Plinio Corrêa de Oliveira

 

 

A Cruzada da Ufania

 

 

 

Encerramento da XVI Semana Especializada para a Formação Anticomunista (SEFAC) (*) – 21 de janeiro de 1973

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A D V E R T Ê N C I A

Se o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como homenagem a tão belo e constante estado de espírito:

“Católico apostólico romano, o autor deste texto  se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja. Se, no entanto,  por lapso, algo nele ocorra que não esteja conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”.

As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em seu livro "Revolução e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo", em abril de 1959.

(Para ouvir a gravação original dessa conferência, clique na imagem abaixo)

 

Reverendíssimo Padre Olavo Trindade, sr. vice-presidente do Conselho Nacional, senhores membros do Conselho Nacional,  minhas senhoras, meus caros participantes da SEFAC.

Cabe-me a mim dizer-vos algumas palavras de encerramento na ocasião em que, depois de alguns dias de convívio intenso e fecundo, à sombra, ou melhor, à luz dos grandes ideais que acabam de ser cantados na bela letra do hino da TFP em língua castelhana, composta pelo Sr. Presidente da TFP Argentina, Sr. Cosme Beccar Varella, depois de passados esses dias à luz desses grandes ideais, vós vos preparais, do calor dessa sessão de encerramento para as despedidas supremas, para essas despedidas que vos encaminharão depois às lutas de todos os dias.

Luta de todos os dias a qual, para um cooperador da TFP sem dúvida não é leve, sem dúvida se apresenta pesada e carregada de sombras, luta que por isso mesmo merece da parte de quem preside o Conselho Nacional da mais antiga das TFPs, a TFP brasileira, uma palavra de estímulo, uma palavra de orientação, uma palavra aguerrida que vos convide ao combate.

Convidar ao combate, palavras aguerridas, combate em benefício de um ideal, guerra ideológica incruenta conduzida por meios legais para a conquista de um grande ideal, como tudo isso destoa, e destoa sob tantos aspectos dos movimentos, dos impulsos fundamentais que movem a milhões e milhões de homens. Por que não dizer? Que movem multidões inteiras, que movem massas gigantescas nesse Ocidente tão conturbado, tão abalado, tão despreocupado e tão afeito ao gozo da vida.

Com efeito, pode-se dizer que se o Ocidente está abalado, se ele está conturbado é porque o domina sobretudo a preocupação de que, sendo esta existência terrena algo que se tem que gozar por inteiro, se tem que utilizar para a própria vantagem até a última gota, é preciso viver sob o signo da utilidade, sob o signo do prazer, de tal maneira que desta vida cada um leve para a sepultura o menor número possível de contrariedades, a maior soma possível de alegrias e de vantagens.

Nesta concepção, concepção que é neo-pagã e que lembra o paganismo de todos os tempos, nesta concepção que me lembra o jazigo da rainha Nitocris, a famosa soberana caldaica que estava enterrada no alto do pórtico de uma das cidades do Antigo Império sobre o qual ela reinava, em que ela mandou inscrever esta frase tão século XX, concebida, entretanto, séculos e séculos antes de Nosso Senhor Jesus Cristo vir ao mundo, esta frase que dizia: “Transeunte, come, bebe, alegra-te e dorme enquanto fores vivo; porque depois da morte não há prazer, não há existência e tudo acabou”.

Pensamento profundamente pagão, que moveu todas as massas antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que as foi movendo cada vez mais à medida em que elas foram abandonando Nosso Senhor Jesus Cristo, e abandonando os tais ideais que nunca morrem e que agora vão voltando ao mundo; ideal pagão que desvia a atenção do homem completamente daquilo que é a verdadeira razão de ser, e o verdadeiro sentido da vida, e que por isso mesmo faz com que a existência de um cooperador da TFP, seja dentro do mundo contemporâneo – é preciso não ocultar, é preciso dize-lo, porque nisto está a nossa ufania – seja uma contradição viva.

Porque enquanto alguns olham apenas para a frente, para um futuro hipotético que se lhes antevê risonho só porque eles não querem ver a verdade; enquanto outros olham para baixo, preocupados apenas com o dia de hoje e com seus interesses materiais imediatos – o cooperador da TFP caminha olhando para o alto e olhando para a eternidade, ufano daquilo que ele é, sem se incomodar nem com os apodos nem com os risos, nem com a campanha de silêncio, nem com as difamações, nem com o isolamento; ufano porque ele tem os olhos postos em Nossa Senhora, na Igreja Católica e na civilização cristã, e porque ele encontra nessa ufania cavalheiresca o próprio motivo de sua existência, a própria alegria e o próprio significado de sua existência quotidiana.

E é por essa forma, minhas senhoras e meus senhores, que o pórtico por onde nós nos separamos uns dos outros pode ser chamado o pórtico da santa ufania. Porque nós nos dispersamos, deixamos aqui esse ambiente onde tudo nos fala de nossos ideais, penetramos por dentro das grandes multidões onde esses ideais são tantas vezes conspurcados e negados, mas levamos o nosso estandarte, levamos o nosso leão rompante, e por debaixo dele, meus caros, a palavra que figura debaixo dos estandartes que vos foram distribuídos como lembrança dessa SEFAC – Deus vult – Deus o quer.

Deus quer ter no século vinte filhos que façam a vontade dEle, a cumpram; filhos que se alegrem e se ufanem de permanecer no serviço dEle enquanto tantos O abandonam; filhos que se ufanam das tradições que tantos deixam de lado; filhos que como novos Cruzados – uma vez que o lema Deus o quer nos lembra os Cruzados e a Cavalaria – filhos que como novos Cruzados e novos Cavaleiros do século XX, exclamando Deus o quer fendem certas multidões ignorantes, hostis nas quais entretanto despontam de cá e de lá, as mais inesperadas simpatias, na realização dessa grande Cruzada, da Cruzada do século XX, que é a extensão da TFP que depois de ter começado tão pequenina, ter começado num pequeno andar térreo de um pequeno prédio conservado hoje quase como relíquia, na Rua Martim Francisco, se desdobra por todo um continente, desde o frio gélido dos pampas, até a América do Norte; transpondo o oceano, penetrou em terras de Portugal, em terras da Espanha, já vai fazendo sentir o seu bom odor e fazendo nascer esperanças de ideais na França, na Itália, na Inglaterra, [ e hoje, além desses países, na Alemanha, Áustria, Polônia e Irlanda].

Essa grande Cruzada, essa Cruzada dos Cavaleiros do século XX, essa Cruzada da ufania, bem merece, meus caros que no momento em que nós nos separemos, eu vos diga sobre a ufania, umas palavras.

Palavras que, desde logo eu acentuo significam panache, significam altaneria, significam o idealismo e portanto, são tão e tão diferentes desse utilitarismo barato, desse utilitarismo crasso de uma época para a qual os valores materiais, os valores físicos, a adoração do corpo, a adoração da saúde, a adoração do ouro, parecem ser os três únicos símbolos e os três únicos valores para os quais os homens julgam que é digno viver. E em holocausto aos quais eles fazem tudo para, pelo trabalho conseguir vantagens, conseguir ascensão até que a morte os colha; e ingloriamente eles caiam no chão.

Ufania. O que significa ufania? A ufania é, sem dúvida e antes de tudo, um sentimento, um estado de alma pelo qual a pessoa tem uma fé que não duvida de nada, um enlevo que não tem nenhuma divisão. O Cavaleiro andante quando partia para suas expedições, para fazer a justiça, defender os pobres, defender as viúvas e os órfãos, e fazer reinar a Lei de Cristo, ele partia cheio de ufania. O Cruzado, quando partia para a guerra, quando partia para a Cruzada, partia cheio de ufania. Ufania de ser cruzado, ufania de ser cavaleiro andante.

Qual era a razão fundamental dessa ufania? Era, antes de tudo, a fé católica apostólica romana. O Cruzado tinha fé, o cavaleiro andante tinha fé. Ele sabia que a fé católica é a Fé verdadeira, ele cria nela com todas as suas forças, ele cria inteiramente em todas as suas consequências. Ele não tinha nenhuma dúvida e dessa certeza nascia na sua alma uma grande luz. Qual era essa grande luz? Era a luz do enlevo. Não era bastante ter fé, não era bastante crer. Ele amava a fé que tinha, ele compreendia que ela era o maior valor de sua existência; ele compreendia que ela valia mais do que todas as coisas dessa terra; ele não excluía os bens da terra, mas ele só os concebia – a tradição, a família, a propriedade, a riqueza, a posição, a cultura, o prestígio - ele só os concebia como verdadeiros valores enquanto vividos em função da fé católica e hierarquizados pela fé católica.

Os grandes afetos dessa terra, o afeto filial, o afeto para com a pátria, o afeto para com os superiores, o afeto conjugal, o afeto fraterno, o afeto paterno, o afeto de amigo a amigo  - como esses sentimentos eram vivos na alma do  cavaleiro! Quanto nos contam as crônicas medievais de proezas realizadas por aqueles Cavaleiros, sob o impulso desses afetos!

Entretanto, é preciso dize-lo: esses afetos, para eles, eram hierarquizados, esses afetos eram dominados, eles eram iluminados por um afeto superior, que era o afeto a Nosso Senhor Jesus Cristo: um afeto que nem merece o nome de afeto porque é mais do que afeto: é adoração; é a veneração; é o amor filial à Nossa Senhora, é o amor aos anjos e santos que constituem a Corte Celeste.

Mas não basta falar em amor: é preciso falar de algo que nosso século não conhece, de algo que nosso século igualitário vai esquecendo cada vez mais: não era um amor horizontal, não era o tal... amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, por onde se chama blasfemamente a Nosso Senhor Jesus Cristo de “chefão”, era um amor cheio de admiração. O homem medieval admirava. E como ainda me dizia há pouco tempo atrás o senhor Cosme Beccar, Aristóteles diz que “pensar é admirar, viver é admirar“, o homem da Idade Média vivia intensamente porque ele vivia de admiração.

Ele tinha para com a figura humana e divina de Nosso Senhor Jesus Cristo, a mais profunda e a mais completa das admirações. Por isso admiração para com todos os que o seguiram e que passaram pela vida ornados e realçados pelo sinal da Fé; por isso também a maior admiração e veneração para com a Igreja Católica Apostólica Romana, Rainha das almas, Rainha da humanidade e Mestra da verdade. E porque essa imensa admiração enchia a alma do homem medieval, como aquilo que a gente admira, de algum modo nos penetra na alma, o homem medieval tinha na sua alma toda esta admiração e ele era, de algum modo, a consubstanciação dessa admiração.

O homem medieval estava para com a Igreja, assim como um espelho está para o sol, voltado para o sol e disposto a lhe receber todos os raios. Ele os recebe todos de cheio e por isso também os remete adiante com uma plenitude extraordinária. O homem medieval e, sobretudo, o cavaleiro medieval, do qual mais especialmente nos ocupamos aqui, ele recebia o sol da fé na sua alma e porque o recebia com amor, ele difundia a fé em torno de si. E não só difundia em missões extraordinariamente fecundas, mas ele fazia admirar a fé até mesmo por aqueles que ele não conseguia convencer dela.

De maneira tal que, por exemplo, um São Luís, rei de França e glorioso ancestral de nosso querido Dom Bertrand, um São Luís preso pelos maometanos, que renegavam a fé, um São Luís Cruzado, era tomado pelos maometanos como árbitro das brigas entre eles, porque eles sabiam que justiça, virtude e seriedade não se podiam encontrar plenas a não ser naquele que fosse um perfeito servidor daquele próprio Cristo que – ó mistério da iniquidade – eles, entretanto, combatiam.

Esta fé, esta admiração, enchia o homem medieval de ufania. Enchia-o de ufania porque ele se sentia cheio dessa luz. E ainda que outros não reconhecessem nele essa luz, ainda que outros negassem essa luz, ainda que outros tomassem da espada para derrubá-lo por causa da luz que ele difundia em torno de si, ele não dava importância a esses fatos. Seguro de si, ele transpunha as distâncias, ele fendia as fileiras dos adversários, ele distribuía golpes de um lado e de outro, e vencia em lutas memoráveis.

Lutas que levavam às vezes oitocentos anos de guerra, como foi a Reconquista espanhola e portuguesa. Pensemos o que querem dizer oitocentos anos de guerra! Nós estamos no ano de 1973, o espaço de tempo que vai do ano de 1173 a 1973 foi o espaço de tempo da Reconquista. Foram gerações de cavaleiros que lutaram; lutaram ufanos, lutaram alegres, lutaram com esperança, lutaram com força e por isso não houve obstáculo que eles não vencessem.

E, mais ainda, à medida que eles iam conquistando, a medida que eles iam dilatando o império de Cristo, quer na frente do Reno, quer na frente hispano-portuguesa, à medida que eles iam lutando, por detrás, como se seus passos espalhassem flores, nascia no dorso deles a civilização cristã. Se erguiam as catedrais, se levantavam as universidades, se constituía a magnífica contextura da sociedade feudal.

Por que isso? Porque toda essa sociedade tinha a ufania de ser católica, vivia da alegria de ser católica, vivia da admiração daquilo em que ela cria, e como ela cria na verdade, Deus lhe abençoava a luta, como lhe abençoava a paz. Na luta, venciam; na paz, construíam. E quando a Idade Média chegou a seu fim, esses séculos de ufania, esses séculos de cavalheirismo deixou atrás de si a maior soma de progresso que a humanidade tenha realizado até então.

Ufania, meus caros, que não é, portanto, apenas um  sentimento da posse de um bem superior, mas é um sentimento profundamente humilde, ao mesmo tempo em que ele é profundamente garboso e profundamente guerreiro. O verdadeiro cavaleiro medieval não tinha ufania de ser católico porque a profissão da fé fosse um adorno que o enfeitasse aos olhos dos outros homens. A ufania cristã, a ufania da cavalaria verdadeira – não da Cavalaria decadente e quixotesca, não da Cavalaria dos trovadores e das cortes de amor – mas a da Cavalaria verdadeira, da Cavalaria das Cruzadas, essa Cavalaria realizava em si aquela lei do amor de que fala Santo Agostinho: ela levava a ufania tão longe que o homem se ufanava apenas de Deus, até o esquecimento de si mesmo; enquanto a falsa ufania, a ufania sem humildade, a ufania orgulhosa, faz com que o homem se ufane de si mesmo a ponto de se esquecer de Deus. Era, portanto uma ufania despretensiosa.

Plinio Corrêa de Oliveira discursando no auditório São Miguel

Mas era uma ufania tão grandiosa que Montalembert conta, na sua Introdução à vida de Santa Isabel da Hungria, esse fato que profundamente me impressionou: um mouro prisioneiro viajando pelas terras da Europa e examinando as grandes catedrais, perguntou quem as tinha construído. E alguém mostrou alguns irmãos leigos de uma Ordem religiosa que ali estavam e que tinham participado da grande obra. E ele examinou aqueles irmãos leigos tão despretensiosos, tão humildes, tão apagados, pensando tanto em Deus e pensando tão pouco em si, e fez essa pergunta perfeitamente sagaz: Como pode ser quem homens tão humildes, tenham construído monumentos tão altivos?

É que o verdadeiro católico é altivo por Deus, é altivo pela causa da Igreja, mas é humilde no que diz respeito a si mesmo. Não quer glórias para si. Ele quer apenas a vitória para Deus, de acordo com a famosa súplica que encontramos na Escritura: Non mihi, Domine, non mihi, sed nomine tuo da gloriam: Senhor, não a mim, não a mim, mas ao vosso Nome dai glória. Que brilhe a Igreja, que brilhe a civilização cristã que vença a causa, que a tradição, a família e propriedade, como pilares do Reino de Maria que há de nascer, como restos da ordem cristã que outrora foi implantada na terra, como elo por cima da noite da Revolução, como elo entre o passado medieval e o mundo que há de vir -- que a família, a tradição e a propriedade brilhem para dar glória a Nossa Senhora.

Isso é que o cooperador deseja. Deseja que o estandarte esteja erguido bem alto nas graças públicas, que o lema seja conhecido por todos e projete sua influência benfazeja e exorcizante sobre o mundo de hoje. O lema fica, o ideal fica, o fruto do trabalho fica. O cooperador, este passará. Passaremos todos nós que estamos aqui. Passarão o céu e a terra, mas um dia nós vamos ter a nossa recompensa.

Será o momento em que, na humildade em que os eleitos se postarão no dia supremo em que, vindo a este mundo com grande pompa e majestade, o Filho de Deus aparecer para julgar os vivos e os mortos, a tuba do anjo tocar para que ressuscitem uns e outros, os bons e os maus, para merecer o castigo ou a recompensa, nós sejamos, pelos rogos de Maria e pela misericórdia divina, daqueles que vão ouvir aquele convite sumamente glorioso, em que refulgem todas as glórias que o homem possa imaginar: Vinde, eleitos, participar de minha glória. Lutastes por mim. Vós não vos envergonhastes de mim na terra, enquanto os homens se envergonhavam de meu Nome, agora eu vos confesso diante dos anjos de Deus. Vinde e ocupai os tronos de glória para que vós fostes chamados.

Este será o momento em que um imenso cântico de ufania reboará pelos coros celestes, um imenso cântico de agradecimento sairá da alma de todos os homens nascidos de Adão e Eva e remidos por Nosso Senhor Jesus Cristo e a história se consumará. Essa história da qual nós teremos tido uma parte com nosso sacrifício, com a nossa abnegação, com a nossa luta – nós teremos sido uma parte que retraçou, no século XX, as proezas dos guerreiros das idades que se foram e que abrimos o caminho para os guerreiros das idades que virão.

Filhos dessa Igreja militante, que lutará até a consumação dos séculos, porque Ela foi posta para lutar contra o mal, num desafio permanente, numa comparação constante em relação ao mal, pela qual o homem olhando o mal, por mais que ele se apresente poderoso, por mais que ele se apresente influente, ornado e prestigioso, sabe olhá-lo de frente e com desdém, sabe dizer-lhe as verdades, sabe atacá-lo e sabe vencê-lo em nome de Jesus e de Maria.

Vós, meus caros, iniciareis agora a batalha da vida de todos os dias. Vós entrareis na vida quotidiana, em que vos assaltarão todos os fatores de desagregação do mundo de hoje; vós tereis que enfrentar a agressão sexual tão insolente, tão arrogante e vós a tereis que enfrentar com ufania. Não com vergonha da virtude a que fostes chamados a praticar, não com uma ufania orgulhosa de uma virtude que vos foi dada e que não teríeis se Nossa Senhora vo-la não tivesse alcançado na Cruz, no momento em que Nosso Senhor  expirou.

Mas, com essa ufania cheia de enlevo, cheia de segurança, com uma fé inteira, com um amor inteiro, confessando o ideal da pureza católica e desdenhando o desdém daqueles que tem a ousadia de, em nome da impureza, procurar caçoar dos filhos da luz.

Vós representareis a tradição numa época em que se fala do progresso como contrário da tradição. Vós, pelos trajes que usais, pelo porte que tendes, vós tereis o desafio constante daqueles que pensam que é uma manifestação de caráter e é uma prova de fibra acarneiradamente seguir o exemplo de todo mundo e calcar aos pés a tradição.

Vós sereis a inconformidade sagrada, de pé e indignada. Com força e com ufania vós afirmareis a necessidade do decoro, a necessidade do porte, a necessidade da atitude nobre como expressão de uma alma nobre, num mundo em que os valores que se exprimem pela palavra nobreza, os valores metafísicos, filosóficos e religiosos que se exprimem por essa palavra, de tal modo que Pio XII chegou a escrever que até nas genuínas democracias nada se conserva se não houver instituições de caráter verdadeiramente aristocrático – vós representareis a nobreza dentro da degradação e da degenerescência do mundo contemporâneo.

Mil vezes tereis que enfrentar a luta. A luta será, por vezes, até daqueles que vos serão próximos. Diz a Escritura que, muitas vezes, o inimigo do homem é aquele que lhe está próximo. E esta luta vós a tereis que enfrentar com altaneria, embora com amor, com uma irredutível e inflexível intransigência.

Vós fareis o jogo e o trabalho da fidelidade. Mas também, quando vós passardes, acontecerá [aquilo] de que essa sala é prova: vós sulcareis esses mares de incompreensão. Mas de cá, de lá, de acolá, almas vos olharão. Muitas dirão: que maravilha! E por que não? Algumas começarão a vos aplaudir. Outras começarão a vos seguir. E assim como éramos poucos nessa marcha rumo ao sol, rumo à glória, rumo ao Reino de Maria, e entretanto, nos estendemos hoje por todo um Continente e vamos para o Velho Mundo, assim à medida que caminharmos juntos, nós iremos engrossando nossas fileiras ao longo do caminho.

E esse mundo que vai perdendo a confiança em si olhará a vossa segurança, olhará a vossa fé e começará a ouvir cada vez mais a vossa voz. A prova de que a TFP não prega num deserto, a prova de que sua voz se faz compreendida é este fato histórico e indiscutível: todas as nossas campanhas foram um triunfo e, ainda neste momento, a TFP se dirige ao Brasil e coloca, em um mês e pouco de campanha, nada menos de 40 mil exemplares da  Pastoral de Dom Antônio de Castro Mayer, quando uma edição de 4 mil exemplares é considerada uma grande edição para qualquer livro.

Isso quer dizer que o público nos ouve, que o público tem confiança em nós, que pode por vezes, um ou outro setor dar ouvidos à voz da difamação, mas que nas grandes e graves crises históricas nós somos ouvidos e somos seguidos.

E assim algo matura, algo se transforma, algo germina – como debaixo da neve germina a primavera – algo germina. Essas sementes de primavera que germinam sois vós; essas sementes são todos aqueles que vós sois chamados a trazer. Eu vos digo: meus caros, ufania e coragem! Ide, que Nossa Senhora vos acompanhe, de maneira tal que vós, ao cabo de um ano, voltando aqui, tereis trazido muito mais e possamos celebrar juntos a vitória de Nossa Senhora no dia de hoje, à espera das grandes vitórias do dia de amanhã.

Deus vult! Deus o quer! Ufania por Nossa Senhora!

[aplausos]


(*) SEFAC - A TFP promoveu regularmente, durante anos, Semanas de Estudo de Formação Anticomunista nas quais, com conferências acompanhadas de audiovisuais, se desenvolveu uma crítica cerrada ao comunismo e foi exposta com clareza a doutrina católica oposta a este. Estes cursos de formação da TFP constituíram, para jovens provenientes do Brasil e de todo o mundo, preciosa ocasião de se conhecerem, trocarem opiniões e viver numa atmosfera fraterna ("O Cruzado do Século XX - Plinio Corrêa de Oliveira", Roberto de Mattei).