Plinio Corrêa de Oliveira
Como estudar? Entender - analisar - concluir
Santo do Dia, 7 de janeiro de 1972 |
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A D V E R T Ê N C I
A O presente texto é adaptação de transcrição de gravação de
conferência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira a sócios e cooperadores da
TFP, mantendo portanto o estilo verbal, e não foi revisto pelo autor. Se o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira estivesse entre
nós, certamente pediria que se colocasse explícita menção a sua filial
disposição de retificar qualquer discrepância em relação ao Magistério da
Igreja. É o que fazemos aqui constar, com suas próprias palavras, como
homenagem a tão belo e constante estado de
espírito: “Católico
apostólico romano, o autor deste texto
se submete com filial ardor ao ensinamento tradicional da Santa Igreja.
Se, no entanto, por lapso, algo nele ocorra que não esteja
conforme àquele ensinamento, desde já e categoricamente o rejeita”. As palavras "Revolução" e "Contra-Revolução", são aqui
empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa de Oliveira em
seu livro "Revolução
e Contra-Revolução", cuja primeira edição foi publicada no Nº
100 de
"Catolicismo", em abril de 1959. |
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Vou responder a uma pergunta que recebi: como estudar os esquemas dos Santos do Dia? Para sabermos como estudar, temos que saber o que é estudar. Quando se estudou, o que acontece em nossa mente? Qual é o sinal, qual é o sintoma de que uma coisa foi estudada? Em última análise, o que é estudar? Ninguém estuda algo só para decorar. Ninguém estuda algo só para saber. Estuda-se algo, primeiramente, para entendê-lo bem. Depois de bem entendido, deve-se analisá-lo: isso é bom ou ruim, me empolga ou deixa-me indiferente, ou produz em mim uma rejeição? Por que? Como é que eu julgo o movimento de minha alma, em face disso? Depois de ter respondido a essas perguntas, é o momento das deliberações. Deve-se decorar o essencial, para depois não esquecer, e tomar atitudes concretas, práticas. Por exemplo, falo agora a respeito de estudo. Sobre o esquema que ditarei no fim da exposição, uma pessoa deve perguntar o seguinte: este esquema está claro? Eu o entendi bem? Em segundo lugar: isso que eu entendi é bom ou mau? Isso é conforme a doutrina católica ou não? Se é conforme, é verdadeiro e bom. Se não é, é errado e mau. Depois: Qual foi o movimento de minha alma diante disso que foi dito? Que espécie de atitude minha alma tomou? Torpor? Indiferença? Interesse? Rejeição? O meu movimento de alma foi bom ou mau? Depois de tudo isso, perguntar: agora, o que vou fazer? Se cheguei à conclusão de que devo adotar o que foi exposto, o que vou fazer? Se é uma coisa que a doutrina católica declara rejeitável, o que vou fazer na prática? Vou tomar tais e tais medidas. É assim que se estuda, passando com ordem por essas várias etapas. Como se percebe que se entendeu Compreendo que alguém da novíssima geração possa dizer-me o seguinte: "O senhor pensa que me disse uma coisa muito útil, mas se engana; ela me é perfeitamente inútil; eu não sei quando entendi. Não sei se entendi mesmo ou não. Não sei se a coisa é mesmo conforme a doutrina católica ou não, porque não conheço bem a doutrina católica a respeito desse assunto. E não sei tirar a limpo o que minha alma sentiu a respeito disso, porque sentiu coisas tão diversas (ou nada), que eu não sou capaz de responder essa pergunta. E o resultado é que o senhor, se pensa que ensinou algo, convença-se: o senhor não ensinou nada". Como esse estado de espírito pode ocorrer, e ocorre freqüentemente, está no meu papel procurar ajudar paternalmente em todas as dificuldades, e chegar até o concreto do concreto concretíssimo. Então, vou tentar entrar por aí. Como sei se entendi uma coisa ou não? Eu digo que há um critério, mas esse critério os senhores não vão achar muito seguro. É o seguinte: se eu sei explicá-la para um outro, eu a entendi; se não a sei explicar, não a entendi. Porque aquilo que não sei explicar, não entendi. Esse é o bom critério. Mas compreendo que se possa fazer uma objeção: "Isso está errado, porque o outro que eu tenho como ponto de referência é como eu, e ele ficará também sem saber se entendeu. De maneira que, por aí, nós não saímos do impasse". Respondo: por isso mesmo, acho que o teste não é inteiramente seguro. Mas dou um outro processo, e esse é excelente: procurem entender tudo quanto possam; acabarão entendendo bem. O exercício transforma o homem em mestre Imaginem uma pessoa que, sempre que tem diante de si um problema, procura entendê-lo e depois resolvê-lo. Pode não saber se acertou ou não. Mas se fizer isso muitas vezes, muitas vezes, muitas vezes, acaba tomando uma força de espírito por onde acaba percebendo quando acerta ou não. O exercício acaba dando a certeza. Há uma expressão alemã que diz: "O exercício transforma o homem em mestre". Façam o exercício, e acabarão sabendo. Pensem, pensem, pensem; reflitam, reflitam, reflitam; acabarão refletindo direito. Uma criança que nunca andou, pode fazer a mesma pergunta a seus pais: "Como é que eu vou andar? O senhor me diz para ficar em pé; eu me ponho de pé e caio; o que adianta? Como vou andar?" O pai diz: "Ande, você cai cinco vezes, dez vezes, e depois sai andando". A criança diz: "Ah, não quero!" O pai adverte a criança, e a faz andar. Não há dúvida de que essas palavras têm um pouquinho de um respeitoso puxão de orelhas. Quer dizer, é preciso quebrar a inibição e fazer. Como se ensina uma pessoa a nadar? Diz-se: "Olhe, é assim, assim e assim. Entendeu?" Em seguida ele cai dentro d'água, bebe água, vai para o fundo cinqüenta vezes, depois nada, e pronto. Faz-se assim também para pensar. Perca a preguiça e procure entender, e acabará percebendo se entendeu ou não. De maneira que ninguém venha me dizer que não consegue entender, porque está errado: pode acabar entendendo. Alguém me dirá: "Mas o senhor também está querendo uma coisa que eu não vejo clara. Porque o senhor manda decidir se isso é verdade ou erro, bem ou mal. Chego ao termo de meu raciocínio, não decidi, e o senhor me impõe: decida!" Eu digo que, se alguém não tem certeza, não se decida, mas aplique o seu espírito o quanto possa, para adquirir essa certeza. Usando uma expressão trivial do meu tempo (acho que hoje não se usa mais): "aperte os miolos". Aperte, "vire-se", e a coisa sai. Mas é preciso fazer, e disso é que eu não vejo muita vontade. O esquema escrito Daí, vem o esquema escrito, a oração escrita, e a pessoa pode comentar depois com outro: "Tenho aqui uma coisa que Dr. Plinio ditou. Quando ele falou, fiquei muito emocionado... até guardei no bolso. Quanto a estudar, um belo dia eu estudo. Por enquanto, vou carregar no bolso; está guardado". Os esquemas, as orações, foram feitos para serem levadas na cabeça; o melhor bolso para essas coisas é a cabeça. É mais ou menos tão disparatado guardar uma coisa no bolso sem ler, quanto abrir a cabeça e guardar dentro uma relíquia. Não é o lugar adequado: na cabeça não se guarda relíquia, guardam-se conceitos; no bolso não se guardam conceitos, guarda-se relíquia. É simples. Por onde se deve começar Quando há muita matéria que nunca foi vista, por onde começar? Vou dar um conselho que vale, não digo para todos os casos, mas para um número enorme de casos: quando é meio difícil saber por onde começar, comece por qualquer lado, porque do contrário não se começa nunca. Os bandeirantes fizeram isso: "Onde há esmeraldas no Brasil? Ouvimos dizer que há. Aonde é que vai dar o mato? Em algum lugar". Abriram o mato e foram entrando. É a saída que há. Agora imaginem um na orla do mato, perplexo: "Como é? Entro aqui, lá ou acolá? Não sei... Então não entro no mato". Assim não sairiam as Bandeiras! Há algo chamado "fio da meada". Cada um de nós, quando se habitua a pensar, depois de algum tempo começa a perceber que se interessa por uns assuntos e não por outros. Esse é o lado de entrar no mato, porque é o lado da luz primordial [Cada alma tem uma tendência para o mal que é mais forte que as outras, e é por onde é tentada: o vício capital. Em sentido contrário, há uma tendência mestra, que varia de pessoa para pessoa, e que é o aspecto de Deus que mais é chamada a espelhar: a luz primordial, n.d.c.]. Mas primeiro é preciso começar a pensar, pensar, pensar. Senão, não vai.
ESQUEMA
I – O que é estudar? |