15 de março de 1982
Entrevista
para a Associated Press
Plinio Corrêa de Oliveira - Faça o favor, vamo-nos sentar.
Estou um pouco atrasado com o Sr., mas eu tive um telefonema internacional com
Bogotá que me prendeu enormemente, caiu a ligação, etc., e isso determinou meu
atraso.
Associated
Press - Eu tive a
oportunidade de olhar um pouco para as obras de arte [da sede da Rua Maranhão].
(Dr. PB- Ele quis ver um pouco a sede, eu mostrei um
pouco a sede, eu mostrei um pouco a sede para ele.)
PCO - Mas, eu tinha idéia que o Sr. já tinha estado aqui, não?
AP - Eu
quis chegar mais cedo para ter um pouco de tempo para olhar de novo, porque
fiquei tão impressionado... eram as cores que eu lembrei)
(Dr. PB – Eu estava dizendo que o correspondente do “Washington
Post”, quando fui mostrar a sede, olhou a sala e
disse: “Pall Mall”. Lembrou
que é um tipo de club no bairro de Pall Mall de Londres.)
AP - Faz
quase um ano que eu estive aqui.
PCO - Ah! faz quase um ano que o Sr. esteve aqui?
AP - 25
de Julho.
PCO - Ah! Sei. Entre uma coisa e outra a TFP lançou aquela Mensagem [contra o socialismo autogestionário francês] e depois um Comunicado [“Na França, o punho
estrangulando a rosa”].
AP - O Comunicado sobre?
PCO - Sobre a Mensagem.
(Dr. PB- Tenho aqui a cópia xerox do “Washington Post”, pode ficar com o Sr.. A Mensagem o C. já deu ao Sr.)
AP - Sim.
PCO - Estou à disposição para servir o que queira. O Sr. quer
papel?
AP -
Queria colocar o gravador.
PCO - Ali, o Sr. tem uma tomada ao seu lado. O Sr. fala português
com muita facilidade, hein!
AP - Faz
tanto tempo que estou aqui... estou ainda agoniado com o sotaque.
PCO - Dir-se-ia que o Sr. já pensa em português.
AP -
Quando começo brigar...
PCO - Ah! Ah! Ah!
O meu gravador está
ligado, Fernando?
(FA- Está sim Sr.)
PCO - Sabe que quase a totalidade dos móveis desse sede [na Rua
Maranhão, em Higienópolis] são móveis velhos, dados
ou emprestados. À medida que esses estilos foram saindo de moda, as famílias de
Higienópolis que iam se mudando para o Jardim
América, davam. Não queriam em casa e nós fomos aproveitando,
naturalmente.
AP - E
tem algumas peças muito bonitas.
PCO - Essa aqui é a casa de residência – não é a mais antiga do
bairro – mas é a mais antiga que resta, é essa aqui.
(Dr. PB- Construída em 1895.)
PCO - Realmente, uma construção muito antiga, nós reformamos,
atualizando, mas foi uma residência de família. Mas estou à sua disposição.
AP - Eu
recebi um pedido de um jornal americano de Dallas
para uma entrevista sobre a TFP. Então vai ser publicado.
PCO - Pois não. Ah! bom. Espero, não é? Porque da última vez eu
fiquei meio desapontado, hein.
AP - Eu
entendo. Eu estava lendo a entrevista, eu acho que houve problema naquela época.
Eu estava esperando coisas mais contundentes do Sr. que eu precisava para uma
matéria na época e o Sr. estava mais cauteloso, mais racional. Mas neste caso
tem um pedido especial, então vai sair.
PCO - Quais são?
AP -
Eles queriam enfocar as atividades da TFP no exterior. Não só no exterior
porque não pode entender TFP sem entender o que está acontecendo aqui. Mas
estão interessados. E eu achei que talvez seria bom começar sobre o Livro
“Cinqüenta anos [“Meio século] de epopéia [anticomunista]” e sobre a “Reforma
Agrária”. O Sr. dá ênfase no livro
“Cinqüenta anos...” à luta contra o comunismo, mas eu não encontrei uma
explicação porque é tão importante a luta contra o comunismo. O que seria
perdido se os comunistas tomam o controle.
PCO - Não entendi bem a pergunta, como é a pergunta Paulinho?
(Dr. PB- Lendo o livro “Cinqüenta anos”, ele não viu
bem porque o Sr. combate tanto o comunismo, porque ele não vê qual seria o
grande dano que causaria se o comunismo vencesse.)
AP - O Sr.,
por exemplo, fala que perderia tradições, valores. Mas, eu pergunto: e daí?
PCO - Ah! ah! ah!
AP -
Qual a importância de manter esses valores?
PCO - A questão é a seguinte: é do domínio comum, do conhecimento
comum que o comunismo visa implantar uma nova ordem econômica, social... resultantes, deduzidas, rigorosamente, de uma
filosofia peculiar própria. E que o corolário disso é a implantação de um tipo
humano próprio também. E é uma mudança, portanto, completa, no viver do homem.
Agora, que importância
tem essa mudança?
Na nossa ótica - que
eu tenho certeza que não é uma ótica subjetiva mas objetiva -, na nossa ótica,
uma importância fundamental e uma importância de caráter religioso. Porque o
comunismo estabeleceria uma ordem de coisas que estaria na violação permanente
e grave, por assim dizer completa de todo os mandamentos da Lei de Deus. E
instauraria um tipo humano que seria o contrário do tipo cristão.
O homem, tanto quanto
é possível nos seus acidentes, ficaria, portanto, deixaria de ser a imagem e
semelhança de Deus para ser o contrário de Deus. E, portanto, isso atinge a
glória de Deus.
O Sr. vê que na
perspectiva religiosa isto vai fundo.
AP - Colocaria
o ser humano num estado pecaminoso.
PCO - Quer dizer, colocaria as sociedades humanas – não analiso
aqui a situação de todos os homens, porque os que não se conformassem com a
ordem de coisas comunista não estaria em estado pecaminoso – mas colocaria
todas as sociedades humanas, como um conjunto, num estado de pecado.
AP -
Como o Sr. analisa a estratégia dos comunistas no exterior? Como o Sr. acha que
eles vão agir ou estão agindo para aumentar a influência. E quais seriam então
os pontos de maior perigo para o mundo ocidental? E quais as atividades da TFP
para enfrentá-los?
PCO - A estratégia do comunismo, no momento, se desenvolve
através da chamada guerra psicológica que nós chamamos de guerra psicológica revolucionária, enquanto empregada
pelo comunismo, porque visa implantar a revolução, a subversão completa da ordem
que é o comunismo. Essa guerra psicológica se desenvolve hoje com uma amplitude
de ação maior do que antigamente. Porque antigamente ela consistia, notadamente,
não exclusivamente, em métodos de persuasão em que a lógica tinha muito papel.
Mas, hoje com a ampliação dos truques psicológicos de toda ordem, a guerra
psicológica passou a ser o emprego de uma porção de recursos para atuar não só
sobre as convicções da opinião pública, mas as disposições da opinião pública,
de maneira que a vontade de resistir, os estados temperamentais da opinião
pública podem ser afetados a fundo por manobras publicitárias e outras. E este
é o campo essencial da guerra psicológica revolucionária.
A violência é, sem
dúvida, usada por eles, de vez em quando. Mas é como um recurso complementar
para o êxito dessa guerra. De maneira que, no tempo – vamos dizer –
antigamente, quando a propaganda comunista era uma propaganda sobretudo
ideológica e pela mão armada também, etc., essa ação psicológica sobre os povos
era acidental. Agora mudou. Essa passou a ser capital e a ação do proselitismo
doutrinário passou a ser secundário e também a ação da violência passou a ser
secundária. É um recurso dentro da guerra psicológica.
AP - O Sr.
pode me dar alguns exemplos dessa guerra, de como está sendo feita?
PCO - Me deixe concluir que já lhe dou. Então a TFP vê que essa
guerra é o grande perigo para a conquista do mundo pelo comunismo e se emprega
em denunciar essa guerra. Denunciando, torná-la inócua, porque aqueles que
sabem disso tem meios de não se deixar trabalhar.
Agora, como é que essa
guerra está sendo feita? Ela está sendo feita a partir de uma propaganda da
parte da Rússia, destinada a fazer crer no comunismo sorridente, não
autoritário, pacifista, no comunismo com liberdade. E, pela insinuação feita,
de um modo ou de outro, de que esse comunismo, no Ocidente, não traria o
fracasso econômico evidente que está trazendo no Oriente.
Então, tudo quanto
entra dentro da linha da Ostpolitik, da coexistência pacifica, do compromesso histórico, do
comunismo de face humana, do eurocomunismo, etc., eu
não quero dizer que todos os que colaboram com isto são comunistas, mas eu
quero dizer que esta é uma jogada comunista na qual os ingênuos acreditam e que
desarmam os espíritos contra o comunismo.
Um outro recurso é a
infiltração do comunismo em setores ideológicos opostos a eles. Por exemplo, a
religião. Não há uma igreja no mundo hoje que não esteja infiltrada de
tendências esquerdistas. Mas as pessoas que sentem essas tendências
esquerdistas são propensas a colaborar com o comunismo. E, colaborando,
facilitar a ascensão do comunismo ao
poder.
Exemplo característico
– o Sr. pediu exemplo, nós poderíamos dar vários – exemplo característico: a
França. Na nossa Mensagem nós apontamos isso,
que a vitória de Mitterrrand em 81 se deveu a uma
abstenção eleitoral enorme. Esta abstenção foi evidentemente nos setores
burgueses porque o PS e o PC são muito disciplinados.
Agora, por que é que
os burgueses não foram votar? Porque eles acreditavam num socialismo de face
humana, num socialismo utópico e inócuo.
Depois houve também um
“glissement” como se diz em francês, uma derrapagem
de uma boa parte do eleitorado católico para o lado dos comunistas – isso foi
reconhecido até pela Information Catholique Internationale. Essa derrapagem se deu por causa do esquerdismo
católico que é uma forma de otimismo em relação ao comunismo. Tudo isso são
efeitos da guerra psicológica revolucionária.
AP - O
futuro. O Sr. vê a continuação desta guerra? O não uso da violência?
PCO - Ah! sim. Eu acho que o comunismo, tudo indica que o
comunismo estabeleceu um plano cujo termo último seria a conquista do mundo,
evitando a guerra nuclear por meio da guerra psicológica. O perigo nuclear
ainda é um instrumento da guerra psicológica… Não quero dizer que não exista, mas
nós do Ocidente sabemos que o Ocidente não atacará a Rússia. Eles deixam claro
que eles talvez ataquem a nós. O resultado é que nós, com pânico, ficamos com
vontade de nos entregar. É uma pressão psicológica.
Não sei se estou
claro.
AP -
Está. Bem claro.
PCO - O Sr. aceita um cafezinho?
AP -
Para mim não, obrigado. O Sr. poderia historiar um pouco as atividades da TFP
no exterior?
PCO - Quer dizer, como elas nasceram, é isso? O que o Sr. entende
por historiar?
AP -
Duas partes: como nasceram e quais os maiores sucessos da TFP na luta contra o
comunismo, no exterior.
PCO - Nós estamos para publicar um elenco das atividades das TFPs
no exterior, uma coisa análoga a esse livro que o Sr. conhece, para as várias
TFPs do exterior. Como estamos sempre muito ocupados, isso vai andando devagar.
Depois cada TFP faz a sua parte, é uma coordenação um pouco difícil. Mas, todos
juntos, eles e nós, estamos com vontade de publicar isso em várias línguas.
Como nasceram?
Nasceram pelo normal
contato que há entre as várias nações da América do Sul, sobretudo do Brasil
com Uruguai, Argentina e Chile. Turismo, mil ocasiões normais de contato. E nesses
contatos nós tomamos conhecimento da existência de dois grupos: um na Argentina
chamado “Cruzada” e outro no Chile chamado “Fiducia”
que não conhecíamos. Fomos ver e eram de
uma mentalidade, de doutrinas etc., idênticas às nossas. Nos federamos. Quer
dizer, reconhecemos a eles o título, o nome de TFP, etc., etc.
Depois, no Uruguai, um
pouco os brasileiros, um pouco os argentinos, tinham relações no Uruguai, isso
repercutiu no Uruguai.
Aí nós, brasileiros,
nos demos conta de que toda América espanhola seria permeável à fundação de
outras TFPs. Então mandamos amigos nossos viajarem por essas várias capitais da
América do Sul e encontraram ambiente. Inaugurou-se então o sistema de viagens
a outros países onde encontrássemos elementos simpatizantes, para surgirem a
formação de TFPs. E se prolongou até à Europa.
AP -
Pode-se dizer que a TFP é mais forte no cone sul?
PCO - Que são as mais antigas.
AP - E que são as mais fortes?
PCO - Isso já não se pode dizer, porque elas estão bem fortes,
mas na Colômbia, no Equador, na Venezuela elas estão se desenvolvendo bastante
hoje em dia também. Assim dizer, pura e simplesmente, que são as mais fortes,
seria um pouco excessivo, talvez não. Depois, como avaliar o mais forte, pelo
número de membros? Pela influência? É muito difícil. Mas, todas, graças a Deus,
as do cone Sul como as do norte da América do Sul, prosperam.
(Dr. PB- Da Venezuela especialmente.)
PCO – É, especialmente da Venezuela. A que tem um passado mais
movimentado é a do Chile e do Uruguai.
AP - Claro. A do Uruguai também?
PCO - Do Uruguai também.
AP – Não foi no Uruguai onde a TFP foi proscrita,
o governo uruguaio tomou uma atitude contrária a TFP?
PCO - Foi. O governo Bordaberry tomou
medidas contra a TFP, proibiu as campanhas públicas da TFP. Nós fizemos a ele
até um, a TFP uruguaia fez a ele um desafio pela imprensa para que ele
explicasse. Ele era um ditador e tinha o
grau de liberalismo que tem os ditadores de esquerda, quer dizer que não
explicou nada. Mas afinal de contas saiu do governo e a TFP retomou sua
liberdade da expansão.
AP -
Proibiu as campanhas da TFP na televisão?
PCO - Em Montevidéu, campanha na rua.
AP -
Quantas pessoas estão envolvidas nisso?
PCO - Na TFP do Brasil?
AP -
Mundialmente. Fora do Brasil.
PCO - Eu não tenho um cálculo exato e não é muito fácil dizer
porque, pelos nossos estatutos, cada TFP é uma entidade jurídica inteiramente
autônoma, com direção própria, economia própria, tudo próprio. Nós só
consideramos como sócios ou cooperadores
da TFP as pessoas que tem o que nós chamamos “dedicação integral “, quer dizer,
que dedicam todo seu tempo livre à TFP.
AP -
Todo tempo livre?
PCO - Todo tempo livre à TFP. E muitas vezes o tempo livre é o
tempo integral. São pessoas que tem haveres ou que, de um modo ou de outro, vivem sem trabalhar. Muitas delas, amigos da
TFP que pagam para manter a pessoa para dar todo o tempo livre, tempo livre
inteiro para a TFP, ou tem uma profissão e dá o tempo livre para a TFP.
AP -
Então, este amigo que paga para sustentar...
PCO - Em geral é um sócio da TFP. Estes são os que são sócios ou
cooperadores da TFP. Agora, de fato, aderentes à TFP é um número incontável e,
naturalmente, muito mais fluído, mas não fazem parte do quadro social.
No Brasil nós temos,
por exemplo, representantes, correspondentes da TFP em cerca de 400 cidades.
Agora, onde há um correspondente - em geral, o correspondente não é necessariamente sócio, é um amigo, mas que
participa de todas nossas convicções, de nossas atitudes e tudo - este, em
geral tem uma roda de amigos que também são mais ou menos da TFP, e assim até
onde isso vai não é contável, não é avaliável.
AP -
Quantos sócios?
PCO - Entre sócios e cooperadores, a TFP brasileira, portanto,
com dedicação integral, tem, mais ou menos uns 1.200 – não é muita coisa.
AP -
Tempo integral, quer dizer, todo tempo livre que pode ser tempo integral. Eu
estou pensando, por exemplo, em Adolfo Lindemberg –
não sei se ainda é membro...
PCO - É.
AP - Ele
seria um sócio.
PCO - O tempo livre dele ele dá para a TFP.
AP -
1.200?
(Dr. PB- Sócios e cooperadores.)
AP - E
teria mais correspondentes?
PCO - Correspondentes, amigos de correspondentes. Isso, ainda
mais no temperamento sul-americano que não é muito de definições claras ... ah! ah! ah!
AP -
Certo, certo. Os rapazes que fazem as caravanas, por exemplo, seriam incluídos
em sócio ou cooperador?
PCO - Ah! São.
AP -
Fora do Brasil, onde a TFP é mais atuante? Seria Venezuela no momento?
PCO - Não. Não se pode dizer isso assim. Realmente é uma coisa
que não se pode responder pura e simplesmente. Elas são tão atuantes e se
esforçam tanto que dizer que uma é mais a atuante, haveria muito risco em cair
em injustiça com a outra. Eu poderia dizer quais são aquelas que tem mais
corpo, maior número de membros, etc., etc.
No momento eu creio
que são as da Venezuela, Estados Unidos e Espanha.
AP -
Nesta ordem.
PCO - Não, não. Isso eu precisaria examinar bem. São 3 daquelas...
(Dr. PB- Que estão mais atuantes...)
PCO - Atuantes também não. Que tem maior número de sócios e
cooperadores. O que nem sempre corresponde a atuante.
AP -
Quais os maiores feitos da TFP fora do Brasil?
PCO - Também assim responder absolutamente não é fácil, porque os
sucessos dependem em grande parte das atitudes dos elementos extrínsecos à TFP.
Onde a TFP passou por maiores provações e êxitos portanto mais chamejantes,
foram Chile e Uruguai. Batalhas maiores , etc.
No Chile, está
descrito naquele livro que o Sr. tem, o trabalho deles contra Frei, depois contra Allende. Aliás, se tornou
mundialmente célebre o livro “Frei, o Kerensky
chileno”, e lançado pela TFP chilena, escrito por um sócio da TFP brasileira,
mas lançado pela TFP chilena.
No Uruguai houve um livro
magnífico denunciando os Tupamaros como um show de guerra psicológica revolucionária. Causou um
impacto muito grande, etc.
São as duas TFPs que
foram mais atacadas e que puderam se desdobrar melhor aos olhos do público sua
dedicação.
AP -
Aqui no Brasil a TFP está muito atuante no começo da década de 60 e parece que
parte dela, na mudança do governo, teve importância. A atuação da TFP na
Revolução foi importante, no sentido que deu apoio. Eu queria saber se esse
tipo de coisa foi feito no Chile com a mudança de regime de Allende para Pinochet).
PCO - A TFP chilena, por ocasião da ascensão do Allende, a TFP
chilena percebeu muito bem que ela, se ficasse em território chileno, cairia
debaixo da mão do Allende e que entraria debaixo de perseguições policialescas, etc. O Allende dava liberdade a outros. Para
a TFP chilena não daria.
Então, a maior parte
dos membros da TFP chilena passou para o exterior e começou a promover no
exterior uma campanha de esclarecimento da opinião pública sobre o que era o
Allende.
AP - No
exterior.
PCO - No exterior difundia, por meio de amigos, no Chile o que no
exterior se dizia sobre o Allende e o que ela estava fazendo contra o Allende.
Agora, aí começam
aparecer, pelo entusiasmo de muitos jovens que não eram da TFP, vendo a atitude
da TFP, começa aparecer um setor jovem da TFP dentro do Chile e debaixo de
Allende. Esse setor teve uma atuação constantamente
ideológica e era de mostrar que os chilenos, enquanto católicos, não podiam
aceitar o regime Allende. Matéria a respeito da qual o Episcopado chileno era
pelo menos muito ambíguo – pelo menos! Quer dizer, foi uma luta contra a
esquerda do Episcopado chileno.
AP - No
Chile a TFP organizou a marcha da família, por Deus e pela liberdade? Parece
que a TFP estava atuante na organização disso aqui no Brasil.
PCO - Há um engano a respeito disso. O Jango Goulart, que era o
presidente comunistóide do Brasil de então, tinha
preparado uma atmosfera muito boa, muito grande para a introdução da Reforma
Agrária. E o D. Helder Câmara e outros bispos do
Brasil, simpáticos à Reforma Agrária, iam apoiar.
A TFP, por meio do
livro Reforma Agrária –
Questão de Consciência criou um caso dividindo os católicos e criou um alarme
nacional contra o Jango. Este alarme não existia antes desse livro. A situação
do Jango era muito mais cômoda.
Agora, a partir deste
incômodo, uma outra comissão de gente – gente respeitável, simpática, mas não
gente da TFP – organizou aquela marcha. Quer dizer, a TFP criou as condições
psicológicas. Nós participamos da marcha mas não éramos dos promotores da
marcha.
AP -
Houve um incidente também em Belo Horizonte, quando o Brizola...
PCO - Foi.
AP -
Eram membros da TFP?
(Dr. PB- Quem promoveu o incidente eram “mulheres do terço”. Não era a
TFP)
Não eram membros da
TFP. Os membros da TFP presentes aplaudiram, etc., mas todo planejamento não
foi feito pela TFP. A TFP cria o ambiente.
AP - Seria
a mesma coisa no Chile: cria o ambiente mas não organizou a ...
PCO - Depois, cria o ambiente especializadamente
a respeito do tema religioso.
AP - No Chile também.
PCO - No Chile também.
AP - Mas
não ...
PCO - Não organizou… Eles dizem aí que a TFP ajudou para derrubar
Allende. No sentido de organizar-se para derrubar o Allende, não é verdade.
AP -
Talvez, criando ambiente...
PCO - Criando ambiente, sim.
AP - E’
mais importante.
PCO - Muito mais, eu concordo. Mas uma coisa é criar ambiente,
outra coisa é organizar. Não vamos confundir.
Se o Sr. tomar a
narração de nossa história, feita por nós, não encontra uma vez em que nós nos
atribuamos de ter organizado alguma coisa.
AP - Foi
uma coisa que eu notei. Falando das marchas da família de Deus, mencionou mas “en passant”.
PCO - “En passant”
porque não é uma realização nossa.
AP -
Bom, Argentina, Uruguai, Chile seria ...
PCO - A mesma coisa. Nós criamos um ambiente. Compete aos
políticos, enfim, aos homens que queiram, aproveitar as condições desse
ambiente. De onde nós sermos uma organização essencialmente doutrinária e
ideológica.
AP -
Entendo. Isso seria feito através de publicações em jornais, livros, também
bate-papos, contatos pessoais?
PCO - Isso. Campanhas de rua, muito. Campanha de rua: quase
ninguém promove campanha de rua na América do Sul. Não sei porque mas é assim.
Em épocas de paz não há quase campanhas de rua. Nós promovemos. Mas, nossas
campanhas não consistem em mobilizar outros. Nós aparecemos no público e nos
apresentamos e falamos.
AP -
Poderia me dar uma idéia da história da TFP nos Estados Unidos?
PCO - A TFP nos Estados Unidos formou-se da mesma maneira que as
outras, pelo processo das outras. Ela tem realizado várias campanhas públicas –
eu não me lembraria aqui no momento, eu poderia até telefonar se o Sr. quiser, posso
telefonar daqui para uma pessoa que é nosso correspondente com a TFP dos
Estados Unidos e poderia dar as principais campanhas da TFP nos Estados Unidos.
Mas, eu não posso guardar tudo na cabeça porque é uma coisa enorme. Mas está em
franca expansão.
AP -
Quantas pessoas seriam envolvidas na TFP fora do Brasil?
PCO - Quantas pessoas pertencem à TFP fora do Brasil?
AP - Uma
idéia.
PCO - Tudo junto, é um número menor do que a TFP brasileira, mas
eu teria dificuldade, não tenho os registros deles, não chega a igualar à TFP
brasileira.
Agora, o problema
número aqui não conta tanto quanto em outro tipo de organizações. O que conta é
o grau de dedicação dos contingentes. O Sr. fazendo uma comparação que,
naturalmente é uma mera analogia, mas enfim, para recorrer a uma analogia, o Sr.
vai ver uma paróquia, quantos padres constituem uma paróquia. A influência da paróquia
tem alguma relação com o número de padres, mas é uma relação que não é muito
direta. Cinco homens numa paróquia influenciam enormemente mais do que 5 homens
que não estão agrupados. E’ a força dos conceitos de tradição, de família, de
propriedade, o modo de apresentar ao público, os símbolos, a argumentação, as
idéias, isso tudo influencia muito mais do que o número.
(Telefonema para o Sr. JL para perguntar sobre campanhas da TFP dos
Estados Unidos.
PCO - Como vai você JL?
Escute uma coisa: eu
estou aqui com um repórter da Associated Press que está fazendo uma entrevista comigo e que
queria...
(Vira a fita.
... TFP
norte-americana.
Tem em português? Será
que eu encontro o Borelli agora? Você faça o
seguinte: nossa entrevista é já de algum tempo, provavelmente não dure muito. Eu
vou pedir a ele o endereço e o nome dele e você manda essa lista amanhã, está
bem?
O Sr. quer dar seu
nome e seu endereço?
AP - Alô! Meu nome é Kerry Fraser. Rua M. Q., – . Exatamente! Minha pergunta é um
pouco da história, como começou, quando começou e o que está fazendo. Ok. Muito obrigado. Até logo.
PCO - Eu encontro uma analogia
muito melhor que a da paróquia. O Sr. imagine uma orquestra tocando para
um público. O número de instrumentos da orquestra não tem uma relação tão
direta com a influência da orquestra quanto a qualidade da execução. Assim
também com uma TFP.
A TFP chilena, quando
teve as grandes lutas com o Frei, era pouco numerosa. Eram talvez uns 40, 50
moços. Mas ela moveu. Tem, “know how”
dentro disso, é uma porção de coisas.
AP -
Claro, claro. Qual a ligação da TFP brasileira com as outras?
PCO - De relação, o traço fundamental é a comum convicção de que
é verdade, está certo, meu livro “Revolução e Contra-revolução”. Que é uma
visão religiosa-filosófica da história e deduzindo
daí uma especial estratégia diante dos acontecimentos contemporâneos. E é essa vinculação, contatos contínuos. Mas nós nem sequer
constituímos uma federação.
AP - Eu
perguntei porque notei que alguma época o chefe da TFP na França- faz parte do
livro – era brasileiro.
PCO - Não propriamente isso. É diferente. Havia um sócio da TFP
brasileira que passou a residir na França porque ele tocava o escritório da CAL
[Construtora Adolpho Lindenberg],
era irmão de um dos diretores da CAL, a CAL tinha escritório em Paris e ele
tocava o escritório. E lá ele conheceu
um grupo de jovens a quem ele propõe que fundassem uma TFP, mas ele era
extrínseco, não era chefe. A TFP tinha e tem seus organismos próprios.
Agora, ele era um
conselheiro, muito ouvido, etc., etc., mas extrínseco à organização.
AP -
Eu, pelo livro entendi que ele era chefe.
PCO - Os jornais, a maior parte deles, fizeram um serviço porco a
esse respeito. Aliás, sobretudo com “O Estado de S. Paulo”, tivemos polêmica
grossa a esse respeito.
AP - Mas
é mencionado no livro.
PCO - Mencionado no livro, com todos os pormenores.
AP - Foi
ali que achei que ele era.
PCO - Ali não está escrito isto não.
AP - Diz
que era diretor da CAL, mas que talvez era...
PCO - Ah! Isto sim. Aí vem aquela história toda que está escrita
no livro - não precisamos estar conversando, mas se o Sr. quiser, pode; mas não
precisamos porque está escrito no livro.
AP - Eu
perguntei porque eu li isso e queria saber se em outros casos semelhantes, onde
tem brasileiros atuantes nas TFPs do exterior.
PCO - Não. Às vezes tem alguma pessoa que está lá...
AP - As
atividades das TFPs são coordenadas internacionalmente?
PCO - Quer dizer, habitualmente, quando nós fazemos alguma coisa
de porte internacional, pedimos o apoio deles ou eles pedem o nosso.
Habitualmente se dá o apoio. Por exemplo, essa Mensagem a respeito do socialismo autogestionário
na França, foi combinada. Mas essa coordenação não é uma coisa que diz respeito
às atividades internas em cada país e supõe de cada vez um consenso que os
atuais sistemas de telefonemas muito facilitados tornam mais cômodos.
AP - Tem
viagens?
PCO - Viagens com frequência.
AP - Com
freqüência, só para trabalhos da TFP?
PCO - Só para... tem muitas viagens para cá de jovens das outras
TFPs para fazerem cursos, para passarem férias aqui, etc., como também elas se inter-visitam muito. E que é a tendência moderna do turismo:
todo mundo está por toda parte. Faz um turismo inter-TFP
muito intenso. O pólo desse turismo, o pólo maior de atração é São Paulo.
Às vezes acontece que
uma TFP toma uma atitude interna no seu
país. Outras, nem todas, resolvem imitar para o respectivo país porque acham
que o problema lá existe também. E’ jogo muito livre.
AP - Eu
estou vendo que o simples problema de poder responder ao número de
participantes, indica que não é tão centralizado.
PCO - Não é nada centralizado, a não ser uma grande união de
pensamento e de ideal.
AP - Os
maiores sucessos internacionais. O Sr. falou em Chile.
PCO - Internacional, o Sr. entende fora do Brasil?
AP - Sim.
PCO - Eu considero do Chile e considero do Uruguai. Na situação
em que o Uruguai estava, naquela ocasião, o desvendar a política dos Tupamaros e lutar contra eles no terreno ideológico,
enfrentá-los, sem armas, à uma organização terrorista armada, depois da vitória
deles fazer uma análise da situação em que ficou claro isso... realmente foi
uma coisa – o Sr. leia no livro, o Sr. verá que foi uma coisa de grande
alcance.
A história dos outros
países tem sido uma história mais tranqüila e, portanto, não dando oportunidade a tantos lances. Esses
são os 3 países onde há TFP em que a história foi mais agitada. Agora, a TFP
francesa.
AP - 3
países: Argentina ...
PCO - Chile e Brasil.
AP -
Argentina, Chile, Brasil e Uruguai.
PCO - Argentina, Chile, Brasil e Uruguai, 4. De fora, em relação
a nós, são três.
AP - O Sr.
ia falar sobre a França.
PCO - Agora, deu-se um acontecimento enorme na França que foi a
vitória do Mitterrand. Então aí nasce uma ocasião para o desenvolvimento
de uma grande ação da TFP francesa, apoiada por todas as outras TFPs. Mas nas
situações estáveis, normais, a TFP recruta, se forma e faz campanhas locais,
não tem oportunidade de aparecer muito. Nas grandes ocasiões ela aparece. É
natural.
AP -
Quanto ao Chile, Uruguai, Argentina, teriam oportunidade de conversarem
diretamente com militares, por exemplo, no Chile.
PCO - Conversar com quem?
AP -
Militares.
PCO - Com militares?
AP -
Quando se falou em denunciar e de criar ambiente, isto seria parte da criação
do ambiente?
PCO - A conversa com militares?
AP - Sim.
PCO - O que o Sr. entende como “conversa”?
AP - Eu
queria deixar aberto para deixar o Sr. definir isso...
PCO - Ah! ah! ah!
O Sr. faça diretamente sua pergunta: que relações existem entre a TFP chilena e
o regime militar? Está aí a pergunta.
AP -
Pode ser uma parte.
PCO - Pelo que eu estou informado – e julgo estar muito bem
informado – há uma mútua compreensão, mas que não é completa. E, com essa mútua
compreensão, há uma coexistência pacífica, não vai além disso.
AP - Então
não seria o caso de procurar militares e tentar conversar com eles? Seria mais
uma coisa normal de convivências?
PCO - Eu acredito que eles tenham procurado, acredito que tenham
procurado mas eu acho que os contatos que eles tem tido não evita que a nota
dominante tenha alguma coisa que não está na TFP e que está na própria conceituação do anticomunismo. Quer dizer, eles olham muito
para a repressão policial e a atenção deles se volta muito para aquilo que um
governo pode fazer. Quer dizer, um governo pode promover a prosperidade e pode
reprimir a desordem. Isso eles tem feito.
Bem, um governo não
tem muitos meios de fazer a contra-guerra psicológica
revolucionária, não está nos meios de um governo. Eu não sei, portanto, até que
ponto eles... - eles não criam nenhuma dificuldade para a TFP -, mas eu não sei
até que ponto eles reconhecem a utilidade da obra da TFP.
AP - Na
experiência brasileira?...
PCO - Isso no Chile.
AP - E na
experiência brasileira, voltando para 63, 64, quando estava começando pensar ou
estava pensando na Revolução, quais eram as ligações da TFP com os militares?
PCO - Pode espantar, mas é a realidade: nenhuma.
AP -
Nenhuma.
PCO - Nenhuma. Depois nós fizemos algumas relações no meio
militar, mas por ocasião da queda do Jango e daquelas coisas todas, nenhuma
relação. Eu me lembro que acompanhei os fatos dentro de minha casa, pelo rádio.
Sem mais.
AP - O Sr.
pode dizer – tenho medo que não vai constar nas informações que receberei
amanhã – se a TFP tomou posição crítica diante da política de direitos humanos
do presidente Carter.
PCO - Tem, crítica, muitas.
AP - E,
em termos de presidente Reagan, foi ativa na eleição, na política americana,
ajudou em termos de – não sei o que seria os termos – em termos de tentar
ajudar financeiramente na campanha, ou ajudar na campanha, qualquer...
PCO - Eu acho que, na medida em que a TFP tenha, em todos os
setores onde a TFP tem influência, o fato dessa influência tornou as pessoas
abertas à TFP, simpáticas à candidatura Reagan. Mas eu não acredito que a TFP
norte-americana tenha trabalhado diretamente pela candidatura dele.
AP - O Sr.
não tem conhecimento de contribuições políticas, contribuições financeiras?
PCO - Não, não.
AP -
Olhando em outra perspectiva, o presidente Reagan está tomando posições talvez
um pouco confusas, mas posições fortes em frente ao comunismo aqui na América
Latina, principalmente América Central.
PCO - Sim.
AP - A
TFP tenta ajudar de alguma maneira essas tomadas de posições?
PCO - Não. Quer dizer, nós não podemos deixar de ver com bons
olhos que as nações desse continente se ajudem umas às outras contra o inimigo
comum. Eu achei que esta ajuda não só não existiu durante o período Carter, mas o contrário. Não estou qualificando as
intenções. Mas o fato concreto é que o governo dele favoreceu enormemente a
expansão do estado de espírito favorável ao comunismo.
Acho que o governo
Reagan tem tido uma influência, neste sentido, muito melhor que a de Carter. Se ele está fazendo tudo o que pode, já é uma outra
pergunta, mas a essa compete aos americanos saberem o que é que ele pode. Eu
não entro nisso.
AP - A
TFP, por exemplo, não tenta criar ambiente para um país, como a Argentina, por
exemplo, para apoiar os Estados Unidos em El Salvador?
PCO - Apoiar os Estados Unidos no quê?
AP - Em
EL Salvador. Queria saber se a TFP atua neste sentido.
PCO - Não, nem no Brasil, nem em nenhum lugar. Eu, por exemplo
não fiz ao Itamaraty um só pedido, ao Ministério das
Relações Exteriores do Brasil. Mas eu acho, de modo difuso, que toda influência
anticomunista em qualquer lugar onde se exerça, se exerce de modo simpático a
outros esforços anticomunistas. Mais nada.
AP – O Sr. escreveu
um artigo sobre Mitterrand na América Latina.
PCO - Sim, na “Folha de S. Paulo”, não é?
AP – Não houve
publicação em outros países?
PCO - Quer dizer, é possível que tenham transcrito o artigo em
outros países. Os artigos na FSP são muito transcritos. Mas eu não entrei
nisso. Ninguém pode obrigar ou proibir.
AP – Claro. AP – A
TFP teve um papel mais atuante na questão Mitterrand?
PCO - Não. Eu acredito - ainda mais uma vez - apesar da atitude
estranha dos grandes jornais franceses que se recusaram a publicar nossa Mensagem paga...
AP – Eles não publicaram?
PCO - Não, não. O nosso Comunicado é um protesto contra isto... Eu não recrimino, porque eu
percebo bem que um proprietário de jornal na França pode passar de um momento
para outro para simples funcionário... Mas eu sou obrigado a constatar o fato.
Foi o que o nosso Comunicado diz. Mas apesar disso, na França, a nossa Mensagem
teve uma grande circulação.
Eu acho que esta
circulação, por via de osmose, terá pesado a favor do eleitorado anti-Mitterrand. Mas uma ação nossa procurando um eleitor
para não votar no Mitterrand, creio que tenha havido
nenhuma.
O homem de hoje é
quase maníaco de ação concreta. A TFP acha que quem desenvolve uma ação
ideológica ou de ambientação, quase que dá prova de fraqueza recorrendo a uma ação
concreta muito energicamente. O ambiente é que tem de fazer isso; os outros que
aproveitem, se quiserem.
AP - É
uma idéia interessante. Eu não tinha pensado.
PCO - Isso é assim!
AP - E’
muito mais poderoso criar um ambiente do que...
PCO - Sobretudo quando é um ambiente criado honestamente, por
propaganda doutrinária. Mas no momento e com as formas propagandísticas
capazes de sugerir.
AP - Eu
estava pensando nisso: as grandes razões do fracasso da esquerda aqui no Brasil
é que nunca criou ambiente.
PCO - Nada.
AP -
Nunca. Falando da campanha [de difusão da Mensagem e do Comunicado] nos jornais europeus e norte-americanos, o Sr. poderia me
dizer quanto custou?
PCO - Não tenho cômputo total, porque como as TFPs são
independentes e cada uma delas ficou de arranjar os seus doadores, eu
precisaria fazer um cálculo.
AP - Mas
foi pago em cada país por cada...
PCO - Cada país encontrou seus doadores. Aliás, é preciso
acrescentar que a TFP brasileira - e eu estou certo que todas as outras TFPs
também - a qualquer autoridade com poderes suficientes para investigar, dá o
nome desses doadores a qualquer momento, não tem nenhuma dificuldade. Não tem
nada de oculto nisso. Nós respeitamos a “privacy” de
nossos doadores. Mas para autoridade, não [há qualquer dificuldade em lhes
fornecer].
AP -
Claro. Eu acho que o Partido Socialista da França foi citado pelo “Jornal do Brasil”
e pela “Isto é”, dizendo que custou mais ou menos um milhão e 500 milhões de
dólares a 2 milhões. E “Isto é” dá 1.500 milhões. Seria por aí?
PCO - Eu sou um homem tão alheio às finanças que não administro
sequer as da TFP brasileira. Pelos estatutos, a TFP brasileira é bicéfala: tem
uma diretoria intelectual e social. Eu sou Presidente. E uma diretoria
financeira autônoma. De maneira que quando o Sr. fala de dólares, já me custa
fazer a conversão em cruzeiros.
AP - Ah! Ah!
PCO - É um mundo que não é o meu.
AP -
Poderia me historiar um pouco a campanha de denunciar a autogestão francesa,
onde começou a idéia?
PCO - A idéia começou aqui no Brasil. Eu sou o autor da Mensagem.
Caíram-me nas mãos, por circunstâncias fortuitas, pronunciamentos do Partido Socialista
Francês e eu percebi que eram pronunciamentos muito mais claros e muito mais
metódicos do que de muitos outros partidos socialistas que há por aí, que
repetem o jargão mais ou menos utópico: “igualdade para todos”, “bem estar para
o povo”... essa coisas que querem dizer tudo, mas que não são um programa, são anseios, são desejos.
Bom, quando vi que era
mais definido, resolvi estudar.
Estudando, percebei
que era toda uma doutrina, uma concepção do homem, etc., etc., etc., e me
espantou porque eu conhecia a atitude de inteira eqüidistância do Episcopado
francês em relação ao socialismo com as outras correntes.
Então eu fiz o
paralelo com a doutrina católica, Encontrando a contradição, eu redigi um texto
e propus às outras TFPs que lançássemos juntos. Depois, promovemos a tradução e
a publicação.
O que é Fernando?
(FA- Já completou o tempo.)
AP - Já?
(FA- Já.)
PCO - Eu tenho outros compromissos, ouviu. Aliás, se o jornal de Dallas aproveitar o que está aí, dá um número especial do
jornal.
AP - Ok. Duas perguntas que o Sr. talvez gostaria de responder:
notei umas referências à importância da autoridade...
PCO - Civil ou eclesiástica? Ou autoridade dentro da TFP?
AP -
Social, civil, acho que sim.
PCO - Autoridade política do país?
AP -
Hierarquia, autoridade dentro da sociedade, dentro da cultura. Não entendi a
importância. Por que a importância da autoridade?
PCO - Tudo isso se baseia numa concepção a respeito... há um
ponto em que todos estão de acordo, e depois nascem os desacordos.
O ponto em que estão todos
de acordo é que aqueles que tem uma maior abundância de dotes de personalidade,
de inteligência, de caráter, do que for, de educação, de dinheiro, etc., etc.,
etc., tem aquilo como um bem para si próprio, mas também para o conjunto do
corpo social e que devem, portanto, fazer participar o conjunto do corpo social
desse benefício.
Agora, o modo de
distribuição desse benefício é que varia conforme as concepções. Na concepção
de São Tomás de Aquino, que nós adotamos, isso dá-se assim: quem tem, ou é muito
ou tem muito, constitui em torno de si outros que tem bastante mas menos e
ajudam esses outros. Esses outros vão ajudando outros menores. E, corpuscularmente isto chega até toda a sociedade. É uma
distribuição hierárquica.
Então, vamos dizer, um
pai e uma mãe dão uma esplêndida educação aos seus filhos. Essa educação, por
osmose, passa, já menos opulenta, para os primos e os amigos desses filhos.
Agora, esses primos e amigos desses filhos tem seus primos e seus amigos. Isso
vai descendo como vários jatos d’água sucessivos, uma coisa assim.
Hierarquicamente isso se distribui por toda sociedade.
Poderia se comparar à
raiz de uma árvore. Tem seus troncos e depois tem os fios até à capilaridade.
Isso, a nosso ver, a
distribuição por via hierárquica, é uma distribuição orgânica e eficaz.
Ao ver dos socialistas
e dos discípulos da Revolução Francesa em geral, o jeito é dividir. E no nosso
conceito seria a mesma coisa que, para beneficiar, por exemplo, uma larga zona
do campo com a sombra de uma árvore, cortar a árvore e cobrir essa zona com
pedaços da árvore. E muito melhor deixar a árvore crescer e deitar a sua
sombra.
Não sei se fui claro.
AP -
Muito claro. A outra coisa é que o Sr. falou em sensualidade e orgulho, ligou
isso com o comunismo de uma maneira que não entendi.
PCO - O orgulho leva o homem a não aceitar nenhuma superioridade.
Portanto, o auge do orgulho leva o homem a querer a igualdade completa.
A sensualidade leva o
homem a rejeitar freios para seu apetite sexual. O regime do amor livre no
comunismo é a expansão plena da sensualidade porque não tem nenhum freio.
AP - A
última vez que nós falamos...
PCO - Estou com o meu tempo esgotado. Uma pergunta ainda pode
por.
AP - Sua
opinião sobre o Papa, na última vez que falamos. Pelo que eu lembro, o Sr. falou
que não tinha uma opinião definida naquela época.
PCO - É verdade.
AP -
Ainda não tem? Ou é possível dizer se ele está ...
PCO - Ele teve um hiato muito grande no pontificado dele com o
período desse atentado criminoso contra ele. Depois ele ficou... os fatos não
mudaram tanto que me desse uma definição. Realmente há coisas no pontificado
dele que estão para se definir.
AP - O Sr.
acha que existe a possibilidade de ter que enfrentar, com luta armada,
comunistas aqui no Brasil?
PCO - Não creio. Os comunistas aqui no Brasil são numa quantidade
insignificante, não valem nada como poder. Poder que eles tem é um setor da
burguesia, setor mais alto da burguesia e do clero que dão apoio ao comunismo.
A revolução comunista
no Brasil é uma revolução de sacristia e de clube de luxo.
AP - Ah!
Ah! Estávamos falando da esquerda festiva.
PCO - Esquerda festiva que continua, hein?
O Sr. vai aos grandes clube de São Paulo, dos outros lugares, o que o Sr.
encontra é mais ou menos isso, ao lado de muitos que não são comunistas, é
claro.
(Dr. PB deixa com o repórter o seguinte material:
Lista dos jornais que publicaram a Mensagem, um exemplar de “New York Times” com a Mensagem, um exemplar de “Revolução e
Contra-Revolução” e os artigos do prof. Plínio: “Mitterrand
na América Latina”, “Cardeal responde, a TFP reage”, material este que o
repórter havia pedido.)
AP -
Agora, a TFP tem planos para outras campanhas no exterior?
PCO - Não. No momento não. Depende do que o outro lado for
fazendo.
(Dr. PB- Está acabando a fita.)
PCO - É, pode acabar. A entrevista acabou.