Plinio Corrêa de Oliveira
Carlos Magno e o impulso à cultura católica
Santo do Dia, 6 de janeiro de 1973 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério
tradicional da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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O Evangeliário dito de Carlos Magno ou de Godescalco é um manuscrito medieval com iluminuras, hoje conservado na Biblioteca Nacional de Paris. O livro foi produzido em Aachen entre 781 e 783, por Godescalco; é um dos primeiros exemplos de iluminura carolíngia. No livro “Charlemagne” de Alphonse Vétault (Tours, Ed. Alfred Mame et fils, 1876) se encontra uma Epístola ad Baugulfum abbatem Fuldens. É uma carta do imperador Carlos Magno endereçada a esse abade: "Carlos, pela graça de Deus, rei dos Francos e dos Longobardos, patrício dos Romanos, em nome de Deus Todo-Poderoso, saudação." Há frases aqui que cantam e tem uma grandiloquência que não se sabe como elogiar: “Carlos, pela graça de Deus, rei dos Francos e dos longobardos, patrício dos Romanos, em nome de Deus todo poderoso, saudação”. Numa saudação está tudo dito! "Saiba vossa devoção a Deus, que depois de ter deliberado com nossos fiéis, estimados que os bispados e mosteiros que, pela graça de Cristo, foram colocados sob nosso governo, além da ordem da vida regular e as prática da nossa santa religião, deve, também aplicar seu zelo ao estudo das letras, e ensinar aqueles que com auxílio de Deus, possam aprendê-las, cada qual segundo sua capacidade. “Assim, enquanto a regra bem observada sustenta a honestidade dos costumes, a preocupação de bem aprender e de ensinar, põe a ordem do idioma, de maneira que aqueles que queiram agradar a Deus vivendo bem, não lhe negligenciaram de lhe agradar falando bem." O pensamento, muito interessante, é este: pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo há, em nosso reino, muitas dioceses e abadias. Nós queremos que essas dioceses e abadias se empenhem em ensinar a ler as pessoas que estejam em condições de aprender, com a graça de Deus. Porque ensinar a ler, naquele tempo, parecia uma coisa muito difícil. Eram poucos os que sabiam ler. Então, parecia especialmente próprio pedir a graça de Deus para que alguém aprendesse a ler. Era um tempo muito próximo da invasão dos bárbaros, e aquele passado bárbaro próximo inspirava um certo arrepio quando se tratava de aprender a ler e escrever. Então, ele diz: que aprendam a ler e escrever os que possam. Por que? Porque é conveniente que aqueles que louvam a Deus vivendo de um modo digno, também aprendam a louvar a Deus falando de um modo digno. Os senhores vejam que linda ideia: a virtude traz consigo todas as espécies de boas maneiras, de boas atitudes. E que, portanto, aquele que é virtuoso deve normalmente tender a falar bem, a se exprimir bem, a fazer bem feitas todas as coisas. Como no Evangelho está dito de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele fazia bem tudo quanto Ele tinha de fazer.
A Carlos Magno se deve o abandono da grafia com hastes longas e a adoção de caracteres simples, uniformes, alinhados e mais legíveis: a chamada minúscula carolina (vide exemplos acima e abaixo), da qual originou-se a que se encontra em uso ainda hoje em dia. Foi então que teve início o uso do ponto de interrogação.
Os senhores tem aí um princípio que é muito caro a nós, e que é muito pouco caro a um catolicismo deturpado. Ou seja, que a religião é empenhada próxima e diretamente em promover a salvação das almas. Mas que como uma espécie de corolário, ela tem empenho em favorecer toda espécie de bem, de beleza, de dignidade de vida e de esplendor da existência entre os homens. E que isto, por sua vez, dá glória a Deus e por sua vez facilita a virtude. Os senhores vem aí um aspecto profundamente anticatólico das teologias modernas como a da Libertação, cujo efeito normal é tender para o primarismo, para as péssimas maneiras, para a sujeira, para a ostensiva falta de compostura. Isso não só é incompatível com a religião, mas desvia as almas da verdadeira religião. Porque Deus sendo autor de todas as formas de ordem, estas se apoiam umas nas outras; e aqueles que sabem, por exemplo, comer dignamente, falar corretamente, postar-se decentemente tem nisso um apoio para a virtude. Essa é a ideia fundamental que Carlos Magno exprime. Ideia fundamental que a Igreja teve em mente durante toda a sua existência, e que na Idade Média é patente. Toda a elevação da civilização da barbárie até o estado generalizado em que se encontrava no fim da Idade Média, se deveu a esse princípio.
No mosaico acima do séc. IX, na catedral de Aachen (Alemanha), Carlos Magno é representado com a miniatura da Capela Palatina, a qual se encontra nessa mesma catedral Para aprofundar mais o tema, visite https://idademedia.wordpress.com/ |