Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 29 de janeiro de 1969

Importância real e importância publicitária

Sinto que para corresponder ao interesse - ou melhor, à avidez de informações - do público em relação à TFP, não posso prosseguir pura e simplesmente em minha exposição anterior. Pois seria obrigado a entrar na exposição de fatos de um gênero com o qual o leitor mediano está pouco familiarizado. Devo, pois, começar por explicar qual o alcance das coisas e dos eventos de que tratarei. E, para isto, o melhor é mostrar que essas coisas e esses eventos estão no âmago dos grandes problemas com que se ocupam os brasileiros realmente amorosos de sua Pátria.

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É um lugar comum afirmar que as forças propulsoras de cada país são as suas grandes instituições. No Brasil, as principais dentre elas são a Igreja, as Forças Armadas, as associações de classe e as universidades. Acrescentemos ainda - não sem alguma benevolência - os partidos políticos.

De todas estas instituições trata amiúde a imprensa. Mas, fazendo-o, ela nem sempre lhes dá um relevo proporcionado à importância real de cada uma. O grande noticiário é habitualmente consagrado à política, isto é, ao jogo das discrepâncias entre os partidos e à atuação dos organismos oficiais sob o impulso do pluripartidarismo. O que diz respeito às demais instituições é apresentado muitas vezes em um plano secundário. Daí vem que um enorme número de leitores imagina serem as ocorrências dos arraias políticos mais importantes para o futuro do país do que os eventos de outra ordem. Um debate sensacional entre deputados teria, nesta perspectiva, sempre e forçosamente, muito mais alcance do que o provimento de uma cátedra universitária, a aprovação ou a condenação de um ponto de doutrina pela Igreja etc.

O momento é adequado a que o leitor se dê conta de quanto a vida partidária - à qual não negamos sua autêntica e razoável dose de importância - é pobre em nosso País. Com uma penada foi possível por em recesso a atividade partidária. Houve os que se alegraram com a medida, e os que não se alegraram. De qualquer modo, o fato é que o recesso aí está. Agora pergunto: que convulsões inimagináveis, que imprevisíveis complicações, que obstáculos intransponíveis encontraria diante de si um governo que quisesse por em recesso (como pediu afoitamente o Pe. Comblin - hoje em aprazível sossego na Arquidiocese de Recife) as Forças Armadas ou o Episcopado? Ou que pleiteasse a suspensão sine die de universidades e entidades de classe?

O argumento faz entrar olhos a dentro a seguinte verdade: não é simplesmente segundo o relevo que lhes dá a maioria dos jornais, que se pode adquirir uma noção exata da importância dos diversos acontecimentos. Os fatos da vida interna das grandes instituições apolíticas - das quais mencionei quatro, mas poderia mencionar tantas outras - podem ter para o país uma importância maior do que muitos e muitos eventos partidários. E se um brasileiro lúcido quiser conhecer, em sua medula, a vida do País, há de consagrar uma atenção séria e contínua ao que se passa no interior de nossas grandes instituições.

Assim, por exemplo, a elevação ao episcopado de um D. Helder, de um D. José Maria Pires (o D. Pelé da televisão) e outros tantos, teve para a vida interna da Igreja uma importância comparável apenas à nomeação para Bispos, de D. Sigaud e de D. Mayer. Todos estes fatos tiveram, por sua vez, no decurso do tempo, uma importância muitíssimo maior para o País do que grande parte dos eventos partidários ocorridos no mesmo período. É um exemplo típico da altíssima relevância que podem ter, em plano nacional, os sucessos ocorridos no interior de grandes instituições apolíticas.

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Digo-o porque sem se contar a pré-história, no Brasil, da imensa crise que infelizmente sacode a Igreja, é impossível compreender-se a gênese da TFP, bem como o dinamismo intenso das simpatias e antipatias que em torno dessa entidade se movimentam. E isso sem embargo de ser ela uma entidade cívica.

Para convidar meus leitores a se interessarem por essa imprescindível pré-história, quis provar-lhes que ela se relaciona com o que há de mais profundo na vida do Brasil hodierno. Se Deus quiser, procederemos, na próxima quarta-feira, à narração destes fatos. Eles explicam muitos dos aspectos da TFP: por exemplo, nossa coesão ideológica e estrutural tão firme que chega a desconcertar os que nos vêem de fora para dentro.


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