Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

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 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 8 de janeiro de 1969

Sucesso internacional de um brasileiro

Segundo me parece, a repercussão, no exterior, dos gestos e feitos de brasileiros, é muito irregularmente noticiada em nosso país. Os telegramas vindos de fora nos dão a conhecer a acolhida de alguns artistas letrados, principalmente quando são homens de esquerda. Ou de D. Helder, o que é natural, pois desde Getúlio não houve brasileiro que dispusesse de serviço publicitário comparável ao seu. Mas tenho motivos para supor que, fora do número desses eleitos, muita gente alcança fora do Brasil êxitos inegáveis, que aqui não são contados. Eu, pelo menos, conheço um caso concreto que é característico. O caso merece ser narrado.

* * *

O advogado Fábio Vidigal Xavier da Silveira, membro jovem e dinâmico do Conselho Nacional da TFP, é fazendeiro nos arredores de Amparo. Como tal, interessou-se a fundo pela luta contra a reforma agrária socialista e confiscatória, e participou da comissão de peritos que D. Sigaud, arcebispo de Diamantina, D. Mayer, bispo de Campos, o economista Mendonça de Freitas e eu consultamos para a elaboração da "Declaração do Morro Alto", isto é, do programa positivo de reforma agrária (e, pois, anti-socialista e anticonfiscatória) que a TFP adotou por seu.

Levado pelo interesse da matéria, Fábio Xavier da Silveira foi ao Chile estudar a reforma agrária. Estava ele em meio a suas indagações quando o governo de Frei, de modo arbitrário, deu a nosso patrício 48 horas para abandonar o país. Nada dissera ou fizera o diretor da TFP, que merecesse a medida brutal. Mas dir-se-ia que a polícia de Frei usa a telepatia. Pois é bem certo que no íntimo da alma o visitante acumulava observações e reflexões contrárias à política social e econômica de Frei. Chega ao Brasil, confiou ele ao papel suas impressões. E daí se originou um livro, publicado em primeira mão pelo prestigioso mensário "Catolicismo", que a Editora Vera Cruz editou depois em um volume de 202 páginas. "Frei, o Kerenski chileno" é o título da obra. Constitui ela uma reportagem robustamente documentada, enobrecida em seu conteúdo por uma crítica sócio-econômica, filosófica e moral de envergadura. O autor sustenta que Frei está realizando (ressalvada a intencionalidade, sobre a qual não há provas evidentes) uma obra análoga à de Kerensky na Rússia. Isto é, a aplicação cabal do programa de Frei que fará do Chile uma república popular muito "avançadamente" socialista.

À obra não faltou, no Brasil, invejável repercussão, com duas edições num total de 10 mil exemplares, acompanhadas de ácidas invectivas na tribuna da Câmara federal e na imprensa esquerdista, bem como de vibrantes manifestações de apoio (inclusive dos ministros da Marinha, do Interior e do Trabalho, do arcebispo de Diamantina, dos bispos de Campos e Bragança Paulista, e de numerosas outras personalidades do mundo político e militar).

Pois bem, tudo isto é pouco, em comparação com o êxito fulgurante do livro na Hispano-América. Na Argentina, traduziu-o a conhecida "Editorial Cruzada", e tal foi o interesse que suscitou, que em 4 meses foram feitas quatro edições, num total de 18 mil exemplares. Em seguida, o "Grupo Tradicionalista de Jóvenes Cristianos Venezuelanos" publicou em Caracas duas edições, também de grande efeito. Nas vésperas das últimas eleições venezuelanas, o grande diário de Caracas, "El Nacional", editou 200 mil exemplares de um resumo da obra.

Isto quanto à publicidade, indiscutível sintoma de interesse e simpatia. Vamos agora à controvérsia, sinal da atualidade e do porte da obra. A exemplo de seus congêneres brasileiros, os opositores hispano-americanos do livro não produziram contra este um só argumento. As apreciações sobre a reforma agrária chilena são objetivas ou não? Sobre isto, silêncio. As increpações não passaram de vozerio. No Chile, o jornal oficioso democristão "La Nación", o jornal comunista "El Siglo", os jornais socialistas "Clarín", "Ultima Hora" e "La Tarde" se uniram para defender o regime "ameaçado". O próprio governo Frei sentiu em tal grau o alcance do livro, que lhe proibiu a circulação. Foi inútil.

Pelo correio, os exemplares chegavam de Buenos Aires aos milhares. O governo confiscou então os exemplares que entravam. Mas a revista "7 Dias", de Santiago, noticiou que a curiosidade dos chilenos a respeito de "Frei, o Kerensky chileno" era tal, que o livro circulava largamente de mão em mão, solicitado com sofreguidão e lido com delícias por um extenso público. No aeroporto de Buenos Aires, o sr. Krauss, Subsecretário do Ministério do Interior do Chile, perdeu a cabeça e exigiu da polícia a prisão de jovens da TFP local, que vendiam o livro. É claro que não foi atendido! A imprensa situacionista chegou a falar em incidente diplomático. Mas em vão.

Dada a candidatura de um democristão, o Sr. Rafael Caldera, à presidência da Venezuela, com um programa ainda mais radical que o de Frei, a obra de nosso patrício se converteu ali em um dos trunfos de prélio eleitoral. Apresentado na televisão, discutido pelos jornais, o livro passou a ser o assunto do momento.

Da Venezuela, o livro repercutiu na cidade do México, onde o sr. Agustin Navarro o elogiou em "El Sol", e a brilhante revista "Vertice" lhe consagrou entusiástica reportagem. Na cidade de El Salvador, o padre Fuentes Castellano dedicou-lhe vários artigos. A diplomacia chilena contra-atacou vigorosa: o embaixador chileno em Caracas publicou uma nota contrária ao artigo laudatório do deputado Baldó Casanova.

Os embaixadores chilenos em Lima e El Salvador também investiram contra o livro. Em suma, a polêmica ferveu, envolvendo grandes órgãos e altos personagens. O mundo eclesiástico não ficou alheio ao tema. Na Argentina, o cardeal Fasolino e o Arcebispo de Mendoza o aplaudiram. Também o fez, no Uruguai, o bispo de Punta del Este. Tenho em mãos um dossier com mais de 500 recortes sobre a obra.

O que representa isto? Um sucesso estrepitoso e incontestável, diria o homem de hoje, afeito à polêmica, à controvérsia e ao diálogo, no vento impetuoso da grande publicidade... - ao contrário do homem de ontem, para o qual o grande sucesso eram os aplausos convencionais e unânimes de pequenos cenáculos selecionados.

Pois bem, sucessos como este, é preciso que o Brasil os conheça. E é para isto que escrevi o presente artigo.


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