Entrevista para Associated Press – 14 de junho de 1973
Repórter - All right. Pode
dar-me, para começar, uma descrição da Sociedade [TFP brasileira], para
orientar-me?
Plinio Corrêa de Oliveira - A Sociedade é
uma Sociedade cívica que tem por finalidade a luta contra o socialismo e o
comunismo. Mas é uma luta de caráter não só negativo. Quer dizer, a oposição ao
esforço socialista e comunista, mas também de caráter positivo, nesse sentido
de que nós promovemos os três valores que o comunismo mais procura destruir,
que são a Tradição, a Família e a Propriedade.
R.: Na literatura (da TFP)
já notei uma frase: “a civilização cristã”. O que é isso?
PCO - Para definir o
que é civilização cristã, é preciso começar por definir o que é civilização. A
civilização é um conjunto de concepções metafísicas, filosóficas, religiosas;
um conjunto de relações; um conjunto de instituições conexas entre si. Uma
civilização cristã será esse conjunto, que tenha como base a doutrina cristã.
R.: Não tem que ser cristã
no sentido de catolicismo?
PCO - Católica. Nós
somos católicos. Se bem que a Sociedade não seja oficialmente católica, todos
os seus componentes são católicos. De maneira que a palavra cristã tem um
sentido católico, no nosso vocabulário.
R.: O senhor conhece muito
bem os Estados Unidos, a política dos Estados Unidos...
PCO - Eu não estive
nos Estados Unidos, mas acompanho com atenção o que se passa por lá.
R.: Então, lá nos Estados
Unidos tem uma organização parecida com isso aqui. Qual a Sociedade ou entidade
lá seria mais parecida com esta aqui?
PCO - A palavra
“parecida” é uma palavra muito elástica, porque basta que duas coisas não sejam
completamente diferentes para serem parecidas. De maneira que a pergunta se
esvai. Há uma série de pequenos grupos, pequenas organizações anticomunistas
norte-americanas. Em número muito grande, mas não são, elas mesmas, muito
grandes. Todas elas, na medida em que são anticomunistas, têm esse traço de
semelhança conosco. Mas eu tenho impressão de que todas elas têm esse traço
comum conosco, mas também têm traços diferenciais grandes. Por exemplo, algumas
têm um certo colorido nazista. Nós não somos, nós combatemos muito o nazismo.
Outras tem uma certa interferência na política norte-americana; nós não temos
interferência na política brasileira. De maneira que os pontos de diferença são
muito grandes também.
R.: Mas, por exemplo a John
Birth Society? Essa
Sociedade é parecida, ou não?
PCO - É uma sociedade
anticomunista. Nesse sentido eu vejo elementos de semelhança conosco. Mas ela tem
um caráter mais interconfessional, e muito mais largo
do que a TFP, debaixo dessa ponto de vista. A TFP, se bem que em princípio nós
não sejamos confessionais, de fato as concepções são tais que só entram
católicos. A John Birth Society
é uma sociedade muito mais larga, debaixo desse ponto de vista. Aliás, José
Lúcio conhece bem a John Birth Society.
Pode dizer outros pontos de vista?
(Sr.
José Lúcio: ... são bem diferentes. A TFP trabalha muito mais com a opinião pública
brasileira. Além disso [a TFP] não usa métodos políticos, como ela utiliza.)
R.: O senhor mencionou
nazismo. Aqui no Brasil, na história brasileira, um grupo, um partido nazista
foi o Integralismo. Isso está correto? Esta sociedade está parecida com o
movimento integralista?
PCO - A nossa? O
movimento integralista, eu acho que
seria audacioso dizer que tinha uma doutrina
nazista; mas eles eram, certamente, a favor de um Estado forte e de
caráter ditatorial. Parecidos, nesse ponto, com o nazismo. Hoje o integralismo
não existe mais, no Brasil. No tempo em que o integralismo existia, eu tive muitas discussões com os
integralistas. Não nos entendíamos. Tive muitas polêmicas com eles.
R.: Sobre o que?
PCO - Precisamente
sobre o caráter que eles queriam dar ao Estado. A ideologia deles era uma
ideologia filosófica de fundo hegeliano. E nós não
aceitávamos essa ideologia. Mas a Sociedade [TFP], nesse tempo, não existia.
Essa foi uma atitude pessoal minha.
R.: Qual opinião tem o
Brasil dos Estados Unidos e qual a... que a maioridade dos brasileiros têm...
(Sr.
José Lúcio: Qual a visão...)
PCO - A imagem que
formam, não é isso?
R.:
Sim, a imagem. E o que é correto ou não?
PCO - Eu acho que a
grande maioria dos brasileiros forma uma imagem simpática dos Estados Unidos.
Simpática por vários lados. Agora, há uma certa corrente minoritária, que é
anti-norte-americana. A maior parte das vezes por razões esquerdistas. Eu não
sou uma especialista em matéria econômica, de maneira que eu não posso dizer
que tudo nessa opinião anti-norte-americana seja errado. Mas acho que
certamente existem pelo menos muitos exageros nessas críticas.
R.: Então... me parece que
seria um pouco difícil, para um conservador brasileiro ser um bom amigo dos
Estados Unidos, porque lá tem muitas influências modernistas, progressistas,
tem pornografia e coisas assim. Então, como pode ser resolvido essa situação de
amizade, mas tem coisas nos Estados Unidos que não são conservadoras.
PCO - Evidentemente,
a pornografia, como uma porção de outras influências que partem dos
Estados Unidos, partem também de uma
porção de outros países da Europa. Seria um exagero imaginar que os Estados
Unidos são o foco exclusivo dessas influências, ou até mesmo o foco principal.
São um foco entre muitos outros. De maneira que se nós fossemos tomar posição
de amizade ou inimizade internacional em relação aos países, a partir de dados
como esses, seria impossível. Não haveria meio.
R.: O senhor acha que no
Brasil, agora tem uma onda de pornografia? Existe...
PCO - Existe uma onda
de pornografia grande.
Existe
uma onda de pornografia grande. Já foi maior. Ela, de momento, está diminuída.
Mas eu tenho impressão de que ela continuará, porque esta é uma onda mundial,
que resulta de causas mundiais muito profundas.
R.: Por exemplo?
PCO - A principal
delas, a meu ver, é a decadência religiosa. Aonde os princípios religiosos
perdem a firmeza, qualquer tomada de atitude antipornográfica
perde seu sentido também.
R.: De onde vem a
decadência religiosa?
PCO - Eu escrevi um
livro a respeito disso. A decadência religiosa começou no fim da Idade Média,
com o Humanismo e a Renascença.
(Sr.
José Lúcio: “Revolução e Contra-Revolução”)
PCO - É, “Revolução e
Contra-Revolução”, chama-se. O Humanismo, a Renascença e o Protestantismo, que,
comparados com a religião católica, representam um passo do espírito humano
para o naturalismo e para o liberalismo moral. Depois veio a Revolução
Francesa, que representou a mesma posição no campo político. E, por fim, veio o
comunismo que representa a influência dos mesmos princípios no campo
sócio-econômico.
Se
o senhor quiser considerar do lado religioso, o protestantismo negou o Papado,
mas não negou a divindade de Cristo. A Revolução Francesa negou a divindade de
Cristo, mas só muito passageiramente negou a existência de Deus. O comunismo
nega a existência de Deus.
O
senhor está vendo que é um processo, muitas vezes secular, de decadência
religiosa. Esse livro, aliás, está traduzido e editado por uma editora
norte-americana.
(Sr.
José Lúcio: acaba de ser publicado lá)
PCO - Acaba de ser
publicado lá. Qual é mesmo a editora, José Lúcio?
(Sr.
José Lúcio: ...da Califórnia.)
R.: Foi perfeita a
sociedade da Idade Média? Em que sentido foi uma sociedade boa?
PCO - Ela não foi
perfeita. Ela teve aspirações perfeitas. Quer dizer, ela visou a plena
aplicação da doutrina do Evangelho às relações humanas. Ela não conseguiu essa
plena aplicação, mas foi a época histórica que tendeu mais seriamente para
isso.
R.: Então, se a Sociedade
está em favor do capitalismo, porque eu vejo o capitalismo, porque não seria
possível ter uma idade como a Idade Média com capitalismo. São contra. É
oposição?
PCO - O capitalismo
nasceu depois da Idade Média. É um fenômeno que teve sua origem no fim da Idade
Média e se desenvolveu depois dela. Agora, nem tudo que nasceu depois da Idade
Média é ruim. Seria um absurdo admitir esse critério: é posterior à Idade
Média, logo é ruim. Portanto, isso não pode ser um critério para julgamento do
capitalismo.
O
capitalismo em si mesmo não é contrário à ordem natural das coisas. Ele tem
exageros. Como todos os regimes, tem abusos que devem ser coibidos. Mas em si o
regime não é contrário à justiça, como pretendem os esquerdistas.
R.: Mas não é uma parte integral
de um processo secular?
PCO - Quer dizer, o
capitalismo vem se desenvolvendo há mais de cem anos. Mas o que eu quero dizer
é que ele não tem nenhuma incompatibilidade intrínseca com a moral católica.
Foi o já que disse, aliás, Leão XIII.
Agora,
é preciso distinguir o regime capitalista dos abusos a que o capitalismo se
presta. Todo regime se presta a abusos. O capitalismo também se presta a
abusos.
R.: Abusos capitalistas?
PCO - Abusos
capitalistas. Excessiva concentração de poder econômico em poucas mãos; em
muitos lugares, um atendimento insuficiente das necessidades dos operários. Mas
essas não são objeções contra o regime em si. São abusos do regime.
R.: Então, a Sociedade
[TFP] já protestou contra coisas assim, abusos do capitalismo?
PCO - A Sociedade
toma sobre si a afirmação e a reivindicação das verdades habitualmente pouco
conhecidas. Os abusos do capitalismo são objeto de um berreiro geral.
– O
senhor fuma? Se fumar, à vontade.
Então,
não me parece que seja necessário nós estarmos insistindo nisso em que todo
mundo já insiste. Agora, sempre que nós falamos sobre a propriedade privada,
nós lembramos que não nos associamos aos abusos do capitalismo.
R.: Que tipo de tratamento frequente recebe a Sociedade da imprensa? O senhor acha que a imprensa brasileira tem
influência esquerdista?
PCO - O senhor
encontra de tudo. Não se pode falar tanto de uma atitude oficial dos jornais,
quanto da atitude dos redatores dos jornais. Alguns simpatizam muito e dão
muita divulgação. Outros fazem campanha de silêncio. Outros atacam, até com
sucessivas publicações etc.
(Sr.
José Lúcio: Campanhas).
É,
verdadeiras campanhas. Isso depende muito.
R.: No total, geralmente
são mais...
PCO - Globalmente
falando, globalmente falando, eles publicam muita coisa sobre nós. E a pior
forma de hostilidade é o silêncio.
R.: Então, coisas contra a
Sociedade são melhores do que o silêncio?
PCO - Melhores, não.
São menos nocivas do que o silêncio.
R.: Então, dividindo a
reportagem em três partes: silêncio, coisas contra, coisas com a Sociedade qual
porcentagem se encontra a favor da Sociedade?
PCO - A pergunta é
muito norte-americana e muito pouco brasileira. Nós nunca fizemos estatística
de porcentagem. Ahh, ahh, ahh. Esse é o diretor da publicidade, o Professor Paulo
Brito, acho que nunca fez a estatística dessa porcentagem.
R.: Eu tenho a impressão
geral de que a maioria da imprensa está a favor da Sociedade.
PCO - A maioria da
imprensa publica as notícias que a Sociedade manda sobre si mesma, as
entrevistas, reportagens que nós damos, etc.
R.: Pode descrever-me o que
acontece numa caravana?
PCO - Como é que
trabalham os jovens numa caravana, é isso? Eles fazem a propaganda das nossas
publicações por dois métodos: eles chegam na cidade, na praça central, fazem
uma proclamação e começam a venda de folhetos, de material de difusão, livros,
folhetos, jornais etc. Depois eles percorrem de casa em casa.
Esse
sistema de propaganda, às vezes, eles invertem: primeiro vão de casa em casa e
terminam na praça central. Habitualmente, muito bem acolhidos pela população.
Em geral, eles tem hospedagem e alimento fornecidos pela própria população.
R.: Quanto tempo demora uma
caravana? E quantas pessoas...
PCO - Habitualmente
tem mais ou menos umas dez pessoas. Normalmente, nós temos sempre caravanas
girando. Os rapazes podem revezar-se.
R.: Quanto tempo dura uma
caravana?
PCO - As caravanas
tem durações muito variáveis. Em tempo de férias dura mais. Em tempo de aulas,
dura menos. Nas grandes campanhas, fazem caravanas muito grandes. Nas campanhas
menores, são caravanas de circuito pequeno etc. Isso é muito variável.
R.: Qual é o tamanho total
da Sociedade, aqui no Brasil?
PCO - A Sociedade
existe em, mais ou menos, cinquenta cidades do
Brasil, das mais importantes.
R.: Seções? Subsecções?
PCO - A secção é o
conjunto dos núcleos existentes num Estado. A sub-secção é o núcleo existente
numa cidade.
R.: Então, tem, mais ou
menos, 50 sub-secções?
PCO - Não, não, não.
Tem vinte secções e algumas dessas seções tem sub-secções. Em algumas cidades
tem vários núcleos. Por exemplo, Rio, São Paulo, Belo Horizonte; na mesma
cidade, como a cidade é muito grande, então tem várias sub-secções. Isso é
muito variável. Mas em cidades nós temos mais ou menos 50.
R.: E o tamanho no total, o
número...
PCO - De membros? Não
é muito grande, não. Nós estamos caminhando para mil, mas ainda não atingimos.
(Sr.
José Lúcio: Entre sócios e militantes.)
É,
entre sócios e militantes.
R.: E tem diferença?
PCO - Sócio é aquele
que faz parte dos quadros da Sociedade propriamente dita e os militantes são os
jovens propagandistas que não pertencem, propriamente, à Sociedade.
R.: Então, no total tem,
mais ou menos, mil?
PCO - Mil, entre
sócios e militantes.
R.: Qual o processo que o
militante participa para ficar militante?
O
processo, para quem não é brasileiro, é muito difícil de compreender. A gente
se conhece, eles assistem a um certo número de conferências, até eles terem
adquirido a convicção de que eles são solidários conosco; e nós termos
adquirido a convicção de que eles o são mesmo. Quer dizer, não há um currículo,
não há um exame, não há nada disso. As coisas, no Brasil, se fazem de um modo
muito mais espontâneo e desembaraçado. É uma coisa difícil de um estrangeiro
compreender, não é?
(Aparte
inaudível)
É,
não existe isso.
R.: E está crescendo a
Sociedade?
PCO - Está crescendo
sobretudo entre os bem moços. Quanto mais jovem a geração, maior o número dos
que entram.
R.:
E já cresceu ....?
(Sr.
José Lúcio: se o crescimento tem sido contínuo).
PCO - Progressivo,
progressivo. É cada vez mais acentuado.
R.: Está em progresso. O
que, numa civilização cristã e nessa Sociedade [TFP] também, qual é o lugar da
mulher?
PCO - A civilização
cristã se diferenciou das civilizações anteriores pela reabilitação da mulher.
A mulher, na civilização pagã era uma escrava. Na civilização cristã ela passou
a ser, no sentido próprio da palavra, a consorte do homem. Quer dizer, pela
civilização cristã, ela atingiu seu apogeu.
R.: E na Sociedade [TFP]?
PCO - Na Sociedade
nós não costumamos receber mulheres. Nós temos grupos femininos que nos ajudam
extrinsecamente à Sociedade. Mas a natureza da Sociedade não permite. Com os
riscos que corre, com as campanhas de rua, atentados dentro das Sedes, como tem
havido etc., não teria propósito.
(Dr.
Paulo Brito: E agressões em rua).
PCO - Agressões em
rua, agressões em campanha.
R.: Tem muitas agressões?
PCO - Muitas vezes
somos agredidos. Os rapazes aprendem, por causa disso, karatê,
e se defendem energicamente.
(Dr.
Paulo Brito: Mas nunca atacam).
PCO - Nunca. A
palavra de ordem é: atacar, nunca. Defender-se, sempre. Nunca recuar.
(Dr.
Paulo Brito: E o resultado é que o número de agressões físicas tem diminuído
muito... antes não se sabia bem o karatê.)
PCO - Foi preciso
algum tempo para aprender bem o karatê.
R.: A Sociedade se
considera como democrática ou anti-democrática em sentido de política geral....
O que gosta mais a Sociedade: estar em favor da democracia ou da hierarquia?
PCO - Eu acho que na
atual era histórica, a única forma de governo possível é a democracia. Mas eu
acho que a verdadeira democracia não exclui instituições de alta categoria,
inclusive – a expressão é do próprio Papa Pio XII, no famoso discurso dele
sobre a democracia – que a verdadeira democracia deve ter, inclusive,
instituições de uma inspiração aristocrática. Ele mencionou, por exemplo, a
Academia Francesa de Letras. Eu aceito inteiramente o ponto de vista dele.
R.: Dando exemplo de que?
PCO - A Academia
Francesa de Letras.
R.: Mas estou falando da
política de um país e não de instituições.
PCO - Na política
concreta, nós não intervimos. Nós aceitamos qualquer forma de governo que não
seja contra a ordem natural das coisas.
R.: Eu não conheço a frase,
o conceito “ordem natural.” A ordem natural é democrática?
PCO - Não. Pela
doutrina da Igreja, todas as formas de governo, clássicas – de acordo com
Aristóteles havia três formas de governo: a monarquia, a aristocracia e a
democracia. Pela doutrina da Igreja, qualquer delas é conforme à ordem natural
das coisas. Quer dizer, não é contrária à justiça, para dar uma outra
formulação do mesmo pensamento.
(Dr.
Paulo Brito: Aristóteles, aliás consagrado e complementado por Santo Tomás).
PCO - Agora, na nossa
era histórica, a única forma de governo praticável é a democrática. Mas se por
ventura se estabelecesse uma outra ordem política, nós não seríamos contra,
porque desde que não fira a justiça, nós não intervimos.
(Aparte
inaudível)
PCO - Fere a justiça.
O comunismo não é uma forma de governo. É uma forma de estrutura
sócio-econômica, fundamentalmente contrária à justiça.
R.: Não seria possível uma
civilização cristã numa sociedade socialista não comunista? Sem propriedade privada?
PCO - Eu tenho um
trabalho escrito a esse respeito, intitulado “A Liberdade da Igreja no Estado
comunista.”
R.: Eu tenho.
PCO - Em que eu provo
que isto não é possível. Este trabalho teve até uma carta de louvor da Santa
Sé. Quer dizer, sem propriedade privada não há ordem justa possível.
(Alguém:
a propriedade privada é inerente à...)
PCO - À natureza
humana.
(Alguém:
Mais ainda, é natureza animal. Vai tirar o osso de um cachorro...)
PCO - É, ele se
apropriou, ninguém tira. É inerente ao que é vivo.
(Paulo
Brito: Também eu mandei ao senhor a “Reforma Agrária, Questão de Consciência”,
que tem uma parte inicial em que se desenvolve muito essa questão da
propriedade.)
PCO - Provando,
exatamente, que a doutrina católica é incompatível com qualquer supressão da
propriedade privada.
R.: O senhor acha que a Igreja
deve ser pró capitalista?
PCO - Não, isso é ir
longe demais, por que o capitalismo não é a única forma possível de propriedade
privada. Portanto, dizer pró capitalista no sentido de impor o regime
capitalista, não. De admiti-lo como legítimo, sim.
R.: Quer dizer que a Igreja
deve ser pró propriedade privada, mas não necessariamente...
PCO - Não
necessariamente pró capitalista; porém, não contra.
R.: A Sociedade tem boas
relações com a Igreja de São Paulo? O Cardeal?
Quer
dizer, a Sociedade [TFP] é uma sociedade de inspiração católica. Ela não é uma
Sociedade religiosa, mas ela se funda na doutrina católica. Naturalmente a esquerda-católica tem feito o possível para obter a
condenação da Sociedade. Ainda na recente reunião dos Bispos – houve uma
reunião plenária de Bispos, em São Paulo – a esquerda fez o possível para
conseguir que a Sociedade fosse condenada. E, de fato, não saiu condenação nenhuma,
porque não pode. A nossa doutrina é impecável, não tem nenhuma objeção a fazer.
R.: Mas, aqui em São Paulo,
tem boas relações?
PCO - Quer dizer,
boas relações... nós trabalhamos no nosso campo e nunca fomos objeto de nenhuma
objeção deles.
R.: Uma pergunta só... O
senhor não acha que o desenvolvimento, o progresso material está destruindo
valores espirituais?
PCO - Acho que sim. É
um problema muito delicado esse do desenvolvimento material. O desenvolvimento
material deveria desenvolver-se juntamente com o desenvolvimento espiritual,
ainda maior. E o que está acontecendo é o contrário.
R.: Então, qual a solução
para isso?
PCO - A solução é
voltar às fontes religiosas. Mas voltar seriamente, profundamente.
R.: Mas essa seria uma
solução só da Igreja, ou do governo também?
PCO - Eu acho que é
muito mais da Igreja e da iniciativa privada, do que do governo. Nós temos a
mania de querer por a ação do governo em tudo. O governo tem uma parte dentro
disso, mas é a iniciativa privada e a Igreja que devem trabalhar por essa
regeneração da sociedade.
R.: A Sociedade acha que o
crescimento do protestantismo, aqui, no Brasil, é uma ameaça, ou não?
PCO - Não. Para
compreender minha resposta é preciso ver um pouco qual é o espírito do
brasileiro. O brasileiro é muito intuitivo; é, talvez, o povo mais intuitivo do
mundo. E o brasileiro sabe que a religião católica é a verdadeira. Sabe por
intuição.
De
maneira que a propaganda protestante consegue resultados esporádicos, pequenos.
Não tem significação entre nós.
R.: Mas o crescimento não é
rápido?
PCO - Tem um certo
crescimento. Mas é um crescimento que não vai além do seguinte: o que vai se
deteriorando na Igreja Católica, por falta de capacidade de abranger todo esse
povo, com insuficiência de vocações sacerdotais, etc., etc., o protestantismo
lucra. Mas logo que se põe no lugar onde o protestantismo progrediu, se põe uma
paróquia católica funcionando bem, aquilo volta para trás.
R.: Duas coisas mais.
Porque a aparência dos militantes é sempre a mesma com suit...
(Sr.
José Lúcio: Termo, gravata e cabelo curto.)
Eu
podia virar a pergunta: por que os hippies nunca estão de terno, nem gravata e
nem cabelo curto? A razão é a mesma.