Plinio Corrêa de Oliveira
Grécia antiga: desejo de harmonia até à perfeição
Catolicismo, N° 579 - Abril de 1999 (*) |
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Atenas - Reconstrução da Acrópole e do Areópago (Leo von Klenze, 1846) Atenas, a mais culta e brilhante das cidades gregas, na Antiguidade, teve origem curiosa. Fustel de Coulanges, em sua famosa obra La Cité Antique (A Cidade Antiga) descreve muito bem a formação das cidades antigas. Explica ele que, bem primitivamente, havia tribos, provavelmente nômades, naquela região da Grécia antiga. Estas fixaram-se, em determinado momento, passando a cultivar a terra. Tais tribos dependiam, cada uma delas, de um patriarca, isto é, de um homem que descendia das primeiras famílias, do tempo em que estas eram nômades. Aquela sociedade não era ainda um Estado, mas sim uma enorme família, um projeto de Estado – um patriarcado. Quando começou a nascer a cidadezinha Atenas, os chefes das várias tribos passaram a morar nela, e uma certa parentela destes continuaram a residir no campo. Tais patriarcas, quando tinham que resolver alguma coisa sobre a cidade, reuniam-se com sua descendência e decidiam. Era o povo ateniense todo que comparecia nas assembleias gerais: 400 a 500 homens. Como ninguém era rei, pois não havia um homem tão importante e de tanta categoria que os outros aceitassem como soberano, eles resolviam as questões mediante votação. E, como essa votação se decidia? Através de discursos. Então, em pequenas praças, mas de uma beleza que ficará célebre até o fim do mundo, ladeados pela harmonia – filha do desejo de perfeição –, nessas praças pronunciavam-se discursos para resolver o que deveria fazer o povo. O que era o povo? Era constituído pelos patriarcas e seus descendentes. Assim, o grande orador – inteligente, que argumentasse bem, falasse de forma harmônica, tivesse uma voz potente, soubesse sublinhar suas palavras por meio de gestos – tinha muita possibilidade de ser o verdadeiro rei de Atenas. Porque levava atrás de si, o que poderíamos chamar de assembleia patriarcal. * * * Atenas e outras cidades gregas foram crescendo. Pode-se dizer que a Grécia foi, em certa época, o far-west da Ásia. Ela está situada próximo da Ásia e os asiáticos civilizados empreendiam expedições à Grécia para comprar, por exemplo, azeitonas, azeite, ânforas de barro de uma cor avermelhada. Nelas os gregos pintavam figuras ao mesmo tempo simples, naturais e distintíssimas, que até hoje são admiradas em todos os museus bem equipados da Europa. A partir de então, foram se fixando na Grécia comerciantes de outros países. Estes comerciantes levavam suas famílias e iam se multiplicando. Tanto os comerciantes quanto os agricultores da Grécia compravam escravos. Estes provinham de outros povos, sendo que muitos deles eram prisioneiros de guerra. Assim, pouco a pouco, formaram-se três categorias sociais: 1- os patriarcas e seus descendentes; 2- os comerciantes, que eram imigrantes; 3- os escravos. Os patriarcas e seus descendentes não reconheciam como grego quem não descendesse deles. Não tinham os adventícios direito de votar nas assembleias, nem de fazer uso da palavra em público. Assim, a sociedade política em Atenas era formada pelos nobres. Aquela cidade era sua pátria e o patriarca era o pater - pai dos pais, o modelo dos pais.
Atenas - Partenon Os gregos possuíam talento para fazer coisas lindíssimas e até imortais sem gastar muito dinheiro. O que custa, por exemplo, levantar uma coluna? Mas, eles sabiam o que deve ter uma coluna para ser maravilhosa. Por exemplo, ir ela estreitando-se lentamente, de tal maneira que, em cima, seu diâmetro seja menor que o da base. Desta forma, tem-se então a impressão de que a coluna é mais alta do que na realidade ela é. Coluna lisa é sem graça: um tubo que não vale nada. É preciso fazer a coluna com adornos. Daí aparecer a coluna com aquelas reentrâncias e saliências. Para torná-la graciosa, o capitel que a encima. Os gregos confeccionaram colunas que se tornaram imortais. Às vezes, um templo inteiro ruiu, com a exceção de certa coluna que restou de pé: ela sozinha virou monumento histórico! Datam elas, às vezes, de primitivos tempos dos pequenos agricultores geniais, que passavam suas horas elaborando maravilhas desse tipo. O que tudo isso indica? A tendência profunda de tal povo para a harmonia. O estabelecer as relações entre os vários elementos de um todo, de maneira que este seja agradável de ver: isso é harmonia, conatural ao grego. (*) Excertos da conferência proferida pelo Prof. Plinio, para sócios e cooperadores da TFP, em 11 de janeiro de 1986. Sem revisão do autor. |