Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 27 de novembro de 1968 

Dom Castro Pinto em quadrinhos 

A maioria dos leitores não conhece um dos atuais bispos auxiliares de d. Jayme, d. José de Castro Pinto, e como, por dever de legítima defesa, dele me ocuparei no presente artigo, é preciso que – à guisa de apresentação – diga sobre S. Exa. o que sei. É pouco, mas os leitores verão que diz muito.

Ao lado do pe. Adamo, o prelado atuou em vários episódios da crise universitária. Este é um dado. Outro, bem diverso, e que vem diretamente ao caso deste artigo é o seguinte: s. exa. publicou, há pouco mais de um ano, um artigo sobre o protestantismo e o ecumenismo, que causou estranheza (cf. "Jornal do Brasil", de 30-10-67). Destaco três trechos do trabalho. No primeiro, d. Castro Pinto admite que "muitos dos valores espirituais" do cristianismo "possam ter-se desenvolvido melhor" na seita fundada pelo frade apóstata Martinho Lutero do que no grêmio bendito da Santa Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo. Reconheçamos que na pena de um bispo a afirmação desconcerta. Dessa afirmativa o prelado parte para outra também espantosa: "É exatamente reconhecendo isto que não mais falamos em conversão dos outros para nossa Igreja". Assim, a Igreja fundada pelos Apóstolos já não faz apostolado. E, pouco adiante, S. Exa. repisa: "Se em muitas coisas a mensagem evangélica está lidimamente conservada na Igreja Católica, inclusive o conjunto da mensagem, muitas coisas foram melhor defendidas e conservadas fora". Em outros termos, se alguém quiser conhecer em toda a sua extensão, plenitude e limpidez a doutrina dos Evangelhos, não lhe basta beber das águas cristalinas da Igreja. É preciso recorrer a Lutero, a Calvino, a Melanchton, a Zwinglio, a quanto heresiarca tem dilacerado a túnica de Cristo e perseguido seu Corpo Místico.

Convenhamos em que as frases que cito dão para caracterizar a mentalidade de um prelado, a lhe pintar, por assim dizer, o retrato. E de corpo inteiro.

O terceiro dado que possuo sobre d. Castro Pinto é que, quando estourou o "escândalo Comblin", s. exa. saiu pela imprensa a externar sua simpatia e seu apreço pelo professor anticlerical e subversivo do Instituto Teológico de Recife. Este dado se coaduna perfeitamente com as frases de s. exa. que acabo de citar.

Pois a este prelado, que leva a tão extremos e inesperados limites o espírito de conciliação, alguns jornais atribuíram uma entrevista na qual ataca rudemente a TFP. Teria s. exa. afirmado que a TFP fala em nome da Igreja sem ter poderes para isto, e que, quando o faz, "apresenta sempre uma orientação diversa e contrária (sic) à posição assumida pela Igreja". Escrevi então a d. Castro Pinto uma carta em que eu lhe pedia desmentisse a entrevista provavelmente apócrifa. E que, se não a pudesse desmentir, que citasse uma só prova de a TFP se haver inculcado como porta-voz da Igreja. Acrescentei que se a TFP, em suas atitudes, apresenta sempre um orientação "diversa e contrária" à da Igreja, então nossa vitoriosa campanha de um milhão de assinaturas contra o divórcio teria sido contrária à doutrina da Igreja. E perguntei: então a Igreja é divorcista? E concluí daí pela provável inautenticidade da entrevista.

Minha carta, irrepreensivelmente correta e cortês, foi publicada por vários jornais.

Ao contrário de Lutero, ou do pe. Comblin, não caí entretanto nas boas graças do bispo auxiliar. E por isto s. exa. dardejou contra a TFP e contra mim uma entrevista ácida e injuriosa, publicada em um vespertino paulistano. Vejo-me, pois, reduzido à legítima defesa. Nossa época não aprecia as polêmicas verbosas e difusas. Ela gosta do extremo oposto, isto é, das discussões rápidas, das notícias densas e pequenas como um comprimido, das histórias em quadrinhos. Imaginei, pois, responder a d. Castro Pinto usando o sistema de quadrinhos [por uma facilidade grafica, apresentamos o texto como segue abaixo, ndc]. 

D. Castro Pinto:

1. "Li (a carta do presidente da TFP) por cima, rapidamente, vi que não era nada de urgente ou importante. Ainda não tive tempo de ler outra vez para mandar a resposta".

2. D. Castro Pinto diz que não se lembra de ter dito aquilo (os seus ataques contra a TFP) alguma vez.

3. A TFP "não tem importância alguma".

4. A TFP "tem muito dinheiro, é financiada por gente que tem interesse em criar uma falsa imagem da Igreja, uma imagem de divisão".

5. Na última reunião da CNBB, d. Castro Pinto foi um dos três bispos que formaram a comissão encarregada de estudar o caso da TFP.

6. D. Castro Pinto afirmou que a decisão de ignorar a TFP foi tomada nessa reunião. 

Plinio Corrêa de Oliveira:

1. Então, a boa fama da TFP ou de quem quer que seja, é coisa sem importância para um pastor de almas?

2. É desconcertante que alguém, com a responsabilidade de um bispo, não se lembre do que disse ou não disse. Ademais, ou d. Castro Pinto concorda com o que lhe foi atribuído, ou não. Se concorda, por que não confirma? Se discorda, por que não desmente?

3. Não sei bem o que é preciso ser para que d. Castro Pinto lhe dê importância. Para um bispo, todo e qualquer homem deveria ter uma importância indizível, pois foi remido pelo Precioso Sangue de Cristo. Ó Jesus, que Vos afirmastes "manso e humilde de coração", onde estais?

4. Prove. Quem são esses bandidos endinheirados? Quais os seus nomes? Com que direito d. Castro Pinto me tacha de mercenário, quando desde a mais tenra juventude minha linha de pensamento e ação sempre foi esta que hoje tenho?

5. É pena que um componente da comissão tenha o espírito tão preconcebido. Ademais, se a TFP é tão sem importância, por que formou a CNBB uma comissão para a estudar?

6. Como é notório, a CNBB difundiu por toda a imprensa uma notícia fortemente contrária à TFP. Depois, resolveu que a TFP não tem importância. E sem ouvir a TFP, dá o caso por julgado e encerrado. Assim, quem "não tem importância" pode ser injuriado à vontade, sem ser ouvido?

Ademais, a TFP é tão sem importância? O pe. Comblin que o diga... Digam-no os adeptos do divórcio... E os fomentadores da reforma agrária socialista e confiscatória...


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