Plinio Corrêa de Oliveira
Comentários sobre a Ressurreição "Santo do Dia", 05 de abril de 1969 |
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A D V E R T Ê N C I A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Devido ao estado original da gravação alguns trechos, e o fim da mesma, estão truncados. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
Comentário sobre a Ressurreição * A hora da Ressurreição e a relação com a natureza criada por Deus * A beleza dos anjos, a majestade do terremoto * O amor das santas mulheres e de Santa Maria Madalena * São Pedro e São João: hierarquia e distância psíquica * O Coração de Jesus rompido em dois por amor aos homens * Nossa Senhora e a Ressurreição: sua adesão à vontade de Deus na redenção da humanidade e sua alegria indizível com a ressurreição de Nosso Senhor
Muito simbolicamente, a Providência permitiu que pelo jogo natural dos fenômenos meteorológicos, caísse uma tempestade tremenda, pouco depois do nosso sino ter anunciado a ressurreição de Nosso Senhor - e nós estarmos aqui nessa paz, no esplendor dessas luzes, na beleza de nossa sede, na quietude da alegria de nosso convívio fraterno, aos pés de Nosso Senhor - de tal maneira se estabelecesse um contraste chocante entra o que vai aqui e o que vai lá fora. Parece-me que esse contraste tem algo que representa um ensinamento: nós compreendermos, de um lado, a diferença que vai entre a vida do Católico praticante, por mais que essa vida possa comportar provações, possa comportar tormentos, possa comportar, às vezes, dificuldades, e depois, aquilo que vai pelo mundo. Junto à relíquia do Santo Lenho, à coroa de espinhos, aos cravos — que são cópias dos cravos da Paixão —, à coroa de Nossa Senhora, esse contraste produz necessariamente em nós um sentimento de gratidão a Nossa Senhora, porque Ela tão imerecidamente nos chamou para essa situação, para esse aconchego, para essa proteção, para esse brilho no meio das trevas, para essa segurança no meio da tormenta, essa missão numa hora em que todo o mundo abandona a missão que deve ter. O resto das considerações nós vamos limitar ao comentário do Evangelho que corresponde ao dia de hoje. É tirado da “Concordância dos Santos Evangelhos”, de Dom Duarte [Leopoldo e Silva].
Este lindíssimo Evangelho da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo está tão cheio de ensinamentos nas linhas gerais e nos pormenores, que se teria a tentação de comentar tudo. Evidentemente, a concisão me obriga a não fazer [tal] comentário. Mas me parece que, como a linha geral é bastante conhecida, é mais interessante irmos comentando daqui, de lá e de acolá um ou outro pormenor, que seja ilustrativo. Então, eu repito e vou comentando.
A gente se pergunta: três Marias. Onde está a outra Maria? Onde está Nossa Senhora? Vê-se que a dor dela era tão grande, o recolhimento dela era tão grande, a esperança dela era tão grande, que Ela pairava por cima de todas as circunstâncias concretas e de todas as providências concretas, mesmo as mais augustas, mesmo as que mais dissessem respeito ao corpo de Seu divino Filho. Ela estava num recolhimento, Ela estava fora e acima de todos os acontecimentos. E, por causa disso, as outras a serviam e faziam por Ela, por mediação dEla, por instigação dEla, pelas ordens dEla, aquilo que Ela mesma quisera fazer. Devemos imaginar Nossa Senhora num estado excelso de recolhimento, em que toda a dor da Igreja, em que todo o júbilo da Igreja, toda esperança da Igreja estavam concentrados, para depois serem distribuídos para todos os fiéis ao longo de todos os tempos. E é por causa disso que aquela que é, depois de Nosso Senhor, o centro da ressurreição, — porque Ela é aquela sobre a qual todas as alegrias e as glórias da ressurreição convergiram de Nosso Senhor como sobre um foco central —, dela não se diz nem uma palavra, porque Ela é superior a todo o louvor, é superior a toda referência, é superior a qualquer menção. Ela paira acima de tudo. Cabe-nos apenas pensar nisso e continuar reverentes a narração. Porque na soleira da ponta do quarto onde estava Nossa Senhora não penetrou o cronista do Evangelho e também nós não somos dignos de penetrar. É apenas sentir esse perfume da devoção de Nossa Senhora do lado de fora, nos enlevarmos e passarmos. Essa é a razão do silêncio desse Evangelho a respeito de Nossa Senhora.
Vejam que coisa bonita! Elas chegaram ao sepulcro quando raiava o dia! Porque a alegria pascal tem qualquer coisa de matinal. Nosso Senhor, que sai de dentro da morte, é simbolizado como o sol que se levanta de dentro da noite. Os senhores já pensaram a primeira noite de Adão? Quando ele viu cair as trevas sobre o mundo, e ele depois adormeceu. O medo de que nunca mais as coisas se reparassem..., voltassem ao que eram. E quando ele viu o sol surgir de novo, de dentro da noite, e que ele viu esse esplendor, o pensamento da ressurreição! Nosso Senhor era o sol que saía de dentro da morte, e aquelas que foram tomar conhecimento dele chegaram ao sepulcro exatamente no momento em que o símbolo figurava a realidade que se tinha passado. Aí os senhores vêem como Nosso Senhor ama a natureza que Ele criou! Como Ele gosta de fazer todas as coisas em consonância com a natureza, e dando valor ao símbolo de que Ele mesmo é o autor. Então os senhores compreendem também, adequadamente, porque o Evangelho menciona essa hora. Todas essas coisas têm um mundo de sentidos místicos, de sentidos alegóricos, de sentidos reais. Aqui está um desses significados. Elas levavam perfumes que tinham preparado para isso. Isso nos lembra exatamente aquele dito de Nosso Senhor: que o corpo dele recebeu o perfume daquela mulher, e estava já sendo preparado para a sepultura. Os cadáveres eram aromatizados com perfumes. Elas estavam tão certas, tão esquecidas da profecia da ressurreição, e tão certas de que Nosso Senhor não tinha ressuscitado, que levavam tudo, o ungüento, para ungir o cadáver. Elas chegaram lá e encontraram um Deus ressuscitado! Os senhores estão vendo como era razoável que Nossa Senhora pairasse acima dos acontecimentos. Nossa Senhora sabia que Ele não seria encontrado lá. Nossa Senhora tinha que incentivar o ato de piedade delas, mas Ela não podia participar desse ato, que não correspondia ao que Ela sabia. Então, elas foram com seus perfumes. Esses perfumes eram uma expressão da alma delas. Quem oferece perfumes é porque tem amor e gostaria que sua alma subisse a Deus como um perfume de um odor suave. Elas levavam ungüentos perfumados para ungir a Nosso Senhor. Agora vejam, de outro lado, a confiança dessas mulheres! Elas sabiam que havia uma pedra muito pesada lá. Elas podiam temer perseguições e a tarefa que elas iam fazer era impossível. Mas nada as deteve. Elas confiaram em que obedecendo à voz interior da graça não seria uma pedra que lhes haveria de atrapalhar. Quantas vezes a graça nos chama para alguma coisa, e nós dizemos: ‘mas quem tirará uma pedra tão pesada de nosso caminho?’ A resposta é essa: contemos com Nosso Senhor, porque se a graça nos chama para lá, não há pedra que alguém não afaste. No caso concreto, os anjos afastaram a pedra. Quantas vezes os anjos têm afastado pedras do nosso caminho! Confiança e caminhar de encontro a todas as pedras, porque os anjos as removerão para nós por ordem de Nossa Senhora.
Os senhores não imaginam como eu sinto não ter o mínimo talento para pintura... Porque eu gostaria de saber pintar isso. É a imagem - ou ao menos uma das imagens - que eu faço de um anjo. E é um anjo descrito pelo próprio Espírito Santo. Pode haver uma coisa mais gloriosa, mais espiritual, mais casta, mais forte, do que um espírito que é como um relâmpago, mas vestido como a neve! É a força e a pureza da alma que se entregou a Nossa Senhora! É um dos símbolos do varão verdadeiramente católico! É uma descrição dos Apóstolos dos últimos tempos que devem ser verdadeiramente anjos. Que ideal para nós, que tantas vezes somos moles, somos fracos, somos tíbios… Pedir a Nossa Senhora que nos faça como anjos da ressurreição. E... uma pedra no caminho para que o reino de Maria se implante. Oxalá fossemos nós esse anjo! Anjo forte, majestoso como o relâmpago, puro como a neve, que empurra de lado a pedra da Revolução e faz com que a Contra-revolução, com seus ungüentos, chegue até o lugar da ressurreição! Os senhores vejam outra coisa interessante: a presença do anjo causar um terremoto! Por quê a presença do anjo causa um terremoto? É tal a superioridade de natureza do anjo, é tal a sua grandeza, que há uma espécie de incongruência entre a natureza e ele. E compreende-se que na proximidade de certos anjos, a matéria estremeça, a sua fragilidade estremeça. Mas bendita a terra que tremeu pela presença do anjo! Bendito o anjo que fez tremer a terra! Essa é a terra que treme para dar glória a Deus, depois de ter tremido de indignação por causa do deicídio que tinha sido realizado! Entre os dois terremotos há uma espécie de harmonia, de simetria: o terremoto do castigo, mas depois o terremoto da graça; o terremoto da presença do anjo, da reconciliação e da aliança. São sois fatos tão grandes, que eram dignos de serem celebrados por terremotos!
Os guardas viram o anjo. Ficaram como mortos.
É uma coisa curiosa, mas tem-se a impressão de que [ela] não sentiu o terremoto! E nem viu o anjo na sua natureza angélica. Mas viu que o sepulcro estava aberto. Das três, aquela que o Espírito Santo, no Evangelho, fala que amava Nosso Senhor, é Maria Madalena. Os senhores vejam que coisa bonita! Em vez de ter a coragem de entrar no sepulcro, ela entendeu que o fato era tão augusto, que não cumpria a ela fazer isso. É o senso hierárquico e antiigualitário da Igreja que se manifesta desde esses albores, apesar de alguns miseráveis falarem da igualdade na Igreja das catacumbas. Ela não faz isso. Ela vai correndo falar com o chefe da Igreja. Ela vai contar que ela viu, para que aquele tome as providências que as circunstâncias pedem, porque não é a ela que cabe. Vejam, de um lado, toda a beleza do papel do sexo feminino: o amor que leva o ungüento que... constituiu dentro da Igreja. Mas vejam a jurisdição do homem e a jurisdição de São Pedro, da Hierarquia. Acontece o fato. Ela, que estava com o coração trasbordante do amor, vai falar com ele. Agora os senhores vão ver como esse senso de hierarquia não dá falta de distância psíquica jamais, mas dentro da efervescência da hora não perde em absoluto seus direitos. Os senhores vão ver o resto da narração como continua. Ela disse:
Ela olhou, ela não entrou. Ela foi logo avisar.
Elas tiveram menos a idéia de hierarquia, ou sabendo que a hierarquia fora avisada, elas então entraram. Algumas coisas são assim, mas é bonito que o primeiro pensamento foi para São Pedro.
Quer dizer, os anjos tomaram formas de homens e para nós compreendermos o que eram essas roupas deslumbrantes, nós temos que nos lembrar como eram as roupas daquele tempo. Nós não podemos imaginar dois anjos vestidos com paletó e com as calças que os senhores estão, e muito menos vestidos com as infames roupas de malandro de hoje. Porque é inimaginável um anjo aparecer de paletó refulgente e de gravata deslumbrante. Há uma tal vilania nos nossos trajes que não ousamos fazer monumentos com nossos trajes. Quem é que faz um monumento em bronze com uma pessoa com calça, paletozinho, bengalinha? Não é possível! Eram túnicas que se usavam naquele tempo, e essas têm dignidade. E então, apareceram dois anjos com formas de homens, de modo alvinitente, brilhantes, e eles se põem a falar. O que é muito bonito é vermos que os dois falam como um e é um cântico como mais ou menos nós vimos há pouco. Quer dizer, dois cantam uma só coisa. Eles representam, evidentemente, todos os coros dos anjos. Esses dois aqui indicam a pluralidade de anjos empenhados na missão, e naturalmente, as vozes deles não seriam duas vozes iguais, mas duas vozes que se faziam na harmonia. E o Evangelho não fala em música, nem em canto. Deveria ser uma proclamação. Eram dois arautos que anunciavam, portanto, esse fato. O mais engraçado é que no fim eles falam no singular como se fosse um só: ‘tal missão me foi dada’. Tal é o uníssono deles, e tal é a união das almas que amam a Deus. Aqui vem então a mensagem deles.
Há uma certa censura na pergunta; uma certa censura no meio dessa alegria. Por quê procurais entre os mortos Aquele que está vivo? Os senhores vão ver desenvolver-se o pensamento a respeito.
Aqui vem a coisa: "como tinha dito". Recordai-vos do que vos disse Ele. Recordai-vos. Há uma certa censura àquela insuficiência de fé que, com exceção de Nossa Senhora, teve toda aquela gente: quando estava na Galiléia Ele disse. Agora, as palavras de Nosso Senhor, citadas pelo anjo:
Foi a citação, como quem diz ‘essas foram as palavras - lembrai-vos agora e confundi-vos’. Mas isso era dito de tal maneira que, sendo uma lição, não era, entretanto, para produzir, no momento, uma contrição. Tanto é que a gente vê que em vez delas sentirem contrição, sentiram alegria. Elas começaram a se alegrar.
Os anjos confirmam: a missão delas não fazia... com a missão de Madalena. A missão de Madalena era dizer que o sepulcro estava vazio. Elas deviam dizer que dois anjos apareceram e que anunciaram a ressurreição. Agora, porque os anjos não falaram a Pedro, os senhores estão vendo que se pode fazer a conjetura: aquelas que foram fiéis ao pé de cruz receberam a mensagem. Aquele que não estava lá presente, não recebeu a mensagem. Era o papa, era o príncipe dos apóstolos: não recebeu a mensagem. Alguém me dirá: ‘mas por quê? São João Evangelista então não estava presente?’ Os senhores vão ver que ele faz questão de dar preeminência a São Pedro. A narração seguinte estabelece isso:
Quer dizer, o anjo também mandou um recado aos apóstolos.
Quer dizer, é claríssimo que elas tinham ouvido, que sabiam e tinham esquecido. Dentro da agonia e da angústia, se elas fossem a geração nova, a gente podia dizer que elas tinham perdido a distância psíquica e tinham ignorado as palavras de Nosso Senhor.
Mas não é um medo de castigo. A gente entrevê que é o contato com a coisa augusta, com a coisa enorme. Elas ficaram quietas. Agiram bem ou agiram mal? Eu não encontro, no Evangelho, esclarecimentos para isso.
Mas eles tinham notícia da outra, que o sepulcro estava vazio.
Agora vejam quão significativo é:
É claro que pode ser que São Pedro fosse mais velho, que ele estivesse um pouco estropiado, eu compreendo bem. O fato é que o que amava mais, corria mais. O amor corre…
O amor levou a ir depressa, mas é o mesmo amor que o levou a dar precedência àquele a quem Nosso Senhor tinha dado a precedência. Ele não entrou. Esperou que São Pedro entrasse. Os senhores vêem como está aqui o espírito hierárquico da Igreja e como o tal correr dele não era um correr sem distância psíquica. Era um correr cheio de ordem, era uma pressa cheia de falta de pressa. Era tão equilibrado, tão santo — animam suam in manu sua tenet — segurando a própria alma na mãos, que era hora de chegar —, que é quando o homem da geração nova está mais embalado —, ele parou. Ele pára e espera São Pedro chegar. Quanto respeito, quanta reverência! Mas tudo passou pela história.
Coisa repisada, ‘que o seguia’; isso é dito várias vezes,
Os senhores vêem a beleza do respeito ao corpo humano e, portanto, ao corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Há uma dignidade de cabeça, há uma dignidade da fronte, há uma dignidade da face, que é algo de especial no homem. E por causa disto, o sudário, que tocou na face, não estava colocado junto com os outros panos. Mais ainda: os panos estavam no chão. O sudário estava num lugar à parte. A gente entrevê que era um lugar mais distinto. Talvez uma anfractuosidade da pedra, talvez alguma outra coisa assim, ali estava o sudário. Fica-se abismado, porque Nosso Senhor Jesus Cristo é todo Ele adorável. Pudéssemos nós oscular qualquer parte de seu corpo, a planta de seus pés sagrados, seria uma honra que nós jamais mereceríamos. Pois dentro do sagrado há como que uma distinção. O sudário estava colocado de lado. O sudário estava posto em outro lugar. Isso encontra consonância com uma coisa que eu sempre pensei: é que o santo Sudário de Turim não era esse sudário. O santo Sudário de Turim tem a face e o corpo inteiro. E ainda uma notícia publicada nos jornais ontem, transcrevendo um artigo do “Osservatore de la Domenica”, dando os estudos de um médico sobre esse assunto, dizia que o médico que, à la européia, estudou durante 40 anos o Santo Sudário de Turim (isso é muito europeu), chegou à conclusão de que ele, sudário de Turim, é a mortalha em que Ele foi envolto, mas não é o sudário que tocou na Sua face. Não é, portanto, o pano que O recobria por ocasião da ressurreição. A notícia dizia uma coisa que para quem tem entranhas e tem um pingo de sentimento, é sumamente tocante e alimenta extraordinariamente a devoção ao Sacratíssimo Coração de Jesus. A notícia dizia que esse médico sustentava que a causa mortis de Nosso Senhor foi que, de sofrimento, o seu coração físico, de carne, rompeu-se em dois. E dá lá uma explicação médica, que eu não seria capaz de repetir aqui. Enfim, nessas ou naquelas condições, com uma dor extrema, o coração se rompe. E com o coração que se rompeu, Ele morreu. Impressionante que, como o coração, cindiu-se o véu do Templo. Agora, os senhores vejam que prova mais tocante de amor a nós Ele poderia dar, do que de um coração que por amor de nós se rompe em dois! O que mais nós esperamos? O que mais nós podemos imaginar? Eu gostaria que isso pudesse ser comprovado, para que se pudesse pôr uma invocação especial na Ladainha do Sagrado Coração de Jesus: “Ó Coração [que] se rompeu em dois…" Se isso é verdade, os senhores podem imaginar o que sofreu Nossa Senhora que, com certeza, soube disso, quando Ela soube que o coração do Filho dela se rompeu em dois?... Pensem na mãe de qualquer um de nós, o que ela sentiria se soubesse que seu filho sofreu tanto que morreu porque seu coração se partiu! Normalmente, eu penso na minha, ela morreria. Assim são as mães! Como era Nossa Senhora? O que Ela sofreu nessa ocasião? Quantas mortes Ela teria preferido sofrer a passar por isso. Mas Ela quis isso. Ela quis que o Coração dele eventualmente se tenha partido em dois. Porque se era esse o desígnio de Deus para nossa redenção, tanto, tanto, tanto Ela quis nossa redenção, que Ela terá querido isso. Mas ‘nossa’ é um modo de dizer. Ainda que fosse só a minha, tudo isso teria por Deus sido dado por bem empregado. De maneira que cada um de nós deve raciocinar a respeito desse fato como se o fato tivesse ocorrido só em favor de si. E nós compreendemos aqui o que é a doçura do Coração de Jesus. Porque depois disso vem a redenção, vem o perdão, vem Pentecostes, vem a Igreja, vem, enfim, toda a suavidade da civilização cristã, toda a grandeza da civilização cristã. Aqui os senhores compreendem o que essas coisas querem dizer. Como isso é impressionante!
O Evangelho repisa bem: “depois e só depois entrou o discípulo fiel”. São João, se fosse orgulhoso, teria podido dizer: “Bem, São Pedro é o chefe, mas eu tenho o direito. Quem estava ao pé da cruz não era eu? Agora chegou minha vez! Eu vou lá”. Não. Então e só então... Porque esse era o chefe. Aquele que ama é verdadeiramente assim. Ele não quer o primeiro lugar. Ele quer amar. E ainda que aquele a quem ele ama queira dar o primeiro lugar a outro, ele quer isso e quer aquele primeiro lugar para o outro. Porque ele soube amar. Que lição para nós!
A gente fica pasmo: Viu e acreditou! Ele deixa entender que com todo o amor dele, foi naquela hora que ele acreditou. E era o discípulo amado!
O pito das mulheres foi bastante grande para que a gente entenda a referência a eles. Tanto mais que eles ainda não compreendiam.
Por que voltaram? Porque Nosso Senhor disse que ia aparecer de novo para eles na Galiléia.
Como é curiosa essa referência! Nesta hora lembrar isso! Mas é que é a vitória dele sobre o demônio. E a identificação é aquela para quem Ele fez tão grande bem, aquela na qual Ele fez uma tão grande maravilha. É a beleza da contrição e do perdão. Primeiro apareceu para ela. Os senhores estão vendo que há um primeiro-primeiro, que é o primeiro superprimeiro. Quem é que foi a primeira a quem Ele apareceu? Os senhores já estão vendo: na primeira hora, o primeiro raio de beleza, o primeiro momento evidentemente foi para Nossa Senhora (*). A gente costuma contemplar o encontro de Nosso Senhor com Nossa Senhora na Via Crucis. Eu não conheço coisa mais bonita. Mas eu conheço uma coisa tão bonita: é o encontro dela com Ele ressuscitado! A alegria dela, o Magnificat dela, o que isso terá sido? Só no Céu é que nós poderemos saber.
Por que isso? Não parece ter alguma relação com a espessura deles a respeito da Escritura. Quanta coisa ela se lembrou quando Ele disse para ela: Maria! Aquelas mil vezes em que Ele disse para ela, com afeto, ‘Maria’, aquilo tudo acordou na alma dela. Então, ela entendeu. E ela disse logo aquilo que, com certeza, mil vezes tinha dito para Ele: ‘Mestre’, Raboni.
A gente vê que ela queria ir de encontro a Ele. Os senhores vêem que linda intimidade dela com Ele! Ela O viu, queria ir de encontro a Ele. Com certeza quis segurá-lo, quis beijar as mãos, qualquer coisa assim, ou os pés. E Ele disse essa palavra: “Não me toques”, e deu a razão: porque ainda não subi para meu Pai. Razão, para mim, um tanto misteriosa. Sublime e misteriosa. Há uma grandeza nisso... Há toda a distância entre essa vida e a outra vida: “Eu não subi ainda para o meu Pai, mas eu já estou do outro lado do rio da morte. O rio da morte continua a correr entre nós. Embora eu esteja ressuscitado, eu não estou ressuscitado para essa vida. Eu estou ressuscitado para o Céu. Não me toques”.
Olhem o afeto, chamando os Apóstolos de irmãos.
Estava pronunciado o perdão e as coisas continuavam no diapasão da alegria.
(*) Sobre uma primeira aparição de Nosso Senhor à Virgem Santíssima ver aqui.
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