta,
mas exclusiva, de várias dúzias de estudantes, de jornalistas, de
ativistas e de editores".
Conspiração, perguntará alguém? Sim, mas à "moderna", não uma
conspiração no sentido político moderno do termo, mas no sentido que lhe
dá J. C. Murray: "respirar junto". No "Establishment" todos "respiram
junto".
Eis
aí alguns dados para a edificação do leitor.
Esse
estranho "Establishment" está por sua vez ligado ao "Centro para o
Estudo das Instituições Democráticas", órgão ultra-ecumênico e
socialista.
E
assim tudo se une: propaganda das mais ousadas, novidades religiosas e
esquerdismo escancarado, tudo propagado em nome do "espírito conciliar"
por uma central discreta.
Há em
"Approaches" nomes de brasileiros encarregados do "serviço" entre nós.
Mas hesitamos.