Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

Itália de hoje e de ontem:

rico mosaico

 

 

 

Catolicismo, N° 599 - Dezembro 2000 (*)

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Dizem que o italiano representa muito, que é bastante teatral. E que ele exclama e pensa de modo exuberante, bem como fala com muita extroversão. E, em vista disso, ele se torna sobremaneira interessante e luzidio. A meu ver, isso é um tanto exagerado, porque o italiano do Norte é muito menos extrovertido e mais cauto do que o italiano do Centro e do Sul. 

Analisando figuras de Doges venezianos, nota-se que foram homens inteligentíssimos. Eu não ousaria dizer que foram boníssimos. Mas eram personalidades com uma capacidade de portar em si o mistério, que faz o encanto de Veneza. Se Veneza não fosse tão misteriosa, ela perderia uma parte do seu encanto.

Em contraste com aquela espécie de laguna – um braço de mar, em que a água nos dias normais é cor de água-marinha, uma verdadeira beleza – tem-se a impressão de que, por detrás das janelas ogivais, com cortinas faustosas, há um olho que analisa, que conclui, que toma notas, que cochicha e que conspira...

*    *    *

Se a política de grande estilo – talvez o maior voo que a politicagem tenha dado na História do mundo – seja própria aos venezianos, a mentalidade bancária é própria dos piemonteses. Não tem conversa, não tem poesia: pão-pão, queijo-queijo. São muito secos, muito observadores, analisando as coisas com objetividade.

Não se pode dizer o mesmo do napolitano e do calabrês. É o Vesúvio, a pizza etc. Neles, a imaginação é verdadeiramente a dona!

Assim, tantos são os gêneros de italianos, que se poderia compará-los, tomados em seu conjunto, a um precioso mosaico.

Quanto ao passado, cabe dizer uma palavra sobre a Itália.

Se analisarmos a Roma Sparita – isto é, a Roma desaparecida, anterior à unificação italiana do século XIX –, vivia ela sobre as ruínas da Roma antiga, cantando essas ruínas. Mas com a noção de que, apresentando tais escombros encaixados em coisas novas, fazia uma obra que, "genere suo" [no seu gênero], era tão grande quanto a dos antigos romanos. Não era um império, mas uma equipe intelectual que deu origem à difusão do espírito italiano no mundo. Teve maior importância que a expansão do Império Romano a propagação decorrente do Renascimento e do Humanismo.

Nesse sentido, a Itália está para o Renascimento e o Humanismo como a França para a Revolução Francesa, como a Alemanha para as correntes filosóficas dos séculos XIX e XX; e como  Espanha e Portugal estão para a Contra-Reforma. 

(*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio para sócios e cooperadores da TFP, em 6 de maio de 1990. Sem revisão do autor.

N.B. No texto acima, o Autor refere-se à expansão do Renascimento e do Humanismo, da Revolução Francesa e das escolas filosóficas alemãs sem entrar no mérito desses movimentos, que ele critica fortemente em várias de suas obras. Por outro lado, ele sempre mostrou-se entusiasta da Contra-Reforma. Aqui, porém, todos esses movimentos são vistos indistintamente sob o ângulo da expansão universal  que tiveram, e não de seu conteúdo. 

O que é um Doge?

Doge era o título do Chefe eleito da República de Veneza ou da República de Gênova, regimes vigentes ao norte da Itália desde a Idade Média até fins do século XVIII.

O Doge era inicialmente eleito, de modo vitalício, pelo povo, em nome do qual exercia um poder patriarcal e quase absoluto até o séc. XII. A partir de então, a autoridade do Doge em Veneza foi reduzida pela aristocracia, que confiou sua eleição a 40 eleitores nobres pertencentes ao Grande Conselho (1172).

A função de Doge desapareceu em 1797, após a queda da República de Veneza. Em Gênova, o título de Doge foi usado, a partir de 1339, pelo primeiro-magistrado da cidade. Foi abolido quando da elevação de Gênova a República Liguriana (1797).


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