Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

O Imperador Francisco José da Áustria:

supremacia da tradição, da legitimidade,

do esplendor e da sacralidade

sobre a riqueza e o poder militar

 

Santo do Dia, 27 de maio de 1974

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A D V E R T Ê N C I A

O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor.

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

 

 

 Francisco José I (18 de agosto de 1830 — 21 de novembro de 1916) foi imperador da Áustria (1848-1916), rei da Hungria (1867-1916) e último governante influente da dinastia dos Habsburgs. Seu reinado, que durou 68 anos, é o terceiro mais longo da história europeia, depois de Luís XIV da França e de Johann II de Liechtenstein

 

Faremos hoje algo na linha dos Ambientes, Costumes e Civilizações, para por em evidência o seguinte: um dos aspectos mais marcantes da Revolução atualmente é o que seus sequazes mais modernos chamam de “desmitificação” ou “dessacralização”.

Para compreendermos bem o que isso significa, temos antes de tudo que entender a noção que os revolucionários têm de “mito” ou de coisas “sagradas”. Para se chegar até o fundo da noção, em duas palavras eu diria o seguinte: na peça de Edmond Rostand intitulada “Chanteclair”, ele se utiliza da figura principal de sua composição, que é o galo, para dizer ao sol algo nessa linha: "Glória a ti, ó sol, sem o qual as coisas não seriam senão o que são".

Quer dizer, vem um raio de sol e bate sobre uma simples cartolina, por exemplo, e essa incidência pode tirar da cartolina efeitos magníficos, por onde de fato não há uma mentira no que o raio de sol apresenta, mas acrescenta algo à cartolina que lhe confere uma beleza especial.

Lembro que durante anos eu passava pela Rua da Consolação a caminho do Colégio São Luís, e sempre encontrava numa mansarda um vidro de janela sujo aberto. A proprietária da mansarda não lavava a janela e o sol batia sobre esse vidro e era um verdadeiro esplendor! Sobre a sujeira, o sol refulgia e fazia um espelho maravilhoso e eu sempre me divertia procurando descobrir na minha alma quantas coisas queria dizer isso: o céu iluminando a sujeira e nela se refletindo, obtendo deste modo da sujeira um brilho especial...

Assim, as coisas vistas pelo homem com espírito filosófico verdadeiro – e sobretudo com espírito de fé – refletem algo de uma ordem superior. Ou seja, elas têm uma analogia, uma semelhança com algo que existe.

Por exemplo, um caco de vidro de janela no qual refulge o sol tem uma analogia com o brilhante, embora este seja muito mais do que o caco de vidro. Por sua vez, o brilhante possui uma analogia com alguma pedra maravilhosa que existiria no paraíso terrestre em comparação com o qual o brilhante não era ele mesmo senão um caco de vidro. Mas o brilhante do paraíso terrestre tem uma analogia com alguma substância que existe no paraíso celeste perto do qual ele mesmo não é senão um caco de vidro...

E esta coisa preciosíssima do paraíso celeste não é senão um caco de vidro e até menos do que um caco de vidro em comparação com a inteligência do menos dotado dos homens, porque o brilhante que rutila é o símbolo da inteligência. Até se costuma dizer que quando a pessoa é muito inteligente ela  tem uma “inteligência brilhante”.

O menos dotado dos homens tem incomparavelmente mais luz em si do que um brilhante, porque possui uma luz de uma outra natureza. Mas esse mesmo homem é, por sua vez, uma imagem de uma pessoa inteligente. Esta, por sua vez, é uma imagem do Anjo. Este é uma imagem de Deus...

Então, a partir do caco de janela – por sucessivas ascensões –, os senhores podem chegar até a perfeição infinita que é Deus Nosso Senhor.

O espírito bem formado procura ver sempre numa coisa a imagem de algo mais elevado e procura sempre dirigir o espírito para uma consideração mais elevada, sendo insaciável de analogias dessas até chegar a Deus. É por esta forma que utilizamos de todas as coisas criadas para subirmos a Deus Nosso Senhor.

Isto que se pode dizer na ordem natural, sobretudo se pode dizer da ordem da graça. Porque ela ilumina mais os homens do que o sol ilumina todas as criaturas da terra. A graça, por sua vez, é um dom sobrenatural, criado por Deus e através da qual podemos ter uma idéia de como é Deus Nosso Senhor...

O resultado desta tendência de espírito consiste em que todos os povos que têm um mínimo de sanidade psicológica, de sanidade mental, procuram apresentar todos os aspectos da realidade – mas quando não o podem alguns deles – de maneira a fazer com que tais aspectos reportem a uma realidade superior. 

 

(Cel. John Ripley, herói da guerra do Vietnã, 29-6-1939 – 1-11-2008)

        Então, por exemplo, se considerarmos um militar, gostaríamos de o ver revestido de um uniforme que nos fizesse pensar no esplendor da coragem que é o traço distintivo do militar. E isso de tal maneira que nós, de “proche en proche”, acabássemos refletindo na coragem angélica e no vigor com que São Miguel Arcanjo expulsou do céu o demônio. De onde então o gosto de um certo esplendor pelo uniforme militar. 

 

 

São Felipe Néri celebrando a Santa Missa 

Se considerarmos o sacerdote quando está no exercício de suas funções, devemos querer considerar nele a sacralidade de sua missão. Através dessa consideração, algo que nos faça pensar em Deus. De sorte que é útil e benfazejo realçar a figura do sacerdote – sobretudo quando está celebrando a Santa Missa – de adornos que nos dêem idéia da importância de sua missão e através dessa nos faça pensar em Deus.

Assim também nós poderíamos dizer de qualquer outra profissão. O professor universitário, por exemplo. O normal é que ele dê aula com beca ou com toga. Por que? Para realçar o esplendor, a gravidade, a importância do ofício e da missão de professor. O traje material realça a idéia da missão; a idéia da missão nos leva a Deus, Fonte de toda verdade e Mestre de todos os professores.         

Então, há uma tendência natural do espírito que não é ateu em ver sempre algo de mais alto como que presente no que é inferior e procurar realçar o que está mais baixo para conduzir o espírito até ao que está mais elevado.

Isto, que é uma tradição da Civilização Católica, é um princípio que ela transformou e aplicou em inúmeros hábitos sadios que ficaram vivos até nossos dias. É precisamente isto que o espírito moderno considera “mito”. O ver numa coisa a presença de uma realidade superior, é fazer daquilo um “mito”. Ou seja, procurar ver algo pelos seus aspectos mais altos seria “mitificar”, seria considerar esse algo de modo fantasioso e de imaginário.

Então, isto que para nós é uma série de elevações que nos conduzem até Deus, para o ateu é uma série de “mitos” que nos conduziriam até à mentira. Porque Deus não existe para ele e não existindo, evidentemente é um mito que essas coisas possam conduzir até Deus, e tudo isso não é senão poesia e vazio.

De onde então a tendência para o que eles chamam “desmitificação” ou a desacralização. Quer dizer, o tirar das coisas todos os seus adornos, privar de todas as formas de beleza para apresentá-las terra-a-terra “como elas são”, para evitar a mitificação, a sacralização.

 

 

 

Francisco José recebe os príncipes alemães (como Guilherme II) na sala Maria Antonieta. Palácio de Schönbrunn, Viena, 1908 (por Franz von Matsch)

 

O encontro, representado no quadro que analisaremos, se dá no Palácio de Schönbrunn, em Viena, em 1908, precisamente no remoto ano em que nasci. Tal encontro tem os seguintes antecedentes: Francisco José celebrava naquela ocasião 60 anos de reinado. Ele subiu ao trono muito cedo por morte de um tio e era descendente dos imperadores do Sacro Império Romano Alemão.

Simplificando muito a narração histórica, durante boa parte de seu reino, Francisco José foi o chefe de todos os povos de língua alemã; o Sacro Império tinha sido abolido, mas fora substituído por Napoleão Bonaparte por uma organização chamada Confederação Germânica e os imperadores da Áustria eram os presidentes hereditários dessa Confederação.

Em torno da metade do século XIX, a Prússia promoveu uma coligação de estados germânicos contra ele, expulsou-o da Confederação Germânica, ficando, então, imperador da Áustria-Hungria. E os demais povos de língua germânica passaram a constituir um só império, sob a direção do Kaiser.

Então havia vários reis, príncipes que eram senhores de diversas partes do território alemão, mas o Kaiser era o chefe de todos eles. Francisco José – além de ser das mais antigas dinastias da Europa e certamente da mais ilustre e da mais sacral de todas elas que é a Casa d’Áustria – ficou expulso do mundo alemão e presidindo apenas um conglomerado de estados de língua magiar, de língua eslava, um pouquinho de língua italiana, etc., que se chamava a monarquia austro-húngara.

Ele estava, portanto, num estado de ressentimento em relação ao mundo alemão. Como Guilherme II precisava de seu apoio, por ocasião do 60º. aniversário do reinado de Francisco José, o Kaiser foi levando uma comissão de príncipes alemães para visitá-lo. O quadro apresenta a sala Maria Antonieta do castelo de Schönbrunn, no qual estão sendo recebidos.

Os senhores estão vendo uma cena altamente sacralizada, no sentido seguinte: o esplendor do cerimonial militar e do cerimonial estatal é levado ao máximo da gala e da pompa para reportar o espírito a considerações mais altas que digam respeito a Deus Nosso Senhor.

Francisco José está sozinho em frente de todos os outros príncipes alemães. O Kaiser está com o penacho grande. Todos os outros são reis e príncipes de pequenos estados alemães.

Na Alemanha havia três cidades livres com organização burguesa, não eram monarquias, mas repúblicas: Bremen, Hamburgo e Lübeck. Aqui está o representante de Hamburgo (trata-se do Burgomestre dessa cidade,  Dr. J. H. Burchard).

 

 

O Sr. “X”, grande especialista nestas coisas, me deu até uma lista dos principais monarcas aqui presentes (vide ilustração acima, cuja fonte é: Weltgeschichte, "Die Entwicklung der Menschheit in Staat und Gesellschaft, in Kultur und Geistesleben". Dr. J. von PflugkHartung, 7. Band: Neueste Zeit. 1890-1925, Prof. Dr. Paul Herre, Zweiter Teil, p. 488, Berlin - Im Verlag Ullstein, 1925).

Os senhores têm aí a atenção tomada por uma idéia de grande esplendor. Os senhores notam como tudo é luminoso: a sala tem uma luz... é a luz natural, mas é uma luz como que prateada que se reflete nas paredes, que bate no chão... 

 

 

 

Dir-se-ia que o chão é uma pedra preciosa sobre a qual eles estão pisando, cujo reflexo incide no branco da mesa junto à qual está encostado Francisco José, bem como no branco dos penachos dos capacetes dos vários príncipes aí presentes; refulge na borla dourada que esse duque usa; refulge nos lustres, nos espelhos... há uma inundação de luz.

Essa luz brilha nas condecorações, nas dragonas, por toda parte o que os senhores vêem é luz e esplendor. De outro lado, os senhores notam as pessoas todas elas numa atitude de muita compostura e de muito respeito de quem sabe quem é, o que representa, que usa esse uniforme por respeito para consigo mesmo e para com seu próprio cargo.

A idéia é de sublimar o quanto possível o poder público, o Estado, por respeito à dignidade da criatura humana à qual o Estado é chamado a governar.

Os senhores vêem o ar militar deles, o que confere uma idéia de poder, de força, de tal maneira que se poderia dizer: força, esplendor, sacralidade, são elementos muito presentes nesse quadro.

Aqui os senhores têm a Alemanha, mas a Alemanha dominada pela Prússia. O Kaiser tem um papel na mão, que pode ser o texto de um discurso que está lendo ou acabou de ler, e o Francisco José ouviu ou está ouvindo a saudação.

Um verdadeiro primor é o Francisco José! São duas escolas completamente diferentes. A Alemanha nova, militar, industrial que é representada pelo Kaiser e pelos que o seguem. A velha Alemanha, antiga, sacral, nobre, distinta – guerreira, é verdade, mas não principalmente guerreira, mas patriarcal – que é representada pelo imperador da Áustria. São duas figuras diversas, duas idéias diversas: a da Alemanha militarista, pré-nazista, e a idéia do velho mundo germânico, sacral e católico.

Os senhores observem isto de curioso: Francisco José está inteiramente só, não se faz acompanhar de ninguém; seu uniforme é simples, três cores apenas: uma túnica branca, uma calça vermelha com um galão dourado que vem de alto a baixo. Dourado, vermelho, branco... por coincidência as cores da TFP. Ele traz uma faixa que é de uma condecoração, que vem em diagonal sobre o peito e tem nas mãos um capacete com plumas de um verde claro e discreto.

Ele, inteiramente só, pesa na balança tanto quanto ou mais do que todos os outros reunidos. Tem-se a impressão que os outros fazem força para pesarem tanto quanto ele. De outro lado, uma certa simplicidade em sua atitude, enquanto os outros estão empertigados, de pescoço alto para dar a idéia de que valem qualquer coisa. Francisco José está numa naturalidade completa, mas ao mesmo tempo tem uma distinção que deixa todos os outros no sapato... A tal ponto que os senhores observem que há uma espécie de vazio em torno dele e que ninguém lhe chega perto.  

Considerem a fisionomia dele: é um homem sumamente cônscio de que não precisa de enfeites, nem de nada para ser ele mesmo. Tem atrás de si séculos de história, séculos de glória; possui um direito que a força não violou e por causa disso recebe os seus visitantes de modo sério, afável, mas não risonho.

Recebe visitantes em relação aos quais tem uma queixa, a qual ele vela com toda urbanidade. Mas está queixoso e os fita com uma fisionomia como quem diz o seguinte: "Muita simplicidade, etc., etc., mas olhe aqui o meu palácio, símbolo de minha força. Se houver nova guerra, eu recebo na ponta da espada porque eu não me deixo dominar por ninguém". Isto fica insinuado com toda afabilidade, com toda dignidade, com toda distinção.

Aí o comentário poderia ser: quanto vale a tradição, quanto vale o direito, quanto vale a sacralidade por cima de todas essas coisas como riqueza, poder, etc...

 

 

Para quem analisa o ambiente, há um valor simbólico especial nesse quadro aqui de Maria Antonieta. É um quadro que a maior parte desses príncipes abomina. Eles todos ou quase todos são muito anti-franceses. A Áustria, pelo contrário, no último período da monarquia austríaca, era muito pró-francesa.

Os senhores vêm o militarista alemão desdenhando o charme austríaco e a graça francesa, achando que tudo se consegue pela espada. Ali atrás (referindo-se a Maria Antonieta) está o símbolo do charme austríaco e da graça francesa: o quadro representa Maria Antonieta, Rainha da França, pintada por Mme. Vigée Lebrun, um dos quadros mais famosos e também graciosos representando à Rainha-mártir.

O senhores sabem que Maria Antonieta era austríaca e que mandou este quadro para Maria Teresa, que era mãe dela e imperatriz do Sacro Império Romano Alemão, portanto antecessora de Francisco José no trono imperial.

Há uma antítese entre dois mundos: aqui (referindo-se ao Kaiser e os príncipes alemães) o esplendor da força, do poder, da riqueza. Por cima desse esplendor os senhores tem brilhando aqui sozinho, o esplendor da força também, do poder também, da riqueza também, mas que considera a força, o poder e a riqueza valores secundários, e que dá importância à história, à tradição e à sacralidade. Aí os senhores têm Francisco José.

Os senhores têm aí um aspecto maravilhoso da Civilização Cristã.

Os senhores não vêem mais uma cerimonia pública que tenha esse esplendor, nem de longe e mesmo os homens desta categoria vão se tornando cada vez mais raros. Há uma baixa em tudo. Porque nada é feito para lembrar algo de mais elevado e menos ainda para reportar a Deus. Há um achatamento, a invasão da vulgaridade – para não dizer da indecência – a fim de substituir o maravilhoso de outros tempos.

(Aparte inaudível)

Não, quando se é ele, não. O senhor imagina uma senhora que tem um broche de brilhantes. É uma coisa muito bonita. Mas se ela tem um super brilhante só, ela usar aquilo numa correntinha pendurada ao peito vale mais do que por 500 brilhantinhos em volta. Mas é preciso ser um super brilhante...

Neste quadro, de um lado os senhores têm um brilhante com a ajuda dos outros; ali os senhores têm o brilhante solitário que reluz sozinho.

(Aparte: O senhor poderia explicar qual o processo da alma para considerar este quadro e fazer o percurso que o senhor indicou?)

É a lógica. Toda alma habituada a analisar todas as coisas com esta preocupação, por via da lógica chega até lá.

Para a gente fazer isso é preciso propriamente não começar por aí, mas começar por amar o brilho de todas as coisas em abstrato, ter um feitio de alma por onde se queira sempre o mais alto, o mais elevado e ser insaciável nesse ponto. Então, quando se olha para essas coisas, a gente pode fazer essas largas digressões.

O primeiro ponto é o aproveitamento da graça batismal, da retidão que o pecado original não tira inteiramente ao homem, da retidão por onde o espírito humano, nos seus primeiros movimentos, já visa o mais alto.

É claro que quem toma com muita conaturalidade o que há de horrível e monstruoso hoje em dia, embaça a alma para considerações dessas, é evidente. Quem, por exemplo, olha para esses carros de lixo, com aquele aparelho meio cônico de triturar, com mau cheiro, o barulho que faz, e diz "êta mecânica bonita!...", esse – ao considerar um quadro como o que comentamos – não vê nada... Mas é porque já antes ele fez uma renúncia... Quando ele teve uma exclamação desse gênero diante do carro de lixo, já está pronto a olhar tudo na linha do chão.

(Aparte inaudível)

Não se é arrogante quando se sabe que se representa Deus e não está falando com pretensão própria. Exatamente o que não se nota sobretudo no Kaiser. Ele é um homem que considera que seu poder vem da força e das armas. Outro que é do mesmo gênero: o Gran Duque Frederico de Baden (n° 6). Não sei se percebem a acidez e a impertinência com que está olhando para Francisco José. Observem a ponta dos pezinhos dele, o pescoço, tudo dele está na ponta para ver se fica mais alto que Francisco José. O Francisco José nem sequer está olhando para ele... Não pode competir porque não dá, não adianta.

Todo o jeito do Kaiser é de um homem que confia no poder, no poder da riqueza, no poder das tropas e no fascínio pessoal da personalidade dele para levar a nação à guerra. Esse é o Kaiser.

Os senhores olham para o Francisco José. Ele não está nada arrogante, mas natural, nem está perguntando se é um grande homem... Mas sabe uma outra coisa: ele tem um grande direito e atrás de si uma grande história, e esse direito é um direito sacral: é dos imperadores do Sacro Império. E ele sabe que esse direito refulge nele não como uma luz que habita dentro de si, mas que vem de fora e que o circunda. Esse é o imperador sacral.

Aqui está a impertinência; ali está a dignidade. Há um abismo entre ambas...

Os senhores considerem esse Príncipe Regente da Baviera, por exemplo. Os senhores estão vendo como é diferente do Kaiser: um homem velho, tranqüilo, digno, olhando para o Francisco José até com certo respeito como diz: "Oh! que homem...". Quase ele diz: "Oh! que saudades eu tenho de haver sido deste imperador e não deste". Ele não está nem um pouco com ares de arrogante, porque está fazendo o reconhecimento de uma superioridade real.

Sempre que nós em campanha queremos nos mostrar, contar com nossa própria apresentação pessoal para brilhar, nós corremos o risco de ficar arrogantes. Quando consideramos que somos arautos de uma causa, que somos servos de uma causa e que devemos apenas fazer brilhar a causa, a arrogância sai de nós.

 


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