Plinio Corrêa de Oliveira
Comentários ao filme "Dialogue des Carmelites"
"Santo do Dia", 7 de setembro de 1977 |
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A D V E R T Ê N C I A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:
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Filme Dialogue des Carmelites
Em francês com legendas em português. Caso o seu browser tenha dificuldade em visualizar, clique em https://gloria.tv/video/6cKtM2VA3ZtLBQ9mAx88uayaD
* * * A Blanche é o tipo da atriz norte-americana, segundo os cânones daquele tempo, representando o papel de francesa. Mas é o tipo da atriz norte-americana do tempo em que o filme foi passado. Ela imita na perfeição a cara do que ela vai representar depois, que é a mulher meio psicopata. Este filme tem dois gumes: de um lado o enredo é bom, mas de outro lado ele facilita muito o mal. No fundo prega um verdadeiro heroísmo, mas deixa o heroísmo comum muito mal à vontade, vai um pouco na linha dos falsos dilemas. Em outros termos. O enredo do filme apóia uma forma de bem autêntica. Em termos de ortodoxia pode perfeitamente passar-se o que está projetado aqui. Mas é uma coisa tão excepcional, que deixa as formas comuns de bem muito mal à vontade. Sobretudo abre para o poltrão a esperança de - sem reação sobre si mesmo – seguir o mesmo caminho que a Blanche e ter o mesmo desfecho...
No fim da fita aparecem aquelas nuvens que passam: é a trans-esfera! É dessas grandes coisas, que depois do fato acabar, ainda permanece um eco dele nas nuvens que passam pelo céu. O que dizer? Não tem o que dizer, nem o que comentar...! (profundo silêncio). O que está próximo de nós é um martírio de outra natureza. É lutar, dentro das leis de Deus e dos homens, contra o revolucionário sentado ao nosso lado e com ares de católico. Não é outra coisa senão isso. E lutar em meio à pasmaceira geral, com um inimigo que gostaria de nos poupar, para fazer com que tudo fosse mirrando em torno, e acabássemos apostatando, não de medo de guilhotina, mas do desprezo geral e da incompreensão. Citei no outro dia, creio que foi até no artigo da “Folha” aquele episódio do Büllow [“Folha de S. Paulo”, Por um lugar ao sol, 28-8-1977], contando que os soldados alemães, de medo do ridículo, enfrentavam o tiroteio dos franceses, no batalhão dele, durante a guerra de 70. Nós vamos ter que enfrentar uma coisa pior do que a guilhotina: é a incompreensão e o ridículo. Já estamos enfrentando... De baixo de um certo ponto de vista, a nossa posição é parecida com a das carmelitas naquela carreta, cercados de incompreensão e de ridículo por toda a parte, mas percebendo que no meio daquela multidão que nos vaia, há algumas pessoas que de modo oculto racham de remorso e admiração. Neste exato momento nós ficamos impressionados com aquelas cenas, mas daqui a pouco estaremos respirando tranqüilamente e achando as nossas camas gostosas... E vamos perguntar a nós mesmos se não é verdade que é bom que tudo isto esteja tão longe! E vamos aceitar os trinta dinheiros que nos são oferecidos: a vidinha com essa intimidade, com essa serenidade, com essa despreocupação para o dia de amanhã... A vidinha! É verdade que o desprezo chove em cima, mas fazemos com ele mais ou menos como o caipira faz com a goteira dentro de casa: se começa a cair goteira perto dele, muda o catre para outro lado e continua a levar a vidinha dele. Pactua! A perseguição toda mudou de aspecto, está imensamente mais requintada, mais refinada. Entretanto, está se passando uma coisa imensamente bonita. Vimos o martírio daquelas que nos precederam com o sinal da fé (qui nos predecesserunt cum signum fidei) e somos os egressos de uma porção de situações materiais muito melhores do que a que temos aqui. Nós viemos, a bem dizer, recrutados de todas as tribos e de todas as nações. Encontramo-nos dentro deste salão, isolados e comparando os dois martírios. Um dia talvez se venha a dizer que não vale a pena derrubar este prédio porque nessa sala foi passada esta fita e feito este comentário, por aqueles que continuaram essas freiras, essas religiosas. Por causa dessas duas épocas históricas de perseguição que se oscularam! E por causa desse nosso mea culpa e desse nosso confiteor que sobe aos pés de Nossa Senhora nesse momento. Quem sabe? Uma coisa é salvar a própria alma; outra é realizar a missão! [ou seja, realizar a missão dada por Deus abarca obviamente salvar a própria alma, mas vai além disso] Até neste prédio há uma nota de tragédia... Uma diferença das carmelitas conosco: elas são chamadas para vítimas expiatórias.
Amar o Céu não é um puro não olhar para a terra e olhar só para o Céu, mas é querer que a terra seja para os homens o vestíbulo do Céu. E que a terra seja o meio de caminhar para o Céu. É a luta para realizar o Céu na terra, de maneira a termos depois o Céu: “Venha a nós o Vosso Reino”.
Foi um bálsamo ouvir falar em exaltação da Santa Igreja! Porque isso toca mais à nossa vocação do que uma simples fórmula genérica: “a glória de Deus”. A exaltação da Santa Igreja é certamente a glória de Deus, mas é uma forma de glória de Deus que faz a nossa alma crescer tanto!... Para encerrar. Foi lindo e creio que foi uma graça que tivéssemos assistido a essa fita juntos e comentado. Agora sou obrigado a olhar o relógio para ver se há mais um pouco de tempo para trabalhar pela exaltação da Santa Igreja... |