Plinio Corrêa de Oliveira

 

São Guilherme, abade e Fundador
 
O “flash” e a convicção do fundador de uma obra, mesmo quando ela parece fracassar

 

 

 

 

 

 

 

Santo do Dia, 25 de junho de 1976

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério tradicional da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

São Guilherme, Abade, Fundador. Basílica de São Pedro, Vaticano.

Temos uma ficha obtida na obra “Les Vies des Saints et fêtes de toute l’année” do Padre E. Daras:

"São Guilherme nasceu em 1085...”

Portanto em plena Idade Média.

“...numa cidade do Piemonte, de pais nobres e ricos. Muito jovem ainda, decidido a viver para Deus, fez peregrinação a Roma e depois retirou-se a um monte abrupto e elevado para viver como solitário. O monte era chamado Virgiliano. Guilherme reuniu discípulos e ergueu no local um mosteiro e uma igreja a Nossa Senhora. Esse santuário deu um novo nome à montanha: o monte da Virgem [Montevergine, n.d.c.]. Mas os monges, um dia, se indispuseram contra seu superior por causa de sua liberalidade para com os pobres”.

“Liberalidade” no sentido de dar muitas esmolas aos pobres.

Guilherme não deixou de orar por eles. Fundou outra casa e visitou o Reino de Nápoles, onde aconselhou sabiamente o soberano. Próximo de sua morte, voltou à sua primeira fundação, na qual encontrou grande disciplina e paz, devido, supõe-se, às suas infatigáveis preces. Morreu no dia 25 de junho de 1142 em Gulimeto. A Congregação chamada do Monte da Virgem não mais existe. Mas o mosteiro não desapareceu. Pertence à reforma de Nossa Senhora do Monte Cassino. Os religiosos usam hábito branco de São Guilherme para lembrar a sua união com este grande santo.

“Atestamos um admirável fenômeno garantido por autores sérios: Santa Virgem é um lugar consagrado à penitência e à dor. Aí não é permitido levar carne, ovos, leite e queijo. Ora, se algum visitante ou viajante procuram violar a proibição, vê-se logo formar uma tempestade com os relâmpagos e trovões que parecem querer exterminar aqueles que tentaram profanar a santidade do recolhimento conventual.

“Um prodígio análogo foi constatado no sagrado eremo dos camaldulenses, fundado por São Romualdo. Embora a temperatura nessa altitude seja sempre fresca, mesmo no rigor do verão, qualquer carne que alguém se atreva a introduzir no eremitério, no mesmo instante se corrompe e enche de vermes. A experiência foi feita várias vezes, mesmo em nossos dias. Assim Deus mostra, contra tudo e contra todos, que se deve manter as tradições de penitência e de austeridade legadas pelos grandes santos".

*

Esta ficha de santo do dia é muito bonita. Porque resultam - quando vista no seu verdadeiro contexto - harmonias admiráveis. Temos que nos lembrar da Idade Média na qual esse santo construiu seu mosteiro e levou essa vida que daqui a pouco vamos comentar.

A Idade Média, ao contrário do que muitos imaginam, foi uma vida de atividade intensa, e não só agrícola. O Império Romano tinha conseguido aproveitar agricolamente uma boa parte de seu próprio território, embora ainda tivesse muitas regiões não plantadas por insuficiência de população. Mas quando o Império Romano foi invadido pelos bárbaros, quase toda sua cultura tornou-se uma ruína, de maneira que tinha apenas com que manter miseravelmente a população ali residente.

De outro lado, toda a parte selvagem, ainda bárbara da Europa naturalmente não estava plantada.

A atividade agrícola da Idade Média foi tão intensa que a Europa se plantou de ponta a ponta e a agricultura cobriu o solo europeu chegando até à Rússia, a regiões portanto das quais os romanos não tinham a menor noção: a Suécia, a Noruega, a Dinamarca, o norte das ilhas britânicas etc.

Naturalmente, a agricultura traz consigo o comércio. A abundância das plantações leva a exportá-las, a permutar com outros artigos; começa também uma indústria caseira. Essa indústria se transforma depois numa indústria de estabelecimentos especiais e desligados da atmosfera doméstica.

As estradas se abrem, a polícia começa - não era propriamente polícia -, eram os cavaleiros andantes e outras forças locais também que concorreram para manterem a segurança nas estradas, impedindo os roubos, os assassinatos etc.

E os medievais viajavam muito, por exemplo o quanto viajavam com peregrinações, era uma coisa extraordinária. De toda a parte, de toda a Europa, peregrinos acorriam a Santiago de Compostela e certos trechos deles, em determinadas partes do ano, eram verdadeiras ruas, de tal maneira era intenso o tráfego de peregrinos que iam e vinham ao local da peregrinação.

De outro lado, havia uma grande atividade intelectual. Eu não tenho nada que dizer aos srs. a esse respeito, porque já conhecem bem.

Os srs. acrescentem a isso a atividade guerreira, tão glorificada, do ponto de vista das Cruzadas, pelos verdadeiros historiadores e tão denegrida, exagerada, se bem que com um fundo inegável de realidade, pelos adversários da Idade Média falando das guerras, inclusive das guerras domésticas entre famílias e famílias, casas e casas, feudos e feudos etc., os srs. têm a imagem da Idade Média como uma época borbulhante de vida.

A Igreja estava na raiz de toda essa vida. Não, é claro, dos abusos que de vez em quando dessa vida se fazia. E como a Igreja é fonte de toda espécie de harmonia e de perfeição, quando Ela impulsiona muito uma coisa numa determinada direção, vê-se que com uma serenidade, com uma sabedoria, com uma naturalidade que quase daria a impressão da irreflexão, a Igreja conserva a harmonia do corpo social, incentivando também o extremo harmônico daquilo que numa determinada direção Ela estimulou.

Dou aos senhores um exemplo: a Igreja estimulou extraordinariamente o trabalho intelectual na Idade Média. Todos nós sabemos disso. Mas Ela também estimulou muito o trabalho manual, que é o posto harmônico do trabalho intelectual. A Igreja estimulou muito toda essa movimentação do corpo social, mas por causa disso também, durante a Idade Média, estimulou continuamente que grandes famílias de almas se retirassem para lugares ermos e que vivessem completamente no isolamento, apenas uns com os outros.

Mais ainda: Ela estimulou durante toda a Idade Média que algumas almas não contentes com isto, se afastassem do convívio humano para viverem inteiramente sós. E ela continuou assim o eremismo absoluto que se conheceu na Antiguidade e que até hoje não morreu completamente na Igreja Católica.

É a diferença entre esse borbulhar de vitalidade e a vida tranquila, serena, meditativa de alguns eremitas que abandonavam tudo e que iam viver em lugares distantes, pensando apenas na ordem de coisas em que está Deus, motor imóvel; em que está a eternidade; em que estão as coisas em que o homem é levado a não cogitar pela superficialidade de espírito. O número desses eremitas era impressionante.

Há nisso uma harmonia que faz com que o corpo social e a alma dos homens se mantenham no verdadeiro ponto. Se a Igreja fosse falsa, estimularia demais o eremismo, ou demais a atividade, porque não teria em si o dom da santidade. Como a Igreja é verdadeira, estimula esses contrários harmônicos perfeitamente, e produz aquele equilíbrio de alma que é um dos frutos próprios da Igreja Católica.

Aqui os srs. têm o exemplo desse abade, São Guilherme. Era nobre, portanto, destinado como habitualmente o são todos de sua classe, para a vida de guerra e de corte; para uma vida de governo e de movimento. Os srs. veem que ele deixa tudo, com consentimento de seus pais, e vai para um lugar completamente ermo e solitário para aí glorificar a Nossa Senhora. Vai para estar garantido que não será importunado pelos cacetes, ele vai para uma alta montanha, fazer penitência.

Mas acontece essa coisa admirável: aonde há almas que verdadeiramente se isolam por amor de Deus, elas atraem. E como tantas e tantas vezes acontece ao longo da História da Igreja, em torno dos eremitas que se isolam se constituem comunidades. E muitas vezes, o eremita se transforma em cenobita, quer dizer, no chefe de um grupo, de um cenóbio, onde moram os cenobitas, quer dizer, os que levam a vida comum. E foi o que se deu com este santo. O exemplo dele atraiu. Poderia não atrair?...

Os srs. imaginem uma cavalaria fogosa que passa, depois outra cavalaria que vai correndo atrás; depois mais adiante é um grupo de estudantes que vai conversando, que vai rindo, que cantando; mais adiante, um grupo de peregrinos, entoando canções sacras etc. Tudo passa aos pés do monte. Lá no alto do monte, vamos imaginar, um Cruzeiro; aos pés, uma choupanazinha. Então se pergunta: quem é aquele? - Guilherme, o nobre, que deixou tudo e que vive lá só para rezar para Deus...

Quem é que não dirá “eu estou com vontade de ver Guilherme, o nobre”?... Os senhores riem porque passam pela mesma vontade que eu. Eu que não sou - mesmo antes desse acidente de automóvel - que não era de subir montanhas, para ver Guilherme o nobre, eu iria. Não havia montanha que me retivesse para ver um homem de tal maneira extraordinário.

Depois, circulam notícias: fulano com muitas necessidades, pediu um auxílio, Guilherme rezou com ele, na hora e saiu curado, com o problema esclarecido, saiu com a alma pacificada. Ou então fulano chegou no lugar onde ia tratar de um assunto arriscado e encontrou o assunto já resolvido etc...

Quer dizer, todo mundo fica com vontade de chegar lá e de rezar. Alguns ficam com vontade de ficar. Quem é que não compreende que fique com vontade de ficar?... Embaixo, o bulício da estrada medieval; em cima, aquela quietude e aquela companhia de Guilherme. Guilherme que reza; Guilherme que a gente vê de longe preparando lenha para acender o fogão; Guilherme que a gente ver varrer a gruta ou o lugar onde mora; Guilherme que a gente colhendo um fruto ou preparando uma refeição, e fazendo tudo tão direito, com tanta sabedoria, com tanta calma, com tanta piedade, com tanta compostura que a pessoa se sente pacificada por dentro, animada e arrojada, só por olhar Guilherme.

Lembro-me que o bem-aventurado Dom Rua [hoje canonizado, n.d.c.], o segundo Geral dos salesianos, sucessor de São João Bosco... quando São João Bosco era Geral, Dom Rua era seminarista. E ele, Dom Rua, era muito freqüentemente destacado para servir de secretário de São João Bosco. E lhe perguntaram se não se aborrecia de ser secretário de São João Bosco e não poder estudar durante esses dias. E ele teve um dito mais ou menos assim: três dias que eu passe servindo Dom Bosco, eu aprendo mais teologia do que estudando nos livros o ano inteiro.

Quem não julgaria que aprenderia o que é a Igreja vendo viver São Guilherme? Então, alguns dizem: “Eu fico. O que é tudo aquilo que eu deixei lá embaixo? Bobagem! Manda uma carta para todos com que tenho negócios e relações: ‘fiquei, estou ao lado de Guilherme, no lugar que não quero dizer qual é. Até logo. No Céu, nos encontraremos. Rezarei por você’. E está acabado...

Então, vai-se constituindo aos poucos um cenóbio.  Aí começa, então, uma ordem religiosa, começam as maravilhas de Guilherme.

Os srs. estão vendo que vem uma tristeza, uma das coisas mais trágicas que há: ele é pai de uma família religiosa e é expulso pelos seus religiosos que, com certeza, andavam mal e não davam glória a Nossa Senhora. Então, ele atrapalhava... E é tal o desvario da mente humana que os que tinham subido para viver com Guilherme, ficam em cima e mandam Guilherme para baixo. O que é, positivamente, o desatino dos desatinos!

Os srs. podem imaginar Guilherme descendo, sozinho, na estrada, apoiado num bordão. E a porta que se bate, o monge revoltado que grita: Afinal estamos sós e independentes, esse homem é severo demais. E ele, tranqüilo e rezando, desce para caminho desconhecido, uma estrada e caminha passo a passo para Nápoles. Aqueles sentem alívio porque não está mais lá. Mas quem pode expulsar um santo do lugar onde o santo quer ficar? Qual é a força comparável, nesta vida, à força de um santo? Ele não quer deixar que aqueles monges se percam.

Então, pelas estradas, vai andando e rezando por aqueles que ficam, para que Nossa Senhora expulse os demônios que ali entraram. Ela, sob cuja égide estava construído o mosteiro, para que expulse os que ali entraram, para que eles voltem a ser o que deviam ser. E tranqüilamente, serenamente, por essas ou aquelas razões - a ficha não nos indica - ele vai a Nápoles.

Nápoles: outro cenário. O srs. sabem que se diz em italiano uma frase que vou dizer errado porque eu não sei italiano: “vedere Napoli, poi morire”... é tão bela que é só ver Nápoles e depois morrer. Não há mais o que ver...

Os srs. podem imaginar São Guilherme que chega à baia célebre de Nápoles, o Vesúvio no fundo fumegando; que anda pela cidade populosa, pelo porto movimentado, que vê o palácio do rei de Nápoles, um dos potentados da península itálica. Nápoles, centro de cultura, centro de civilização, com certeza com uma corte em franco progresso, então, grande expansão de arte, de bom gosto.

Ele chega a esse lugar e não se sabe bem como, sua existência vem ter ao conhecimento do rei. E a vida desse homem se transforma. Fora abade, passa a peregrino; provavelmente, mendigo. Depois de mendigo passa a conselheiro do rei. Ei-lo com a mesma tranqüilidade, a mesma serenidade, a mesma sabedoria aconselhando o rei. Este que lhe pede conselhos, e ele andando de cá, de lá, de acolá, e o rei ouvindo com complacência e apreciando aquele que a loucura de uns monges desvairados tinham mandado até ele. Muitos subiram para encontrar Guilherme no alto, o rei encontrou Guilherme ao lado de seu trono. Guilherme passou a ser o anjo do Reino de Nápoles...

Os srs. podem imaginar que beleza a corte de Nápoles, esplêndida, belas tapeçarias, belos vitrais, construções em granito magníficas etc., o rei despachando, mas com um olho em Guilherme para saber qual é seu conselho. Em certo momento, fica na dúvida e pergunta a Guilherme que acha: - Senhor, eu seria de tal opinião assim. Surpresa: -- faça-se. Guilherme apagado, humilde, completamente de lado, reinando pela influência e o rei governando.

Mas as saudades vibram no coração de Guilherme, o qual resolve então ir visitar seus monges. É o perdão do bom pastor que ama suas ovelhas a tal ponto que vai à procura delas. As ovelhas o expulsam, e ele é uma espécie de anjo da guarda que paira sobre o convento, para que o convento ingrato não desapareça.

Depois, um dia ele volta para visitar o convento ingrato e o encontra fervoroso: era a vitória de suas preces. Não se pode imaginar qual é alegria que ele possa ter tido com isso. Todos nós comentamos, quando se fala de vida de santos, a alegria de Santa Monica quando viu Santo Agostinho convertido. Os srs. podem imaginar a alegria de um abade que vê convertida toda ordem religiosa que fundou?...  Ele volta e morre lá.

Dir-se-ia que a história terminou. Não. A ordem dele, por essas ou aquelas razões, não se mantém sozinha e desaparece, o convento é dado a padres beneditinos cuja sede principal, Monte Cassino, está a alguma distância de lá. Mas os padres beneditinos dão uma prova da boa recordação que têm de Guilherme: os beneditinos que moram lá continuam a usar o hábito da ordem religiosa fundada por Guilherme. É uma linda manifestação do espírito de tradição! Lá, outro hábito não se pode usar. Só pode ser aquele e nenhum outro...

Então os que vão para lá, usam o hábito de São Guilherme para dar a entender que são mais ou menos seus hóspedes. Talvez à espera do dia que venham novos frades, suscitados pela graça, para restaurar a obra de São Guilherme. Eles são ocupantes. O verdadeiro dono não é São Bento. São Bento mantêm a casa. São Guilherme é o verdadeiro dono que está à espera, talvez do dia em que os filhos dele possam tomar conta da casa novamente.

Como seria bonito que no meio dessa degringolada da Igreja, um europeu suscitado por Nossa Senhora, tivesse a idéia de restaurar essa ordem religiosa, colocando-a sob o patrocínio de São Guilherme, fazendo reviver dentro da Igreja essa flor que a piedade beneditina dos grandes tempos guardou conservada como dentro de um herbário, e que tirada daí é posta fora e floresce de novo e faz exalar o seu próprio perfume. Quem sabe se no Reino de Maria ainda veremos isso...

Agora vêm as manifestações da proteção de Deus para esse mosteiro: a referência ao regime severíssimo que ali se leva e as punições extraordinárias, milagrosas que sofrem os que procuram violar esse regime, indicando bem quanto encoleriza a Deus qualquer violação da regra. Porque se Ele é capaz de fazer cair uma chuva, está na sabedoria dEle fazer cair uma tempestade com raios, por causa de um homem que introduziu no convento um pedaço de queijo contra a regra, o que Ele fará com um superior religioso relaxado que introduz no convento um homem que não merecia?... apenas por complacência? Ou que permite a entrada de um hábito irregular? Ou que permite que o mal espírito se radique ali? Deus castiga com milagre tão visível uma coisa que é grave - não tem dúvida - mas em relação a outras parece quase pequena.

O que dizer disso? Que não se iludam os que não são punidos nesta vida; na outra vida os espera uma punição muito mais terrível se eles atentam contra as obras feitas por Deus.

Com essas considerações, o que fica sobretudo em nossa retina mental - pelo menos na minha - quando termino esse Santo do Dia? Figuram essas imagens para mim, não sei se para os srs.: 1) Guilherme rezando sozinho e a ermida que aos poucos vai se construindo; 2) Guilherme expulso; 3) Guilherme ministro do rei de Nápoles. 4) Depois, como um feixe, como coroação da vida dele, ele que volta para o convento e o encontra reformado por Nossa Senhora e a alegria deles, prenúncio da alegria do Céu.

Então, sua expulsão resultou nisso. Se não tivesse sido expulso, ele teria formado muito bem o seu convento; como foi expulso, mas aceitou bem sua expulsão, rezou pelos homens pecaminosos que o tinham expulsado, ele em vez de ser um abade foi ao mesmo tempo um grande abade nesse lugar e um grande ministro em Nápoles. Dirigiu um reino pelos seus conselhos e um convento pelas suas orações. Quando voltou, encontrou o convento perfeito. É uma espécie de dom de ubiqüidade. É uma obra tão magnífica que aí era apenas a glorificação do Céu.

Nós podemos imaginar, como os senhores queiram, e como os srs. achem mais bela, porque nos faltam dados biográficos, a morte de São Guilherme.

Uns podem imaginá-la repentina, porque ela tem sua beleza. Para um santo, ele entra de repente das agruras dessa terra para a visão direta de Deus.

Os srs. podem imaginar também uma morte lenta, longa, em que o homem passa para o Céu mais ou menos como um grande rio entra dentro do oceano: vagaroso, enorme, até exalar o último suspiro.

Os srs. podem também imaginar sua morte e é para mim a que sempre mais me impressionou e está representada num vitral da basílica do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. São Bento morrendo, em pé, acabando de dar aos seus discípulos uma última lição; os discípulos o ouvem, uns entusiasmados, outros recolhidos, e diz a legenda embaixo: Enquanto ele falava, eflavit spiritum, desprendeu o seu espírito... Com as últimas palavras de educação, as últimas lições, ele foi para Deus.

Os srs. podem imaginar como queiram. Porque o fato dominante, esse sempre fica: uma morte extraordinariamente abençoada por Nossa Senhora. Ele fundou o convento dando-lhe o nome de Nossa Senhora. E para os que fazem viver na terra a devoção a Nossa Senhora, esses têm uma proteção especial dEla na hora da morte.

Não nos importa saber como morreremos. Queremos saber é que morreremos nas mãos dEla.

(Aparte referente à tragédia da saída de São Guilherme do São Guilherme do convento).

Há mais de um santo na Igreja que sofreu isso. Por exemplo, Santo Afonso de Ligório no século XVIII - São Guilherme é do século XI - Santo Afonso portanto muito menos distante de nós. Ele foi expulso da congregação redentorista por ele fundada. E, portanto, passou por isso também.

Imagino que a situação tenha se passado da seguinte maneira: ao fundar essa ordem religiosa, muitas e muitas vezes teve discernimento de toda santidade, todo esplendor religioso, toda glória que essa ordem religiosa deveria dar para Nossa Senhora. E tudo leva a crer que ele tenha tido uma esperança, como um sopro profético no íntimo da alma, uma convicção juntamente com esse “flash” de que sua Ordem daria certo.

Mas, de repente, vem um acontecimento que atravessa brutalmente essa esperança e lhe dá ideia de que tudo quanto esperara era errado.

Então ele pensa dentro de si mesmo: não, isso produziu tantos frutos em mim de ordem e de santidade, tantos frutos de piedade e de retidão, que é impossível que o bem que essa esperança me fez, seja um bem mentiroso, e o que eu esperei e que em mim foi fruto de tanto bem, não acabe algum dia se realizando.

E, por causa disso, conserva ainda aquelas esperanças, aquelas graças que ele discerniu e que acha que vão crescer etc.

Ele desce amargurado, mas ao mesmo tempo sereno. E vai para longe dizendo: eu não posso nada, mas a promessa de Deus, a promessa de Nossa Senhora se realizará porque eu vou rezar!

Então, aceitando a provação enorme, ele conserva aquela esperança, e com a esperança o bem que a esperança lhe fazia. Na volta, a esperança está realizada.


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