Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Artigos na

 "Folha de S. Paulo"

Janeiro de 1979 - Almoço oferecido pela "Folha de S. Paulo" aos colaboradores de sua secção "Tendências e Debates". Vê-se o prof. Plinio Corrêa de Oliveira à esquerda do diretor do jornal, Octávio Frias

Folha de S. Paulo, 4 de setembro de 1968

 Cá e lá, os mesmos tiranos há

Ao escrever meu último artigo para a "FOLHA", convidei o leitor a uma posição de vigilância em face do procedimento soviético na crise tchecoslovaca, crise esta que ia atingindo, então, o seu clímax. Era preciso não interpretar qualquer eventual aparência de comedimento dos déspotas vermelhos como manifestação de uma brandura ou de um desinteresse que nem de longe possuem. As atitudes que eles viessem a assumir só não seriam brutais na medida em que as conveniências de sua política a isto os obrigassem. A URSS alcançará inapreciáveis vantagens políticas afivelando a máscara do pacifismo. Se algo de generoso e cordato se notasse em suas próximas atitudes, isto só se deveria ao empenho de não deixar cair inteiramente a máscara que tantos proveitos lhe trouxera.

Os acontecimentos da última semana se explicam inteiramente à luz deste critério. Na aparência, os soviéticos foram cordatos: deixaram à testa do governo, em Praga, os mesmos dirigentes "liberais" cuja política tanto os preocupara e agastara. Assim, a Tchecoslováquia continuaria a ter um governo autenticamente tcheco e eslovaco. Não haveria uma sujeição do país aos soviéticos, mas uma colaboração destes com as genuínas autoridades nacionais. E a "prova" disto é que, à hora em que escrevemos, os tanques soviéticos deixam o centro de Praga, postando-se discretamente nos subúrbios dessa cidade. Nestas condições, o âmago da capital, onde se situam os principais edifícios governamentais e administrativos, já está livre...

Entretanto, essa simulação de respeito aos direitos dos povos mais fracos é tão grosseira, a brutalidade da conduta soviética continua tão clara, que não é necessário dar o menor argumento para provar que a Tchecoslováquia está simplesmente esmagada sob a bota do comunismo russo.

Em outros termos, apesar dos artifícios usados, a máscara caiu.

*   *   *

Para dar-se conta de que ela caiu, não era necessário dirigir os olhos para tão longe. A brutalidade fundamental do espírito comunista – seja soviética, chinesa ou outra qualquer a sua variante – aparece com toda a nitidez nas várias formas de agressão que a TFP tem sofrido ao longo da campanha que vem desenvolvendo contra a infiltração esquerdista em meios católicos.

É claro que essas agressões não têm sido, todas, de procedência comunista. Mas o espírito comunista não se circunscreve aos arraiais comunistas. Ele se irradia para as várias esquerdas que lhe formam em torno como que círculos concêntricos sucessivos. Neste sentido, refletem tais agressões a mentalidade comunista, ainda quando seus agentes não sejam senão socialistas ou progressistas.

É possível que algum dia a lista destas agressões se publique. Ela deixará pasma muita gente. Desde já, entretanto, podemos indicar as principais variantes com que elas se vêm apresentando:

a) Pela força bruta, isto é, por meio de pancadaria contra nossos coletores de assinaturas, com o evidente – e aliás vão – intuito de os provocar a brigas múltiplas, que possam justificar o fechamento compulsório de nossa campanha, sob o pretexto de que perturba a ordem;

b) Pela calúnia, por exemplo, atribuindo-nos, sem o menor vislumbre de veracidade, pichamentos e atos de violência vários. Os acusadores, intimados a exibir suas provas, calam-se sempre. Mas daí a pouco a calúnia renasce. "Menti, menti, alguma coisa sempre ficará", disse Voltaire. Para o nosso caso, a assertiva do cínico de Fernay é falsa. Ninguém dá crédito à calúnia. Mas, infatigável, ela continua, com a esperança de voltar contra nós o público, e assim impedir o progresso da campanha;

c) Pelo silêncio compulsório. Amigos de uma grande cidade de nosso País, ainda há pouco me comunicavam sua desolação em face da atitude da maioria dos órgãos de publicidade locais: acolhida franca para todas as notícias e comentários desfavoráveis à TFP, e fechamento absoluto para as informações, retificações e refutações emanadas de nossa entidade.

Em outros termos, dos arraiais comuno-socialístico-progressistas procede um sem-número de brutalidades – no sentido físico como no moral – visando tolher-nos o direito de falar, de agir, bem como de auscultar e de anunciar o modo de sentir dos brasileiros. Brutalidades que, enquanto voltadas para impedir a coleta de assinaturas em um abaixo-assinado endereçado ao Vigário de Cristo, sobre tema de transcendente importância cívica, violam a liberdade religiosa e a liberdade política de milhões de brasileiros. E transgridem gravemente a Constituição Federal, em que essas liberdades se inscrevem.

Este o furor tirânico dos esquerdistas de todo jaez, em nosso País, contra uma campanha exercida legalmente e com suma cortesia, por uma entidade cujo procedimento pacífico é notório aos olhos de todos.

Que diferença há entre esse furor dos nossos esquerdistas indígenas e a brutalidade mostrada pelos soviéticos em Praga? No fundo, nenhuma. Pois procedem da mesma causa e trazem a mesma marca: o espírito comunista.

*   *   *

Qual a utilidade prática deste paralelo?

Parece-nos bem clara. Ele torna fácil entender o que o comunismo quer quando seus asseclas bradam por liberdade. É implantação do reinado frio e implacável de uma integral violência.

É aliás, o que o escrito do pe. Comblin deixa marcadamente claro, nas seguintes passagens: "Não basta fazer leis. É preciso impô-las pela força. Para a arrancada, o poder será autoritário e ditatorial. Não se pode fazer reformas radicais consultando a maioria: que a maioria prefere "sombra e água fresca", prefere evitar os problemas. (...) será necessário montar um sistema repressivo: tribunais novos de exceção contra quem se opõe às reformas. Os procedimentos ordinários da justiça são lentos demais".


Home